༺ Vincenzo Fernandes ༻
Após ter dado aquele sermão básico ao meu filho, decidi seguir com os meus afazeres, pois havia muita coisa para preparar até o dia da inauguração do novo prédio. Tive uma conversa com o meu outro filho, João Carlos, confessando o quanto Bryan tem sido, ultimamente, irresponsável e não tem cuidado de suas funções.Sei que, por ser o irmão mais velho, ele acaba o acobertando, mas fui bem sincero com o João Carlos! Se soubesse que ele estava protegendo seu irmão, não me importaria em retirar o cargo que havia lhe dado na empresa.Meus filhos tinham que entender que precisavam começar a cuidar do patrimônio que seria deles um dia. Eu queria que eles fossem grandes CEOs assim como eu. Tive que assumir tudo após a morte de sua mãe, e não foi fácil conciliar a empresa e cuidar dos filhos, principalmente de uma grande empresa! Sempre tive ajuda de serviçais e babás, mas gostava de participar da vida dos meus filhos.Esther, minha filha caçula, não queria responsabilidades, só queria viajar e curtir a vida. Infelizmente, minha esposa acabou falecendo após o nascimento de nossa filha. Mas eu nunca culpei Esther por isso. Eu entendia perfeitamente que o destino tinha planos diferentes para nós, e minha esposa me pediu para não odiar nossa filha, pois ela sabia que Deus tinha um propósito para tudo, inclusive para a morte dela.No começo, senti uma dor imensa que achei que nunca iria passar. Mas continuei seguindo em frente pelos meus filhos. Não podia simplesmente desistir, pois havia três pessoas que precisavam de mim. Tive vários relacionamentos, mas nada duradouro. Nunca tive coragem de colocar outra mulher no lugar da mãe deles. Minha filha sempre me dizia que eu tinha que recomeçar a vida e encontrar uma mulher que me fizesse feliz, mas eu ainda não acreditava que isso fosse possível.Deixei esses pensamentos de lado e decidi ir até a construção da nova filial. Gosto sempre de acompanhar meus projetos de perto. Assim que terminei de resolver tudo, decidi voltar ao hotel, pois ainda tinha um compromisso de almoço com um dos investidores. De repente, uma mulher surgiu na frente do meu carro, toda suja e ainda foi muito grossa comigo. Parei o carro e saí para dar uma bela resposta a ela, mas percebi que a moça estava muito nervosa. Até o seu sapato alto havia quebrado de um lado.Ao reconhecer que se tratava da tradutora e recepcionista do hotel, tomei um susto ao vê-la naquela situação e perguntei o que havia acontecido. Não pude deixar de rir enquanto ela me contava a história, e ela acabou chorando. Então tive que me conter e ajudá-la.Fiquei com tanta pena dela ao me dizer que poderia perder o emprego, decidi falar com Matarazzo, o dono do hotel. Eu tinha certeza que ele entenderia a situação da sua funcionária. Quando afirmei tudo o que acontecera, ele também não se conteve e riu muito e teve pena da funcionária, concordando em reconsiderar a sua situação. Até lhe disse que talvez ela não estivesse em um dia de sorte. Depois disso, resolvi ir para o meu quarto e descansar até a hora do almoço.Assim que peguei o elevador novamente, nos encontramos de novo. Parecia ser coisa do destino! Eu sempre estava esbarrando com ela. Até sorri, observando-a, pois ela não tinha me notado e muito menos percebido que o elevador já havia parado. Ela parecia estar ajeitando o sapato e eu percebi que o salto havia quebrado. Ao me ver, ela se recompõe. Realmente, a situação dessa moça não era das melhores e eu iria ajudá-la.— Oi! Como vai? Pelo jeito, vamos sempre nos encontrar por aqui, não é?— É verdade, eu realmente não esperava encontrar você de novo tão cedo! Depois daquele episódio constrangedor, mas parece que o destino gosta de nos pregar peças! — ela apenas sorriu e eu observei o seu nome no crachá.Eu já havia me apresentado, mas ela própria não se apresentou pela pressa.— Verdade, Maribel! Mas você acredita em destino?— Não sei, aí depende de que tipo de destino você está falando, do acaso? Ou da sorte mesmo? — entrei no elevador e apertei no andar do restaurante. Então, respondi enquanto ele se fechava.— Talvez, nos dois! Me diga, você já almoçou?