CINCO

A tarde pesquisei mais sobre a Lore. Nas suas redes sociais tinham apenas três fotos suas. A primeira com suas amigas, outra em uma praia. Ela usava um jeans claro e um biquíni preto. E a última com o Connor. Lore tinha dezessete anos, atualmente solteira, mas ainda assim, sua amizade com o Connor Pierce, demonstrava algo a mais.

A garota havia publicado uma foto com seus pais há segundos atrás, e decidi curtir e seguir. Orlando logo seguiu de volta.

Questionei se ela sabia ou não sobre o pai ser chefe da máfia mais famosa e criminosa do país. Sua mãe era uma ótima advogada, a qual faria um disfarce perfeito para o Benjamin. Família perfeita. Não tinha como ninguém suspeitar ou achar que ele se envolveria em uma coisa assim. Ela e minha tia ficariam empatadas em questão de serem ótimas no que faziam.

Meu pai foi procurado pelo Benjamin. Orlando alegou ter ouvido muitos comentários positivos sobre o trabalho do Ralph, e então ficou interessado. Entrou em contato e disse precisar ter certeza que o Evans era competente.

Na verdade, o sub-chefe, o Barry, que também é amigo do Orlando há bastante tempo, pediu para que o meu pai investigasse seu colega. O homem suspeitava que o Orlando que culpado do assassinato do antigo conselheiro, já que o falecido estava fazendo o mesmo trabalho, e acabou sendo morto quando descobriu algo que arruinasse Benjamin. Como o Ralph gosta do perigo, aceitou na hora, e me pediu para que eu me aproximasse da filha do chefe para conseguir alguma informação.

Peguei meu celular e procurei o número dela. Ontem pedi para que a garota me passasse. Seu nome estava salvo como “Lore Orlando”. Ri pela sua criatividade, e cliquei no mesmo, logo ligando em seguida. Já estava no terceiro toque, e quando eu estava prestes a desligar, a ligação foi atendida e pela primeira vez eu não sabia o que falar.

— Alô...? — a voz era confusa. — Quem é? Ligou errado? — acrescentou.

— É... — murmurei. — Sou eu de ontem. Ruel! — disse.

— Ah sim! Achei que você tinha pedido meu número só para enfeitar o seu telefone. — brincou, e deu uma risada no final.

— Não tive tempo para ligar antes! — menti. Óbvio que eu tinha tempo, só não liguei porque esqueci. — Então... — suspirei. — Vai para a festa hoje? Na casa de Murphy. — perguntei. — De novo.

— Hummm. Não sei! — ouvi ela estalar a língua. — Anne comentou comigo, mas ainda não sei! Marquei de estudar com a Ariel, e não posso furar com ela... — explicou.

— Diz para sua amiga que o Lewis estará lá... — sugeri.

— Bom, como eu a conheço bem, ela falaria que homens não darão diplomas, mas, estudos sim! — falou, e um barulho surgiu. — Merda... — comentou. — Por que quer saber se irei? Vai me levar para outro lugar de novo, é!? E me oferecer um cigarro? — provocou.

Ri. Ela gostava de confrontar.

— Não... — respondi ainda rindo, e pegando um comprimido. — Exceto se você quiser, óbvio. Você quer? — amassei a aspirina com uma colher, e fiz duas linhas com meu cartão.

— Talvez... — falou. — Vou desligar... — ela disse. — Preciso sair! Mas, prometo que falarei com a Ariel sobre a festa, e sobre o Lewis. — acrescentou.

— Ok! — falei.

Abaixei minha cabeça para inalar a primeira carreira do comprido amassado em cima da cômoda de madeira, e fiz o movimento mais uma vez após dar uma pausa. Já estava quase na hora da festa na casa do Murphy, mas eu pretendia chegar tarde se a coragem de ir aparecesse. Mandei uma mensagem pro Shawn, avisando que talvez chegaria lá, e deitei na cama.

