Capítulo 1
Ela olhava pela pequena janela da cabine, O céu, que até algumas horas atrás era um manto azul tranquilo e infinito, agora se transformava rapidamente em um espetáculo aterrorizante. Observando a imensidão que a cercava. O horizonte parecia desaparecer lentamente, engolido pelo que ela agora percebia ser mais do que apenas uma tempestade passageira. Algo dentro dela sussurrava que aquilo era um presságio, uma advertência. Seu coração batia acelerado, o medo começando a invadir suas veias, mas ela o empurrava para longe. Respirou fundo, tentando se lembrar de quem ela era — sempre forte, sempre determinada, nunca cedia ao medo, mesmo quando ele apertava seu peito como agora.
— Vai ficar tudo bem — murmurou para si mesma, mais como um mantra do que uma verdade.
Ela estava a caminho de um novo destino, uma nova vida, uma nova chance de recomeçar. Tinha feito a escolha certa, ou pelo menos, era o que tentava acreditar. Deixar tudo para trás tinha parecido sensato na época, mesmo que agora, no meio do mar furioso, ela começasse a questionar. O barco balançava com uma violência crescente, e a sensação de perigo iminente tornava difícil pensar em qualquer coisa além do momento presente.
— M*****a tempestade — murmurou, apertando os lábios. O barulho ensurdecedor do vento e das ondas batendo no casco era quase surreal.
De repente, a porta da cabine foi aberta com um estrondo, e um dos tripulantes entrou, molhado até os ossos. Seus olhos estavam arregalados de pânico, a respiração curta.
— Temos problemas grandes, senhorita — disse ele, as palavras saindo trêmulas. — É melhor se preparar. Vai ser uma noite longa.
Antes que Bianca pudesse perguntar algo, o tripulante se foi tão rápido quanto veio, voltando para o caos do convés. A sensação de impotência crescia em seu peito, um nó na garganta que ela se forçava a engolir. Ficando de pé, ela se chocou contra a parede quando o barco inclinou-se de maneira perigosa. O capitão gritava ordens do lado de fora, mas suas palavras eram tragadas pelo rugido do vento.
Por um breve momento, Bianca pensou em correr para a segurança da cabine interna, onde provavelmente estaria mais protegida. Mas algo a fez hesitar. Ela sentia que precisava estar lá fora, que deveria enfrentar a tempestade de frente, não se esconder dela.
Seus pés hesitaram por um segundo, mas ela logo se moveu em direção à porta que levava ao convés. O frio cortante do vento a atingiu assim que saiu, quase tirando seu fôlego. A água da chuva misturada com os respingos salgados das ondas batia em seu rosto, cegando-a temporariamente.
A cena à sua frente era um caos absoluto. A tripulação corria de um lado para o outro, tentando manter o controle do barco que agora parecia ser uma mera casca de noz à deriva no oceano furioso. O convés estava inclinado em um ângulo assustador, e cada batida das ondas fazia o barco tremer violentamente.
— Senhorita, volte para dentro! — gritou um dos tripulantes, sua voz quase inaudível no meio da tempestade.
Mas Bianca não se moveu. Ela agarrou a lateral da embarcação, seus dedos firmes contra o metal frio. Algo nela recusava-se a ceder. Mesmo com o coração batendo na garganta, uma parte dela se recusava a se render ao pânico que começava a tomar conta de todos ao redor.
— Eu posso fazer isso — murmurou para si mesma, mais uma vez, como se repetisse uma verdade que precisava desesperadamente acreditar.
Uma onda colossal se ergueu à frente, como um monstro, e Bianca arregalou os olhos, incapaz de se preparar para o impacto. O barco foi arremessado para o lado com uma força brutal, e, por um momento, ela sentiu o chão sumir debaixo de seus pés. Sua mão escorregou da grade, e ela foi lançada contra a parede do convés.
A dor irradiou por todo o seu corpo, o impacto a deixando tonta. Ela lutou para se levantar, sentindo a náusea crescer enquanto o mundo girava ao seu redor. Quando finalmente conseguiu se erguer, uma sensação de desespero a atingiu
— Não… não assim — murmurou, tentando segurar uma nova rajada de pânico.
