Draven acordou, se levantou e saiu pela porta da cabana determinado a encontrar suprimentos antes que o dia amanhecesse. Ele caminhava com passos silenciosos, movendo-se com a familiaridade de alguém que conhecia cada detalhe daquela floresta. Ele não queria chamar atenção, principalmente por não estar pronto para contar a verdade sobre a mulher em sua cabana. Por isso, decidiu omitir informações.
Ao chegar à vila, o sol ainda não tinha nascido. A vila era um amontoado de casas de madeira rústicas, simples, mas funcionais. Poucas pessoas estavam acordadas àquela hora, mas Draven sabia que o líder da matilha, Lucian, já estaria de pé. Lucian era o Alfa de uma comunidade de lobos que viviam isolados ali, em harmonia com a ilha. Draven conhecia bem aquele mundo e sabia que não seria fácil convencê-lo sem levantar suspeitas.
Lucian, como sempre, estava na pequena praça central, inspecionando o território como fazia todas as manhãs. Alto, de ombros largos e presença imponente, seus olhos de lobo brilhavam com desconfiança constante. Quando viu Draven se aproximar, franziu o cenho, curioso.
— O que te traz aqui tão cedo, Draven? — perguntou Lucian, sem rodeios. Sua voz era grave, carregada de autoridade.
Draven respirou fundo, mantendo a expressão calma. Não queria que Lucian soubesse sobre Bianca, ainda não. Algo o impedia de compartilhar esse segredo, uma sensação de que ela não deveria ser exposta ao mundo dos Alfas ainda.
— Encontrei alguém no mar ontem — disse Draven, desviando o olhar para as árvores ao redor, como se isso aliviasse a tensão. — Um homem. Ele está muito fraco. Preciso de suprimentos para cuidar dele.
Lucian o encarou por um momento, seus olhos escuros estreitando-se com desconfiança principalmente pelo cheiro que emanava de Draven. Alfas como ele podiam sentir mentiras e cheiros que os demais não sentiam, e Draven sabia disso, mesmo assim precisava das ervas e medicamentos para cuidar da mulher. Ele tinha que se manter firme.
— Um homem, é? — Lucian cruzou os braços, claramente ponderando sobre a história. Ele sabia que não era um homem, pelo cheiro de Draven. — E onde está ele agora?
— Na minha cabana — respondeu Draven com a voz firme. — Não achei que seria seguro trazê-lo para a vila ainda. Ele está desacordado, precisa de cuidados.
Lucian observou Draven com atenção, seus instintos alertas. Havia algo estranho, ele podia sentir, mas não conseguia identificar exatamente o que era. Mesmo assim, ele não questionou mais.
— Você sabe que somos uma comunidade, Draven — disse Lucian, sua voz carregada de uma advertência sutil. — Espero que, se houver algo mais, você compartilhe com a matilha. Não podemos deixar que segredos enfraqueçam a confiança entre nós.
Draven assentiu, sem deixar transparecer qualquer emoção além da seriedade.
— Eu sei — respondeu ele, mantendo o olhar firme. — E te digo o que posso agora. Só quero ajudar o homem a se recuperar. Assim que ele estiver melhor, conversaremos sobre o que fazer.
Lucian ficou em silêncio por mais um momento, mas, eventualmente, deu de ombros.
— Pegue o que precisar — disse ele, sem tirar os olhos de Draven. — Mas lembre-se, eu saberei se estiver escondendo algo.
Draven agradeceu com um aceno rápido, pegando os suprimentos de que precisava — alimentos, remédios básicos e ervas que poderiam ajudar a fortalecer o corpo de alguém enfraquecido. Ele sabia que Lucian continuaria desconfiado, mas, por ora, estava satisfeito em manter Bianca em segredo.
O caminho de volta para a cabana foi rápido. Draven sentia o coração bater um pouco mais rápido do que o normal. Não estava acostumado a mentir para Lucian, mas sabia que essa situação era diferente. Algo dentro dele dizia que Bianca era importante, e ele não podia expô-la ainda, não até entender melhor o que estava acontecendo.
