༺ Maribel Varrozzini ༻
Hoje acabei acordando um pouco atrasada. Coloquei meu uniforme e fiz um coque no cabelo. Passei apenas um batom e blush no rosto, pois não posso perder o emprego que acabei de conseguir. Preciso começar a juntar dinheiro para quando o bebê nascer. Tentarei esconder minha barriga ao máximo da minha chefe. Hoje o dia está um pouco nublado. Só espero que não chova. Sigo até a parada de ônibus e fico um pouco impaciente, por parecer que o ônibus não passa! Após alguns minutos, finalmente o meu ônibus chega. Então, rapidamente, entro e espero chegar ao local onde descerei. Notando que gotas de água surgem no vidro do veículo, desço do transporte e começo a caminhar para chegar ao hotel mais rápido. Começa a cair mais pingos de chuva e ando apressadamente. Estou com tanta pressa que acabo não percebendo um rapaz parado na faixa de pedestre e caio dentro de uma carroça. Quando olho para trás para ver se não tinha nenhum carro, sinto que caí em algo fedido e pegajoso. Quando levanto o rosto, percebo que se trata de merda de vaca. Ah, meu Deus! Só pode ser um pesadelo. O homem me ajuda a levantar e, furiosa, comento tentando tirar o excesso de estrume do meu corpo. — Você é louco? Como anda com uma coisa dessas pela cidade? Principalmente no sinal, meu Deus! E agora perderei o meu emprego por sua culpa! — Moça, a culpa não é minha! Foi você que andou rápido demais ao olhar para trás e não percebeu que a carroça estava na sua frente. Eu ainda penso que foi até bom, pois amorteceu a sua queda no asfalto! — Solto uma risada sarcástica e respondo, tentando tirar aquela quantidade de bosta do meu uniforme. — Só posso estar pagando algum pecado grave, meu Deus! Pois, fique sabendo que eu preferia me machucar no asfalto, porque meu uniforme estaria limpo. Ah, mas eu não ficarei perdendo mais meu tempo com você… Estou atrasada! Saia da frente com essa carroça cheia de imundice. Não continuo discutindo com aquele caipira. Simplesmente ando apressadamente até chegar ao hotel. As pessoas na rua me olham chocadas. Devo estar totalmente atolada de estrume de vaca. Nem sei como entrarei no hotel desse jeito, e muito menos se vão me deixar passar. Como se não bastasse tudo que está me acontecendo, meu salto alto acaba quebrando de um lado ao me assustar com a buzina de um carro. Ele continua atrás de mim, buzinando e furiosa, comento, me afastando para o lado. — Ai! Meu Deus? Já não basta ter caído na bosta de vaca, agora também serei atropelada? Porque você não passa por cima, seu idiota! Não está me vendo? É cego? Hoje realmente não está sendo um bom dia e nem me importo de comentar isso, porque já estou ferrada de qualquer maneira. Nada mais pode acontecer e, se piorar, eu até não ficarei surpresa. Então ouço a porta do carro abrindo, enquanto retiro o meu sapato, e escuto a pessoa que estava no carro se pronunciando. — Por acaso, a culpa é minha? Sua delinquente… Você se mete na frente do meu carro e ainda não quer ser atropelada? — Escuta aqui! Eu não ficarei ouvindo desaforo de um ricaço, seja lá o que você é. Vai se foder… Já estou tendo um péssimo dia para ter que ficar escutando mais reclamações de um playboy metido! Viro-me para olhar para o remetente da voz que me encara silenciosamente. Percebo ser o hóspede do hotel de ontem que me segurou para não cair no chão. Ótimo! Agora realmente estou no olho da rua, pois acabei de discutir com um cliente do hotel. Meu Deus! Será que esse dia pode piorar mais? Ele parece me analisar de cima a baixo e então responde se aproximando. — Espera aí! Você não é a moça de ontem? Meu Deus! O que foi que aconteceu com você? Por acaso, atravessou uma guerra para chegar até aqui? — ele começa a rir do meu estado e não consigo evitar chorar. Meu senhor, é muita humilhação. Por que tudo isso tem que estar acontecendo comigo, justo no meu segundo dia de trabalho? — Calma, moça! Eu não rio por mal, mas acontece que não tem como evitar. Você está toda suja, pelo que percebo isso é merda, não é? Como se meteu numa situação dessas? — Sabe? Nem eu realmente sei como acabei me metendo em tudo isso! Só estava vindo com muita pressa, olhando para