Ruel
— Casa do Murphy hoje... — a voz alta do outro lado da linha fez com que a dor em minha cabeça piorasse.
— Fala baixo, Carter... — pedi. — Filho da puta... — juntei as sobrancelhas.
— Vá se foder! — disse, seu tom agora era baixo. — Se drogou de novo? Como você não cansa? Você vai acabar tendo uma overdose, porra... — me repreendeu.
— Festa hoje de novo, Shawn!? — resmunguei após ignorar seu comentário. Eu havia acordado com o celular vibrando em baixo de mim.
Depois de deixar Lore em casa, fui para a minha. Eu não estava a fim de festa. As coisas que venho fazendo com o Ralph estão me deixando maluco.
— Sim. De novo! — respondeu meu velho amigo.
Rolei os olhos e enquanto levantava da cama. Me esforcei para que o meu corpo me obedecesse. Minha cabeça estava girando, como consequência do exagerado nos comprimidos e na bebida que ingeri no quarto ontem a noite. Encarei o chão após meu pé doer devido a um dos meus isqueiros. Eu havia pisado. Peguei-o e joguei em cima do lençol branco.
— Não sei se irei... — comecei. — Meu pai não está em casa, e eu tenho que ficar com a Kate. — acrescentei, e ouvi uma risada alta na linha do telefone.
— Ruel, deixa disso...! — riu. — Você sempre diz essas coisas como desculpa, mas sei que é mentira. Sou seu amigo há anos! — me repreendeu. — A sua casa é cheia de seguranças, o que para mim é um exagero... — disse.
Ele estava certo. Meu pai, o Ralph, colocou seguranças na casa inteira devido ao que ele faz. Meu pai é um dos conselheiros mais confiáveis da máfia. Ele não estava se envolvendo nisso ultimamente. Estava fora há três anos, porém, na semana passada, o velho fechou contrato com o chefe da máfia inglesa, seu nome era Benjamin Orlando. Na sexta, fomos para o evento da empresa Orlando's, onde vários sócios e empresários palestravam sobre suas ideias, o que para mim é uma encheção de saco.
Minha mãe, a Kate, é dona da revista mais lucrativa, famosa e conhecida dos Estados Unidos. Digamos que a senhora Evans é uma mulher muito conhecida no mundo da moda. Ela sabia sobre o envolvimento do seu marido com o crime. Não apoiava no começo, é claro, mas meses depois, Karen se acostumou. E como sua irmã, a minha tia, é uma advogada muito talentosa e boa no que fazia, era trabalho dela resolver se vazasse algo.
Meu relacionamento com meu pai não é bom, já que ele mesmo me envolveu nisso quando eu tinha apenas dezesseis anos. Sua esposa nunca concordou com isso, mas nunca se impôs ou impediu que o Ralph destruísse minha vida.
— Está muito quieto, Ruel... — ouvi o Shawn comentar de longe.
— Estou pensando! Eu realmente não estou a fim de sair de casa... — falei arrastado enquanto colocava a ligação no viva-voz e caminhava até o banheiro.
— Anne levará suas amigas... — disse provocativo.
— E? — peguei minha escova de dente, e coloquei um pouco de creme dental nela.
— Murphy comentou que viu você saindo com a Lore ontem! — Shawn bocejou, e presumi que ele também acordou há minutos atrás.
— O que isso tem a ver!? — perguntei após dar uma pausa na escova, e voltar a escovar novamente.
— Não sei. Me diz você! — falou. — Está afim dela? — a provocação na sua voz era notória.
Enxuguei minha boca e guardei a escova assim que terminei. Meu banheiro não estava sujo. Só o chão do meu quarto que tinha alguns sacos de comprimidos e baseados. Eu provavelmente arrumaria depois de falar com Shawn.
— Não! — disse simples. — Ela tem rolo com o Connor, e você sabe! — caminhei até a sacada e entrei na mesma.
— Hummm... — falou, sua voz estava longe agora, parecia estar distante do telefone.
— Vou desligar! Preciso tomar banho. — eu disse, colocando meu celular em cima da mesinha de centro, que ficava na sacada do meu quarto. Sentei em uma das cadeiras e encarei a vista. A vista do jardim verde e das árvores distantes sempre foi bonita para mim. Dava para ver os seguranças em frente ao portão de casa, e provavelmente teria alguns atrás da mansão também.