Não demorou para que eu começasse a sentir meu corpo ficar leve. Eu não sentia meus braços, e por mais que fosse não seja bom para mim, os pouquíssimos minutos valeria a pena. Eu encarava o teto. Ele estava embaçado e borrado. Suspirei devagar e tentei mexer os pés, quais eu não sentia e ri sem motivo.

Decidi fechar os olhos para descansar, para apenas abri-los depois.

Quando finalmente despertei, sentei na cama e peguei meu celular, me assustando quando percebi o horário. Já eram uma e meia da manhã. Acabei dormindo sem perceber. Quatro ligações perdidas e três mensagens do Shawn.

Escolhi uma calça escura jeans. Uma camisa branca e uma jaqueta preta, larga como de costume. Também meus anéis e relógio. Tomei um banho rápido, lavando o rosto e escovei os dentes. Voltei para o quarto e vesti a roupa que coloquei em cima da cama. Peguei meu celular, e antes de saí do quarto, virei um pouco de colírios nos olhos. Eles estavam vermelhos. Fora da mansão, girei a chave no meu carro e dei partida, mas enquanto passava pelo aço, o segurança me olhou receoso. Ele sabia que eu não pedirei para me levar, então se manteve em silêncio. 

Continuei dirigindo até a casa dos Jack's. Mandei mensagem para Shawn, falando sobre ter dormido sem querer e perder o horário, mesmo sabendo que eu não teria nenhum retorno agora.

Cocei os olhos e encarei a estrada. Já estava perto.

Ao chegar, estacionei o veículo e entrei na casa. A música Into It, do Chase Atlantic, pairava pela casa, e o cheiro forte de cigarro, bebida e maconha entrou pelas minhas narinas, me fazendo querer fumar um também. Dessa vez a luz era verde. Em toda festa que os Jack's realizavam, eles mudavam a cor.

Procurei pelo Shawn e quando o vi conversando com a Anne, fui de encontro, mas parei quando senti alguém puxar meu braço e me abraçar. Levantei a sobrancelha ao ver que a Maria envolvia meu corpo com seus braços.

— Você furou comigo... — ela disse cruzando os braços no peito e me olhando furiosa.

Fechei os olhos ao lembrar estarmos nos beijando na cozinha. A loira me disse que iria pegar uma coisa e que logo voltaria. Deve ter visto que eu não estava mais lá, e que saí com a Lore.

— Eu disse que voltaria, mas você não me esperou. — cerrou os dentes. — Por quê? — perguntou.

— Tive que sair imediatamente. — menti. — Foi mal! Depois eu te recompenso. — alisei seu rosto. — Mas, agora tenho que ver uma pessoa. — ela franziu a testa.

Saí sem sua resposta, e me aproximei do Carter. Ele tinha um cigarro nas mãos. O moreno me olhou irritado.

— Onde você estava, porra? — perguntou.

— Em casa. — eu disse. — Acabei dormindo... — suspirei. — Não viu a mensagem que mandei? — respondi, e ele negou.

— Que se foda! Quer fumar? — estendeu o cigarro.

— Quem trouxe maconha para cá? — levei até a boca, e dei uma tragada, puxando e soltando a fumaça logo em seguida.

— Nate! — respondeu abraçando a Anne. Shawn se aproximou do ouvido da namorada e falou alguma coisa, que a fez assentir. 

Olhei ao redor, notando que as pessoas estavam se beijando e fumando como sempre. Vi dois garotos quase brigando, e Murphy os puxando pelas suas camisas e levando-os até a porta de saída.

— Toma. — devolvi o cigarro. — Vou procurar o Nate! — avisei, Shawn assentiu e continuou dançando com as mãos na cintura da sua amada.

Empurrei as pessoas para que eu pudesse passar enquanto procurava o Nate, e não o vi em lugar nenhum, então arrisquei procurá-lo no quintal. Tinham pessoas sentadas nos sofás médios. Outras em pés, quase se comendo ali mesmo, e no outro lado, vi o Connor de costas. Estreitei os olhos para ver melhor a outra pessoa, e notei que Lore estava em sua frente. Era como se eles estivessem discutindo. Ela empurrou seu peito, e Connor saiu pisando duro e irritado. 

