Bianca acordou sem saber onde estava, a mente ainda nublada, sem conseguir raciocinar direito. Ela escutou o crepitar suave da lareira, que rompia o silêncio da cabana, enquanto o calor acolhedor a envolvia. Cada músculo cansado começava a relaxar sob as mantas macias. Ela se sentia segura, ainda que uma parte de sua mente permanecesse inquieta, como se estivesse em alerta.
Draven, em contraste, movia-se pela pequena cabana com eficiência controlada. Ele sabia exatamente o que fazer. Agora, ele preparava algo para ela comer, uma sopa quente que lançava um aroma reconfortante no ar. Ele não disse muito; suas ações falavam por ele. Porém, apesar de sua postura rígida e semblante fechado, havia algo em Draven que sugeria mais do que ele deixava transparecer.
Bianca sentiu o aroma suave de ervas e legumes, e seu estômago roncou em resposta. Quando Draven finalmente trouxe a tigela de sopa fumegante, ele a colocou em suas mãos com um gesto cuidadoso. O toque de seus dedos contra os dela, mesmo que breve, foi surpreendentemente quente, quase protetor.
— Coma — disse ele, com a voz grave, mas firme. — Vai precisar de forças.
Bianca olhou para a sopa e, embora o cheiro fosse tentador, sua mente ainda estava presa aos eventos recentes. O mar, o afogamento iminente, o resgate inesperado. Ela deu a primeira colherada hesitante. O sabor era simples, mas trouxe uma sensação de conforto imediato. Cada colherada parecia devolver um pouco de força ao seu corpo enfraquecido.
Enquanto comia, seus olhos observavam Draven pelo canto. Ele estava de pé ao lado da lareira, os braços cruzados sobre o peito, a expressão tão impenetrável quanto a primeira vez que o vira. A luz das chamas lançava sombras sobre suas feições severas, mas havia algo de magnético nele, uma espécie de atração inquietante. Bianca não conseguia parar de observá-lo.
A sopa quente trouxe mais clareza à sua mente, e com ela, vieram as perguntas que borbulhavam em sua cabeça.
— Obrigada... — disse ela, com a voz hesitante, tentando puxar uma conversa. — Você me salvou. Eu... nem sei como te agradecer.
Draven não respondeu de imediato. Seus olhos escuros pousaram sobre ela por um breve momento antes de desviar para o fogo.
— Não precisa agradecer — disse ele, com a mesma seriedade de sempre. — Qualquer um faria o mesmo.
“Qualquer um?” Bianca sabia que ele estava sendo modesto. O modo como ele a resgatara, com precisão e força, sugeria que ele era mais do que um simples morador da ilha. E ela queria saber mais.
— Quem é você? — perguntou, a curiosidade tomando conta. — E como soube onde me encontrar?
Draven franziu ligeiramente a testa, como se a pergunta o incomodasse. Ele permaneceu em silêncio por alguns segundos antes de responder, sem olhá-la diretamente.
— Eu moro aqui — disse ele, sem rodeios. — Conheço essa ilha. Vi você à deriva no mar. Foi sorte... ou destino.
Bianca franziu o cenho. “Destino?” A palavra soou estranha vinda dele, como se carregasse um peso maior do que ela poderia compreender naquele momento. Algo em seu tom sugeria que ele acreditava que havia mais acontecendo ali do que um simples resgate.
— Destino? — ela repetiu, tentando entender. — O que quer dizer com isso?
Ele se mexeu, desconfortável, claramente não querendo prolongar a conversa sobre o tema.
— Apenas descanse — disse ele, desviando o olhar para a porta.
Ela olhou para ele, querendo mais respostas, querendo entender o homem que a salvara e por que parecia tão misterioso. Ele, no entanto, parecia disposto a manter o mistério por enquanto. Ele era uma figura impenetrável, mas ao mesmo tempo, algo no modo como ele a tratava — com gentileza inesperada — a fazia sentir que havia mais sob aquela fachada fechada.
— Eu só... — começou Bianca, hesitante, tentando romper o silêncio pesado que se formava. — Não sei o que teria acontecido se você não estivesse lá.
Por um breve segundo, algo mudou no rosto de Draven. Seus olhos suavizaram, e ele deu um meio sorriso quase imperceptível, mas tão rapidamente quanto surgiu, desapareceu.
— Apenas descanse — repetiu ele, agora em um tom mais suave. — Amanhã conversamos mais. Vai precisar de forças para sobreviver aqui.
Bianca hesitou, mas não conseguiu segurar mais a pergunta que a atormentava.
— Você está sozinho aqui? — perguntou, com a voz suave, mas cheia de curiosidade.
Draven ergueu uma sobrancelha, surpreso com a pergunta.
— Não, não estou sozinho — ele respondeu, a expressão séria. — Se é isso que está pensando, esta não é uma ilha deserta. Há uma vila não muito longe daqui. Nós estamos em uma ilha, sim, mas você não está tão isolada quanto imagina.