Quando chegou à cabana, o silêncio ainda predominava na cabana. Ele abriu a porta devagar, entrando de mansinho para não acordar a mulher. Ela ainda dormia profundamente, seu rosto sereno em contraste com o caos que havia sido sua chegada àquela ilha. Draven parou por um momento, observando-a. Mesmo sob as mantas, ele conseguia ver como ela era bonita, mas de uma maneira simples, mas marcante. Sua pele pálida, os cabelos castanhos escuros despenteados e a respiração tranquila faziam com que parecesse frágil, mas Draven sabia que havia força dentro dela. Algo sobre a mulher o atraía, e não era apenas a conexão óbvia entre ele e ela. Era algo mais profundo, algo que ele ainda não conseguia nomear.
Balançando a cabeça, Draven afastou esses pensamentos. Não podia se deixar levar. Precisava manter o foco, proteger a mulher e entender o que o destino havia reservado para eles. Colocando a sacola de suprimentos sobre a mesa, ele começou a retirar os itens um a um, organizando-os com cuidado. Primeiro, separou as ervas que usaria para preparar um soro de hidratação, algo que ajudaria a revigorar o corpo dela.
Draven se concentrou em suas tarefas, seus dedos habilidosos misturando os ingredientes, preparando o soro. Ele não sabia o que o futuro reservava, mas, por ora, estava determinado a protegê-la de qualquer ameaça, até mesmo da matilha.
Ao terminar de preparar o soro, Draven se aproximou da cama onde a jovem mulher ainda dormia. Seus olhos percorreram o rosto dela por um instante antes de ele suspirar, como se estivesse lutando contra um sentimento que não queria admitir.
Bianca abriu os olhos lentamente, sentindo uma leve dor no corpo. Quando se virou, seus olhos captaram a figura alta de Draven, de costas para ela, despejando um líquido em uma tigela de madeira.
Ao tentar se mover, uma dor aguda atravessou seu corpo, e ela soltou um pequeno gemido, fazendo Draven parar de repente. Ele virou-se rapidamente, os olhos azuis analisando-a com intensidade, mas sem alarde. Ele caminhou até a cama, carregando a tigela com o líquido que preparara.
— Está acordada — disse ele, a voz baixa, mas com uma firmeza protetora. — Não se esforce. Tome isso, vai ajudar com a desidratação.
Draven se abaixou, apoiando-se de joelhos ao lado da cama e aproximando a tigela de Bianca. Seus olhos se encontraram brevemente, Bianca sentiu uma estranha familiaridade naquela proximidade, como se já tivessem compartilhado mais do que apenas esse resgate.
— Beba devagar — disse Draven, recuando um pouco, mas ainda observando-a com atenção.
Bianca tomou o soro em pequenos goles. O líquido morno descia pela garganta, trazendo um alívio quase imediato. Sua mente, antes nebulosa, começou a clarear aos poucos. Ela sabia que aquele homem, que agora a observava com cuidado, a havia salvado, mas não sabia por quê. E, por mais grata que estivesse, sentia que havia algo que ele não estava lhe contando.
Ele parecia sempre manter uma distância emocional, como se não quisesse se envolver mais do que o necessário. Bianca tomou mais um gole do soro antes de voltar a olhar para ele.
— Você me encontrou no mar, não é? — perguntou ela, buscando mais respostas. — Estava à deriva... Por quanto tempo estou aqui?
Draven ficou em silêncio por alguns segundos, como se estivesse ponderando o que poderia ou deveria dizer.
— Fazem dois dias — respondeu ele, finalmente. — Você estava fraca, mas vai ficar bem.
Dois dias. Bianca mal conseguia acreditar. Tudo o que acontecera parecia um borrão em sua mente, desde o naufrágio até aquele momento.
— Eu devo te agradecer, de verdade — disse ela novamente, sentindo-se ainda mais à vontade ao ver o cuidado que ele tinha. — Eu… não vou te dar trabalho?
Draven levantou-se devagar, desviando o olhar para o fogo na lareira enquanto respondia.
— Não se preocupe. Enquanto estiver sob o meu cuidado, estará segura. — disse ele, com uma calma que só aumentava o mistério.