trás, que não olhei para frente e tropecei e caí em uma carroça cheia de bosta de vaca! — novamente ele não se conteve e começou a rir. Revirei os olhos, aborrecida, porque além de não estar me ajudando, ainda ficava rindo da minha cara. Me afastei, começando a andar, e ele respondeu passando a mão no rosto. — Desculpe, não tem como não rir! Como lhe disse, é engraçado. Além disso, você está fedendo muito! Acho que não vão deixar você entrar no hotel assim. Por que você não se lava no chuveiro da praia? E quem sabe, depois pega uma roupa reserva. Posso te ajudar. Ali tem um chuveiro. Vou até aquela mercearia aqui do lado comprar algum produto de higiene para você tirar todo esse estrume e esse cheiro. Realmente, se eu contasse isso para alguém, a pessoa também ia rir muito. Acabei concordando com ele, então fui até um dos chuveiros públicos e comecei a me lavar. Meu Deus, tinha bosta para todo lado em poucos segundos! Ele surgiu com um vidro de shampoo e um sabonete líquido. Fui passando pelo meu corpo tentando tirar todo o resíduo de merda. Quando pensei que as coisas não podiam piorar, aconteceu algo mais: após tirar o restante e quase acabar o vidro de shampoo, ele me entregou uma toalha. Enxuguei meu corpo e cabelo e agradeci a ele. — Obrigado, foi muito gentil da sua parte! Mesmo que você tenha rido da minha cara, né? Mas suponho que há uma hora dessas, eu já perdi meu emprego! — Não se preocupe com isso! Conheço seu Matarazzo, o dono do hotel. Avisarei a ele que houve um acidente e pedirei para ele reconsiderar! — Ele respondeu sorrindo. Esse homem tinha um olhar e um sorriso tão familiar, acredito que tinha uns 47 anos. Apesar de ser um pouco mais maduro, ainda era muito charmoso e bonito. Apenas agradeci. — Obrigada! Preciso muito desse emprego. Não posso me dar ao luxo de perdê-lo agora. Realmente, as coisas não estão fáceis na minha vida, e hoje não era meu dia. Além de acordar atrasada e o ônibus demorar, ainda terminei o restante do trajeto caindo em uma carroça de bosta. Céus… — Essas coisas acontecem! Geralmente, às vezes acordamos com o pé esquerdo e tudo que não presta surge para atrapalhar! — Ele lançou um sorriso sarcástico e eu respondi. — Ah! Não acredito que isso aconteça com pessoas normais, pois não é todo mundo que cai dentro de uma carroça de bosta e acaba se atrasando no segundo dia de trabalho! Ele soltou uma gargalhada, e eu lhe acompanhei. Realmente, era cômico como eu acabava me metendo em cada situação. Pelo menos, tive a ajuda de uma pessoa que talvez tivesse uma amizade, nem que fosse passageira de algumas semanas. Depois do ocorrido, voltei ao hotel e fui direto para a área dos funcionários e contei exatamente para Cíntia o que havia acontecido. Ela também não evitou rir, porque era uma história tão engraçada. Enquanto apenas revirava os olhos para ela, Cíntia me deu uma segunda roupa e alguns produtos de higiene. Mesmo após ter tomado outro banho, sentia que ainda estava com aquele cheiro de estrume no meu corpo. Aquele homem que me ajudou se chamava Vincenzo. Ele me afirmou estar na cidade para a inauguração de uma de suas empresas, que permaneceria no hotel durante umas três semanas. Então, penso que acabarei o encontrando provavelmente algumas vezes pelo hotel. Toda vez que o observava, sentia que o conhecia de algum lugar, tinha um olhar tão familiar. Minha chefe mandou me chamar para perguntar sobre o meu atraso e expliquei a ela a situação toda. Ela me afirmou que o dono do hotel também já havia lhe advertido sobre isso e entendia perfeitamente. E me perdoou pelo atraso, pois acidentes acontecem. Fiquei aliviada, mas ela também não deixou de rir. Havia achado a cena e a história engraçada. Decidi focar nas minhas tarefas, pois havia chegado um grupo de turistas que precisariam de um tradutor. Como eu falava espanhol e inglês bem, seria a encarregada de cuidar desse grupo de hóspedes. Tento esquecer esse episódio constrangedor de hoje! Amanhã, colocarei meu despertador no horário certo para evitar passar por isso novamente. Fico perguntando-me: quando contar isso para Pérola, decerto será outra que irá rir da minha cara, conhecendo a amiga que tenho. Ela passará dias me lembrando do episódio. Eu me questiono como aquele cara apareceu do nada naquele sinal. Deveria ser proibido andar por ali com aquela quantidade de estrume, ainda mais em uma rua movimentada. É melhor procurar esquecer isso e cuidar dos meus afazeres. Só de lembrar da vergonha que passei, sinto uma raiva.