As palavras dele aliviaram um pouco a tensão que Bianca sentia, mas ao mesmo tempo, levantaram novas perguntas. Uma vila? Isso significava que havia outras pessoas? Mas então, por que ela ainda se sentia tão isolada?
— Uma vila? — ela murmurou, intrigada.
— Sim — confirmou Draven. — Mas descanse. Amanhã podemos ver como você está. Por enquanto, precisa recuperar suas forças.
Mesmo com tantas perguntas sem respostas, sentia-se exausta demais para continuar insistindo. Draven se afastou, deixando-a descansar, mas permaneceu atento, seus olhos azuis vigilantes mesmo enquanto lhe dava espaço. Bianca, agora deitada, envolveu-se nas mantas quentes e fechou os olhos.
Draven, ao perceber que a mulher fechou os olhos, se moveu silenciosamente, levantando uma cadeira de madeira a levando para o lado da cama. Ele se sentou com um movimento firme, mas tranquilo. Ela sentiu sua presença perto dele, uma figura silenciosa, mas imponente, como uma sombra protetora que não deixava seu posto. Ele cruzou os braços sobre o peito e se acomodou na cadeira, os olhos fixos no fogo, mas atento a qualquer sinal de desconforto dela.
“O que te trouxe aqui?” Ele pensou enquanto permanecia sentado, imóvel, enquanto observava ela adormecer. Draven não a deixou sozinha e a simples proximidade dele era reconfortante. Antes que percebesse, Bianca foi lentamente levada ao sono.
Capítulo 4Draven acordou, se levantou e saiu pela porta da cabana determinado a encontrar suprimentos antes que o dia amanhecesse. Ele caminhava com passos silenciosos, movendo-se com a familiaridade de alguém que conhecia cada detalhe daquela floresta. Ele não queria chamar atenção, principalmente por não estar pronto para contar a verdade sobre a mulher em sua cabana. Por isso, decidiu omitir informações.Ao chegar à vila, o sol ainda não tinha nascido. A vila era um amontoado de casas de madeira rústicas, simples, mas funcionais. Poucas pessoas estavam acordadas àquela hora, mas Draven sabia que o líder da matilha, Lucian, já estaria de pé. Lucian era o Alfa de uma comunidade de lobos que viviam isolados ali, em harmonia com a ilha. Draven conhecia bem aquele mundo e sabia que não seria fácil convencê-lo sem levantar suspeitas.Lucian, como sempre, estava na pequena praça central, inspecionando o território como fazia todas as manhãs. Alto, de ombros largos e presença imponente, s
Capítulo 5Os Alfas se reuniram no grande salão da vila. O lugar, com suas paredes de madeira rústica e vigas expostas, era o centro das decisões da matilha. Lucian, o líder, estava no centro da sala. Sua expressão era de preocupação, mas também de determinação. Ele havia sentido algo que não podia ignorar, algo que exigia respostas.— Draven está mentindo — declarou Lucian, quebrando o silêncio que pairava sobre o grupo. Sua voz firme reverberou pelo salão. Todos os Alfas presentes pararam de murmurar, voltando seus olhares para o líder.— O que você quer dizer com isso, Lucian? — perguntou Jarek, um dos Alfas mais antigos da matilha, cruzando os braços. Ele era grande e musculoso, com cicatrizes de batalhas passadas marcando seu rosto severo.Lucian olhou para cada um dos Alfas, sentindo o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Ele sabia que essa discussão poderia mudar o destino da matilha. — Quando Draven veio à vila hoje, ele disse que havia encontrado um homem no mar, que
Capítulo 6Bianca, ainda envolta pelo calor das mantas que a cobriam, se remexeu levemente sobre o colchão improvisado. Algo estava diferente. Uma sensação estranha, como se houvesse olhos a observando, fez seu coração acelerar. Sua respiração ficou mais rápida, e um leve tremor percorreu seu corpo. Com o coração batendo forte no peito, ela abriu os olhos lentamente.A primeira coisa que viu foram sombras — grandes, imóveis, cercando-a como sentinelas silenciosos. Seus olhos, ainda se ajustando à penumbra da cabana, foram se fixando em figuras imponentes. Homens altos, poderosos, com expressões fechadas, em pé ao lado da cama como uma muralha.Bianca sentiu o pânico subir pela garganta.“Quem eram eles? Por que estavam ali?” Ela pensou com seu corpo ficando rígido de medo enquanto olhava para cada um deles, procurando por uma resposta. Eles não falavam. Apenas a observavam com olhos atentos, como se aguardassem algo.Ela tentou levantar-se, mas suas pernas estavam pesadas, seu corpo a