— Ok! Nos falamos depois. Só Me avise depois se for para festa... — ele disse, e desliguei a ligação.
Voltei para a quarto e comecei a pegar as coisas que estavam espalhadas no chão. Guardei os saquinhos dos comprimidos que também se encontravam jogados, e arrumei a cama.
Quando saí do banheiro, a Mary já estava arrumando o meu cômodo. A mulher tinha quarenta e cinco anos. Ela é uma das mulheres que trabalhavam para os Evan's desde quando eu tinha seis anos. É como uma segunda mãe para mim, e é a segunda pessoa que eu mais respeito nessa casa.
Deixei um beijo no topo da sua cabeça, o que fez a mais velha sorrir sincera para mim.
— O Ralph...? — perguntei indo até à parte do closet, e fechando a porta para que eu pudesse vestir me vestir.
— Está no quartinho! — ouvi sua resposta, e acabei lembrando que meu pai havia trazido um homem, o qual ele já estava caçando há um bom tempo. O quartinho era apenas um nome de disfarce, nele o Ralph levava os homens que ele tem interesse e os torturavam para arrancar informações.
Escolhi uma roupa que costumo usar e voltei para o quarto. Mary passava a vassoura em baixo da minha cama. Ela me olhou com uma expressão repreendida quando um comprimido branco apareceu e fechou a cara.
A mulher odiava saber que eu me drogava. Mas, fazer o quê? Esse era o único jeito de esquecer a minha vida miserável.
Ao andar pelo corredor, decidi dar uma passada no “quartinho”. Assim que entrei, vi o mesmo homem de ontem estava sentado na cadeira. Aparentava ter uns quarenta anos. Encarei seu rosto ensanguentado com um semblante de pena, ele também tinha uma fita prata na boca. Estava fodido.
Meu pai limpava suas mãos com um pano branco, deixando o tecido sujo de vermelho.
— Vincent... — comentou me olhando, e logo voltando para o homem da cadeira.
— Posso saber quem é esse? — perguntei. Seu rosto era estranho. Eu ainda não sabia quem era o homem.
— Mudará algo na sua vida se souber!? — foi grosso como sempre, e ri sem humor.
— Cadê a mamãe? — cruzei os braços.
— Saiu. — respondeu simples. — Tem algo para me contar? — perguntou.
— Não! Por que teria? — respondi desviando minha atenção para ele.
— Tem certeza? E sobre a garota... — comentou, me fazendo dar de ombros, e olhar para o homem novamente.
— O que tem ela!? — perguntei e engoli seco.
Ouvi meu pai suspirar e ficar em minha frente, me encarando como se estivesse pronto para dar um soco no meu rosto ali mesmo. Ele não é de ter paciência, e é até um pouco divertido vê-lo com raiva.
— Não me faça perder tempo com você... — fechou os olhos. — Me diga agora o que descobriu sobre a filha do Benjamin! — ele estava sério.
— Não descobri nada... ainda. — disse. — Fiz o primeiro contato ontem em uma festa. Mas, não foi nada, além disso. A única coisa que me surpreendi foi quando ela fumou cigarro, porém, também não foi de grande coisa. — mexi o pescoço. — Satisfeito? — perguntei.
— Não! — me olhou. — Faça mais contato, se aproxime mais e descubra alguma coisa que me faça entregar o Benjamin para o sub-chefe da máfia. — disse. — Esse daqui trabalha para ele, assim como eu. Mas, é ele quem anda fazendo os trabalhos sujos do chefe. — se aproximou do homem. — Seu nome é Edgar. Ele tem uma esposa linda, a qual irei visitá-la com a minha linda família mo seu funeral. — me olhou. — Iremos prestar condolências e sentimentos, pois como um membro da máfia, preciso fazer isso. — riu encarando homem. — Agora vá! Preciso terminar isso aqui! - exigiu.
Saí sem demora.