Foi então que ela ouviu o grito. Um dos tripulantes foi jogado para fora do barco, desaparecendo nas águas agitadas antes que alguém pudesse sequer tentar ajudá-lo. Bianca congelou, o sangue gelando em suas veias ao ver a cena. Sua mente recusava-se a acreditar no que seus olhos viam.
— Não… Não pode ser verdade.
Mas a realidade estava bem diante dela. O mar estava tomando tudo.
Uma nova onda colossal se formava à frente. Desta vez, Bianca soube que não havia para onde correr, e antes que pudesse reagir, a água atingiu o barco em cheio. O impacto a arremessou de novo, e ela sentiu seu corpo ser puxado pelo chão inclinado em direção às grades do convés. Ela tentou se segurar, mas seus dedos encontraram apenas o vazio.
— Segura! — alguém gritou, a voz abafada pelo rugido do vento.
Mas era tarde demais.
Bianca sentiu o vazio abaixo de si. O mundo ao seu redor virou de cabeça para baixo enquanto ela era lançada para fora do barco. O tempo pareceu desacelerar, e tudo o que ela viu foi o céu, coberto de nuvens escuras, girando acima de sua cabeça. Uma última palavra se formou em seus lábios, mas ela não teve chance de dizê-la antes de sentir a água gelada do oceano.
O impacto foi brutal. A água era como gelo, cortando sua pele e roubando seu fôlego em um único golpe. A sensação de ser engolida pelas profundezas tomou conta, e Bianca lutou desesperadamente para subir à superfície. Seu corpo implorava por ar, mas as ondas eram implacáveis, jogando-a de um lado para o outro como uma boneca de pano.
— Eu… preciso… respirar — pensava enquanto suas mãos e pernas batiam freneticamente contra a água. Mas o sal queimava seus olhos e sua garganta, e cada tentativa de subir parecia mais fútil que a anterior.
Lá em cima, ela conseguiu vislumbrar o barco, uma sombra distante no meio da tempestade. Mas ele parecia cada vez menor, mais longe. Sozinha, em meio ao vasto oceano, Bianca sentiu o desespero crescer em seu peito como uma chama incontrolável.
— Isso não pode estar acontecendo — pensou, o pânico tomando conta. — Eu não posso morrer assim.
O medo era quase paralisante, mas em algum lugar, dentro de si, algo gritava mais alto — a lembrança do motivo pelo qual ela estava ali. Ela não havia lutado tanto para acabar assim, não agora. Não no meio de um oceano furioso, onde ninguém a encontraria. Bianca não cederia.
Com um esforço sobre-humano, ela se forçou a bater as pernas contra as ondas, usando cada grama de força que ainda restava. Seu corpo inteiro implorava por descanso, por desistir, mas ela lutava.
— Não aqui. Não agora — repetia mentalmente, sua determinação empurrando o desespero para longe.
Mas, por mais que tentasse, o cansaço finalmente a dominou. Seu corpo começou a se entregar ao peso das ondas, seus braços e pernas se recusando a obedecer. A última coisa que sentiu antes de ser envolvida pela escuridão foi o frio mortal da água e o som distante da tempestade, ainda furiosa, mas cada vez mais distante.
Bianca foi levada pelas correntes, seus pensamentos e consciência desaparecendo no abismo do mar. Ela não sabia para onde as águas a levariam, mas, naquele momento, tudo que restava era o vazio silencioso.