Capítulo 7 Bianca, ainda atordoada pelas revelações do que havia ocorrido, mal conseguia raciocinar. Seus olhos se moviam entre os homens que a cercavam, especialmente Lucian e Draven. — Eu preciso de respostas — disse Bianca, sua voz firme, embora ainda houvesse um tremor em suas palavras. — Vocês me falam de ser uma Luna, de ser importante... Mas o que vocês são, afinal?Draven, que estava ao seu lado, tensionou. Ele evitou olhar diretamente para ela, seus olhos fixos no chão, como se lutar para dizer aquilo o machucasse de alguma forma. Sua mandíbula estava rígida, e um silêncio desconfortável se formou no ambiente.— É complicado, Bianca — ele murmurou, finalmente quebrando o silêncio, mas suas palavras não traziam conforto. Na verdade, só aumentavam a confusão dela.Bianca franziu o cenho, não satisfeita com a resposta evasiva de Draven.— Complicado? — repetiu, a frustração transparecendo. — Eu quase morri naquele naufrágio, acordei cercada por estranhos, e agora vocês me dize
Capítulo 8 As revelações de Lucian, Jarek e dos outros alfas rodavam em sua mente como uma tempestade, cada pedaço de informação levando-a a questionar tudo o que sabia — ou pensava saber — sobre sua vida, o mundo, e agora... seu papel como Luna.Ela permaneceu deitada, com os olhos fixos no teto, incapaz de dormir. Seu coração batia rápido, e sua respiração estava curta. Como ela poderia aceitar tudo aquilo? Lobos? Shifters? Uma outra dimensão? E, acima de tudo, a ideia de que ela era a Luna — a companheira de todos aqueles alfas. Era como se ela estivesse vivendo em um pesadelo, mas não conseguia acordar.A madrugada avançou lenta, cada minuto parecia uma eternidade. Os sons da floresta, que antes lhe traziam paz, agora a faziam sentir-se desconfortável, como se tudo ao seu redor estivesse observando e esperando por seu próximo movimento. Lá fora, ela sabia que Draven estava de guarda. Mesmo sem vê-lo, ela sentia sua presença firme e protetora, mas isso não era suficiente para acal
Capítulo 9 Draven a havia levado até a vila, como ela pedira, e durante o caminho, o silêncio entre os dois era quase palpável. Ela podia sentir a tensão no ar, mas, mais do que isso, sentia a responsabilidade que agora recaía sobre seus ombros. O peso de ser a Luna de cem Alfas – uma conexão que ela não havia escolhido, mas que parecia estar destinada a ela desde o momento em que naufragou naquela ilha.Seus passos eram firmes, mas seu coração batia descompassado. Enquanto caminhava ao lado de Draven, sentia os olhares dos outros Alfas a seguirem. Eles não falavam, mas o olhar deles dizia muito. Expectativa, esperança, e até um pouco de dúvida. Mas Bianca sabia o que precisava fazer.Quando finalmente chegaram ao centro da vila, onde Lucian, Jarek, e os outros Alfas estavam reunidos, a presença deles parecia preencher o espaço. Bianca respirou fundo, sentindo a tensão na vila aumentar com sua chegada. Seus olhos encontraram os de Lucian, que parecia já adivinhar o que estava por vir
Capítulo 10A noite havia sido intensa, e a sensação de pertencimento ainda pulsava em seu peito. Mas, agora que a euforia da festa havia passado, uma nova tensão começou a tomar conta dela, algo mais pessoal, mais íntimo.Draven caminhava ao seu lado, em seu habitual silêncio, mas Bianca podia sentir algo diferente no ar. Talvez fosse a maneira como ele a olhava, ou o simples fato de que, naquele momento, ambos estavam finalmente sozinhos, afastados da agitação e da multidão. O frescor da noite envolvia os dois, mas o calor que Bianca sentia por dentro era muito mais intenso.Quando chegaram à cabana, Draven abriu a porta com um gesto tranquilo, como se fosse algo que ele já havia feito muitas vezes. Ele era sempre tão contido, quase inabalável. E, por isso, quando Bianca entrou, sentiu-se estranhamente à vontade.Ela se sentou na beirada da cama, sentindo o cansaço da noite de comemoração pesar sobre seu corpo, mas sua mente estava inquieta. Seus olhos, involuntariamente, procuraram
Capítulo 11Ela tentou controlar as emoções que explodiam dentro dela — raiva, confusão, medo — mas era difícil. A sensação de estar presa entre as expectativas da alcatéia e seus próprios desejos a deixava tensa. Tudo estava acontecendo rápido demais, e ela não sabia como reagir.Draven, por sua vez, observava-a em silêncio. Ele não tentou se aproximar nem tocá-la. A tensão entre eles agora era palpável, como um fio prestes a se romper. Bianca conseguia ver a dor nos olhos dele, mas isso só a deixava mais confusa. Como ele podia dizer que a queria e, ao mesmo tempo, admitir que ela pertencia a todos? A contradição se torcia em seu estômago como um nó.— Eu não sabia... — murmurou ela, quase para si mesma, sua voz entrecortada. — Eu não sabia que ser Luna significava... isso.A verdade a atingiu com força, e a ideia de ser uma líder, não apenas para Draven, mas para toda a alcatéia, parecia um peso esmagador. O que ela sabia sobre liderança? O que ela poderia oferecer a um grupo que p