༺ Vincenzo Fernandes ༻ Após ter dado aquele sermão básico ao meu filho, decidi seguir com os meus afazeres, pois havia muita coisa para preparar até o dia da inauguração do novo prédio. Tive uma conversa com o meu outro filho, João Carlos, confessando o quanto Bryan tem sido, ultimamente, irresponsável e não tem cuidado de suas funções.Sei que, por ser o irmão mais velho, ele acaba o acobertando, mas fui bem sincero com o João Carlos! Se soubesse que ele estava protegendo seu irmão, não me importaria em retirar o cargo que havia lhe dado na empresa.Meus filhos tinham que entender que precisavam começar a cuidar do patrimônio que seria deles um dia. Eu queria que eles fossem grandes CEOs assim como eu. Tive que assumir tudo após a morte de sua mãe, e não foi fácil conciliar a empresa e cuidar dos filhos, principalmente de uma grande empresa! Sempre tive ajuda de serviçais e babás, mas gostava de participar da vida dos meus filhos.Esther, minha filha caçula, não queria responsabilida
༺ Maribel Varrozzini ༻Ainda estava segurando as sacolas em minhas mãos, sem saber o que fazer. Não acredito que aquele homem me deixou nessa situação embaraçosa! Era só o que faltava: os funcionários do hotel pensarem que estou dando confiança aos clientes. Daqui a pouco, vão estar me chamando de algo que não sou, e eu não quero causar essa impressão no meu emprego. Se eu devolver os presentes, com certeza ele falará com o senhor Matarazzo, e não posso arrumar mais confusão e acabar perdendo meu emprego.Percebo que ele comprou quatro pares de sapatos e não sei como adivinhou o tamanho dos meus pés. Depois, darei uma olhada nos calçados. Cíntia, que está ao meu lado, comenta de maneira maliciosa, sem esconder sua curiosidade.— Nossa, amiga, esse homem realmente cismou com você, já está até ganhando presentes dele! Só eu que não tenho a sorte de encontrar um gringo tão bonito assim!— Não diga besteiras, Cíntia! Ele apenas me concedeu uma gentileza, pois foi o culpado de eu quebrar o
༺ Bryan Fernandes ༻ Duas semanas depois… Observava com certo tédio as mulheres na boate à minha frente. Ultimamente, eu não sabia o que estava acontecendo comigo, mas não me encontrava feliz. Era como se algo estivesse faltando na minha vida. Não sou o velho Bryan de antes. Desde a viagem ao Caribe, meu amigo David se aproximou, sentando-se ao meu lado e comentando sorrindo:— Cara, só tem gata hoje nessa balada! Você viu aquela loira ali? Olha como ela é linda e gostosa. Tô flertando com ela a noite toda...— É, realmente ela é bonita! Não posso negar, mas sei lá, hoje parece que eu não estou no clima para azaração! — ele me olhou incrédulo e respondeu de maneira zombeteira.— Bryan Fernandes, não está no pique de pegador? Realmente está acontecendo algo? Afinal de contas, quem é você? E o que fez com meu amigo?David me observa de maneira curiosa, querendo entender aquele meu comportamento, pois sempre sou o primeiro a estar com uma mulher bonita no meu colo nos camarotes VIP, mas
༺ Vincenzo Fernandes ༻ Quando ouvi tudo o que Maribel tinha passado, fiquei completamente comovido com sua situação! Como é possível ainda existirem homens desse tipo? Esse cara que fez isso com ela é um irresponsável! Uma moça tão bonita não merece passar por uma coisa tão terrível, e o pior de tudo é que não teve o apoio da sua família. Talvez tenha sido difícil para seu pai aceitar a situação.Servi-me de uma dose de uísque e sentei-me na poltrona do quarto. Às vezes, me sinto tão mal por ter tanto dinheiro enquanto outras pessoas passam necessidades! Faço o que posso para ajudar, doando para instituições de caridade. Respirei fundo e tirei minha roupa, decidindo então tomar um banho e esquecer aquele dia. Jamais pensei que poderia ser um bom ouvinte para uma garota que parecia estar perdida na vida.Na manhã seguinte, quando passei pela recepção, outra mulher estava no lugar de Maribel, que deve ter trocado de turno e voltaria à noite. Estou tão envolvido com ela, tanto pela sua h
