“Eu nunca vou entender esse cretino.”, pensou surpresa, quando Alberto estacionou na área de embarque e desembarque da Cosmus, a agencia em que ela trabalhava.
- Por que fez aquilo com o meu carro? – ela perguntou levando a mão a maçaneta da porta.
- O que aconteceu com seus braços e o seu rosto? – ele rebateu, olhando fixamente para frente.
Sam pensou em inventar uma mentira. Já era patético demais beber até cair no sono por causa de um chifre, agora cair em cima da garrafa, aí seria atestar sua idiotice.
Ela puxou a maçaneta, decidida a não responder.
Saltou do carro sem dizer mais nada e praticamente correu para dentro.
Infelizmente deu de cara com Daniel Benevides, o sócio majoritário da Cosmus e seu chefe. Um homem que odiava atrasos e pessoas mal arrumadas.
Tudo o que ela era hoje.
- Pensei que não fosse dar o ar de sua graça hoje Samanta. – o homem alto e corpulento disse, ele avaliou sua figura lentamente. – Veio direto da farra mais uma vez?
Sam reprimiu a resposta mal educada. Benevides era um pouco intolerante, mas ela estava prestes a conseguir uma sonhada promoção, e não ia jogar todo o seu trabalho no ralo por causa desse comentário.
- Me desculpe Daniel, eu tive um problema com o meu carro.
- A reunião já começou, mas vou deixar essa passar porque preciso que você recepcione os nossos novos clientes essa noite.
- Eu pensei que essa campanha era da Leticia Garbo. – ela respondeu, caminhando em direção ao elevador, sem olhar para trás.
- E ela é. Mas Leticia tem marido e filhos, e aparentemente um deles está doente. Portanto preciso que cubra ela levando os clientes para jantar no Fiorant. – Daniel não a acompanhou, mas continuou falando. – É impressionante como vocês sempre tem uma desculpa para se esquivar de suas funções. Um dia é filhos, outro é o marido, visitas ao ginecologista, e etc.
- Não se preocupe, Daniel, eu vou. – ela respondeu assim que apertou o botão. Só queria que ele parasse de ofende-la abertamente.
- Ah... quase me esqueci. – ele olhou para novamente. – Pelo amor de Deus, vai para casa e se arrume como uma mulher atraente. Do jeito que você está hoje, vai acabar espantando os clientes.
Sam acenou positivamente e adentrou o elevador de cabeça baixa. As portas estavam prestes a se fechar quando ela ouviu uma frase que a deixou petrificada.
- Senhor Darius! Que honra ver o senhor aqui. Em que posso ajuda-lo?
Suas mãos trêmulas impediram que as portas do elevador se fechassem.
- Essa agência foi muito bem recomendada por um parceiro de negócios. – ele fixou os olhos em Samanta. – Agora eu entendo o motivo. – os olhos dele faiscaram como duas esmeraldas iluminadas pelo sol. – Esse “extra” que a Cosmus oferece me parece interessante.
O nó que havia se formado em sua garganta se tornou uma náusea incontrolável. Ouvir aquelas palavras insinuados de maneira tão suja pelo homem que ela amava e que acreditava que um dia seria seu marido, foi como se levasse um soco no estomago.
A humilhação e o desprezo implícitos em seu tom de voz deixava claro o que ele achava que ela fazia com os clientes da agencia.
- Eu fico feliz que tenhamos agradado seu bom gosto, Sr. Darius. Me acompanhe até a minha sala por favor, vamos falar sobre essa parceria. – Daniel sorriu de orelha a orelha.
Seu chefe sabia o que o sobrenome Darius significava, e lutaria com unhas e dentes para obter um deles em sua carteira de clientes.
Alberto sorriu diabólico às costas de Benevides, enquanto o acompanhava até o elevador privativo. Sam apertou o estomago, não conseguia acreditar no que estava acontecendo.
Esse homem estava disposto a tudo para acabar de destruí-la. Tudo isso porque descobriu seu segredo doentio.
O que ele faria agora?