A tarde pesquisei mais sobre a Lore. Nas suas redes sociais tinham apenas três fotos suas. A primeira com suas amigas, outra em uma praia. Ela usava um jeans claro e um biquíni preto. E a última com o Connor. Lore tinha dezessete anos, atualmente solteira, mas ainda assim, sua amizade com o Connor Pierce, demonstrava algo a mais. A garota havia publicado uma foto com seus pais há segundos atrás, e decidi curtir e seguir. Orlando logo seguiu de volta. Questionei se ela sabia ou não sobre o pai ser chefe da máfia mais famosa e criminosa do país. Sua mãe era uma ótima advogada, a qual faria um disfarce perfeito para o Benjamin. Família perfeita. Não tinha como ninguém suspeitar ou achar que ele se envolveria em uma coisa assim. Ela e minha tia ficariam empatadas em questão de serem ótimas no que faziam. Meu pai foi procurado pelo Benjamin. Orlando alegou ter ouvido muitos comentários positivos sobre o trabalho do Ralph, e então ficou interessado. Entrou em contato e disse precisar ter
LOREO vento que entrava pela janela do carro, fazia meu corpo se arrepiar. Estava frio e a chuva começou a cair minutos atrás. Fraca, na verdade, mas com certeza já engrossaria em segundos. O motorista dirigia tranquilamente. Minha mãe estava ao meu lado, e meu pai no banco da frente. Estávamos indo para o funeral de Edgar. Um homem que trabalhava com meu pai na empresa. Ele sofreu um infarto.Quando acordei e desci para cozinha, onde pretendia comer alguma coisa. Vi Carla com um semblante triste. Eu estava arrumada, pois iria até a casa da Ariel para estudarmos, porém, desisti quando a mulher deu a notícia. Eu não conhecia Edgar, mas já o vi algumas vezes nos eventos e na empresa. Meu pai estava arrasado. O homem tinha uma muita consideração pelo Edgar. O falecido era praticamente como se fosse da família para ele.Quando o carro parou, descemos e entramos no cemitério. A chuva começou a engrossar, e por sorte, lembrei de pegar o guarda-chuva. Quando nos aproximamos da família Miles
LOREDepois de tanta insistência, Ruel aceitou jogar e assim que levantamos, um casal pediu para participar. Por mim, estava tudo bem, mas o loiro chato resmungou incomodado. O namorado acabou fazendo um strike na primeira arremessada, fazendo sua namorada de cabelo loiro aplaudir e sorrir.Era a vez do Vincent. Ele colocou cuidadosamente o dedo do meio e o anelar nos buracos da bola, e se preparou para arremessar, também fazendo um strike. Seus dedos se movimentavam em perfeita sincronia e engoli seco, sentindo meu rosto queimar. Ele me olhou, e um sorriso quase impercebível surgiu. Sorri de volta e me levantei.Era a vez da Fefe. Quando ela arremessou, quase todos os pinos caíram, exceto dois, fazendo-a arremessar de novo, e ter o mesmo resultado. A garota cresceu o bico irritada, e cruzou os braços. Esta estava decepcionada com si mesma. Seu namorado a acalmou, e disse que na próxima, a garota conseguiria.Era a minha vez. Ajeitei meus dedos na bola, e me posicionei, sem dobrar o c
Contém Gatilho. RUEL Eu estava sentado sozinho no sofá da casa da minha avó, enquanto Ralph e seu irmão conversavam sobre seus assuntos sérios na área externa da casa, fora do cômodo. Já Kate, minha mãe, estava no jardim com a esposa do meu tio e minha progenitora. Clary, mãe do meu pai, nos convidou para virmos almoçar em família hoje, alegando que nunca mais viemos nesses almoços, e ela estava certa. Como os trabalhos do Ralph aumentaram, ele acabou esquecendo muitas coisas, e inclusive, almoçar com a família Evans era uma delas. Isso está fazendo com que o velho fique mais estressado que o normal. Ontem, quando acabei de acordar, o Ralph já estava estressado. O capanga do Benjamin abriu a boca, e falou que ele fazia apenas o que o seu chefe mandava. E o seu último ato feito foi sequestrar uma garota para chantagear o pai, o qual estava devendo uma boa grama pro Orlando, e quem acabou sofrendo fui eu, como de costume. Como meu pai já estava furioso, decidi deixá-lo ainda mais. Q
