Parte 4...
Ela engoliu a vontade de mandá-lo à merda. Claro que não teria roupas chiques e caras, não tinha como, mas tão pouco era uma mendiga. Conseguia se virar e comprar roupas dentro de seu orçamento que lhe serviam muito bem.
— Ele vai pensar primeiro na parte financeira de nosso acordo e vai levar em consideração que você servirá apenas como um depósito de esperma que lhe dará o herdeiro de que precisa.
Ela ficou vermelha ao ouvir o que disse. O homem tinha a capacidade enorme de ser um grosso a cada palavra que dizia. Que modo horrível de se expressar.
— E depois que achar que pode ficar grávida, ele só tem que esperar a criança nascer e poderá se separar de você - gargalhou — É o que ele vai achar, mas não será assim.
Ela olhou para a pasta ao seu lado com os papéis sobre sua vida e entendeu o quanto ele era moralmente perverso. Esperar anos para se vingar e usar um momento tão difícil como o que ela atravessava apenas por seu prazer.
— Vai me dar o dinheiro se eu aceitar fazer isso? - perguntou insegura, as mãos suando.
— Eu não - gargalhou de novo — Mas seu futuro marido irá lhe dar cada centavo. No máximo vou pagar um salão para que se arrume e quem sabe eles possam fazer um milagre - fez uma cara de desaprovação — Farei uma cláusula em que receberá um valor assim que o casamento for realizado e todos os meses receberá uma mesada gorda. Assim poderá manter o tratamento daquela lá.
Ela havia conseguido um adiamento na parcela do hospital graças a ajuda do médico que sabia a situação de sua mãe e dela, mas não poderia demorar a fazer o pagamento ou isso poderia até mesmo prejudicar o trabalho dele na instituição.
Estava abismada com a mente diabólica dele. Não precisaria nem mesmo mexer em um centavo para ajudar, deixaria tudo nas mãos do inimigo. Que homem horrível.
Que diabos Kostas Megalo queria tanto que aceitaria um casamento em que tinha que pagar para ter privilégios? Deveria ser algo muito importante.
Quase tão importante quanto o motivo dela para fazer tal loucura. O tio sabia jogar bem as cartas e parecia ter a certeza de convencer o inimigo a fazer o que ele queria.
Estava ainda mais confusa, mas para ter o dinheiro teria de se casar e justo com o homem que vinha da família responsável pela morte de seu pai. Era uma ironia triste.
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— Isso não me cheira bem papai.
Kostas bebia um vinho que gostava muito, proveniente de um vinhedo que ele havia comprado há pouco mais de dois anos, da região de Santorini nas redondezas de Pyrgos, em uma região baixa voltada para a caldeira de um vulcão.
— Por que Yago Demetriou iria nos procurar? Ele não é uma pessoa confiável - deixou a taça em cima da bancada de granito da varanda — Que me lembre, as brigas entre nossas famílias já chegam a quatro gerações.
— E não é um bom motivo para conversarmos? - Kratus Megalo respondeu ao filho desconfiado — Passamos do tempo de acabar com isso tudo e deixar para trás todas as rivalidades. Ele quer mudar isso e apagar publicamente todas as desavenças. E eu sinceramente, concordo com essa ideia.
— Não sei não... Yago sempre foi um péssimo homem. Ele é conhecido por fazer coisas que ultrapassam a consciência normal de qualquer um. Só faz coisas que o beneficiem e sempre quer se dar bem em tudo - disse desconfiado — Não gosto dele, não gosto mesmo.
— Nem eu - mexeu a cabeça — Aliás, poucas pessoas gostam mesmo dele.
Era mais estranho ainda que o pai quisesse contato com o velho mau caráter e aceitasse recebê-lo em sua casa. Evitava a todo custo contato com a família Demetriou e agora surgia com essa novidade?
— Estou cansado filho e acho que tenho o direito de parar por aqui e me aposentar após tanto tempo - suspirou pensativo — Sua mãe merece ter uma velhice calma e segura, longe de problemas e estresse. Para mim já basta saber que o que é meu será devolvido e você terá seu direito de volta.
Kostas sorriu. Ele era diferente do pai. Gostava muito de uma boa briga e de um desafio que o deixasse interessado por muito tempo. Detestava Yago Demetriou, mas seria interessante ver o que ele queria realmente e qual sua nova jogada.
O homem era conhecido por várias armações e não era de hoje. Muitos faziam negócio com ele apenas porque nessa área, ele sabia agir e acabava dando lucro aos parceiros.
Se ficassem frente a frente com o velho mau caráter poderia mostrar a ele que seria diferente de seu pai e que não o deixaria intimidá-lo. Não era mais um menino no meio dessa briga.
Kratus andou até o filho e lhe entregou alguns papéis.
— Leia a proposta dele. Me parece ser um bom acordo.
— Se é bom para nós deve ser ainda melhor para ele, com certeza - respondeu duvidando que algo de bom viesse da parte de lá, conhecendo Yago — Esse velho não faz nada para ajudar os outros.