Alberto A mesa de trabalho estava lotada de documentos, mas há duas horas lia o mesmo contrato e não compreendia uma vírgula do que estava escrito. Os trovões do céu tempestuoso do fim de tarde cortavam os céus traduzindo seu mal humor perfeitamente.Ele se levantou, lentamente, caminhando até a parede de vidro que mostrava a cidade aos seus pés. Um homem como ele aceitava NÃO como resposta.Mas parece que sua teimosa e impulsiva odalisca pensava o contrário. Subestimou a capacidade de alimentar paranoias de Samanta. Não estava com paciência para esperar que ela se cansasse de fazer birra por causa de Catarina. Às vezes os dramas daquela mulher durava tempo demais.Samanta agiu como uma esposa traída e ofendida pela imoralidade. A expressão dela quando viu o que estava acontecendo no anexo, só comprovava o que ele já sabia. Ela não foi feita para aquele mundo. A submissão total e as práticas intensas de BDSM eram demais para Samanta.Alberto sabia que ela não ia voltar atrás em sua d
SamantaO restaurante italiano escolhido pela agência para recepcionar os novos clientes ficava na zona sul, na área mais nobre da cidade de São Paulo.A Cosmus sempre causava uma boa impressão em seus clientes, devido ao trabalho criativo e essas recepções e coqueteis pensados no gosto de cada novo cliente.Sam adentrou o Fiorant e forneceu o seu nome ao metre. Ele a conduziu para a mesa reservada, próxima janela com vista para as luzes cintilantes dos arranha-céus. Pediu um prosecco para se acalmar enquanto esperava que seus novos clientes chegassem. Dois minutos depois da bebida chegar, os representantes de marketing e os dois diretores da Caien Automobilística entraram. “Está na hora, garota. Coloque a sua máscara e faça a sua mágica.” O sorriso brilhante se espalhou por seu rosto e ela se levantou para cumprimentar cada um. O vestido branco que usava abraçava sua cintura e suas curvas. O corte era simples na frente, mas com um decote profundo nas costas, deixando-as nuas. Sal
As risadas a sua volta, a empolgação dos homens faziam sua cabeça latejar. Tudo o que ela queria era sair correndo dali, para o mais longe possível do olhar depreciativo de Alberto e das indiretas dos dois diretores da Caien.A assistente de Tony Morello parecia perfeitamente inserida na conversa, a garota bonita de olhos verdes lançava olhares sugestivos para Alberto vez ou outra, e ria junto com o grupo.Ele olhou para a moça, lançando um meio sorriso sedutor.Sam sentiu a náusea subir até sua garganta. Se levantou, se desculpando e seguiu para o toalete. A pouca comida que conseguiu comer, desceu pelo esgoto. As lágrimas ameaçaram descer, mas ela apertou os olhos com força, pressionando seus lábios. O comportamento dele não era uma novidade, afinal de contas ele foi capaz de traí-la e mentir sobre sua vida privada.Lavou a boca e procurou pela escova de dentes e o creme dental dentro da bolsa que costumava usar para trabalhar. Sam terminou de escovar os dentes e pegou o batom verm
AlbertoAlberto dirigia pelas ruas de São Paulo com os nós dos dedos brancos de tanto apertar o volante. O motor do carro roncava ferozmente enquanto ele acelerava, mas não tanto quanto a fúria que queimava em seu peito. O que aconteceu no restaurante foi uma afronta que ele não podia deixar passar. Aqueles desgraçados olharam para Samanta como se ela fosse um presente embalado especialmente para o prazer deles, e Tony Morello... aquele imbecil atrevido, iria aprender uma lição sobre o que acontecia com quem ousava tocar no que pertencia a Alberto Darius.Seus olhos se estreitaram, os maxilares travados. Sempre desconfiou da forma como Daniel Benevides se relacionava profissionalmente com Samanta. Ela estava envolvida em jantares, coqueteis e uma variedade de eventos. Agora sabia exatamente o que estava acontecendo. Samanta estava sendo oferecida como uma diversão camuflada para os clientes da agência. Seu próprio chefe agia como um cafetão, colocando-a em uma vitrine sem que ela se