— Ainda não, mas, porque a pergunta? Almoçarei apenas daqui a pouco, na ala dos funcionários! — Maribel tinha uma beleza exuberante, um olhar de menina doce e, ao mesmo tempo, madura.Eu apenas respondi de volta.— Por nada! Eu apenas iria te convidar para almoçar ao meu lado, mas penso que você não vai aceitar!— Não me leve a mal, senhor! Mas não fica bem uma funcionária, como eu, ficar andando com um cliente do hotel para cima e para baixo e principalmente, almoçando juntos! — ela foi direta.Talvez já estivesse cortando qualquer tipo de investida minha, e eu apenas sorri, olhando para ela. É difícil hoje em dia ver uma mulher assim.— Me desculpe, claro que entendo! São normas do seu trabalho. Só te achei uma menina interessante e queria te conhecer melhor, apenas isso! — ela me lançou um sorriso sarcástico e respondeu, me encarando.— Não me leve a mal, mas o último estrangeiro que eu conheci acabou me deixando em uma situação difícil. Principalmente quando lembro o que esse filho da mãe me fez...Ao perceber que ia dizer algo que não deveria, ela parou e fiquei curioso. O que será que ela ia dizer? Então a questionei, levantando uma de minhas sobrancelhas.— Continue... você ia dizer que ele fez o quê?— Me desculpe, eu não deveria falar assim com você. Você não tem culpa do que aquele canalha me fez, mas eu realmente não quero falar sobre isso, até porque não posso. Bem, o senhor chegou ao seu andar, tenha um ótimo almoço, senhor Vincenzo...Apenas me retirei, observando o elevador se fechar e aquela bela mulher desaparecer. Parecia que ela falava sobre o homem com bastante ódio. O que será que esse estrangeiro fez a ela? Foi o que eu me perguntava enquanto caminhava até a mesa onde estava um dos investidores do meu novo projeto. Assim que me aproximei, ele se levantou para me cumprimentar e começamos a conversar sobre a nova filial. Ele parecia bastante curioso e empolgado com isso.Depois do almoço, decidi ir a um shopping comprar alguns sapatos para Maribel, como forma de ajudá-la. Eu calculava que ela calçava 36,6 e seus pés eram pequenos. Já era por volta da noite quando cheguei ao hotel e vi Maribel na recepção. A cumprimentei e entreguei as duas sacolas para ela, que me olhou confusa e retirou uma das caixas, me olhando.— Afinal de contas, é para entregar a algum hóspede do hotel?— Não, Maribel, esses sapatos são para você! Eu comprei como forma de ajudá-la, percebi que seu salto quebrou. — ela de imediato me entregou as sacolas e respondeu, negando-se a aceitar o meu presente.— Desculpe, senhor! Eu não posso aceitar isso, principalmente vindo de um cliente do hotel. Os meus superiores não vão gostar nada de saber disso, por favor, leve isso daqui…— Mas faço questão que você fique com isso... Afinal, quebrou o seu sapato devido a mim. Se eu não tivesse buzinado, você não teria se assustado, tropeçado e quebrado seu salto.Ela me olha seriamente. Então, sua amiga que está ao seu lado comenta, sorrindo ao perceber o meu gesto solidário.— Deixa de ser orgulhosa, Maribel! Desse jeito, está ofendendo seu Vincenzo…— Cíntia, por favor, pare com isso! Você está me deixando envergonhada. Já disse que não posso aceitar! — coloquei as sacolas em suas mãos e respondi, já me afastando.— Se você não aceitar, vou comunicar ao dono do hotel que você me desagradou. Agora, com licença!Ela me olhou de maneira incrédula! Enquanto pegava o elevador e a observava sorrindo, a amiga olhava toda boba para as sacolas. A mesma ainda encarava as sacolas com semblante sério. Pelo visto, essa muchacha é muito orgulhosa! Não gosta de aceitar presentes de homem, porém, dessa vez, ela terá que engolir o orgulho e aceitar os presentes que eu lhe dei, pois não vai querer perder o emprego.Após o dia longo, eu simplesmente decido descansar, pois ainda terei muita coisa para resolver amanhã. E quem sabe ainda não encontrarei por aqui com Maribel de novo. Isso se ela não começar a me evitar, pois depois dessa, duvido muito que não se afaste. Percebo que toda vez que a encontro, noto que se sente um pouco tímida e principalmente encabulada. Talvez Maribel entenda as coisas erradas ao meu respeito.Mas não posso negar que ela é uma bela mulher, sua beleza não passa despercebida! Eu queria tanto convidá-la para jantar comigo. Sinto que desde que me encontrei com essa mulher, tenho uma conexão incrível e não sei explicar isso. Algo me puxa para ela. Sempre acabamos nos encontrando novamente, ou pelos corredores do hotel, ou simplesmente no elevador.