Capítulo 2
Sentia a água fria envolvê-la, penetrando em seus ossos, mas havia algo pior: o silêncio absoluto. Um vazio opressor que consumia cada pensamento, cada emoção, deixando apenas o pavor da incerteza.
Seu corpo doía. Cada músculo parecia tenso, desgastado, e o gosto salgado de maresia estava impregnado em seus lábios rachados. Bianca tossiu, tentando expulsar o gosto amargo da garganta seca. Não havia barco, tripulação, ou qualquer sinal de terra firme. Apenas o oceano infinito e impiedoso, vasto e indiferente.
Ela olhou ao redor, seus olhos ardiam com o sal. A mente ainda nebulosa a fazia lutar para se lembrar do que acontecera. A tempestade e o caos. Tudo desabou de uma vez, e antes que pudesse reagir, foi lançada à deriva, prisioneira do oceano. Bianca sentia suas forças a abandonarem. Seu corpo parecia à beira de desistir, e sua mente, turva pela exaustão, começou a ceder. Mas então algo mudou. O som do mar foi interrompido por uma presença. A água ao seu lado se agitou. No limite de sua visão turva, uma sombra se aproximava.
Era um homem.
Ele surgiu como uma figura imponente, alto e musculoso, o cabelo escuro e pesado pela água. Seus olhos penetrantes a observavam com uma mistura de determinação e curiosidade. Bianca mal teve tempo de se perguntar antes que ele a agarrasse com firmeza e, em um movimento preciso, a puxasse para fora da água com uma facilidade impressionante, como se ela fosse leve como uma pena.
Bianca tentou murmurar algo, mas estava exausta demais. O toque quente dele contrastava com a frieza que a cercava, e, naquele momento, ele era a única coisa que a mantinha consciente. “Ele me salvou”, pensou, sentindo uma onda de gratidão misturada ao choque. O alívio percorreu seu corpo ao mesmo tempo que sua mente se enchia de perguntas.
“Quem era ele? Onde estava? E, o mais importante, finalmente fui encontrada!” Ela pensou sentindo que finalmente poderia descansar.
O homem a carregou com determinação, seus passos firmes afundando levemente na areia molhada da praia. Bianca observava ao redor, ainda atordoada, notando a vegetação densa da ilha que se estendia à sua frente, uma floresta verdejante que parecia quase selvagem, mas misteriosamente acolhedora.
“Onde estou?” ela pensou, mas não havia forças para perguntar.
— Eu... — ela tentou falar, sua voz rouca e falhando, a exaustão tomando conta de cada parte de seu corpo.
— Não fale agora — ele a interrompeu suavemente, ajustando seu corpo com firmeza contra o dele. — Vou levá-la a um lugar seguro.
Havia algo reconfortante em seu tom. Uma autoridade silenciosa, como se ele soubesse exatamente o que estava fazendo. “Quem é esse homem?” Bianca sentiu sua respiração misturada à dele, a sensação da proteção que emanava daquele estranho fazia com que ela relaxasse, apesar da confusão que latejava em sua mente. “Por que confio nele?”
Ele a levou pela praia, passando por rochedos e raízes expostas, até encontrarem uma trilha estreita que se adentrava na floresta. As árvores, altas e imponentes, ofereciam uma sombra refrescante que os protegia do sol, que agora começava a se erguer no céu. O homem avançava sem hesitação, como se conhecesse cada pedra, cada árvore daquele lugar.
Bianca tentava processar o que acontecia, mas tudo era rápido demais. O silêncio entre eles era interrompido apenas pelo som de seus passos e do vento suave que agitava as folhas. “Quem é ele? Um nativo? Um viajante como eu?” Sua mente se debatia entre a necessidade de respostas e a exaustão física.
— Quem... você... — ela balbuciou novamente, em um esforço quase desesperado para entender o que estava acontecendo.
— Me chamo Draven — ele respondeu com um ligeiro sorriso, seus olhos ainda focados à frente, atentos ao caminho. — Estamos quase lá.
“Draven” O nome ressoou em sua mente. Havia algo nele que parecia antigo, como se pertencesse a uma história há muito esquecida. Algo forte, sólido. Ela sentiu um arrepio ao ouvir aquele nome, como se carregasse consigo um peso que ela ainda não compreendia. “Será que posso confiar nele?” Mas, neste momento, ela não tinha escolha. Seu corpo já não respondia.
Finalmente, a trilha se abriu em uma clareira.
No centro, uma construção rústica e imponente se erguia, feita de madeira e pedra, parecendo uma extensão natural da própria ilha. A cabana, ao mesmo tempo simples e resistente, emanava uma sensação de abrigo, um refúgio no meio do desconhecido. “Isso é real?”