— Não seja tão desconfiado assim, Kostas - disse com cautela — É um homem de negócios e grego, sabe que pode ter vantagem se unindo a nós. Pelo menos olhe o acordo.
— Mais um motivo para ficar com o pé atrás.
—Filho... Pode pelo menos saber o que ele quer, não pode? - pediu — Seria um encontro só e se não nos agradar podemos sair de lá como se nada tivesse acontecido.
— É melhor ter cuidado.
— Filho, é até um elogio ele querer nos encontrar. Nunca fez isso antes. Está velho - torceu a boca.
— Então é melhor levar um arsenal escondido para o caso de precisarmos sair fugindo - foi cínico — Do jeito que ele é, pode muito bem querer nos matar. Vai saber? - deu risada.
Kostas reparou que o pai parecia mesmo cansado e seu rosto dava sinais de velhice que antes não havia reparado. Talvez fosse mesmo hora de parar um pouco com toda aquela desavença antiga.
Ele trabalhava muito para sempre manter o padrão que tinha conseguido atingir, quando começou a se envolver com os negócios do pai e talvez agora fosse mesmo a hora dele parar um pouco e curtir um tempo com sua mãe. Os dois mereciam descanso.
Suspirou. Por causa disso ele iria dar uma chance a Yago.
— Estou pensando em você filho - suspirou parecendo cansado — Acho que já é hora de receber o que é seu e por isso aceitei o encontro. Vamos de coração aberto, está bem?
Do modo cansado como o pai o olhou ele teve a certeza de que caberia a ele acabar com aquela situação de uma vez por todas e passar uma borracha em cima.
— Qual a proposta dele?
Autora Ninha Cardoso
*Está gostando do romance? Gostaria de saber sua opinião.
Parte 5...— Vai abrir mão da empresa - deu uma risada triste e raivosa ao mesmo tempo, andando devagar pela varanda — Da nossa empresa, é claro. Se não fosse por Yago nós nunca teríamos perdido o que já era nosso de direito. Ele trapaceou meu pai e o enganou, tirando o que deveria ser seu desde seu nascimento.— Meio estranho isso... O que ele quer em troca disso?O pai parou em frente a ele e colocou a mão em seu ombro.— Que você se case com a sobrinha dele.— Como é que é? - gargalhou sem acreditar — Ele é louco? Acha que vivemos em que século? - gargalhou de novo.— Louco ele deve ser com certeza - Kratus torceu a boca, concordando — Mas é isso o que ele quer para devolver a empresa diretamente para você.— Meu Deus - balançou a cabeça rindo._ Não é para rir filho, é sério - disse sem traço de humor.— Pai, sabe que não penso em me casar ainda e a candidata jamais seria alguém daquela família nojenta. Imagine só, que absurdo.— Não é bem assim... Você já passou da hora de se cas
Parte 6...— Não pode ser cínico assim, filho. Serão os filhos dela também. Acha que vai querer se casar para ter herdeiros com alguma doença estranha? - balançou a cabeça.— Sei lá - mexeu os ombros — Tudo é possível com essa família. E não quero uma esposa, menos ainda sendo escolhida por aquele golpista ladrão.Chegou até a dar uma risadinha pensando que a sobrinha deveria ser muito feia ou ter um problema mental para que o tio precisasse lhe comprar um marido. Qual mulher hoje em dia aceitaria tal coisa? Ainda mais com o feminismo em alta.— Primeiro conheça a moça, deve ser uma ótima pessoa - ele riu — Falo sério, filho!— O senhor confia demais papai.— E você é desconfiado demais.— Pai, ela deve ter algum problema. Pense bem - meneou a cabeça fazendo careta — Se fosse uma pessoa normal nós saberíamos alguma coisa, por menor que fosse - balançou a cabeça — No mínimo deve ser entediante ou ter personalidade de um porco-espinho. Nunca soube nada de uma sobrinha dele na mídia.— E
Parte 1... Quatro dias depois...“Ganhe pra viver, viva com carinho. E de preferência, sem ter contas a pagar.Olhe pra você, não pro seu vizinho, que o tempo passa, não vai nunca te esperar.Tá bom, mas é bom não esquecer, que a vida não livra a de ninguém.Nosso futuro ninguém vê. E o presente é o que se tem.O amor e a paixão entram nesse jogo. A paixão é fogo, muito fácil de apagar.O verdadeiro amor cresce diferente. Cotidianamente, a gente tem que cultivar.A vida não é sempre o que se espera. Pobre de quem não se considera um aprendiz.Cada um é um, tudo vale nada, se até o fim da estrada, não se chega a ser feliz.”********** ********** Nathaly relia essas palavras desde que pegou uma revista no aeroporto, antes de embarcar, que falava sobre situações diferentes da vida e tinha algumas dicas, diretas e poemas sobre diversas situações. Mas nenhuma das dicas ali estava servindo para ela agora.Ela estava com os ouvidos doendo de tanto ouvir as reclamações do tio sobre ela nã