༺ Maribel Varrozzini ༻Saí praticamente correndo de perto de Vincenzo. Eu não acreditava que o destino gostava mesmo de ser tão cruel, me fazendo passar por situações como essa. Acabei descobrindo que o homem que estava flertando comigo era o pai do canalha que me engravidou e me iludiu.Quando pensei que estava bem longe dele, decidi pegar um táxi e pedi para o motorista me levar ao endereço desejado. Não consegui controlar as lágrimas ao descobrir que Bryan era como todos os homens. Sinto um ódio crescer no meu peito por ser tão burra e não ter entendido as intenções desse desgraçado desde o começo.Seu pai não parecia ser uma pessoa má, mas também não quero nenhum tipo de contato com ele, muito menos estou pronta para isso. É doloroso demais saber com quem me envolvi. Por que Bryan fez isso comigo? Se ele não tinha intenção de ficar comigo, ele não deveria ter mentido. Às vezes, eu queria entender por que os homens são dessa forma. Eles sempre mentem e iludem apenas para conseguir o
༺ Bryan Fernandes ༻Meu pai acabou prolongando a viagem e ficou mais um mês no Caribe. Eu achei aquele seu comportamento estranho e julguei que algo aconteceu. Por que ele queria passar tanto tempo fora? Será que ele estava realmente pensando em em curtir a vida e deixar a responsabilidade para mim e meu irmão?Ao perceber que eu estava pensativo, sentado no sofá da sala, João Carlos se aproximou comentando:— Você também não achou estranho o pai querer ficar mais um tempo no Caribe?— Acredito que ele está querendo resolver alguma pendência que deu errado na nova filial. Pare de ser cismado com tudo, julgo que não é nada de mais! — contudo, meu irmão não parecia convercido e apenas respondeu enquanto se servia uma dose de uísque:— Eu não sei, hein? Achei nosso pai bem estranho. Ainda mais quando afirmou que traria com ele uma surpresa. Ele falou isso para você no telefone também?— Na verdade, não! Apenas me disse que resolverá as últimas pendências que faltam e depois vem embora par
༺ Maribel Varrozzini ༻Eu percebi a surpresa nos olhos de Bryan ao me ver na sua frente, descobrindo que eu era sua nova madrasta, mas ele não disse nada. Apenas permaneceu em silêncio, observando-me. Vincenzo então segurou na minha cintura como se nada estivesse acontecendo, conforme o nosso acordo, pois queríamos ver até onde Bryan conseguiria ir com seu cinismo.Notei que Bryan até se sentiu um pouco intimidado com o meu olhar frio e ríspido. Se ele soubesse que naquele dia, depois de tudo o que me fez, ele também acabou matando a pessoa maravilhosa que eu era. A única coisa que consigo sentir por ele é ódio e repúdio, especialmente por ter me largado sozinha naquele quarto de hotel, como se eu fosse uma simples vagabunda de quinta. Vincenzo então se pronunciou.— Bom, agora que vocês se conhecem, Maribel, nós vamos subir para o meu quarto. Eu pedi para Amélia abrir um espaço no meu closet para você.— Está certo. Bom, meninos, foi um prazer conhecê-los. A gente se vê no jantar.Sub
༺ Bryan Fernandes ༻Durante o jantar, evitei olhar para Maribel e fiquei em silêncio na sala de estar, apenas observando-a de longe. Ela me olhava de vez em quando, mas voltava a conversar com meus irmãos. Sentia muita raiva de não poder dizer nada. Depois de alguns minutos, ela disse que subiria para o quarto com meu pai, pois estava cansada da viagem.Todos se despediram dela e eu a vi subir os degraus enquanto meu pai segurava sua cintura. Apertei minha mão de ódio, não conseguia aceitar que Maribel agora era a mulher do meu pai. Parecia que estava vivendo um pesadelo. Minha irmã percebeu minha expressão e perguntou curiosa:— Estou percebendo sua expressão, Bryan, e vou lhe avisar: é melhor tirar os olhos da mulher do nosso pai. Não admito que você estrague a felicidade dele. Ela pode ser muito bonita e nova, mas não se esqueça de uma coisa: ela é mulher dele.— Você acha que eu sou louco o suficiente para dar em cima da mulher do nosso pai? Me respeita, Esther! Só estou muito surp