Capítulo 4

Capítulo 4

Draven acordou, se levantou e saiu pela porta da cabana determinado a encontrar suprimentos antes que o dia amanhecesse. Ele caminhava com passos silenciosos, movendo-se com a familiaridade de alguém que conhecia cada detalhe daquela floresta. Ele não queria chamar atenção, principalmente por não estar pronto para contar a verdade sobre a mulher em sua cabana. Por isso, decidiu omitir informações.

Ao chegar à vila, o sol ainda não tinha nascido. A vila era um amontoado de casas de madeira rústicas, simples, mas funcionais. Poucas pessoas estavam acordadas àquela hora, mas Draven sabia que o líder da matilha, Lucian, já estaria de pé. Lucian era o Alfa de uma comunidade de lobos que viviam isolados ali, em harmonia com a ilha. Draven conhecia bem aquele mundo e sabia que não seria fácil convencê-lo sem levantar suspeitas.

Lucian, como sempre, estava na pequena praça central, inspecionando o território como fazia todas as manhãs. Alto, de ombros largos e presença imponente, seus olhos de lobo brilhavam com desconfiança constante. Quando viu Draven se aproximar, franziu o cenho, curioso.

— O que te traz aqui tão cedo, Draven? — perguntou Lucian, sem rodeios. Sua voz era grave, carregada de autoridade.

Draven respirou fundo, mantendo a expressão calma. Não queria que Lucian soubesse sobre Bianca, ainda não. Algo o impedia de compartilhar esse segredo, uma sensação de que ela não deveria ser exposta ao mundo dos Alfas ainda.

— Encontrei alguém no mar ontem — disse Draven, desviando o olhar para as árvores ao redor, como se isso aliviasse a tensão. — Um homem. Ele está muito fraco. Preciso de suprimentos para cuidar dele.

Lucian o encarou por um momento, seus olhos escuros estreitando-se com desconfiança principalmente pelo cheiro que emanava de Draven. Alfas como ele podiam sentir mentiras e cheiros que os demais não sentiam, e Draven sabia disso, mesmo assim precisava das ervas e medicamentos para cuidar da mulher. Ele tinha que se manter firme.

— Um homem, é? — Lucian cruzou os braços, claramente ponderando sobre a história. Ele sabia que não era um homem, pelo cheiro de Draven. — E onde está ele agora?

— Na minha cabana — respondeu Draven com a voz firme. — Não achei que seria seguro trazê-lo para a vila ainda. Ele está desacordado, precisa de cuidados.

Lucian observou Draven com atenção, seus instintos alertas. Havia algo estranho, ele podia sentir, mas não conseguia identificar exatamente o que era. Mesmo assim, ele não questionou mais.

— Você sabe que somos uma comunidade, Draven — disse Lucian, sua voz carregada de uma advertência sutil. — Espero que, se houver algo mais, você compartilhe com a matilha. Não podemos deixar que segredos enfraqueçam a confiança entre nós.

Draven assentiu, sem deixar transparecer qualquer emoção além da seriedade.

— Eu sei — respondeu ele, mantendo o olhar firme. — E te digo o que posso agora. Só quero ajudar o homem a se recuperar. Assim que ele estiver melhor, conversaremos sobre o que fazer.

Lucian ficou em silêncio por mais um momento, mas, eventualmente, deu de ombros.

— Pegue o que precisar — disse ele, sem tirar os olhos de Draven. — Mas lembre-se, eu saberei se estiver escondendo algo.

Draven agradeceu com um aceno rápido, pegando os suprimentos de que precisava — alimentos, remédios básicos e ervas que poderiam ajudar a fortalecer o corpo de alguém enfraquecido. Ele sabia que Lucian continuaria desconfiado, mas, por ora, estava satisfeito em manter Bianca em segredo.

O caminho de volta para a cabana foi rápido. Draven sentia o coração bater um pouco mais rápido do que o normal. Não estava acostumado a mentir para Lucian, mas sabia que essa situação era diferente. Algo dentro dele dizia que Bianca era importante, e ele não podia expô-la ainda, não até entender melhor o que estava acontecendo.