Capítulo 2Sentia a água fria envolvê-la, penetrando em seus ossos, mas havia algo pior: o silêncio absoluto. Um vazio opressor que consumia cada pensamento, cada emoção, deixando apenas o pavor da incerteza.Seu corpo doía. Cada músculo parecia tenso, desgastado, e o gosto salgado de maresia estava impregnado em seus lábios rachados. Bianca tossiu, tentando expulsar o gosto amargo da garganta seca. Não havia barco, tripulação, ou qualquer sinal de terra firme. Apenas o oceano infinito e impiedoso, vasto e indiferente.Ela olhou ao redor, seus olhos ardiam com o sal. A mente ainda nebulosa a fazia lutar para se lembrar do que acontecera. A tempestade e o caos. Tudo desabou de uma vez, e antes que pudesse reagir, foi lançada à deriva, prisioneira do oceano. Bianca sentia suas forças a abandonarem. Seu corpo parecia à beira de desistir, e sua mente, turva pela exaustão, começou a ceder. Mas então algo mudou. O som do mar foi interrompido por uma presença. A água ao seu lado se agitou. N
Capítulo 3Bianca acordou sem saber onde estava, a mente ainda nublada, sem conseguir raciocinar direito. Ela escutou o crepitar suave da lareira, que rompia o silêncio da cabana, enquanto o calor acolhedor a envolvia. Cada músculo cansado começava a relaxar sob as mantas macias. Ela se sentia segura, ainda que uma parte de sua mente permanecesse inquieta, como se estivesse em alerta.Draven, em contraste, movia-se pela pequena cabana com eficiência controlada. Ele sabia exatamente o que fazer. Agora, ele preparava algo para ela comer, uma sopa quente que lançava um aroma reconfortante no ar. Ele não disse muito; suas ações falavam por ele. Porém, apesar de sua postura rígida e semblante fechado, havia algo em Draven que sugeria mais do que ele deixava transparecer.Bianca sentiu o aroma suave de ervas e legumes, e seu estômago roncou em resposta. Quando Draven finalmente trouxe a tigela de sopa fumegante, ele a colocou em suas mãos com um gesto cuidadoso. O toque de seus dedos contra
Capítulo 4Draven acordou, se levantou e saiu pela porta da cabana determinado a encontrar suprimentos antes que o dia amanhecesse. Ele caminhava com passos silenciosos, movendo-se com a familiaridade de alguém que conhecia cada detalhe daquela floresta. Ele não queria chamar atenção, principalmente por não estar pronto para contar a verdade sobre a mulher em sua cabana. Por isso, decidiu omitir informações.Ao chegar à vila, o sol ainda não tinha nascido. A vila era um amontoado de casas de madeira rústicas, simples, mas funcionais. Poucas pessoas estavam acordadas àquela hora, mas Draven sabia que o líder da matilha, Lucian, já estaria de pé. Lucian era o Alfa de uma comunidade de lobos que viviam isolados ali, em harmonia com a ilha. Draven conhecia bem aquele mundo e sabia que não seria fácil convencê-lo sem levantar suspeitas.Lucian, como sempre, estava na pequena praça central, inspecionando o território como fazia todas as manhãs. Alto, de ombros largos e presença imponente, s
Capítulo 5Os Alfas se reuniram no grande salão da vila. O lugar, com suas paredes de madeira rústica e vigas expostas, era o centro das decisões da matilha. Lucian, o líder, estava no centro da sala. Sua expressão era de preocupação, mas também de determinação. Ele havia sentido algo que não podia ignorar, algo que exigia respostas.— Draven está mentindo — declarou Lucian, quebrando o silêncio que pairava sobre o grupo. Sua voz firme reverberou pelo salão. Todos os Alfas presentes pararam de murmurar, voltando seus olhares para o líder.— O que você quer dizer com isso, Lucian? — perguntou Jarek, um dos Alfas mais antigos da matilha, cruzando os braços. Ele era grande e musculoso, com cicatrizes de batalhas passadas marcando seu rosto severo.Lucian olhou para cada um dos Alfas, sentindo o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Ele sabia que essa discussão poderia mudar o destino da matilha. — Quando Draven veio à vila hoje, ele disse que havia encontrado um homem no mar, que