Draven a levou para dentro, onde o calor de uma lareira acesa envolveu Bianca instantaneamente. O interior da cabana era surpreendentemente aconchegante, com móveis de madeira robusta e tecidos grossos que traziam uma sensação de segurança. Ele a deitou suavemente sobre uma cama coberta por mantas quentes e macias. “Estou segura agora.”
— Você vai ficar bem aqui — disse ele, afastando-se para preparar algo, provavelmente comida ou água, sem perder o foco na tarefa. “Ele parece conhecer esse lugar tão bem. Será que mora aqui sozinho?”
Bianca o observava enquanto tentava se recuperar. Draven movia-se com a graça de alguém acostumado a sobreviver naquele ambiente, como se fosse parte daquela ilha. “Quem é ele realmente? E o que essa ilha misteriosa esconde?”
Ela sentiu os olhos se fecharem, pesados pela exaustão, mas sua mente continuava agitada. “Há algo mais aqui?” A sensação de ter sido levada até ali por forças além de seu controle era inegável. “Será que foi o destino?” Bianca não sabia o que esperar dali em diante, mas, por agora, seu corpo cedia à exaustão e a última imagem em sua mente era o olhar penetrante de Draven.
Capítulo 3Bianca acordou sem saber onde estava, a mente ainda nublada, sem conseguir raciocinar direito. Ela escutou o crepitar suave da lareira, que rompia o silêncio da cabana, enquanto o calor acolhedor a envolvia. Cada músculo cansado começava a relaxar sob as mantas macias. Ela se sentia segura, ainda que uma parte de sua mente permanecesse inquieta, como se estivesse em alerta.Draven, em contraste, movia-se pela pequena cabana com eficiência controlada. Ele sabia exatamente o que fazer. Agora, ele preparava algo para ela comer, uma sopa quente que lançava um aroma reconfortante no ar. Ele não disse muito; suas ações falavam por ele. Porém, apesar de sua postura rígida e semblante fechado, havia algo em Draven que sugeria mais do que ele deixava transparecer.Bianca sentiu o aroma suave de ervas e legumes, e seu estômago roncou em resposta. Quando Draven finalmente trouxe a tigela de sopa fumegante, ele a colocou em suas mãos com um gesto cuidadoso. O toque de seus dedos contra
Capítulo 4Draven acordou, se levantou e saiu pela porta da cabana determinado a encontrar suprimentos antes que o dia amanhecesse. Ele caminhava com passos silenciosos, movendo-se com a familiaridade de alguém que conhecia cada detalhe daquela floresta. Ele não queria chamar atenção, principalmente por não estar pronto para contar a verdade sobre a mulher em sua cabana. Por isso, decidiu omitir informações.Ao chegar à vila, o sol ainda não tinha nascido. A vila era um amontoado de casas de madeira rústicas, simples, mas funcionais. Poucas pessoas estavam acordadas àquela hora, mas Draven sabia que o líder da matilha, Lucian, já estaria de pé. Lucian era o Alfa de uma comunidade de lobos que viviam isolados ali, em harmonia com a ilha. Draven conhecia bem aquele mundo e sabia que não seria fácil convencê-lo sem levantar suspeitas.Lucian, como sempre, estava na pequena praça central, inspecionando o território como fazia todas as manhãs. Alto, de ombros largos e presença imponente, s
Capítulo 5Os Alfas se reuniram no grande salão da vila. O lugar, com suas paredes de madeira rústica e vigas expostas, era o centro das decisões da matilha. Lucian, o líder, estava no centro da sala. Sua expressão era de preocupação, mas também de determinação. Ele havia sentido algo que não podia ignorar, algo que exigia respostas.— Draven está mentindo — declarou Lucian, quebrando o silêncio que pairava sobre o grupo. Sua voz firme reverberou pelo salão. Todos os Alfas presentes pararam de murmurar, voltando seus olhares para o líder.— O que você quer dizer com isso, Lucian? — perguntou Jarek, um dos Alfas mais antigos da matilha, cruzando os braços. Ele era grande e musculoso, com cicatrizes de batalhas passadas marcando seu rosto severo.Lucian olhou para cada um dos Alfas, sentindo o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Ele sabia que essa discussão poderia mudar o destino da matilha. — Quando Draven veio à vila hoje, ele disse que havia encontrado um homem no mar, que