LORE — Você está me ouvindo? — Ariel perguntou me encarando e franzi a testa. Eu ouvi? — Lore? No que você está pensando? — falou.— Em nada. — eu disse. — Apenas me desliguei. Me desculpe! Pode repetir? — bocejei. Eu estava com sono, e o motivo foi ter dormido tarde porque estava conversando com Ruel quase a madrugada inteira. Marcamos de sair ontem, mas ele acabou tendo um compromisso com o pai, e basicamente foi em cima da hora, então deixamos para outro dia. Acabei tendo uma leve discussão com meu pai ontem também. Ele é incrível e sempre foi atencioso comigo, em relação a isso eu não tenho o que reclamar, mas ultimamente ele está distante. Ontem Benjamin chegou bêbado em casa, o que nunca aconteceu. Acho que a morte do Edgar o afetou mais do que eu imaginava. Acabamos dizendo coisas ruins um para o outro. Foi horrível. Nunca chegamos a esse ponto. Hoje estou um pouco desligada por causa disso. Esse desentendimento está me matando. Não somos de ficar chateado um com o outro. —
LORE— Ainda bem que chegaram. — disse Loren.— Já tem um pessoal lá dentro, mas eu disse para o Malcon que as próximas eram a gente... — Ariel comentou e assenti.Malcon era um garoto de vinte anos que cuidava da sala.Quando vimos o grupo saindo, colocamos o colete e pegamos as armas. Ariel me ajudou a ajeitá-lo no corpo, e agradeci a garota que logo sorriu. As luzes que ficavam acessas nos coletes significavam lugares onde os adversários deveriam acertar. Uma luz em cada ombro e outra no umbigo. Esses eram os locais.Apertei no gatilho da minha arma, e a cor do laser era vermelha, olhei para Ariel quando ela apertou no gatilho da sua também, e sorriu ao ver a cor da sua, estávamos juntas. Como estava ímpar, seria três contra duas. Anne, Loren e Sidney contra eu e Ariel. Todas às vezes que jogamos, só tivemos cinco derrotas.Entramos na sala, logo nos separando. Fui com a Ariel para uma isolada, aonde começaríamos o jogo. Assim que o local ficou escuro, nós abrimos a porta e começamo
Contém Gatilho:RUELBenjamin estava sentado ao lado de um amigo, o qual ele mesmo havia dito que estava te devendo uma boa grana. Meu pai o acompanhou, já que o seu chefe ordenou isso, e por consequência de ter decidido faltar no colégio, Ralph me trouxe junto, alegando que eu precisava ver de perto quem era o homem podre para quem ele estava trabalhando.E eu sabia que era para acelerar o que ele tinha me pedido, ou seja, as informações que preciso recolher da Lore para fazer com o que seu pai seja punido e pague pelo que fez e anda fazendo. O vice-chefe da máfia, o melhor amigo de Benjamim, o acusou de ter matado o antigo conselheiro por descobrir coisas mais do que ilegais do Orlando, e a missão passada para mim pelo meu pai, foi conseguir informações que nos diga onde está esse dossiê.Acredito que Lore não suspeita de nada. Não é possível que uma pessoa saiba que sua família é envolvida com a máfia e ainda conseguir ser como ela é. Alegre, sem preocupações ou até receio de ser se
Contém Gatilho.LORENos últimos dias Ruel parecia distante, mesmo nós dois estando juntos, parecíamos estarmos longe. A leitura do livro foi simples e prática, como o loiro tinha muitos compromissos com o pai na maioria do tempo, nós concordamos em um escolher qualquer livro que o outro já tenha lido, então escolhemos O Casamento, de Nicholas Sparks. Era uma sequência de Diário de Uma Paixão. O Vincent tinha me pedido para escolher qualquer um que eu já tenha lido, e ele dava uma lida rápida quando tivesse tempo.Acabei percebendo que ele sempre desviava ou fugia do assunto quando eu perguntava o porquê dele ter começado a fumar e usar drogas. Na maioria das vezes que nos encontrávamos, ele estava de mau-humor, e não queria conversar por muito tempo, e isso me levou a pensar que o seu relacionamento com os pais não era tão bom quanto transparecia. Porém, pelo pouco que vi quando conheci a Kate, ela demonstrava gostar muito do filho, mas já o Ralph, eu não conseguia ver nada nele enqua