Capítulo 03

༺ Maribel Varrozzini ༻

Hoje acabei acordando um pouco atrasada. Coloquei meu uniforme e fiz um coque no cabelo. Passei apenas um batom e blush no rosto, pois não posso perder o emprego que acabei de conseguir. Preciso começar a juntar dinheiro para quando o bebê nascer. Tentarei esconder minha barriga ao máximo da minha chefe. Hoje o dia está um pouco nublado. Só espero que não chova. Sigo até a parada de ônibus e fico um pouco impaciente, por parecer que o ônibus não passa!

Após alguns minutos, finalmente o meu ônibus chega. Então, rapidamente, entro e espero chegar ao local onde descerei. Notando que gotas de água surgem no vidro do veículo, desço do transporte e começo a caminhar para chegar ao hotel mais rápido. Começa a cair mais pingos de chuva e ando apressadamente.

Estou com tanta pressa que acabo não percebendo um rapaz parado na faixa de pedestre e caio dentro de uma carroça. Quando olho para trás para ver se não tinha nenhum carro, sinto que caí em algo fedido e pegajoso. Quando levanto o rosto, percebo que se trata de merda de vaca. Ah, meu Deus! Só pode ser um pesadelo. O homem me ajuda a levantar e, furiosa, comento tentando tirar o excesso de estrume do meu corpo.

— Você é louco? Como anda com uma coisa dessas pela cidade? Principalmente no sinal, meu Deus! E agora perderei o meu emprego por sua culpa!

— Moça, a culpa não é minha! Foi você que andou rápido demais ao olhar para trás e não percebeu que a carroça estava na sua frente. Eu ainda penso que foi até bom, pois amorteceu a sua queda no asfalto! — Solto uma risada sarcástica e respondo, tentando tirar aquela quantidade de bosta do meu uniforme.

— Só posso estar pagando algum pecado grave, meu Deus! Pois, fique sabendo que eu preferia me machucar no asfalto, porque meu uniforme estaria limpo. Ah, mas eu não ficarei perdendo mais meu tempo com você… Estou atrasada! Saia da frente com essa carroça cheia de imundice.

Não continuo discutindo com aquele caipira. Simplesmente ando apressadamente até chegar ao hotel. As pessoas na rua me olham chocadas. Devo estar totalmente atolada de estrume de vaca. Nem sei como entrarei no hotel desse jeito, e muito menos se vão me deixar passar. Como se não bastasse tudo que está me acontecendo, meu salto alto acaba quebrando de um lado ao me assustar com a buzina de um carro. Ele continua atrás de mim, buzinando e furiosa, comento, me afastando para o lado.

— Ai! Meu Deus? Já não basta ter caído na bosta de vaca, agora também serei atropelada? Porque você não passa por cima, seu idiota! Não está me vendo? É cego?

Hoje realmente não está sendo um bom dia e nem me importo de comentar isso, porque já estou ferrada de qualquer maneira. Nada mais pode acontecer e, se piorar, eu até não ficarei surpresa. Então ouço a porta do carro abrindo, enquanto retiro o meu sapato, e escuto a pessoa que estava no carro se pronunciando.

— Por acaso, a culpa é minha? Sua delinquente… Você se mete na frente do meu carro e ainda não quer ser atropelada?

— Escuta aqui! Eu não ficarei ouvindo desaforo de um ricaço, seja lá o que você é. Vai se foder… Já estou tendo um péssimo dia para ter que ficar escutando mais reclamações de um playboy metido!

Viro-me para olhar para o remetente da voz que me encara silenciosamente. Percebo ser o hóspede do hotel de ontem que me segurou para não cair no chão. Ótimo! Agora realmente estou no olho da rua, pois acabei de discutir com um cliente do hotel. Meu Deus! Será que esse dia pode piorar mais? Ele parece me analisar de cima a baixo e então responde se aproximando.

— Espera aí! Você não é a moça de ontem? Meu Deus! O que foi que aconteceu com você? Por acaso, atravessou uma guerra para chegar até aqui? — ele começa a rir do meu estado e não consigo evitar chorar. Meu senhor, é muita humilhação. Por que tudo isso tem que estar acontecendo comigo, justo no meu segundo dia de trabalho?

— Calma, moça! Eu não rio por mal, mas acontece que não tem como evitar. Você está toda suja, pelo que percebo isso é merda, não é? Como se meteu numa situação dessas?

— Sabe? Nem eu realmente sei como acabei me metendo em tudo isso! Só estava vindo com muita pressa, olhando para trás, que não olhei para frente e tropecei e caí em uma carroça cheia de bosta de vaca! — novamente ele não se conteve e começou a rir. 