Parte 2...Ambos tinham culpa de tudo o que havia acontecido em sua vida. De todas as dores que passara até ali. Da perda de seu pai amado, do sofrimento de sua mãe e de sua impossibilidade de ser mãe também. De certa forma seu tio tinha razão, seria uma justiça.Ela teria que esconder que sua mãe continuava viva. Assim que ele fizesse o depósito em sua conta o valor seria repassado diretamente ao hospital, onde pagaria a dívida que já tinha e durante os outros meses pagaria sempre na data certa, mantendo o tratamento de sua mãe e sua cirurgia seria feita. Só precisaria manter a farsa do casamento enquanto sua mãe estivesse ainda em tratamento, depois poderia sumir da vida deles. Fugiria. Voltaria para o Brasil e daria um jeito de sumir com sua mãe.Daria adeus às preocupações financeiras e à pobreza. Seguiria com o casamento durante o tempo necessário e depois que acabasse a parte difícil do tratamento de sua mãe, ficaria mais um pouco com ele até fazer uma poupança que fosse sufici
Parte 1...“A paixão que queima. A paixão que arde. A paixão que explode no coraçãoVem do mais fundo profundo, onde não cabe a razão".********** **********Dizer que ela era bonita seria pouco. Era linda!Kostas a observou enquanto se aproximava. Caminhava um pouco hesitante, mas com aqueles saltos até o vento a derrubaria. A primeira coisa que notou foi seu cabelo vermelho, escuro como fogo. Nunca tinha visto uma ruiva tão forte. Sua pele muito branca contrastava com o vestido curto, também vermelho. Apertou o olhos para entender sua postura ao falar com o tio, eles pareciam estar discutindo. Talvez pelo exagero da sobrinha ao se vestir daquela forma para um encontro que poderia selar um grande acordo. Yago apesar de tudo era um homem de costumes gregos e deve ter achado errado que a garota se exibisse tanto. Mas como ela havia sido criada no Brasil deve ter achado normal se expor assim. Quando se aproximaram ele notou logo seus olhos de um azul muito forte e brilhante, quase
Parte 2...— Você me conhece pouco rapaz, mas sabe minha reputação - ameaçou Yago.— E nunca me importei com ela. Gosto de brigas, especialmente as antigas - seus olhos brilharam ameaçadores e ignorou o olhar de advertência do pai — Não gosto que se metam em meus negócios e deve conhecer minha reputação também.Nathaly apertou as unhas na palma da mão. Era só o que lhe faltava. Ambos eram a mesma coisa. Estava presa entre a cruz e a espada. Respirou fundo.Yago olhou para ela e lhe enviou uma ameaça velada, mas ela entendeu. Depois ele abriu um sorriso cínico para Kostas.— Tudo bem. De qualquer modo é bom que ela conheça a nova casa dela.Kostas franziu a testa com o aparente susto que ela levou e achou estranho que Yago já definisse o acordo como fechado. Ainda não tinha assinado nada.— Como assim? - olhou em volta nervosa, mas se segurando. Eles estavam em uma ilha. Ela estava cercada de água — Como minha nova casa? - sua voz passou um pouco do medo — Quer que eu venha morar aqui?
Parte 3...Só de pensar que o oceano estava ali ao lado sua ansiedade aumentava. Teria que ser forte para conseguir salvar a mãe, mas o preço cobrado começava a se mostrar muito alto. Talvez alto demais. Na noite anterior chegou a ter pesadelos de novo com uma explosão, pessoas gritando, fogo e até sentiu o abraço gelado da morte em sua mente. Acordara assustada e coberta de suor. Teve que tomar um banho para voltar a dormir e isso demorou mais de meia hora. Mesmo de olhos abertos a imagem de um homem magro de cabelos pretos vinha para lembrar de que estava viva só por causa dele.Desviou o olhar. Teria que se manter ocupada para desempenhar bem o papel de esposa e isso tomaria seu tempo. Não precisaria nem mesmo descer na praia lá embaixo. Se manteria afastada da água o máximo possível e evitaria focar sua paisagem das janelas. Conseguiu chegar até ali no helicóptero, poderia resistir algum tempo até poder se livrar. Depois jamais voltaria a pôr os pés na ilha novamente.— Por aca
Parte 4...— Claro que sim - puxou a mão e segurou os sapatos como uma barreira.Problemas era pouco para definir. A rivalidade doentia causou muitos prejuízos, inclusive emocionais. Ele a observava então tentou se controlar para não deixar a emoção dominar.“Perdi meu pai por causa de sua família. Eu quase morri e minha mãe até hoje sofre por causa disso. Eu odeio seu sangue.”Pensou em falar, mas não o fez. Mordeu o lábio sentindo uma onda de pânico e raiva se misturarem. Controlou a respiração e continuou seguindo-o. Ele parou e ela aproveitou o momento.— Eu não consigo fingir gostar de alguém - ela começou devagar — Este casamento é por puro interesse entre as famílias e foi ideia do meu tio - disse fria — Não vou fingir que gosto de você e nem vou ficar atrás de você para que se sinta lisonjeado por ter uma esposa que o agrade. É um acordo e é assim que vou tratar. Cada um ganha sua parte.— E qual é a sua parte? - desafiou.— A minha parte é o dinheiro do acordo.O encarou e fi