A Luna dos 100 Alfas
A Luna dos 100 Alfas
Por: Arthur Souza
Capítulo 1

Capítulo 1

Ela olhava pela pequena janela da cabine, O céu, que até algumas horas atrás era um manto azul tranquilo e infinito, agora se transformava rapidamente em um espetáculo aterrorizante. Observando a imensidão que a cercava. O horizonte parecia desaparecer lentamente, engolido pelo que ela agora percebia ser mais do que apenas uma tempestade passageira. Algo dentro dela sussurrava que aquilo era um presságio, uma advertência. Seu coração batia acelerado, o medo começando a invadir suas veias, mas ela o empurrava para longe. Respirou fundo, tentando se lembrar de quem ela era — sempre forte, sempre determinada, nunca cedia ao medo, mesmo quando ele apertava seu peito como agora.

— Vai ficar tudo bem — murmurou para si mesma, mais como um mantra do que uma verdade.

Ela estava a caminho de um novo destino, uma nova vida, uma nova chance de recomeçar. Tinha feito a escolha certa, ou pelo menos, era o que tentava acreditar. Deixar tudo para trás tinha parecido sensato na época, mesmo que agora, no meio do mar furioso, ela começasse a questionar. O barco balançava com uma violência crescente, e a sensação de perigo iminente tornava difícil pensar em qualquer coisa além do momento presente.

— M*****a tempestade — murmurou, apertando os lábios. O barulho ensurdecedor do vento e das ondas batendo no casco era quase surreal.

De repente, a porta da cabine foi aberta com um estrondo, e um dos tripulantes entrou, molhado até os ossos. Seus olhos estavam arregalados de pânico, a respiração curta.

— Temos problemas grandes, senhorita — disse ele, as palavras saindo trêmulas. — É melhor se preparar. Vai ser uma noite longa.

Antes que Bianca pudesse perguntar algo, o tripulante se foi tão rápido quanto veio, voltando para o caos do convés. A sensação de impotência crescia em seu peito, um nó na garganta que ela se forçava a engolir. Ficando de pé, ela se chocou contra a parede quando o barco inclinou-se de maneira perigosa. O capitão gritava ordens do lado de fora, mas suas palavras eram tragadas pelo rugido do vento.

Por um breve momento, Bianca pensou em correr para a segurança da cabine interna, onde provavelmente estaria mais protegida. Mas algo a fez hesitar. Ela sentia que precisava estar lá fora, que deveria enfrentar a tempestade de frente, não se esconder dela.

Seus pés hesitaram por um segundo, mas ela logo se moveu em direção à porta que levava ao convés. O frio cortante do vento a atingiu assim que saiu, quase tirando seu fôlego. A água da chuva misturada com os respingos salgados das ondas batia em seu rosto, cegando-a temporariamente.

A cena à sua frente era um caos absoluto. A tripulação corria de um lado para o outro, tentando manter o controle do barco que agora parecia ser uma mera casca de noz à deriva no oceano furioso. O convés estava inclinado em um ângulo assustador, e cada batida das ondas fazia o barco tremer violentamente.

— Senhorita, volte para dentro! — gritou um dos tripulantes, sua voz quase inaudível no meio da tempestade.

Mas Bianca não se moveu. Ela agarrou a lateral da embarcação, seus dedos firmes contra o metal frio. Algo nela recusava-se a ceder. Mesmo com o coração batendo na garganta, uma parte dela se recusava a se render ao pânico que começava a tomar conta de todos ao redor.

— Eu posso fazer isso — murmurou para si mesma, mais uma vez, como se repetisse uma verdade que precisava desesperadamente acreditar.

Uma onda colossal se ergueu à frente, como um monstro, e Bianca arregalou os olhos, incapaz de se preparar para o impacto. O barco foi arremessado para o lado com uma força brutal, e, por um momento, ela sentiu o chão sumir debaixo de seus pés. Sua mão escorregou da grade, e ela foi lançada contra a parede do convés.

A dor irradiou por todo o seu corpo, o impacto a deixando tonta. Ela lutou para se levantar, sentindo a náusea crescer enquanto o mundo girava ao seu redor. Quando finalmente conseguiu se erguer, uma sensação de desespero a atingiu

— Não… não assim — murmurou, tentando segurar uma nova rajada de pânico.

Foi então que ela ouviu o grito. Um dos tripulantes foi jogado para fora do barco, desaparecendo nas águas agitadas antes que alguém pudesse sequer tentar ajudá-lo. Bianca congelou, o sangue gelando em suas veias ao ver a cena. Sua mente recusava-se a acreditar no que seus olhos viam.

— Não… Não pode ser verdade.

Mas a realidade estava bem diante dela. O mar estava tomando tudo.

Uma nova onda colossal se formava à frente. Desta vez, Bianca soube que não havia para onde correr, e antes que pudesse reagir, a água atingiu o barco em cheio. O impacto a arremessou de novo, e ela sentiu seu corpo ser puxado pelo chão inclinado em direção às grades do convés. Ela tentou se segurar, mas seus dedos encontraram apenas o vazio.

— Segura! — alguém gritou, a voz abafada pelo rugido do vento.

Mas era tarde demais.

Bianca sentiu o vazio abaixo de si. O mundo ao seu redor virou de cabeça para baixo enquanto ela era lançada para fora do barco. O tempo pareceu desacelerar, e tudo o que ela viu foi o céu, coberto de nuvens escuras, girando acima de sua cabeça. Uma última palavra se formou em seus lábios, mas ela não teve chance de dizê-la antes de sentir a água gelada do oceano.

O impacto foi brutal. A água era como gelo, cortando sua pele e roubando seu fôlego em um único golpe. A sensação de ser engolida pelas profundezas tomou conta, e Bianca lutou desesperadamente para subir à superfície. Seu corpo implorava por ar, mas as ondas eram implacáveis, jogando-a de um lado para o outro como uma boneca de pano.

— Eu… preciso… respirar — pensava enquanto suas mãos e pernas batiam freneticamente contra a água. Mas o sal queimava seus olhos e sua garganta, e cada tentativa de subir parecia mais fútil que a anterior.

Lá em cima, ela conseguiu vislumbrar o barco, uma sombra distante no meio da tempestade. Mas ele parecia cada vez menor, mais longe. Sozinha, em meio ao vasto oceano, Bianca sentiu o desespero crescer em seu peito como uma chama incontrolável.

— Isso não pode estar acontecendo — pensou, o pânico tomando conta. — Eu não posso morrer assim.

O medo era quase paralisante, mas em algum lugar, dentro de si, algo gritava mais alto — a lembrança do motivo pelo qual ela estava ali. Ela não havia lutado tanto para acabar assim, não agora. Não no meio de um oceano furioso, onde ninguém a encontraria. Bianca não cederia.

Com um esforço sobre-humano, ela se forçou a bater as pernas contra as ondas, usando cada grama de força que ainda restava. Seu corpo inteiro implorava por descanso, por desistir, mas ela lutava.

— Não aqui. Não agora — repetia mentalmente, sua determinação empurrando o desespero para longe.

Mas, por mais que tentasse, o cansaço finalmente a dominou. Seu corpo começou a se entregar ao peso das ondas, seus braços e pernas se recusando a obedecer. A última coisa que sentiu antes de ser envolvida pela escuridão foi o frio mortal da água e o som distante da tempestade, ainda furiosa, mas cada vez mais distante.

Bianca foi levada pelas correntes, seus pensamentos e consciência desaparecendo no abismo do mar. Ela não sabia para onde as águas a levariam, mas, naquele momento, tudo que restava era o vazio silencioso.

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