Capítulo 6Bianca, ainda envolta pelo calor das mantas que a cobriam, se remexeu levemente sobre o colchão improvisado. Algo estava diferente. Uma sensação estranha, como se houvesse olhos a observando, fez seu coração acelerar. Sua respiração ficou mais rápida, e um leve tremor percorreu seu corpo. Com o coração batendo forte no peito, ela abriu os olhos lentamente.A primeira coisa que viu foram sombras — grandes, imóveis, cercando-a como sentinelas silenciosos. Seus olhos, ainda se ajustando à penumbra da cabana, foram se fixando em figuras imponentes. Homens altos, poderosos, com expressões fechadas, em pé ao lado da cama como uma muralha.Bianca sentiu o pânico subir pela garganta.“Quem eram eles? Por que estavam ali?” Ela pensou com seu corpo ficando rígido de medo enquanto olhava para cada um deles, procurando por uma resposta. Eles não falavam. Apenas a observavam com olhos atentos, como se aguardassem algo.Ela tentou levantar-se, mas suas pernas estavam pesadas, seu corpo a
Capítulo 7 Bianca, ainda atordoada pelas revelações do que havia ocorrido, mal conseguia raciocinar. Seus olhos se moviam entre os homens que a cercavam, especialmente Lucian e Draven. — Eu preciso de respostas — disse Bianca, sua voz firme, embora ainda houvesse um tremor em suas palavras. — Vocês me falam de ser uma Luna, de ser importante... Mas o que vocês são, afinal?Draven, que estava ao seu lado, tensionou. Ele evitou olhar diretamente para ela, seus olhos fixos no chão, como se lutar para dizer aquilo o machucasse de alguma forma. Sua mandíbula estava rígida, e um silêncio desconfortável se formou no ambiente.— É complicado, Bianca — ele murmurou, finalmente quebrando o silêncio, mas suas palavras não traziam conforto. Na verdade, só aumentavam a confusão dela.Bianca franziu o cenho, não satisfeita com a resposta evasiva de Draven.— Complicado? — repetiu, a frustração transparecendo. — Eu quase morri naquele naufrágio, acordei cercada por estranhos, e agora vocês me dize
Capítulo 8 As revelações de Lucian, Jarek e dos outros alfas rodavam em sua mente como uma tempestade, cada pedaço de informação levando-a a questionar tudo o que sabia — ou pensava saber — sobre sua vida, o mundo, e agora... seu papel como Luna.Ela permaneceu deitada, com os olhos fixos no teto, incapaz de dormir. Seu coração batia rápido, e sua respiração estava curta. Como ela poderia aceitar tudo aquilo? Lobos? Shifters? Uma outra dimensão? E, acima de tudo, a ideia de que ela era a Luna — a companheira de todos aqueles alfas. Era como se ela estivesse vivendo em um pesadelo, mas não conseguia acordar.A madrugada avançou lenta, cada minuto parecia uma eternidade. Os sons da floresta, que antes lhe traziam paz, agora a faziam sentir-se desconfortável, como se tudo ao seu redor estivesse observando e esperando por seu próximo movimento. Lá fora, ela sabia que Draven estava de guarda. Mesmo sem vê-lo, ela sentia sua presença firme e protetora, mas isso não era suficiente para acal
Capítulo 9 Draven a havia levado até a vila, como ela pedira, e durante o caminho, o silêncio entre os dois era quase palpável. Ela podia sentir a tensão no ar, mas, mais do que isso, sentia a responsabilidade que agora recaía sobre seus ombros. O peso de ser a Luna de cem Alfas – uma conexão que ela não havia escolhido, mas que parecia estar destinada a ela desde o momento em que naufragou naquela ilha.Seus passos eram firmes, mas seu coração batia descompassado. Enquanto caminhava ao lado de Draven, sentia os olhares dos outros Alfas a seguirem. Eles não falavam, mas o olhar deles dizia muito. Expectativa, esperança, e até um pouco de dúvida. Mas Bianca sabia o que precisava fazer.Quando finalmente chegaram ao centro da vila, onde Lucian, Jarek, e os outros Alfas estavam reunidos, a presença deles parecia preencher o espaço. Bianca respirou fundo, sentindo a tensão na vila aumentar com sua chegada. Seus olhos encontraram os de Lucian, que parecia já adivinhar o que estava por vir