QUATRO

Ruel

— Casa do Murphy hoje... — a voz alta do outro lado da linha fez com que a dor em minha cabeça piorasse.

— Fala baixo, Carter... — pedi. — Filho da puta... — juntei as sobrancelhas.

—  se foder! — disse, seu tom agora era baixo. — Se drogou de novo? Como você não cansa? Você vai acabar tendo uma overdose, porra... — me repreendeu.

— Festa hoje de novo, Shawn!? — resmunguei após ignorar seu comentário. Eu havia acordado com o celular vibrando em baixo de mim.

Depois de deixar Lore em casa, fui para a minha. Eu não estava a fim de festa. As coisas que venho fazendo com o Ralph estão me deixando maluco.

— Sim. De novo! — respondeu meu velho amigo.

Rolei os olhos e enquanto levantava da cama. Me esforcei para que o meu corpo me obedecesse. Minha cabeça estava girando, como consequência do exagerado nos comprimidos e na bebida que ingeri no quarto ontem a noite. Encarei o chão após meu pé doer devido a um dos meus isqueiros. Eu havia pisado. Peguei-o e joguei em cima do lençol branco.

— Não sei se irei... — comecei. — Meu pai não está em casa, e eu tenho que ficar com a Kate. — acrescentei, e ouvi uma risada alta na linha do telefone.

— Ruel, deixa disso...! — riu. — Você sempre diz essas coisas como desculpa, mas sei que é mentiraSou seu amigo há anos! — me repreendeu. — A sua casa é cheia de seguranças, o que para mim é um exagero... — disse.

Ele estava certo. Meu pai, o Ralph, colocou seguranças na casa inteira devido ao que ele faz. Meu pai é um dos conselheiros mais confiáveis da máfia. Ele não estava se envolvendo nisso ultimamente. Estava fora há três anos, porém, na semana passada, o velho fechou contrato com o chefe da máfia inglesa, seu nome era Benjamin Orlando. Na sexta, fomos para o evento da empresa Orlando's, onde vários sócios e empresários palestravam sobre suas ideias, o que para mim é uma encheção de saco.

Minha mãe, a Kate, é dona da revista mais lucrativa, famosa e conhecida dos Estados Unidos. Digamos que a senhora Evans é uma mulher muito conhecida no mundo da moda. Ela sabia sobre o envolvimento do seu marido com o crime. Não apoiava no começo, é claro, mas meses depois, Karen se acostumou. E como sua irmã, a minha tia, é uma advogada muito talentosa e boa no que fazia, era trabalho dela resolver se vazasse algo.

Meu relacionamento com meu pai não é bom, já que ele mesmo me envolveu nisso quando eu tinha apenas dezesseis anos. Sua esposa nunca concordou com isso, mas nunca se impôs ou impediu que o Ralph destruísse minha vida.

— Está muito quieto, Ruel... — ouvi o Shawn comentar de longe.

— Estou pensando! Eu realmente não estou a fim de sair de casa... — falei arrastado enquanto colocava a ligação no viva-voz e caminhava até o banheiro.

— Anne levará suas amigas... — disse provocativo.

— E? — peguei minha escova de dente, e coloquei um pouco de creme dental nela.

— Murphy comentou que viu você saindo com a Lore ontem— Shawn bocejou, e presumi que ele também acordou há minutos atrás.

— O que isso tem a ver!? — perguntei após dar uma pausa na escova, e voltar a escovar novamente.

— Não sei. Me diz você! — falou. — Está afim dela? — a provocação na sua voz era notória.

Enxuguei minha boca e guardei a escova assim que terminei. Meu banheiro não estava sujo. Só o chão do meu quarto que tinha alguns sacos de comprimidos e baseados. Eu provavelmente arrumaria depois de falar com Shawn.

— Não! — disse simples. — Ela tem rolo com o Connor, e você sabe! — caminhei até a sacada e entrei na mesma.

— Hummm... — falou, sua voz estava longe agora, parecia estar distante do telefone.

