Capítulo 3

Capítulo 3

Bianca acordou sem saber onde estava, a mente ainda nublada, sem conseguir raciocinar direito. Ela escutou o crepitar suave da lareira, que rompia o silêncio da cabana, enquanto o calor acolhedor a envolvia. Cada músculo cansado começava a relaxar sob as mantas macias. Ela se sentia segura, ainda que uma parte de sua mente permanecesse inquieta, como se estivesse em alerta.

Draven, em contraste, movia-se pela pequena cabana com eficiência controlada. Ele sabia exatamente o que fazer. Agora, ele preparava algo para ela comer, uma sopa quente que lançava um aroma reconfortante no ar. Ele não disse muito; suas ações falavam por ele. Porém, apesar de sua postura rígida e semblante fechado, havia algo em Draven que sugeria mais do que ele deixava transparecer.

Bianca sentiu o aroma suave de ervas e legumes, e seu estômago roncou em resposta. Quando Draven finalmente trouxe a tigela de sopa fumegante, ele a colocou em suas mãos com um gesto cuidadoso. O toque de seus dedos contra os dela, mesmo que breve, foi surpreendentemente quente, quase protetor.

— Coma — disse ele, com a voz grave, mas firme. — Vai precisar de forças.

Bianca olhou para a sopa e, embora o cheiro fosse tentador, sua mente ainda estava presa aos eventos recentes. O mar, o afogamento iminente, o resgate inesperado. Ela deu a primeira colherada hesitante. O sabor era simples, mas trouxe uma sensação de conforto imediato. Cada colherada parecia devolver um pouco de força ao seu corpo enfraquecido.

Enquanto comia, seus olhos observavam Draven pelo canto. Ele estava de pé ao lado da lareira, os braços cruzados sobre o peito, a expressão tão impenetrável quanto a primeira vez que o vira. A luz das chamas lançava sombras sobre suas feições severas, mas havia algo de magnético nele, uma espécie de atração inquietante. Bianca não conseguia parar de observá-lo.

A sopa quente trouxe mais clareza à sua mente, e com ela, vieram as perguntas que borbulhavam em sua cabeça.

— Obrigada... — disse ela, com a voz hesitante, tentando puxar uma conversa. — Você me salvou. Eu... nem sei como te agradecer.

Draven não respondeu de imediato. Seus olhos escuros pousaram sobre ela por um breve momento antes de desviar para o fogo.

— Não precisa agradecer — disse ele, com a mesma seriedade de sempre. — Qualquer um faria o mesmo.

“Qualquer um?” Bianca sabia que ele estava sendo modesto. O modo como ele a resgatara, com precisão e força, sugeria que ele era mais do que um simples morador da ilha. E ela queria saber mais.

— Quem é você? — perguntou, a curiosidade tomando conta. — E como soube onde me encontrar?

Draven franziu ligeiramente a testa, como se a pergunta o incomodasse. Ele permaneceu em silêncio por alguns segundos antes de responder, sem olhá-la diretamente.

— Eu moro aqui — disse ele, sem rodeios. — Conheço essa ilha. Vi você à deriva no mar. Foi sorte... ou destino.

Bianca franziu o cenho. “Destino?” A palavra soou estranha vinda dele, como se carregasse um peso maior do que ela poderia compreender naquele momento. Algo em seu tom sugeria que ele acreditava que havia mais acontecendo ali do que um simples resgate.

— Destino? — ela repetiu, tentando entender. — O que quer dizer com isso?

Ele se mexeu, desconfortável, claramente não querendo prolongar a conversa sobre o tema.

— Apenas descanse — disse ele, desviando o olhar para a porta.

Ela olhou para ele, querendo mais respostas, querendo entender o homem que a salvara e por que parecia tão misterioso. Ele, no entanto, parecia disposto a manter o mistério por enquanto. Ele era uma figura impenetrável, mas ao mesmo tempo, algo no modo como ele a tratava — com gentileza inesperada — a fazia sentir que havia mais sob aquela fachada fechada.

— Eu só... — começou Bianca, hesitante, tentando romper o silêncio pesado que se formava. — Não sei o que teria acontecido se você não estivesse lá.

Por um breve segundo, algo mudou no rosto de Draven. Seus olhos suavizaram, e ele deu um meio sorriso quase imperceptível, mas tão rapidamente quanto surgiu, desapareceu.

— Apenas descanse — repetiu ele, agora em um tom mais suave. — Amanhã conversamos mais. Vai precisar de forças para sobreviver aqui.

Bianca hesitou, mas não conseguiu segurar mais a pergunta que a atormentava.

— Você está sozinho aqui? — perguntou, com a voz suave, mas cheia de curiosidade.

Draven ergueu uma sobrancelha, surpreso com a pergunta.

— Não, não estou sozinho — ele respondeu, a expressão séria. — Se é isso que está pensando, esta não é uma ilha deserta. Há uma vila não muito longe daqui. Nós estamos em uma ilha, sim, mas você não está tão isolada quanto imagina.

As palavras dele aliviaram um pouco a tensão que Bianca sentia, mas ao mesmo tempo, levantaram novas perguntas. Uma vila? Isso significava que havia outras pessoas? Mas então, por que ela ainda se sentia tão isolada?

— Uma vila? — ela murmurou, intrigada.

— Sim — confirmou Draven. — Mas descanse. Amanhã podemos ver como você está. Por enquanto, precisa recuperar suas forças.

Mesmo com tantas perguntas sem respostas, sentia-se exausta demais para continuar insistindo. Draven se afastou, deixando-a descansar, mas permaneceu atento, seus olhos azuis vigilantes mesmo enquanto lhe dava espaço. Bianca, agora deitada, envolveu-se nas mantas quentes e fechou os olhos.

Draven, ao perceber que a mulher fechou os olhos, se moveu silenciosamente, levantando uma cadeira de madeira a levando para o lado da cama. Ele se sentou com um movimento firme, mas tranquilo. Ela sentiu sua presença perto dele, uma figura silenciosa, mas imponente, como uma sombra protetora que não deixava seu posto. Ele cruzou os braços sobre o peito e se acomodou na cadeira, os olhos fixos no fogo, mas atento a qualquer sinal de desconforto dela.

“O que te trouxe aqui?” Ele pensou enquanto permanecia sentado,  imóvel, enquanto observava ela adormecer. Draven não a deixou sozinha e a simples proximidade dele era reconfortante. Antes que percebesse, Bianca foi lentamente levada ao sono.

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