Revirei os olhos, aborrecida, porque além de não estar me ajudando, ainda ficava rindo da minha cara. Me afastei, começando a andar, e ele respondeu passando a mão no rosto.

— Desculpe, não tem como não rir! Como lhe disse, é engraçado. Além disso, você está fedendo muito! Acho que não vão deixar você entrar no hotel assim. Por que você não se lava no chuveiro da praia? E quem sabe, depois pega uma roupa reserva. Posso te ajudar. Ali tem um chuveiro. Vou até aquela mercearia aqui do lado comprar algum produto de higiene para você tirar todo esse estrume e esse cheiro. Realmente, se eu contasse isso para alguém, a pessoa também ia rir muito.

Acabei concordando com ele, então fui até um dos chuveiros públicos e comecei a me lavar. Meu Deus, tinha bosta para todo lado em poucos segundos! Ele surgiu com um vidro de shampoo e um sabonete líquido. Fui passando pelo meu corpo tentando tirar todo o resíduo de merda.

Quando pensei que as coisas não podiam piorar, aconteceu algo mais: após tirar o restante e quase acabar o vidro de shampoo, ele me entregou uma toalha. Enxuguei meu corpo e cabelo e agradeci a ele.

— Obrigado, foi muito gentil da sua parte! Mesmo que você tenha rido da minha cara, né? Mas suponho que há uma hora dessas, eu já perdi meu emprego!

— Não se preocupe com isso! Conheço seu Matarazzo, o dono do hotel. Avisarei a ele que houve um acidente e pedirei para ele reconsiderar! — Ele respondeu sorrindo. Esse homem tinha um olhar e um sorriso tão familiar, acredito que tinha uns 47 anos. Apesar de ser um pouco mais maduro, ainda era muito charmoso e bonito. Apenas agradeci.

— Obrigada! Preciso muito desse emprego. Não posso me dar ao luxo de perdê-lo agora. Realmente, as coisas não estão fáceis na minha vida, e hoje não era meu dia. Além de acordar atrasada e o ônibus demorar, ainda terminei o restante do trajeto caindo em uma carroça de bosta. Céus…

— Essas coisas acontecem! Geralmente, às vezes acordamos com o pé esquerdo e tudo que não presta surge para atrapalhar! — Ele lançou um sorriso sarcástico e eu respondi.

— Ah! Não acredito que isso aconteça com pessoas normais, pois não é todo mundo que cai dentro de uma carroça de bosta e acaba se atrasando no segundo dia de trabalho!

Ele soltou uma gargalhada, e eu lhe acompanhei. Realmente, era cômico como eu acabava me metendo em cada situação. Pelo menos, tive a ajuda de uma pessoa que talvez tivesse uma amizade, nem que fosse passageira de algumas semanas.

Depois do ocorrido, voltei ao hotel e fui direto para a área dos funcionários e contei exatamente para Cíntia o que havia acontecido. Ela também não evitou rir, porque era uma história tão engraçada. Enquanto apenas revirava os olhos para ela, Cíntia me deu uma segunda roupa e alguns produtos de higiene. Mesmo após ter tomado outro banho, sentia que ainda estava com aquele cheiro de estrume no meu corpo.

Aquele homem que me ajudou se chamava Vincenzo. Ele me afirmou estar na cidade para a inauguração de uma de suas empresas, que permaneceria no hotel durante umas três semanas. Então, penso que acabarei o encontrando provavelmente algumas vezes pelo hotel. Toda vez que o observava, sentia que o conhecia de algum lugar, tinha um olhar tão familiar.

Minha chefe mandou me chamar para perguntar sobre o meu atraso e expliquei a ela a situação toda. Ela me afirmou que o dono do hotel também já havia lhe advertido sobre isso e entendia perfeitamente. E me perdoou pelo atraso, pois acidentes acontecem. Fiquei aliviada, mas ela também não deixou de rir. Havia achado a cena e a história engraçada.

Decidi focar nas minhas tarefas, pois havia chegado um grupo de turistas que precisariam de um tradutor. Como eu falava espanhol e inglês bem, seria a encarregada de cuidar desse grupo de hóspedes. Tento esquecer esse episódio constrangedor de hoje! Amanhã, colocarei meu despertador no horário certo para evitar passar por isso novamente.

Fico perguntando-me: quando contar isso para Pérola, decerto será outra que irá rir da minha cara, conhecendo a amiga que tenho. Ela passará dias me lembrando do episódio. Eu me questiono como aquele cara apareceu do nada naquele sinal. Deveria ser proibido andar por ali com aquela quantidade de estrume, ainda mais em uma rua movimentada. É melhor procurar esquecer isso e cuidar dos meus afazeres. Só de lembrar da vergonha que passei, sinto uma raiva.

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