— Vou desligar! Preciso tomar banho. — eu disse, colocando meu celular em cima da mesinha de centro, que ficava na sacada do meu quarto. Sentei em uma das cadeiras e encarei a vista. A vista do jardim verde e das árvores distantes sempre foi bonita para mim. Dava para ver os seguranças em frente ao portão de casa, e provavelmente teria alguns atrás da mansão também.

— Ok! Nos falamos depois. Só Me avise depois se for para festa... — ele disse, e desliguei a ligação.

Voltei para a quarto e comecei a pegar as coisas que estavam espalhadas no chão. Guardei os saquinhos dos comprimidos que também se encontravam jogados, e arrumei a cama.

Quando saí do banheiro, a Mary já estava arrumando o meu cômodo. A mulher tinha quarenta e cinco anos. Ela é uma das mulheres que trabalhavam para os Evan's desde quando eu tinha seis anos. É como uma segunda mãe para mim, e é a segunda pessoa que eu mais respeito nessa casa.

Deixei um beijo no topo da sua cabeça, o que fez a mais velha sorrir sincera para mim.

— O Ralph...? — perguntei indo até à parte do closet, e fechando a porta para que eu pudesse vestir me vestir.

— Está no quartinho! — ouvi sua resposta, e acabei lembrando que meu pai havia trazido um homem, o qual ele já estava caçando há um bom tempo. O quartinho era apenas um nome de disfarce, nele o Ralph levava os homens que ele tem interesse e os torturavam para arrancar informações.

Escolhi uma roupa que costumo usar e voltei para o quarto. Mary passava a vassoura em baixo da minha cama. Ela me olhou com uma expressão repreendida quando um comprimido branco apareceu e fechou a cara. 

A mulher odiava saber que eu me drogava. Mas, fazer o quê? Esse era o único jeito de esquecer a minha vida miserável.

Ao andar pelo corredor, decidi dar uma passada no “quartinho”. Assim que entrei, vi o mesmo homem de ontem estava sentado na cadeira. Aparentava ter uns quarenta anos. Encarei seu rosto ensanguentado com um semblante de pena, ele também tinha uma fita prata na boca. Estava fodido.

Meu pai limpava suas mãos com um pano branco, deixando o tecido sujo de vermelho.

— Vincent... — comentou me olhando, e logo voltando para o homem da cadeira.

— Posso saber quem é esse? — perguntei. Seu rosto era estranho. Eu ainda não sabia quem era o homem.

— Mudará algo na sua vida se souber!? — foi grosso como sempre, e ri sem humor.

— Cadê a mamãe? — cruzei os braços.

— Saiu. — respondeu simples. — Tem algo para me contar? — perguntou.

— Não! Por que teria? — respondi desviando minha atenção para ele.

— Tem certeza? E sobre a garota... — comentou, me fazendo dar de ombros, e olhar para o homem novamente.

— O que tem ela!? — perguntei e engoli seco.

Ouvi meu pai suspirar e ficar em minha frente, me encarando como se estivesse pronto para dar um soco no meu rosto ali mesmo. Ele não é de ter paciência, e é até um pouco divertido vê-lo com raiva.

— Não me faça perder tempo com você... — fechou os olhos. — Me diga agora o que descobriu sobre a filha do Benjamin! — ele estava sério.

— Não descobri nada... ainda. — disse. — Fiz o primeiro contato ontem em uma festa. Mas, não foi nada, além disso. A única coisa que me surpreendi foi quando ela fumou cigarro, porém, também não foi de grande coisa. — mexi o pescoço. — Satisfeito? — perguntei.

— Não! — me olhou. — Faça mais contato, se aproxime mais e descubra alguma coisa que me faça entregar o Benjamin para o sub-chefe da máfia. — disse. — Esse daqui trabalha para ele, assim como eu. Mas, é ele quem anda fazendo os trabalhos sujos do chefe. — se aproximou do homem. — Seu nome é Edgar. Ele tem uma esposa linda, a qual irei visitá-la com a minha linda família mo seu funeral. — me olhou. — Iremos prestar condolências e sentimentos, pois como um membro da máfia, preciso fazer isso. — riu encarando homem. — Agora vá! Preciso terminar isso aqui! - exigiu.

Saí sem demora.

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