TRÊS

— Tudo bem, gatinha! — sorriu para mim. Gatinha? Sério? — Amiga da Anne, certo? — perguntou e assenti. — Tem bebida lá na cozinha. O Stone está lá, então se sinta em casa — piscou.

— Obrigada! — forcei um sorriso.

Esforcei para que passar no meio dos adolescentes que dançavam para ir até à cozinha. Apertei a mão irritada por alguém ter pisado no meu pé e respirei fundo. Com certeza, meus dedos ficariam cheios de calos. Se eu estivesse com tênis branco, estaria puta da vida. Entrei na cozinha, onde ainda tinha algumas pessoas acumuladas, mas logo se apressaram para sair. Stone não estava mais ali como o Murphy havia dito.

Peguei dois copos e coloquei uma bebida da cor verde no meu, e também uma vodca que achei em cima da mesa. No copo da Ariel escolhi colocar enérgico e também um pouco de vodca. Dei um gole para experimentar só para conferir estar fraca, e para mim, parecia suco por falta de álcool. Já a minha estava um pouco forte, a quantidade de álcool estava na medida que gosto, mas faltava algo.

Abri a geladeira na procura do que faltava, e assim que vi cubos de gelos, notei que a bebida precisava deles. Um barulho me fez assustar e olhar para trás. O Ruel entrou na cozinha agarrado com uma loira. Peguei um dos cubos, e coloquei dois gelos em cada copo.

As mãos do garoto entraram no vestido da loira, o que me fez franzir a testa de constrangimento. Eles poderiam se pegar no quarto, né? 

Do jeito que a casa é grande, acho que o que mais tem aqui são quartos, e eu não estava com vontade alguma de presenciar um pornô agora.

Os olhos do Ruel se abriram e encontraram os meus. Tentei disfarçar focando na minha bebida e engoli seco. Peguei o cubo de gelo novamente, colocando mais um em cada copo. Ruel ainda me olhava enquanto beijava a garota de cabelo loiro, o que me incomodou. Se não quer, é só não beijar. A loira se afastou do mais alto, sussurrando alguma coisa em seu ouvido, e saindo em seguida. Cocei a garganta e guardei o cubo na geladeira novamente.

— Gostou do que viu? — a voz grossa do loiro se misturou com o som da música, me fazendo olhar para ele com uma expressão tediosa.

— Não! — respondi dando de ombros, e pegando os copos com as bebidas que fiz.

— Você parecia estar gostando... — comentou pegando um cigarro na carteira que estava em seu bolso, e me olhou enquanto o acendia e levava até seus lábios

— Fumar não faz bem. — mudei de assunto. Não queria falar sobre o que ele estava fazendo.

— Beber também não. — rebateu e puxou a fumaça para dentro do seu corpo.

Ruel estava usando uma calça cheia de rasgos, e uma camisa maior que o seu tamanho. Usava um relógio de ouro em seu pulso, e algumas correntes no pescoço. Também tinha alguns piercings na orelha. Admito que ele era estiloso.

— Quer? — perguntou, e franzi a testa confusa.

— Não? — neguei o óbvio, e bebi um pouco da minha bebida, fazendo uma cara satisfatória no final.

Ruel passou a mão no cabelo, deixando-o para trás e tragou seu cigarro novamente.

— Estou indo. — eu disse passando pelo balcão.

— Embora? — soltou a fumaça presa em sua boca e me olhou.

— Por que o interesse? — parei.

— Sou curioso. — respondeu sem demora. Ele se encostou na bancada e continuou me encarando. Estava sério e os dedos ainda seguravam o cigarro que estava quase acabando. — Certeza que não quer? — estendeu.

— Eu nunca fumei, então não. — falei. Eu já estava demorando demais, a Ariel com certeza estaria muito irritada comigo. — Preciso voltar! Minha amiga está sozinha! — umedeci os lábios e olhei para frente.

— Não mesmo... — ele disse. — Vi o Cameron com ela. — pegou um copo e começou a fazer alguma bebida.

— Sério? — perguntei. — Está falando serio? — coloquei os copos novamente na mesa, e encarei o loiro. — Ela não costuma se relacionar e nem conversar com nenhum menino, mas isso não importa agora... — pressionei os lábios. Eu estava feliz por saber que a Ariel estava pelo menos conversando com um garoto. — Pelo visto, irei beber as duas. — suspirei.

— Quer sair daqui? — perguntou enquanto colocava vodca no seu copo e sacudia sua bebida.

— E ir para onde? — ri sem humor. — Por que você iria querer ir embora? Tem drogas, baseados e bebidas aqui, e até onde sei, você gosta disso. — impliquei. — Isso aqui é uma fortaleza para você! — apoiei minhas costas na parede.

— É isso o que você pensa de mim? — perguntou rindo, e logo virou o copo em sua boca.

