Capítulo 05

༺ Maribel Varrozzini ༻

Ainda estava segurando as sacolas em minhas mãos, sem saber o que fazer. Não acredito que aquele homem me deixou nessa situação embaraçosa! Era só o que faltava: os funcionários do hotel pensarem que estou dando confiança aos clientes. Daqui a pouco, vão estar me chamando de algo que não sou, e eu não quero causar essa impressão no meu emprego. Se eu devolver os presentes, com certeza ele falará com o senhor Matarazzo, e não posso arrumar mais confusão e acabar perdendo meu emprego.

Percebo que ele comprou quatro pares de sapatos e não sei como adivinhou o tamanho dos meus pés. Depois, darei uma olhada nos calçados. Cíntia, que está ao meu lado, comenta de maneira maliciosa, sem esconder sua curiosidade.

— Nossa, amiga, esse homem realmente cismou com você, já está até ganhando presentes dele! Só eu que não tenho a sorte de encontrar um gringo tão bonito assim!

— Não diga besteiras, Cíntia! Ele apenas me concedeu uma gentileza, pois foi o culpado de eu quebrar o meu sapato. Ele buzinou bem na hora em que eu estava tentando tirar um pouco da sujeira que se encontrava no meu uniforme. Acabei tropeçando e quebrando meu salto alto, tive até que tirar os dois para poder colocar para que ele ficasse como uma sandália. Veja! — apontei para os meus pés, e ela observou, concordando.

— Realmente, mas ele foi gentil em te dar logo quatro pares, né, amiga? Nossa, ele é um coroa muito gato, pelo amor de Deus! Maribel, tenho certeza de que ele quer te chamar para sair. Não recuse, pois eu, no seu lugar, não pensaria duas vezes em aceitar um convite dele!

Revirei os olhos com aquele comentário nojento de Cíntia, que sempre estava de olho em algum estrangeiro que lhe desse moral. Sua vontade era casar com um gringo e acreditava que ele atiraria dali para viver uma vida de princesa. Então, apenas respondi, colocando as sacolas embaixo do balcão.

— Não seja ridícula, Cíntia! Ele apenas me fez uma gentileza, você realmente acha que um homem tão importante vai me chamar para sair?

— Ah, Maribel! Mas você tem que deixar de ser tão negativa! Você é muito bonita, com certeza ele ainda vai te convidar para jantar. Depois você me fala se estou errada... — bati com a flanela no ombro dela e respondi rindo.

— Larga de falar besteira e vai levar o pedido para o chefe de cozinha do quarto 226!

Ela apenas riu e se afastou. Cíntia não era uma má pessoa, mas às vezes falava cada coisa sem noção. Eu não quero me envolver com outro estrangeiro. Já tive um grande aprendizado do que aconteceu da última vez. Bryan me enganou apenas para me levar para a cama, e não vou me iludir com esse novo gringo que ultimamente vem jogando seu charme para cima de mim. Não posso ser uma idiota pela segunda vez. Além disso, preciso pensar no meu filho. Nem tenho cabeça para homem algum nesse momento.

Decidi continuar minhas funções até dar o horário de eu sair. Hoje é meu plantão e provavelmente terei que deixar meu posto às 7:00 e retornar às 16:00 da tarde. A noite passou bem rápida, como sempre novos clientes chegavam, faziam check-in, pediam suas chaves, diziam o número do seu quarto e entravam no elevador. Alguns me cumprimentavam, outros empinavam o nariz. Essa gente rica tem um ar esnobe que às vezes me dá nojo.

Após umas duas horas da manhã, Cíntia ficou na recepção e fiz uma pausa para comer algo. Estou pensativa enquanto me alimento na ala dos funcionários. Não consigo deixar de pensar em Bryan. Será que ele lembra de mim quando vai dormir, ou foi apenas uma paixão de férias ou uma conquista de momento? Eu não consigo acreditar que ele foi tão canalha de fazer isso comigo. Nós tínhamos uma conexão perfeita! Por incrível que pareça, uma lembrança de meses atrás surge em minha mente.

"Flashback"

Estou caminhando ao lado de Bryan na praia enquanto ele aproxima seu rosto dos meus cabelos, um hábito que ele costuma fazer desde que me conheceu. Ele afirma que sou muito cheirosa, e nós sentamos em um dos quiosques para tomar uma água de coco. Ele me olha com um sorriso bobo e confessa:

— Você é tão bonita! Não me canso de admirar a sua beleza, Maribel...

— Você é um bobo, Bryan! Aposto que fala isso para todas, não é mesmo? — ele sorri me observando e responde antes de levar o canudo à sua boca novamente.

— Na verdade, não, Maribel! Você é a única mulher que elogio pela primeira vez.