Capítulo 6Bianca, ainda envolta pelo calor das mantas que a cobriam, se remexeu levemente sobre o colchão improvisado. Algo estava diferente. Uma sensação estranha, como se houvesse olhos a observando, fez seu coração acelerar. Sua respiração ficou mais rápida, e um leve tremor percorreu seu corpo. Com o coração batendo forte no peito, ela abriu os olhos lentamente.A primeira coisa que viu foram sombras — grandes, imóveis, cercando-a como sentinelas silenciosos. Seus olhos, ainda se ajustando à penumbra da cabana, foram se fixando em figuras imponentes. Homens altos, poderosos, com expressões fechadas, em pé ao lado da cama como uma muralha.Bianca sentiu o pânico subir pela garganta.“Quem eram eles? Por que estavam ali?” Ela pensou com seu corpo ficando rígido de medo enquanto olhava para cada um deles, procurando por uma resposta. Eles não falavam. Apenas a observavam com olhos atentos, como se aguardassem algo.Ela tentou levantar-se, mas suas pernas estavam pesadas, seu corpo a
Capítulo 7 Bianca, ainda atordoada pelas revelações do que havia ocorrido, mal conseguia raciocinar. Seus olhos se moviam entre os homens que a cercavam, especialmente Lucian e Draven. — Eu preciso de respostas — disse Bianca, sua voz firme, embora ainda houvesse um tremor em suas palavras. — Vocês me falam de ser uma Luna, de ser importante... Mas o que vocês são, afinal?Draven, que estava ao seu lado, tensionou. Ele evitou olhar diretamente para ela, seus olhos fixos no chão, como se lutar para dizer aquilo o machucasse de alguma forma. Sua mandíbula estava rígida, e um silêncio desconfortável se formou no ambiente.— É complicado, Bianca — ele murmurou, finalmente quebrando o silêncio, mas suas palavras não traziam conforto. Na verdade, só aumentavam a confusão dela.Bianca franziu o cenho, não satisfeita com a resposta evasiva de Draven.— Complicado? — repetiu, a frustração transparecendo. — Eu quase morri naquele naufrágio, acordei cercada por estranhos, e agora vocês me dize
Capítulo 8 As revelações de Lucian, Jarek e dos outros alfas rodavam em sua mente como uma tempestade, cada pedaço de informação levando-a a questionar tudo o que sabia — ou pensava saber — sobre sua vida, o mundo, e agora... seu papel como Luna.Ela permaneceu deitada, com os olhos fixos no teto, incapaz de dormir. Seu coração batia rápido, e sua respiração estava curta. Como ela poderia aceitar tudo aquilo? Lobos? Shifters? Uma outra dimensão? E, acima de tudo, a ideia de que ela era a Luna — a companheira de todos aqueles alfas. Era como se ela estivesse vivendo em um pesadelo, mas não conseguia acordar.A madrugada avançou lenta, cada minuto parecia uma eternidade. Os sons da floresta, que antes lhe traziam paz, agora a faziam sentir-se desconfortável, como se tudo ao seu redor estivesse observando e esperando por seu próximo movimento. Lá fora, ela sabia que Draven estava de guarda. Mesmo sem vê-lo, ela sentia sua presença firme e protetora, mas isso não era suficiente para acal
Capítulo 9 Draven a havia levado até a vila, como ela pedira, e durante o caminho, o silêncio entre os dois era quase palpável. Ela podia sentir a tensão no ar, mas, mais do que isso, sentia a responsabilidade que agora recaía sobre seus ombros. O peso de ser a Luna de cem Alfas – uma conexão que ela não havia escolhido, mas que parecia estar destinada a ela desde o momento em que naufragou naquela ilha.Seus passos eram firmes, mas seu coração batia descompassado. Enquanto caminhava ao lado de Draven, sentia os olhares dos outros Alfas a seguirem. Eles não falavam, mas o olhar deles dizia muito. Expectativa, esperança, e até um pouco de dúvida. Mas Bianca sabia o que precisava fazer.Quando finalmente chegaram ao centro da vila, onde Lucian, Jarek, e os outros Alfas estavam reunidos, a presença deles parecia preencher o espaço. Bianca respirou fundo, sentindo a tensão na vila aumentar com sua chegada. Seus olhos encontraram os de Lucian, que parecia já adivinhar o que estava por vir
Capítulo 10A noite havia sido intensa, e a sensação de pertencimento ainda pulsava em seu peito. Mas, agora que a euforia da festa havia passado, uma nova tensão começou a tomar conta dela, algo mais pessoal, mais íntimo.Draven caminhava ao seu lado, em seu habitual silêncio, mas Bianca podia sentir algo diferente no ar. Talvez fosse a maneira como ele a olhava, ou o simples fato de que, naquele momento, ambos estavam finalmente sozinhos, afastados da agitação e da multidão. O frescor da noite envolvia os dois, mas o calor que Bianca sentia por dentro era muito mais intenso.Quando chegaram à cabana, Draven abriu a porta com um gesto tranquilo, como se fosse algo que ele já havia feito muitas vezes. Ele era sempre tão contido, quase inabalável. E, por isso, quando Bianca entrou, sentiu-se estranhamente à vontade.Ela se sentou na beirada da cama, sentindo o cansaço da noite de comemoração pesar sobre seu corpo, mas sua mente estava inquieta. Seus olhos, involuntariamente, procuraram