— É isso o que todo mundo diz. — admiti dando de ombros e também bebendo minha bebida. — Na verdade, isso é só uma parte do que as pessoas dizem de você. — sentei na outra bancada, ficando de frente para ele.

— Então você anda falando de mim? — perguntou e neguei.

Infelizmente, em todo lugar do colégio, as pessoas comentam sobre ele, e é difícil fingir não ouvir, quando a maioria das pessoas fala numa altura bem acessível.

— Não. — eu disse.—- Não tenho culpa se você é o centro das atenções! — cruzei as pernas e apoiei as mãos no meu colo.

— Eu também já ouvi muitas coisas de você... — comentou.

— O que você ouviu? — perguntei de volta. Nunca os ouvi falarem de mim, e admito que após saber me deixou curiosa.

— Aceita sair comigo que falo o que ouvi de você. — ele disse. Seu sorriso era divertido e descarado. Ruel jogou a cabeça pro lado, e isso me fez rolar os olhos.

— Então é assim que consegue sair com as garotas? — perguntei. — Essa é a sua arma? — brinquei, e ele riu.

— Às vezes sim! — respondeu. — Tenho que usar tudo que tenho, não é!? — umedeceu os lábios.

— Vai me trazer de volta? — perguntei hesitante, e ele assentiu enquanto descia da bancada que estava sentado, e me ajudando a descer também.

Pedi para ele esperar, pois eu tinha que avisar as meninas que iria sair. Fui até a Ariel e vi ela conversando com o Lewis. Minha amiga estava envergonhada. Suas bochechas vermelhas e seus dedos mexiam exageradamente, e isso só acontecia quando ela ficava nervosa. Anne estava com o Shawn em algum lugar, então apenas mandei Ariel avisar para ela, e voltei para a cozinha, onde o Ruel continuava em pé acendendo outro cigarro.

Andei primeiro, enquanto empurrava delicadamente as pessoas que estavam na sala. A casa estava cheia. Senti mãos enormes segurarem minha cintura, e presumi ser do loiro, pois como ele estava atrás, tinha me segurado para que não me perdesse de vista. As meninas me olhavam com cara feia quando viu que o garoto me seguia, e não dei muito bola para isso. Assim que saímos da enorme residência, fomos até o seu carro e logo entramos. Fechei a porta, e coloquei o cinto de segurança.

— Aonde vai me levar? — perguntei enquanto me ajeitava no banco.

— Você vai ver... — disse e deu partida no carro.

Ri pelo nariz.  Olhei as pessoas, e as ruas que passavam pela janela. Uma música tocava baixinho. Ruel estava me levando para algum lugar longe que comecei a me preocupar. 

Para onde ele está me levando? 

Encarei a estrada assim que ele parou o carro. Pressionei os lábios quando vi um campo. Eu não sei bem explicar.

Ruel desligou o veículo, pegou uma carteira de cigarros no porta-copos, um esqueiro e saiu. Abri a porta e fiz a mesma coisa. Saí e encarei o local.

— É... — cocei a garganta. — Que lugar é esse? — olhei para ele.

Meu cabelo voava por causa do vento.

— Costumo vir aqui. — respondeu ficando ao meu lado e pegando um cigarro da carteira. — Quando estou irritado.

— E você está irritado agora? — olhei para ele, e mexi no cabelo.

O loiro me olhou. Negou com um sorriso fraco nos lábios, e acendeu o isqueiro, fazendo a ponta do cigarro queimar.

— Você não cansa? — perguntei olhando para o esqueiro, e o loiro negou.

— Não. Fumar me deixa calmo! — disse. — Ultimamente ando muito estressado com várias coisas! — estalou o pescoço e me olhou. — Vamos sentar ali. - disse indo até um banquinho de madeira, e assenti.

Segui o loiro que andava em minha frente, e sentamos no banco que mesmo havia sugerido. Ele era coberto com metal, como se fosse um capô. O banco era espaçoso. O silêncio pairou no ar, e tive a iniciativa de falar algo para quebrar o gelo. Estalei a língua e abri a boca na esperança de dizer algo, mas fui cortada.

— Eu não ouvi nada sobre você. — comentou, me fazendo olhar confusa para ele.

— O quê? — perguntei.

— Eu só queria que você saísse comigo. — respondeu levantando seu rosto para me olhar, e o encarei de volta. Ele estava sentado na parte superior do banco, e eu na inferior.

— Por quê? — franzi a testa. — Você poderia me convidar como todo mundo convida, Ruel. — ele disse.

— Não sabia se você sairia comigo. — levou o cigarro novamente em seus lábios. Ele estava calmo.

— E por que eu não sairia com você? — levantei a sobrancelha.

Ele tinha razão. Talvez eu não aceitasse sair com ele. O primeiro motivo seria o Connor, e o segundo é que eu já ouvi muitas coisas sobre o Ruel.

