Parte 1...
Quatro dias depois...
“Ganhe pra viver, viva com carinho. E de preferência, sem ter contas a pagar.Olhe pra você, não pro seu vizinho, que o tempo passa, não vai nunca te esperar.
Tá bom, mas é bom não esquecer, que a vida não livra a de ninguém.Nosso futuro ninguém vê. E o presente é o que se tem.
O amor e a paixão entram nesse jogo. A paixão é fogo, muito fácil de apagar.O verdadeiro amor cresce diferente. Cotidianamente, a gente tem que cultivar.
A vida não é sempre o que se espera. Pobre de quem não se considera um aprendiz.Cada um é um, tudo vale nada, se até o fim da estrada, não se chega a ser feliz.”
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Nathaly relia essas palavras desde que pegou uma revista no aeroporto, antes de embarcar, que falava sobre situações diferentes da vida e tinha algumas dicas, diretas e poemas sobre diversas situações. Mas nenhuma das dicas ali estava servindo para ela agora.Ela estava com os ouvidos doendo de tanto ouvir as reclamações do tio sobre ela não ter pintado o cabelo de loiro como ele queria. No salão a pobre coitada da cabeleireira ficou preocupada por ela não aceitar que entupissem seu cabelo ruivo com as tintas para clarear, como ele havia mandado.
Seu cabelo era idêntico ao de sua mãe e amava demais sua cor. Disse não e arriscou a levar mais broncas. Deixou que cuidassem de suas unhas e fez uma limpeza de pele.
Adorou a sensação de ter as unhas pintadas porque quase não fazia isso. Não adiantava nada pintar e horas depois perder todo o esmalte limpando panelas e lavando pratos.
— Você é uma idiota - Yago xingou novamente quando viu que não pintou o cabelo — Deveria ter feito o que eu disse. Não gosto que me desafie, menina.
Nathaly estava se sentindo completamente deslocada. Aguardavam a chegada do possível futuro marido e a cada instante seu estômago ficava mais incomodado e tinha medo até de acabar colocando tudo pra fora.
Comeu bem pouco antes de sair para encontrar o tio porque o nervosismo não a deixara aproveitar a comida. Tudo o que pensava era em como seria esse Kostas. Uma coisa era ver seu rosto em fotos na internet e outra era pessoalmente.
— Se estragar tudo em cima da hora vai se arrepender - ele ameaçou — Não pense que vou deixar que manche meu nome de novo. E meu plano está perfeito, não estrague.
Ela nunca fizera nada para ele, no entanto o tio insistia em dizer que ela era culpada de algo que nunca foi feito. Começava a desconfiar de sua sanidade. Uma pessoa não podia ser tão ruim assim.
E começava a imaginar como sair logo dali, caso desse errado o plano dele. Talvez esse Kostas nem quisesse falar com ela. Teria que voltar de imediato para o Brasil e tentar achar outros meios para conseguir o dinheiro.
— E mantenha a boca calada. Não olhe diretamente para ele - apertou seu braço um pouco, o suficiente para não marcar, mas ainda assim doeu e ela fez uma careta — Lembre-se de parecer ser uma boa moça obediente e calma. Se mantiver sua língua travada ele nunca vai ter tempo de descobrir que você não é uma verdadeira grega e será tarde demais.
O barulho do helicóptero a deixava nervosa. Estavam se aproximando da terra firme e ela levantou o rosto.
— Mantenha a postura - apertou seu joelho — Olhos baixos, boca fechada. Lembre-se.
“O inferno que era obrigada a passar por causa desse homem. Poderiam ter ficado em sua mansão. Por que irem a uma ilha? Logo uma ilha? Com tanto lugar?”
Mesmo com o helicóptero voando baixo ela sentia medo e começava a suar um pouco nas mãos. Seu coração estava um pouco acelerado e controlava a respiração para não entrar em pânico.
Pelo menos o tio pensava que ela estava sendo obediente em não responder à ele. Melhor do que descobrir que estava com medo de outra coisa. Ele iria reclamar e com certeza rir de seu medo.
Olhava para o mar embaixo do helicóptero e mesmo sendo de um azul incrível ela não conseguia relaxar de fato. Sempre tivera um enorme medo do mar. Mesmo sendo muito bonito ela só pensava que se estivesse na água iria morrer.
Sua garganta até doía um pouco, de tão travada que estava, tentando não pensar em toda aquela água embaixo dela.
E ainda não estava certa sobre esse noivo. Se o tio já sabia sobre sua condição financeira e de saúde, o que garante que o noivo também não saiba?
De repente ele só queria rir da cara dela e pisar no tio por ter inventado esse acordo ridículo. Mas ela não tinha culpa. Não foi para isso que viera até a Grécia. Se isso acontecesse ela teria de voltar humilhada e sem o dinheiro que precisava.
Ela não deveria ter aceitado fazer isso. Estava errada. Ainda que o tio afirmasse que Kostas Megalo não sabia de nada ela tinha medo de que ele descobrisse, antes de assinar o acordo de casamento e ela ficaria sem o dinheiro. Além de ter se tornado uma golpista e mentirosa.