Isso me deixou curioso.

Lore passou as mãos no cabelo e olhou em minha direção. De lábios pressionados e com os punhos fechados, ela caminhou até mim, e forçou um sorriso.

— Você viu, não viu!? — perguntou com uma careta no rosto, e assenti.

— Vi! Porém, não ouvi nada. O som está muito alto… — respondi dando de ombros. — A Ariel? — perguntei.

— Saiu com o Cameron! Ele a convidou para um encontro. — respondeu. — Não para essa festa, é claro! — riu fraco.

— Já bebeu alguma coisa? — perguntei, ela negou e colocou as mãos por dentro da sua calça clara. Sua blusa estava dentro da sua jeans. Era da cor branca e tinha mangas longas. Também alguns nomes nas laterais da mesma. Nos pés, ela usava um tênis branco, com um símbolo curvado.

— Não. — respondeu. — Acabei de chegar! — acrescentou. — E acho que vou embora. — suspirou irritada. — Perdi a vontade de ficar aqui. — mexeu no cabelo, e olhou para os lados.

— A festa mal começou, e você já quer ir? — brinquei. — E eu acho que você não deveria ir embora por causa de uma discussão boba que teve com o seu namorado... — olhei para ela, que negou em resposta.

— Connor não é meu namorado... — se apressou em responde. — É meu amigo! O melhor, na verdade. — franziu a testa. — Ele não gostou de saber que eu tinha saído com você ontem... — pressionou os lábios. — Ele te acha perigoso, e meio problemático também. — cruzou os braços.

— E você? Também acha isso!? — perguntei com uma certa curiosidade. Lore molhou os lábios e ficou em silêncio por algum tempo. Parecia estar pensando em uma boa resposta.

— Até que não, sabia? Mas ainda estou analisando... — me olhou. — Bom, ontem gostei de ter saído e de ter conversado com você, mas eu não sei. Aquela foi a primeira vez que tivemos contato. — acrescentou, e sorriu de lado. — Não sei o que você quer comigo, mas o Pierce disse que você pode não ter se aproximado sem querer nada em troca, e isso me magoou. Então, se você for fazer algo que me machuque no futuro, apenas me diga, para que eu possa me afastar de você enquanto há tempo. — ela estava séria, mas ainda assim, tinha um pequeno sorriso forçado no rosto.

Connor, seu filho da puta. Ele não poderia saber de nada, ou poderia? Nunca! 

Com certeza foram os comentários que ele ouviu, e agora só quer proteger a amiga que ele sempre foi afim.

— Minha reputação é tão ruim assim!? — brinquei, e ajeitei meu relógio, logo olhando para Lore novamente.

— Pessoas bonitas sempre têm um defeito... — deu de ombros. — Talvez o seu seja a reputação. — ela engoliu seco, e me encarou de novo.

— Então você me acha bonito?

— Feio, você não é. — piscou brincalhona. Seu senso de humor era interessante.

Suspirei derrotado e assenti.

— Eu não quero fazer nada com você, Lore! — respondi. — Me aproximei porque nos vimos no evento da empresa do seu pai. E naquele dia da festa, você estava sozinha na cozinha, então decidi te chamar para sair. — molhei os lábios. — Como os nossos pais trabalharão juntos agora, acho que seria uma boa se fôssemos amigos. — acrescentei, e ela assentiu aliviada.

— Entendi... — murmurou. — Se for isso mesmo, tudo bem! — pressionou os lábios novamente. — O Connor falou isso inúmeras vezes, que acabou ficando na minha cabeça. — explicou. — Então se você não gostou que eu tenha falado algo ruim, me desculpa, tá!? — pediu. — E também acho uma boa se fôssemos amigos! — sorriu.

Lore agora parecia estar mais relaxada, mas ainda assim, hesitava. Bom trabalho, Connor. Você fez com o que sua amiga começasse a duvidar de mim. E ele estava certo. Eu iria usá-la.

— Vamos beber alguma coisa? — perguntei, recebendo um “sim” dela, e indo até à cozinha, onde ficavam as bebidas.

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