— Sou um fodido, Lore. — disse. — Você não sairia comigo — me olhou como se ele havia falado o óbvio. O Connor também fumava e fazia as coisas dele...

— Você fala como se me conhecesse! — ri sem graça. — Ruel, eu não sou assim. Se eu tiver interessada, eu saio. E eu não me importo se você fuma ou não. A vida é sua, e eu não tenho que opinar. — falei encarando as gotas de água que começaram a cair.

O silêncio pairou novamente, e a única coisa que ouvimos foi a chuva batendo no chão. Os pingos não eram fortes, mas encharcavam qualquer pessoa que quisesse encarar.

— Você não quer mesmo — perguntou mais uma vez, e pude sentir seu olhar queimar em meu rosto.

— Eu já disse que não... — pressionei os lábios. — Por que ainda me oferece? - olhei as botas em meus pés.

— Não sei. - estendeu um cigarro em minha frente. — Sinto como se você quisesse. — me olhou. — Pode pegar! — insistiu.

— Eu nunca fumei. Não sei puxar isso! — peguei hesitante.

— Não tem problema. — murmurou. — Ensinarei a você! — ele disse pegando seu isqueiro no bolso e acendendo o cigarro que estava em minha mão.

Ruel ajeitou o rolo entre meu dedo indicador e o do meio, acendendo o mesmo em seguida. Ele me olhou, e levou o seu na boca, o tragando. Para ele era fácil, pois ele já fuma há bastante tempo.

— Agora faça a mesma coisa que fiz. — pediu me olhando e assenti.

Levei o cigarro na boca, e traguei. Eu estava prestes a sorrir quando senti uma tremenda vontade de tossir, me fazendo arregalar os olhos e acabar tossindo. A fumaça ficou presa em minha garganta. Bati no peito com outra mão, e fechei os olhos.

— É a sua primeira vez, isso é normal! — me olhou rindo. — É assim... — se aproximou. — Você dá tragadas leves. — pegou o cigarro da minha mão, e colocou na minha boca. — Agora você traga devagar e depois solta a fumaça. — disse firme.

Fiz o que ele havia mandado, e dessa vez a fumaça não ficou presa em minha garganta. Estava mais aliviada agora, mas ainda assim, ardia um pouco.

— É tão ruim assim? — perguntou esperando ansiosamente a minha resposta.

— Não... — respondi dando outra tragada, e devolvendo para o Ruel — Mas prefiro não fumar mais... — estendi a mão em sua frente

Ficamos conversando enquanto esperava a chuva passar, e pedi para que ele me levasse para casa quando deu três da manhã. Na vinda a música Black Out Days, de Phantogram, tocava, e agradeci por ele ter uma lista de músicas tão boa.

Mandei uma mensagem de texto para Anne, implorando para que ela deixasse a Ariel em casa antes dela ir para a casa do Shawn. E em seguida, mandei uma para Ariel, falando que tive que ir para casa porque não estava a fim de voltar para festa, mas que no dia seguinte, eu imploraria para que ela me contasse tudo que aconteceu com o Cameron.

Saí do seu carro, agradecendo logo em seguida, e antes que eu pudesse passar pelo portão, Ruel abriu a porta do seu lado e também saiu. Ficou em frente da mesma e me encarando.

— Obrigada por me trazer, Ruel! — fiz um gesto com a mão, e ele assentiu.

— Não está esquecendo de nada? — juntou as sobrancelhas.

— Não vou beijar você. — cruzei os braços, e arqueei uma sobrancelha.

— Não estou falando disso... — rolou os olhos de forma entediante e riu. — Seu telefone... — disse andando até a mim e me dando seu celular.

Ri por falar algo tão idiota e peguei o aparelho, logo digitando meu número e anotando, devolvendo-o em seguida. Eu estava com muita vergonha.

— Pronto! — falei. — Agora vou entrar. — eu disse me afastando.

Assim que entrei em casa, ouvi o barulho do carro indo embora, e me assustei pela velocidade. Com certeza, ficaram as marcas do pneu na estrada. Fui direto para o meu quarto, e tirei a roupa, entrando no banheiro para tomar banho e tirar o fedor de cigarro. Nunca pensei em fumar, até o Ruel me dizer que ele sentia como se eu quisesse. Mas, eu realmente queria? Bom, se eu não quisesse, eu não aceitaria de jeito nenhum.

Escovei os dentes e procurei um pijama. Coloquei meu telefone em cima da mesinha, ao lado do notebook e deitei na cama. Eram três e vinte e cinco da manhã, e agradeço por não ter exagerado na bebida. Na verdade, não sou de exagerar, pois odeio a ressaca no dia seguinte.

Perguntarei à Ariel tudo o que aconteceu, pois fiquei muito feliz quando a vi conversando com o Lewis. Só deixei porque nunca ouvi nada comprometedor dele, e eu protegeria ela de todos os homens galinhas que existem.

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