— Melhore essa cara feia - fez uma cara de desprezo — Como você é sem graça, garota.
Ela virou o rosto para o lado. Precisava demais do dinheiro, só isso justificava estar ali ao lado daquele homem sendo humilhada. Precisava lembrar que não era golpista, era necessitada.
Tinha que conseguir. O motivo para fazer tal coisa era muito importante e ela não tinha mais a quem recorrer.
A família Megalo não era tão inocente assim e Kostas não era um bom homem. Tinha aproveitado esses dias na pequena pousada onde o tio a instalou, para buscar informações sobre ele e tudo o que achou foram futilidades.
Não era tão errado assim fazer algo que iria ajudar sua mãe em troca de uma mentira para uma pessoa sem caráter como ele.
Se ele fosse um homem decente, dificilmente ela conseguiria levar isso adiante, mas visto que são farinha do mesmo saco, não tinha motivo para se sentir tão culpada.
Era só falta de costume de agir de uma forma maquiavélica como essa, que para essa família e até para seu tio parecia ser bem normal. Eram iguais.
E pelo que leu sobre seu comportamento, com certeza deveria ser um péssimo namorado e não seria um bom marido, que dirá pai. Era até bom mesmo que não pudesse ter filhos para não colocar no mundo uma criança que iria ser relegada a um canto qualquer, por falta de interesse e amor de seu pai. Isso não seria certo.
Uma coisa boa disso é que ambas as famílias acabariam ali mesmo. Ela não lhe daria filhos e sua herança moral não passaria adiante. O mesmo com seu tio.
As rivalidades e brigas e tudo mais que já havia acontecido entre as famílias terminaria ali naquele acordo. E ela gostaria de saber que foi por causa dela.
Parte 2...Ambos tinham culpa de tudo o que havia acontecido em sua vida. De todas as dores que passara até ali. Da perda de seu pai amado, do sofrimento de sua mãe e de sua impossibilidade de ser mãe também. De certa forma seu tio tinha razão, seria uma justiça.Ela teria que esconder que sua mãe continuava viva. Assim que ele fizesse o depósito em sua conta o valor seria repassado diretamente ao hospital, onde pagaria a dívida que já tinha e durante os outros meses pagaria sempre na data certa, mantendo o tratamento de sua mãe e sua cirurgia seria feita. Só precisaria manter a farsa do casamento enquanto sua mãe estivesse ainda em tratamento, depois poderia sumir da vida deles. Fugiria. Voltaria para o Brasil e daria um jeito de sumir com sua mãe.Daria adeus às preocupações financeiras e à pobreza. Seguiria com o casamento durante o tempo necessário e depois que acabasse a parte difícil do tratamento de sua mãe, ficaria mais um pouco com ele até fazer uma poupança que fosse sufici
Parte 1...“A paixão que queima. A paixão que arde. A paixão que explode no coraçãoVem do mais fundo profundo, onde não cabe a razão".********** **********Dizer que ela era bonita seria pouco. Era linda!Kostas a observou enquanto se aproximava. Caminhava um pouco hesitante, mas com aqueles saltos até o vento a derrubaria. A primeira coisa que notou foi seu cabelo vermelho, escuro como fogo. Nunca tinha visto uma ruiva tão forte. Sua pele muito branca contrastava com o vestido curto, também vermelho. Apertou o olhos para entender sua postura ao falar com o tio, eles pareciam estar discutindo. Talvez pelo exagero da sobrinha ao se vestir daquela forma para um encontro que poderia selar um grande acordo. Yago apesar de tudo era um homem de costumes gregos e deve ter achado errado que a garota se exibisse tanto. Mas como ela havia sido criada no Brasil deve ter achado normal se expor assim. Quando se aproximaram ele notou logo seus olhos de um azul muito forte e brilhante, quase
Parte 2...— Você me conhece pouco rapaz, mas sabe minha reputação - ameaçou Yago.— E nunca me importei com ela. Gosto de brigas, especialmente as antigas - seus olhos brilharam ameaçadores e ignorou o olhar de advertência do pai — Não gosto que se metam em meus negócios e deve conhecer minha reputação também.Nathaly apertou as unhas na palma da mão. Era só o que lhe faltava. Ambos eram a mesma coisa. Estava presa entre a cruz e a espada. Respirou fundo.Yago olhou para ela e lhe enviou uma ameaça velada, mas ela entendeu. Depois ele abriu um sorriso cínico para Kostas.— Tudo bem. De qualquer modo é bom que ela conheça a nova casa dela.Kostas franziu a testa com o aparente susto que ela levou e achou estranho que Yago já definisse o acordo como fechado. Ainda não tinha assinado nada.— Como assim? - olhou em volta nervosa, mas se segurando. Eles estavam em uma ilha. Ela estava cercada de água — Como minha nova casa? - sua voz passou um pouco do medo — Quer que eu venha morar aqui?
