LORE
O vento que entrava pela janela do carro, fazia meu corpo se arrepiar. Estava frio e a chuva começou a cair minutos atrás. Fraca, na verdade, mas com certeza já engrossaria em segundos. O motorista dirigia tranquilamente. Minha mãe estava ao meu lado, e meu pai no banco da frente. Estávamos indo para o funeral de Edgar. Um homem que trabalhava com meu pai na empresa. Ele sofreu um infarto.
Quando acordei e desci para cozinha, onde pretendia comer alguma coisa. Vi Carla com um semblante triste. Eu estava arrumada, pois iria até a casa da Ariel para estudarmos, porém, desisti quando a mulher deu a notícia. Eu não conhecia Edgar, mas já o vi algumas vezes nos eventos e na empresa. Meu pai estava arrasado. O homem tinha uma muita consideração pelo Edgar. O falecido era praticamente como se fosse da família para ele.
Quando o carro parou, descemos e entramos no cemitério. A chuva começou a engrossar, e por sorte, lembrei de pegar o guarda-chuva. Quando nos aproximamos da família Miles. Meus pais abraçaram a viúva e uma garota, então fiz o mesmo, dando um sorriso reconfortante para a sua filha de nove anos, que chorava abraçada a sua mãe. Isso me fez chorar ao ver seu sofrimento, qual nunca me imagino passando.
A esposa do Edgar, Catarina, caminhou até a lápide do marido e colocou sua mão no peito. Ela suspirou fundo e fechou os olhos, no intuito de começar um discurso. Sua voz era sofrida, e lenta, cheia de dor e saudade. Suas palavras foram breves, mas dolorosamente lindas.
Meu pai desviou sua atenção para algo atrás de nós, e para matar minha curiosidade, virei a minha cabeça. O mais velho caminhou até a família que acabara de chegar, cumprimentando-os, e assim que eles se aproximaram, nos cumprimentaram também.
— Lamentável! — disse Ralph. — Que Deus conforte o coração da família, e guarde o falecido em um bom lugar! — acrescentou suspirando. — Eu nem tive a chance de conhecê-lo... — suspirou mais uma vez. — É realmente uma pena! — olhou triste para o chão abaixo dos seus pés. Ele parecia decepcionado.
Kate, sua esposa, se aproximou de Catarina, e abraçou a mulher. Levou sua mão até o ombro da viúva, e alisou o local enquanto conversavam.
O que me deixou curiosa foi o fato do Ruel não vir com os pais. Sei que ele não conhecia o Edgar, mas como sua família trabalhará com a empresa, seria legal se ele também viesse e prestasse apoio. Mas bom... isso era opcional.
Me ajeitei ao lado do meu pai, e voltei a olhar para o pessoal que estavam discursando. Agora eram os amigos. Segurei forte meu guarda-chuva, e também meu celular com a outra mão. O frio estava ficando pior. Eu estava com um vestido preto. Era um pouco justo no corpo e batia no meio das minhas coxas. Também um casaco escuro por cima, o qual passava um pouco do tecido do vestido. A bota preta que eu usava tinha um pequeno salto nós pés. Meu cabelo estava solto.
— Lore... Esse é o seu nome, certo!? — Ralph perguntou sorrindo, e assenti ao virar para ele. — O Ruel foi no banheiro, mas já faz um bom tempo... — murmurou. — Você poderia chamá-lo? — pediu, e pressionei os lábios, hesitante.
Meu pai olhou para o homem ao nosso lado com seu olhar era sério e o maxilar trincado. Logo olhou para mim com um sorriso pequeno, e assentiu, como se estivesse permitindo.
— Claro! Posso sim. — falei. Curvei um traço com os lábios e dei as costas.
Caminhei para onde ficava o banheiro. A grama e as gotas de chuvas molhavam as minhas botas. Acabei tropeçando em uma pedra, o que me fez revirar os olhos e xingar baixinho. Como não tinha nenhuma placa ou aviso, dizendo se era masculino ou feminino, entrei sem demora, logo vendo o loiro alto de costas para mim.
Ele mexia algo em sua frente. Seus braços se movimentavam rápidos. Notei um cartão sujo com um pó branco nele. Ruel guardou o mesmo no bolso, e abaixou sua cabeça, fazendo um barulho que me presumir que o loiro estava inalando o pozinho. Mas, após fungar seu nariz de novo e jogar sua cabeça para trás, tive certeza. Ele estava sorrindo.
Logo o garoto inclinou seu corpo para trás e mexeu no nariz. Quando o mesmo se virou, seus olhos arregalaram quando me pegou parada olhando para ele. Fiquei sem reação. Cocei a garganta enquanto tentava disfarçar olhando para baixo.