Quando chegou à cabana, o silêncio ainda predominava na cabana. Ele abriu a porta devagar, entrando de mansinho para não acordar a mulher. Ela ainda dormia profundamente, seu rosto sereno em contraste com o caos que havia sido sua chegada àquela ilha. Draven parou por um momento, observando-a. Mesmo sob as mantas, ele conseguia ver como ela era bonita, mas de uma maneira simples, mas marcante. Sua pele pálida, os cabelos castanhos escuros despenteados e a respiração tranquila faziam com que parecesse frágil, mas Draven sabia que havia força dentro dela. Algo sobre a mulher o atraía, e não era apenas a conexão óbvia entre ele e ela. Era algo mais profundo, algo que ele ainda não conseguia nomear.

Balançando a cabeça, Draven afastou esses pensamentos. Não podia se deixar levar. Precisava manter o foco, proteger a mulher e entender o que o destino havia reservado para eles. Colocando a sacola de suprimentos sobre a mesa, ele começou a retirar os itens um a um, organizando-os com cuidado. Primeiro, separou as ervas que usaria para preparar um soro de hidratação, algo que ajudaria a revigorar o corpo dela.

Draven se concentrou em suas tarefas, seus dedos habilidosos misturando os ingredientes, preparando o soro. Ele não sabia o que o futuro reservava, mas, por ora, estava determinado a protegê-la de qualquer ameaça, até mesmo da matilha.

Ao terminar de preparar o soro, Draven se aproximou da cama onde a jovem mulher ainda dormia. Seus olhos percorreram o rosto dela por um instante antes de ele suspirar, como se estivesse lutando contra um sentimento que não queria admitir.

Bianca abriu os olhos lentamente, sentindo uma leve dor no corpo. Quando se virou, seus olhos captaram a figura alta de Draven, de costas para ela, despejando um líquido em uma tigela de madeira.

Ao tentar se mover, uma dor aguda atravessou seu corpo, e ela soltou um pequeno gemido, fazendo Draven parar de repente. Ele virou-se rapidamente, os olhos azuis analisando-a com intensidade, mas sem alarde. Ele caminhou até a cama, carregando a tigela com o líquido que preparara.

— Está acordada — disse ele, a voz baixa, mas com uma firmeza protetora. — Não se esforce. Tome isso, vai ajudar com a desidratação.

Draven se abaixou, apoiando-se de joelhos ao lado da cama e aproximando a tigela de Bianca. Seus olhos se encontraram brevemente, Bianca sentiu uma estranha familiaridade naquela proximidade, como se já tivessem compartilhado mais do que apenas esse resgate.

— Beba devagar — disse Draven, recuando um pouco, mas ainda observando-a com atenção.

Bianca tomou o soro em pequenos goles. O líquido morno descia pela garganta, trazendo um alívio quase imediato. Sua mente, antes nebulosa, começou a clarear aos poucos. Ela sabia que aquele homem, que agora a observava com cuidado, a havia salvado, mas não sabia por quê. E, por mais grata que estivesse, sentia que havia algo que ele não estava lhe contando.

Ele parecia sempre manter uma distância emocional, como se não quisesse se envolver mais do que o necessário. Bianca tomou mais um gole do soro antes de voltar a olhar para ele.

— Você me encontrou no mar, não é? — perguntou ela, buscando mais respostas. — Estava à deriva... Por quanto tempo estou aqui?

Draven ficou em silêncio por alguns segundos, como se estivesse ponderando o que poderia ou deveria dizer.

— Fazem dois dias — respondeu ele, finalmente. — Você estava fraca, mas vai ficar bem.

Dois dias. Bianca mal conseguia acreditar. Tudo o que acontecera parecia um borrão em sua mente, desde o naufrágio até aquele momento.

— Eu devo te agradecer, de verdade — disse ela novamente, sentindo-se ainda mais à vontade ao ver o cuidado que ele tinha. — Eu… não vou te dar trabalho?

Draven levantou-se devagar, desviando o olhar para o fogo na lareira enquanto respondia.

— Não se preocupe. Enquanto estiver sob o meu cuidado, estará segura. — disse ele, com uma calma que só aumentava o mistério.

Bianca sentiu alívio com aquelas palavras. Algo dentro dela dizia que ele estava sendo sincero. Ela se sentia grata por ter sido salva por ele. Enquanto terminava de beber o soro, Bianca olhou para Draven, desejando entender melhor o homem que a salvara.

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