SamantaAmélia finalmente chegou à lanchonete em que tinham marcado de se encontrar. Sam observou sua prima se aproximar, sem saber se aquilo realmente era uma boa ideia.Por uma infinidade de motivos, ela não revelou a sua prima quem era o namorado misterioso que manteve por mais de dois anos. E depois que Amélia e Ícaro se reencontraram e começaram a se envolver, tudo ficou mais complicado. Não queria estragar o relacionamento deles por causa da antipatia que Amélia nutria por seu namorado.Na verdade, se sentia culpada por permitir que ela pensasse que ele era um canalha em diversas ocasiões. Mas como dizer para sua prima que a dor que sentia era tão grande que ameaçava sufocá-la todos os momentos do seu dia.Não queria que Mel se sentisse culpada por todo esse sofrimento. E se contasse como se sentia, e o peso dos sentimentos da perda, sua prima não iria aguentar. Amélia se culparia por todas as suas desgraças, porque foi durante o seu resgate e fuga, que Sam perdeu tudo o que tin
Ela levantou os olhos cor de mel, marejados de lágrimas para Amélia. Queria pensar como ela, e abandonar esses sentimentos que apunhalavam o seu coração a cada respirar, mas Mel não poderia entender, ela sabia muito pouco sobre a história de Sam com Alberto.- Eu preciso te contar uma coisa... – Sam respirou fundo. – Você sempre pensou que ele era negligente comigo, principalmente quando eu ficava bêbada, mas a verdade é que isso nunca foi culpa dele. Na verdade, ele não gosta que eu beba.- Você está brincando com a minha cara, Sam? – Amélia indagou revoltada. – Todas as vezes que você saia com aquele embuste você chegava em casa trançando as pernas, isso é; quando chegava. Porque muitas vezes eu tive que te buscar em boates, restaurantes e até mesmo naquele prédio de alto padrão no Jardins. - Mel, não é assim... – Sam queria dizer a ela que Alberto nunca fez nada para deixá-la naquela situação, mas para explicar isso, teria que revelar a identidade dele.- Samanta, acorda! Você era
SamantaAlgumas semanas se passaram desde a última vez que ela esteve com Alberto. Ela ignorou as flores, os presentes e a saudade opressiva e debilitante. Tentou seguir sua vida sem ele, como se aquela página de sua vida marcada por suas lágrimas estivesse virada. Sam olhou para a única lembrança que tinha do sonho de uma família que ela tinha. Uma pulseirinha de bebê com um nome gravado. Ela pegou a peça em suas mãos, sentindo os olhos arderem de lágrimas.Guilherme foi o seu primeiro amor, e também foi o homem que ofereceu a ela tudo o que ela sempre sonhou; uma família. Mas depois daquele acidente, seu corpo ficou defeituoso e praticamente incapaz de gerar. Seu coração foi rasgado pela dor e pisoteado pelas palavras dele.Ela nunca pensou que seria capaz de amar de novo, não até conhecer Alberto Darius. O CEO da Acrópole era a personificação da beleza masculina, sensualidade e virilidade. Quando ele olhou para ela, não conseguia acreditar que tinha chamado sua atenção. Ele era i
Samantha parou na entrada luxuosa da Masmorra Die. Seus dedos trêmulos apertavam o volante do carro, e seus olhos marejados refletiam a dor cravada em seu peito. Jurou nunca mais voltar ali. Mas a promessa foi quebrada pela necessidade desesperada de ver com os próprios olhos o homem que amava traindo tudo o que construíram.Ela engoliu em seco, ajeitando a saia lápis cor creme que abraçava suas curvas de maneira impecável. A blusa laranja de alças finas parecia deslocada naquele ambiente, mas não importava. O que importava era o que estava prestes a enfrentar. Segurando firme a caixa preta em suas mãos, desceu do carro. Os saltos altos fazendo um clique firme no chão de pedra. A noite estava fria, mas o gelo que envolvia o seu coração era pior.A poucos metros de distância, através da janela ampla de vidro fumê, ela viu a cena que acabou com seus resquícios de esperança, fazendo cada pedaço de seu ser se despedaçar.Alberto Darius, o homem que durante dois anos foi seu tudo, estava