— Você é um fofo! Sabe, cada vez que estou com você, admiro o homem maravilhoso que você é... não é como a maioria dos outros, que estão sempre tentando alguma coisa safada comigo! — Bryan, então, me puxa para um beijo e quando me solta responde:

— Você é diferente das mulheres que já conheci, Maribel. É inocente e isso me fascina e me apaixona.

Apenas sorrio com aquela confissão dele, e então ele me puxa para mais um beijo. Sentir sua boca na minha é maravilhoso, nunca me senti tão amada e segura nos braços desse homem. Eu queria acreditar que o destino o mandou para mim, e que ele era o meu príncipe encantado!

"Flashback off"

Sinto meu rosto ser banhado pelas lágrimas, mal percebi que estou chorando. Um dos funcionários da cozinha, Henrique, se aproxima preocupado, me olhando. Ele é um rapaz bastante doce e alegre, o braço direito do chefe do restaurante.

— Maribel, você está bem? Aconteceu alguma coisa? Está passando mal, é isso?

— Não é nada, Henrique. Apenas estou passando por um momento difícil. Bom, eu já terminei meu lanche. Com licença! — me levanto da mesa, já limpando meu rosto, e saio rapidamente. Mas ele diz:

— Espera, Maribel! Você parece que não está bem. Quer conversar? Eu posso te ajudar!

— Desculpe, Henrique! Mas ninguém pode me ajudar com isso. Com licença!

Saio rapidamente da ala dos funcionários. A verdade é que ninguém poderia me ajudar com a burrada que fiz na minha vida. Estava pagando um preço alto por ter me entregado a um homem que eu pensava que me amava. Decido sair para fora do hotel para pegar um ar, pois estou precisando. Olhar para as ondas do mar em frente ao hotel me acalma!

Sento-me em um dos bancos, pensativa, e como se o destino gostasse de me pregar peças novamente, ouço a voz daquele homem.

— Com os pensamentos perdidos, Maribel? Percebo também que está com os olhos vermelhos. Andou chorando?

— E se for? O que tem a ver com isso? Não é da sua conta! Afinal, cara, qual é a sua comigo? Eu já disse que não estou disponível! — limpo minhas lágrimas, me recompondo, e ele se senta ao meu lado, respondendo.

— Me desculpe, eu não queria ser um intrometido. Só queria lhe ajudar e entender pelo que está passando, pois você parece que está sofrendo muito!

— Você também não pode me ajudar com os meus problemas! Eu só estou pagando pelos meus erros. Deveria ter pensado muito antes de ter feito toda a burrada que conduzi há alguns meses! — Vincenzo não esconde a curiosidade e me questiona.

— Olha, eu sei que não é da minha conta se você vai me responder sim ou não, mas eu queria entender. Porque você é uma moça tão bonita, contudo parece que carrega uma grande tristeza com você!

— E por quê? Você quer saber a minha história, senhor Vincenzo? Acredito que sou apenas uma funcionária passageira pela sua vida. Por que faz tanta questão de saber? — olho seriamente para ele, que se levanta com as mãos no bolso e responde.

— Eu não sei explicar. Acontece que sinto uma conexão tão forte com você, uma vontade de lhe proteger de toda a dor do mundo, principalmente quando olho para esses seus olhos verdes, tão tristonhos!

Não consigo me conter e desabo em lágrimas. Parece que preciso fazer isso, como se aguentar tudo estivesse me sufocando! Vincenzo se aproxima e me abraça, passando a mão nas minhas costas, como se fosse um bom ouvinte. Novamente limpo minhas lágrimas e respondo:

— Sou uma desgraçada que acabou com a minha vida! Me entreguei a um cafajeste que dizia que me amava e, no fim, só me usou e me deixou com uma criança no ventre. E meu pai, quando soube da minha gravidez, me expulsou de casa. Tive que interromper meus estudos. Eu odeio esse homem com todas as minhas forças. Ele só desgraçou a minha vida.

— Nossa, Maribel! Não acredito que ainda existem homens dessa espécie! Eu realmente tenho nojo de pessoas assim. Você não merecia passar por isso. Parece ser uma moça que tem um futuro promissor! — me levanto, limpando as minhas lágrimas, pois não posso ficar com o meu rosto inchado para atender os clientes, e respondo:

— Eu vou dar a volta por cima! Não sei como, mas irei me recuperar. Agora só peço que não comente nada com o dono do hotel! Tentarei esconder essa gravidez o máximo que eu puder, até que me mandem embora. Por isso, não quero me envolver com outro homem. Já tive experiência suficiente para me ferrar, e não passarei por isso uma segunda vez. Agora, me dê licença, preciso voltar para o meu local de trabalho.

Ele não comenta mais nada, apenas me encara, compreendendo meu tormento. Parece que confessar aquilo a ele foi como tirar um peso das minhas costas. Eu realmente precisava desabafar com alguém. Estava agradecida de Vincenzo estar ali naquele momento. Parecia que esse homem me trazia uma paz inexplicável, como se entendesse pelo que eu estava passando.

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