— Costuma entrar sem avisar? — perguntou. Ele parecia irritado. Sua voz era séria e firme.
— Poderia ser outra pessoa. Até mesmo o seu pai. — respondi. — Ele que me mandou vir te chamar. — molhei os lábios, enquanto fechava o guarda-chuva.
Ruel riu sem humor, e assentiu como se tivesse pensado em algo. Lavou o rosto na torneira da pia branca e logo voltou a me olhar, me encarando sem interesse.
— Você não viu nada, está bem!? — disse.
— Eu não vi você se drogando... — ri sem humor. O loiro negou em reprovação. — Não. Eu não vi nada! — eu disse, firme.
Ficamos em silêncio enquanto ele lavava as mãos. Por mais que o banheiro seja público, fiquei impressionada por estar limpo e cheiroso. Mas, ainda assim, acho que ninguém deveria fazer esse tipo de coisa aqui.
Minha atenção estava nele e nos movimentos que suas mãos realizavam. Encarei os machucados que tinham nelas. Os gomos estavam avermelhados. Pareciam ralados. Olhei para o seu rosto, mas o loiro estava encarando a água que saía da torneira brilhosa, a qual parecia ser de metal.
— Você está bem?... — perguntei.
— Sim! — deu de ombros.
Ruel estava cansado e aflito, como se estivesse decepcionado e frustrado. E por mais que eu não quisesse forçar a barra para fazer com que ele talvez desabafasse ou conversasse, eu queria que ele ficasse bem.
— O que acha de sair daqui!? — sorri esperançosa. O garoto me olhou após fechar a torneira, e ajeitou sua postura.
Ele vestia uma calça escura, e uma camisa preta de gola alta. Um sobretudo por cima, da mesma cor. Ele usava um sapato social, o que me fez franzi a testa, pois eu nunca tinha o visto usando algo assim, mas admito que caiu bem nele.
Ruel esfregou o nariz mais uma vez, e assentiu devagar. Acho que ele estava começando a ficar drogado, o que me lembrou de ontem na festa, quando o vi após ter discutido com o Connor. O loiro ficou chapado depois de um baseado e meio, o qual ele dividia com o Nate. Ficamos conversando durante a noite inteira, enquanto eu bebia alguma bebida qualquer.
Acabei descobrindo que ele não gostava muito de comida apimentada, já eu não ligava, pois não como diariamente, então para mim, tanto faz. Também descobri que ele ouvia muito de Chase Atlantic, e assumo que as músicas deles são boas.
Saímos do banheiro sem dizer uma palavra. Para quebrar o clima, avisei que iria comunicar aos nossos pais que iríamos sair. Pedi para que ele fosse pro carro, para os seus não o verem naquele estado.
Me aproximei depressa assim que avistei Kate e minha mãe conversando sobre alguma coisa. Ralph e meu pai estavam distantes. Os dois tinham expressões sérias e pareciam estar sussurrando. Benjamin olhou para mim e sorriu exagerado.
— Mãe, eu vou dar uma volta com o Ruel, okay? — eu disse. — Prometo voltar antes do jantar. — avisei, e dei uma olhadinha na tela do meu telefone. Eram três da tarde.
Minha mãe assentiu, e Kate sorriu para mim. Acenei como despedida, e sai do cemitério, onde procurei Ruel, e me aproximei ao vê-lo escorado em seu carro. Seus olhos estavam estreitos, e o chaveiro onde tinha a chave do automóvel e outras três, balançava em seu dedo indicador.
— Eu dirijo! — disse pegando as chaves.
— Sonha! — ele disse e tentou pegar de volta da minha mão. A chuva havia cessado.
— Você não está em condições, e digamos que eu não quero morrer cedo... — falei. — E é isso que irá acontecer, caso você dirigir! — pisquei.
Ruel riu e deu de ombros. Pelo menos, arranquei seu primeiro sorriso do dia, eu acho. Entramos no carro e comecei a dirigir. Meu pai me ensinou quando eu tinha dezesseis. Ele disse que assim que eu fizesse dezoito, me daria um, e eu tiraria a minha carteira de habilitação.
Sua cabeça balançava ao som da música que o mesmo colocou, e como nenhuma surpresa, era do Chase Atlantic. O nome era Swim. Acabei rindo dos seus lábios se mexendo enquanto ele cantarolava a melodia.
Ruel não aparentava ser o que as pessoas falavam. Comigo não, pelo menos. Ele era legal, sua companhia era agradável, e para a minha surpresa, era divertido e fazia algumas piadas, que, na verdade, para mim eram péssimas.
Ele me olhou confuso ao perceber o lugar em que parei o seu carro e levantou suas sobrancelhas. Sua boca estava aberta, e dei de ombros.