Parte 3...Só de pensar que o oceano estava ali ao lado sua ansiedade aumentava. Teria que ser forte para conseguir salvar a mãe, mas o preço cobrado começava a se mostrar muito alto. Talvez alto demais. Na noite anterior chegou a ter pesadelos de novo com uma explosão, pessoas gritando, fogo e até sentiu o abraço gelado da morte em sua mente. Acordara assustada e coberta de suor. Teve que tomar um banho para voltar a dormir e isso demorou mais de meia hora. Mesmo de olhos abertos a imagem de um homem magro de cabelos pretos vinha para lembrar de que estava viva só por causa dele.Desviou o olhar. Teria que se manter ocupada para desempenhar bem o papel de esposa e isso tomaria seu tempo. Não precisaria nem mesmo descer na praia lá embaixo. Se manteria afastada da água o máximo possível e evitaria focar sua paisagem das janelas. Conseguiu chegar até ali no helicóptero, poderia resistir algum tempo até poder se livrar. Depois jamais voltaria a pôr os pés na ilha novamente.— Por aca
Parte 4...— Claro que sim - puxou a mão e segurou os sapatos como uma barreira.Problemas era pouco para definir. A rivalidade doentia causou muitos prejuízos, inclusive emocionais. Ele a observava então tentou se controlar para não deixar a emoção dominar.“Perdi meu pai por causa de sua família. Eu quase morri e minha mãe até hoje sofre por causa disso. Eu odeio seu sangue.”Pensou em falar, mas não o fez. Mordeu o lábio sentindo uma onda de pânico e raiva se misturarem. Controlou a respiração e continuou seguindo-o. Ele parou e ela aproveitou o momento.— Eu não consigo fingir gostar de alguém - ela começou devagar — Este casamento é por puro interesse entre as famílias e foi ideia do meu tio - disse fria — Não vou fingir que gosto de você e nem vou ficar atrás de você para que se sinta lisonjeado por ter uma esposa que o agrade. É um acordo e é assim que vou tratar. Cada um ganha sua parte.— E qual é a sua parte? - desafiou.— A minha parte é o dinheiro do acordo.O encarou e fi
Parte 5...Seu rosto quadrado tinha traços fortes e a boca grande era bem feita. O nariz era um pouco aquilino e os olhos tão escuros quanto o cabelo eram brilhantes. Seu tom de pele moreno era sexy também. Mesmo não gostando dele podia entender porque as mulheres o achavam atraente. Com certeza por baixo daquela roupa cara tinha um corpo definido. “Merda!” Agora estava prestando atenção nele.— Não precisa levar o dinheiro para a cama - ela quis rebater — Mas pode depositar em minha conta. Faremos sexo apenas para cumprir o contrato e nada mais. Não preciso que me seduza e nem vou fingir que gosto de você.— Como é? - ele riu fascinado com aquela criatura pequena e diferente — Faremos sexo? - continuou rindo.Ela mordeu o lábio. Não tinha interesse em ser seduzida e menos ainda por ele. Não tinha interesse por sexo desde muito nova quando soube que sua vida estava fadada a nunca ter filhos. Ainda chegou a ter um namorado quando adolescente, mas depois perdeu o interesse e se conc
Parte 1...Quinze dias depois...Nathaly observava a linda aliança de ouro com diamantes em seu dedo esquerdo. Agora estava casada oficialmente com Kostas e seu sobrenome constava Demétriou Megalo. Sentiu um arrepio. Os sobrenomes carregavam muita coisa. Pelo menos a música a distraía um pouco. Tinha acabado de sentar após quase uma hora de pé, recebendo os beijos e cumprimentos dos muitos convidados. Ela não conhecia ninguém naquele salão, nem um só rosto.A sensação era péssima. Nunca se sentira tão desamparada na vida e gostaria de não estar ali. Teve que aceitar o que os profissionais contratados para realizar a cerimônia lhe diziam. Até ficou feliz com a escolha do vestido que ficou bem o que ela gostaria de usar se tivesse dinheiro para ela mesma escolher. Era muito delicado e cheio de rendas com pedrinhas. Quando se viu refletida no espelho quase chorou, mas não queria estragar a maquiagem. Pensou na mãe o tempo todo.Ela teve que inventar mentiras para que a mãe continuasse
Parte 2...Com a cabeça cheia de pensamentos ruins ela perguntou agustiada.— Você depositou o dinheiro na minha conta? - a cara que ele fez foi desagradável. Mas já tinha perguntado mesmo.— Não se preocupe - disse com desdém — Quer meu celular para ligar para o banco e confirmar? O depósito foi feito hoje pela manhã - torceu o nariz — Já está pensando em correr para gastar? O que quer agora? Sapatos ou uma bolsa?Nathaly nem se incomodou com o comentário. O importante era saber que o dinheiro estava em sua conta e a cirurgia da mãe estava agendada para breve. O gerente de sua conta já tinha os documentos assinados para que repassasse o valor correto diretamente para o hospital e o que restasse seria depositado em outra conta para que rendesse juros. Ele fazia piadinhas com um relógio caríssimo e duas pulseiras de pedras no pulso, que diziam para todos que era rico o bastante. E esse nem era o mesmo relógio de quando o conheceu. Na certa tinha uma coleção. Ela usava o celular para