༺ Maribel Varrozzini ༻Ainda estava segurando as sacolas em minhas mãos, sem saber o que fazer. Não acredito que aquele homem me deixou nessa situação embaraçosa! Era só o que faltava: os funcionários do hotel pensarem que estou dando confiança aos clientes. Daqui a pouco, vão estar me chamando de algo que não sou, e eu não quero causar essa impressão no meu emprego. Se eu devolver os presentes, com certeza ele falará com o senhor Matarazzo, e não posso arrumar mais confusão e acabar perdendo meu emprego.Percebo que ele comprou quatro pares de sapatos e não sei como adivinhou o tamanho dos meus pés. Depois, darei uma olhada nos calçados. Cíntia, que está ao meu lado, comenta de maneira maliciosa, sem esconder sua curiosidade.— Nossa, amiga, esse homem realmente cismou com você, já está até ganhando presentes dele! Só eu que não tenho a sorte de encontrar um gringo tão bonito assim!— Não diga besteiras, Cíntia! Ele apenas me concedeu uma gentileza, pois foi o culpado de eu quebrar o
༺ Bryan Fernandes ༻ Duas semanas depois… Observava com certo tédio as mulheres na boate à minha frente. Ultimamente, eu não sabia o que estava acontecendo comigo, mas não me encontrava feliz. Era como se algo estivesse faltando na minha vida. Não sou o velho Bryan de antes. Desde a viagem ao Caribe, meu amigo David se aproximou, sentando-se ao meu lado e comentando sorrindo:— Cara, só tem gata hoje nessa balada! Você viu aquela loira ali? Olha como ela é linda e gostosa. Tô flertando com ela a noite toda...— É, realmente ela é bonita! Não posso negar, mas sei lá, hoje parece que eu não estou no clima para azaração! — ele me olhou incrédulo e respondeu de maneira zombeteira.— Bryan Fernandes, não está no pique de pegador? Realmente está acontecendo algo? Afinal de contas, quem é você? E o que fez com meu amigo?David me observa de maneira curiosa, querendo entender aquele meu comportamento, pois sempre sou o primeiro a estar com uma mulher bonita no meu colo nos camarotes VIP, mas
༺ Vincenzo Fernandes ༻ Quando ouvi tudo o que Maribel tinha passado, fiquei completamente comovido com sua situação! Como é possível ainda existirem homens desse tipo? Esse cara que fez isso com ela é um irresponsável! Uma moça tão bonita não merece passar por uma coisa tão terrível, e o pior de tudo é que não teve o apoio da sua família. Talvez tenha sido difícil para seu pai aceitar a situação.Servi-me de uma dose de uísque e sentei-me na poltrona do quarto. Às vezes, me sinto tão mal por ter tanto dinheiro enquanto outras pessoas passam necessidades! Faço o que posso para ajudar, doando para instituições de caridade. Respirei fundo e tirei minha roupa, decidindo então tomar um banho e esquecer aquele dia. Jamais pensei que poderia ser um bom ouvinte para uma garota que parecia estar perdida na vida.Na manhã seguinte, quando passei pela recepção, outra mulher estava no lugar de Maribel, que deve ter trocado de turno e voltaria à noite. Estou tão envolvido com ela, tanto pela sua h
༺ Maribel Varrozzini ༻Saí praticamente correndo de perto de Vincenzo. Eu não acreditava que o destino gostava mesmo de ser tão cruel, me fazendo passar por situações como essa. Acabei descobrindo que o homem que estava flertando comigo era o pai do canalha que me engravidou e me iludiu.Quando pensei que estava bem longe dele, decidi pegar um táxi e pedi para o motorista me levar ao endereço desejado. Não consegui controlar as lágrimas ao descobrir que Bryan era como todos os homens. Sinto um ódio crescer no meu peito por ser tão burra e não ter entendido as intenções desse desgraçado desde o começo.Seu pai não parecia ser uma pessoa má, mas também não quero nenhum tipo de contato com ele, muito menos estou pronta para isso. É doloroso demais saber com quem me envolvi. Por que Bryan fez isso comigo? Se ele não tinha intenção de ficar comigo, ele não deveria ter mentido. Às vezes, eu queria entender por que os homens são dessa forma. Eles sempre mentem e iludem apenas para conseguir o