— Sério? — murmurou. — Aqui? — perguntou sem ânimo, e desci do carro.
— Você parece estar de mau-humor, então acho que uma partida de boliche melhorará isso... — eu disse abrindo a porta para que ele saísse.
Sorri quando o alto saiu do seu e então entramos no Boliche Ball. Era um lugar onde tinha várias pistas de boliche e inúmeras pessoas passavam a maioria do tempo aqui, jogando.
Ruel sentou em uma cadeira. Sua expressão era péssima, então me aproximei dele e sentei em sua frente.
— Pode pelo menos tentar se divertir hoje!? — perguntei baixo. — Não sei o que você está passando, mas quero que você tente esquecer um pouco, e jogue boliche comigo. — pedi, e pressionei os lábios ao perceber como a última frase havia soado egoísta.
LOREDepois de tanta insistência, Ruel aceitou jogar e assim que levantamos, um casal pediu para participar. Por mim, estava tudo bem, mas o loiro chato resmungou incomodado. O namorado acabou fazendo um strike na primeira arremessada, fazendo sua namorada de cabelo loiro aplaudir e sorrir.Era a vez do Vincent. Ele colocou cuidadosamente o dedo do meio e o anelar nos buracos da bola, e se preparou para arremessar, também fazendo um strike. Seus dedos se movimentavam em perfeita sincronia e engoli seco, sentindo meu rosto queimar. Ele me olhou, e um sorriso quase impercebível surgiu. Sorri de volta e me levantei.Era a vez da Fefe. Quando ela arremessou, quase todos os pinos caíram, exceto dois, fazendo-a arremessar de novo, e ter o mesmo resultado. A garota cresceu o bico irritada, e cruzou os braços. Esta estava decepcionada com si mesma. Seu namorado a acalmou, e disse que na próxima, a garota conseguiria.Era a minha vez. Ajeitei meus dedos na bola, e me posicionei, sem dobrar o c
Contém Gatilho. RUEL Eu estava sentado sozinho no sofá da casa da minha avó, enquanto Ralph e seu irmão conversavam sobre seus assuntos sérios na área externa da casa, fora do cômodo. Já Kate, minha mãe, estava no jardim com a esposa do meu tio e minha progenitora. Clary, mãe do meu pai, nos convidou para virmos almoçar em família hoje, alegando que nunca mais viemos nesses almoços, e ela estava certa. Como os trabalhos do Ralph aumentaram, ele acabou esquecendo muitas coisas, e inclusive, almoçar com a família Evans era uma delas. Isso está fazendo com que o velho fique mais estressado que o normal. Ontem, quando acabei de acordar, o Ralph já estava estressado. O capanga do Benjamin abriu a boca, e falou que ele fazia apenas o que o seu chefe mandava. E o seu último ato feito foi sequestrar uma garota para chantagear o pai, o qual estava devendo uma boa grama pro Orlando, e quem acabou sofrendo fui eu, como de costume. Como meu pai já estava furioso, decidi deixá-lo ainda mais. Q
LORE — Você está me ouvindo? — Ariel perguntou me encarando e franzi a testa. Eu ouvi? — Lore? No que você está pensando? — falou.— Em nada. — eu disse. — Apenas me desliguei. Me desculpe! Pode repetir? — bocejei. Eu estava com sono, e o motivo foi ter dormido tarde porque estava conversando com Ruel quase a madrugada inteira. Marcamos de sair ontem, mas ele acabou tendo um compromisso com o pai, e basicamente foi em cima da hora, então deixamos para outro dia. Acabei tendo uma leve discussão com meu pai ontem também. Ele é incrível e sempre foi atencioso comigo, em relação a isso eu não tenho o que reclamar, mas ultimamente ele está distante. Ontem Benjamin chegou bêbado em casa, o que nunca aconteceu. Acho que a morte do Edgar o afetou mais do que eu imaginava. Acabamos dizendo coisas ruins um para o outro. Foi horrível. Nunca chegamos a esse ponto. Hoje estou um pouco desligada por causa disso. Esse desentendimento está me matando. Não somos de ficar chateado um com o outro. —
LORE— Ainda bem que chegaram. — disse Loren.— Já tem um pessoal lá dentro, mas eu disse para o Malcon que as próximas eram a gente... — Ariel comentou e assenti.Malcon era um garoto de vinte anos que cuidava da sala.Quando vimos o grupo saindo, colocamos o colete e pegamos as armas. Ariel me ajudou a ajeitá-lo no corpo, e agradeci a garota que logo sorriu. As luzes que ficavam acessas nos coletes significavam lugares onde os adversários deveriam acertar. Uma luz em cada ombro e outra no umbigo. Esses eram os locais.Apertei no gatilho da minha arma, e a cor do laser era vermelha, olhei para Ariel quando ela apertou no gatilho da sua também, e sorriu ao ver a cor da sua, estávamos juntas. Como estava ímpar, seria três contra duas. Anne, Loren e Sidney contra eu e Ariel. Todas às vezes que jogamos, só tivemos cinco derrotas.Entramos na sala, logo nos separando. Fui com a Ariel para uma isolada, aonde começaríamos o jogo. Assim que o local ficou escuro, nós abrimos a porta e começamo
Contém Gatilho:RUELBenjamin estava sentado ao lado de um amigo, o qual ele mesmo havia dito que estava te devendo uma boa grana. Meu pai o acompanhou, já que o seu chefe ordenou isso, e por consequência de ter decidido faltar no colégio, Ralph me trouxe junto, alegando que eu precisava ver de perto quem era o homem podre para quem ele estava trabalhando.E eu sabia que era para acelerar o que ele tinha me pedido, ou seja, as informações que preciso recolher da Lore para fazer com o que seu pai seja punido e pague pelo que fez e anda fazendo. O vice-chefe da máfia, o melhor amigo de Benjamim, o acusou de ter matado o antigo conselheiro por descobrir coisas mais do que ilegais do Orlando, e a missão passada para mim pelo meu pai, foi conseguir informações que nos diga onde está esse dossiê.Acredito que Lore não suspeita de nada. Não é possível que uma pessoa saiba que sua família é envolvida com a máfia e ainda conseguir ser como ela é. Alegre, sem preocupações ou até receio de ser se
Contém Gatilho.LORENos últimos dias Ruel parecia distante, mesmo nós dois estando juntos, parecíamos estarmos longe. A leitura do livro foi simples e prática, como o loiro tinha muitos compromissos com o pai na maioria do tempo, nós concordamos em um escolher qualquer livro que o outro já tenha lido, então escolhemos O Casamento, de Nicholas Sparks. Era uma sequência de Diário de Uma Paixão. O Vincent tinha me pedido para escolher qualquer um que eu já tenha lido, e ele dava uma lida rápida quando tivesse tempo.Acabei percebendo que ele sempre desviava ou fugia do assunto quando eu perguntava o porquê dele ter começado a fumar e usar drogas. Na maioria das vezes que nos encontrávamos, ele estava de mau-humor, e não queria conversar por muito tempo, e isso me levou a pensar que o seu relacionamento com os pais não era tão bom quanto transparecia. Porém, pelo pouco que vi quando conheci a Kate, ela demonstrava gostar muito do filho, mas já o Ralph, eu não conseguia ver nada nele enqua
LORE Meus pais reclamaram quando escolhi um filme de ficção, mas logo pareceram intrigados quando o Thomas entrou no labirinto para salvar o amigo, o que me fez rir. O nome era The Maze Runner, o personagem principal era Dylan O'brien, e todos os filmes que ele faz são incríveis. Não costumo assistir esse gênero, mas hoje decidi algo diferente. O filme falava sobre como o Thomas sem memória foi parar em um lugar totalmente desconhecido que também tinha outras pessoas. Nesse lugar havia um labirinto, onde ali era o único lugar que poderia existir a saída, mas eles só perceberam isso depois que uma menina aparece com um bilhete para entregar ao Thomas. O labirinto era quase impossível de escapar, pois muitas armadilhas e inúmeros monstros se encontrava lá, quais foram feitos por cientistas que prometeram para a sociedade uma cura, já que o sol havia destruído o mundo. O segundo filme meu pai escolheu. E como sempre de ação. O nome era O Resgate, e o último era de comédia do Marlon Way
LOREE quando ele saiu do banheiro enrolado na toalha, eu estendi o braço lhe dando uma cueca nova. Minha mãe sempre pedia para as governantas colocarem nas gavetas dos quartos de hóspedes, então peguei uma.O loiro pegou sem dizer uma palavra e voltou para o banheiro, provavelmente iria se vestir, e após fazer o que eu havia presumido, o Ruel saiu novamente usando apenas a calça escura que estava vestindo quando chegou aqui. — Não está sentindo frio? — perguntei para quebrar o silêncio insuportável que pairava no ar. — Minha camisa está suja de sangue. Fui até o meu closet e procurei por um jaqueta de mangas curtas que eu tinha. Uso apenas para dormir quando fico com preguiça de procurar um pijama, e após achá-lo, eu peguei. Era preta, tinha um nome "Los Angeles" na frente, mas era muito bonita. Acho que daria no Ruel, mas o único problema é que como ele é alto, provavelmente mostraria sua barriga caso ele levantasse os braços. O loiro encarou o tecido em minhas mãos e logo me enc