༺ Bryan Fernandes ༻Meu pai acabou prolongando a viagem e ficou mais um mês no Caribe. Eu achei aquele seu comportamento estranho e julguei que algo aconteceu. Por que ele queria passar tanto tempo fora? Será que ele estava realmente pensando em em curtir a vida e deixar a responsabilidade para mim e meu irmão?Ao perceber que eu estava pensativo, sentado no sofá da sala, João Carlos se aproximou comentando:— Você também não achou estranho o pai querer ficar mais um tempo no Caribe?— Acredito que ele está querendo resolver alguma pendência que deu errado na nova filial. Pare de ser cismado com tudo, julgo que não é nada de mais! — contudo, meu irmão não parecia convercido e apenas respondeu enquanto se servia uma dose de uísque:— Eu não sei, hein? Achei nosso pai bem estranho. Ainda mais quando afirmou que traria com ele uma surpresa. Ele falou isso para você no telefone também?— Na verdade, não! Apenas me disse que resolverá as últimas pendências que faltam e depois vem embora par
༺ Maribel Varrozzini ༻Eu percebi a surpresa nos olhos de Bryan ao me ver na sua frente, descobrindo que eu era sua nova madrasta, mas ele não disse nada. Apenas permaneceu em silêncio, observando-me. Vincenzo então segurou na minha cintura como se nada estivesse acontecendo, conforme o nosso acordo, pois queríamos ver até onde Bryan conseguiria ir com seu cinismo.Notei que Bryan até se sentiu um pouco intimidado com o meu olhar frio e ríspido. Se ele soubesse que naquele dia, depois de tudo o que me fez, ele também acabou matando a pessoa maravilhosa que eu era. A única coisa que consigo sentir por ele é ódio e repúdio, especialmente por ter me largado sozinha naquele quarto de hotel, como se eu fosse uma simples vagabunda de quinta. Vincenzo então se pronunciou.— Bom, agora que vocês se conhecem, Maribel, nós vamos subir para o meu quarto. Eu pedi para Amélia abrir um espaço no meu closet para você.— Está certo. Bom, meninos, foi um prazer conhecê-los. A gente se vê no jantar.Sub
༺ Bryan Fernandes ༻Durante o jantar, evitei olhar para Maribel e fiquei em silêncio na sala de estar, apenas observando-a de longe. Ela me olhava de vez em quando, mas voltava a conversar com meus irmãos. Sentia muita raiva de não poder dizer nada. Depois de alguns minutos, ela disse que subiria para o quarto com meu pai, pois estava cansada da viagem.Todos se despediram dela e eu a vi subir os degraus enquanto meu pai segurava sua cintura. Apertei minha mão de ódio, não conseguia aceitar que Maribel agora era a mulher do meu pai. Parecia que estava vivendo um pesadelo. Minha irmã percebeu minha expressão e perguntou curiosa:— Estou percebendo sua expressão, Bryan, e vou lhe avisar: é melhor tirar os olhos da mulher do nosso pai. Não admito que você estrague a felicidade dele. Ela pode ser muito bonita e nova, mas não se esqueça de uma coisa: ela é mulher dele.— Você acha que eu sou louco o suficiente para dar em cima da mulher do nosso pai? Me respeita, Esther! Só estou muito surp
༺ Maribel Varrozzini ༻Quando Bryan me puxou daquela maneira, por um momento quase vacilei e me rendi em seus braços, porém o restante da sanidade que eu tinha me fez voltar a si, ao lembrar daquela m*****a noite. Sinto que ele está muito incomodado com a minha presença, e principalmente em saber que sou esposa do seu pai. Acredito que não esteja sendo fácil para ele ver uma mulher que foi sua nas mãos de outro. Respiro fundo e penso: "Eu preciso continuar com esse plano de vingança. Seja forte, Maribel."Aceitei vir para Istambul com Vincenzo apenas para me vingar de Bryan. Eu não consigo esquecer que, por causa dele, meu pai me odeia e principalmente me rejeitou, me expulsando de casa. Não dá para apagar da memória tudo o que vivi por sua causa. A única sorte é que tive um psicológico forte, pois acredito que, se não fosse isso, estaria na rua, na pior das armaduras, lamentando cada dia horrível que passei na minha vida nos últimos meses.Olho pela janela observando o carro de Brya