Bianca sentiu alívio com aquelas palavras. Algo dentro dela dizia que ele estava sendo sincero. Ela se sentia grata por ter sido salva por ele. Enquanto terminava de beber o soro, Bianca olhou para Draven, desejando entender melhor o homem que a salvara.
Capítulo 5Os Alfas se reuniram no grande salão da vila. O lugar, com suas paredes de madeira rústica e vigas expostas, era o centro das decisões da matilha. Lucian, o líder, estava no centro da sala. Sua expressão era de preocupação, mas também de determinação. Ele havia sentido algo que não podia ignorar, algo que exigia respostas.— Draven está mentindo — declarou Lucian, quebrando o silêncio que pairava sobre o grupo. Sua voz firme reverberou pelo salão. Todos os Alfas presentes pararam de murmurar, voltando seus olhares para o líder.— O que você quer dizer com isso, Lucian? — perguntou Jarek, um dos Alfas mais antigos da matilha, cruzando os braços. Ele era grande e musculoso, com cicatrizes de batalhas passadas marcando seu rosto severo.Lucian olhou para cada um dos Alfas, sentindo o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Ele sabia que essa discussão poderia mudar o destino da matilha. — Quando Draven veio à vila hoje, ele disse que havia encontrado um homem no mar, que
Capítulo 6Bianca, ainda envolta pelo calor das mantas que a cobriam, se remexeu levemente sobre o colchão improvisado. Algo estava diferente. Uma sensação estranha, como se houvesse olhos a observando, fez seu coração acelerar. Sua respiração ficou mais rápida, e um leve tremor percorreu seu corpo. Com o coração batendo forte no peito, ela abriu os olhos lentamente.A primeira coisa que viu foram sombras — grandes, imóveis, cercando-a como sentinelas silenciosos. Seus olhos, ainda se ajustando à penumbra da cabana, foram se fixando em figuras imponentes. Homens altos, poderosos, com expressões fechadas, em pé ao lado da cama como uma muralha.Bianca sentiu o pânico subir pela garganta.“Quem eram eles? Por que estavam ali?” Ela pensou com seu corpo ficando rígido de medo enquanto olhava para cada um deles, procurando por uma resposta. Eles não falavam. Apenas a observavam com olhos atentos, como se aguardassem algo.Ela tentou levantar-se, mas suas pernas estavam pesadas, seu corpo a
Capítulo 7 Bianca, ainda atordoada pelas revelações do que havia ocorrido, mal conseguia raciocinar. Seus olhos se moviam entre os homens que a cercavam, especialmente Lucian e Draven. — Eu preciso de respostas — disse Bianca, sua voz firme, embora ainda houvesse um tremor em suas palavras. — Vocês me falam de ser uma Luna, de ser importante... Mas o que vocês são, afinal?Draven, que estava ao seu lado, tensionou. Ele evitou olhar diretamente para ela, seus olhos fixos no chão, como se lutar para dizer aquilo o machucasse de alguma forma. Sua mandíbula estava rígida, e um silêncio desconfortável se formou no ambiente.— É complicado, Bianca — ele murmurou, finalmente quebrando o silêncio, mas suas palavras não traziam conforto. Na verdade, só aumentavam a confusão dela.Bianca franziu o cenho, não satisfeita com a resposta evasiva de Draven.— Complicado? — repetiu, a frustração transparecendo. — Eu quase morri naquele naufrágio, acordei cercada por estranhos, e agora vocês me dize
Capítulo 8 As revelações de Lucian, Jarek e dos outros alfas rodavam em sua mente como uma tempestade, cada pedaço de informação levando-a a questionar tudo o que sabia — ou pensava saber — sobre sua vida, o mundo, e agora... seu papel como Luna.Ela permaneceu deitada, com os olhos fixos no teto, incapaz de dormir. Seu coração batia rápido, e sua respiração estava curta. Como ela poderia aceitar tudo aquilo? Lobos? Shifters? Uma outra dimensão? E, acima de tudo, a ideia de que ela era a Luna — a companheira de todos aqueles alfas. Era como se ela estivesse vivendo em um pesadelo, mas não conseguia acordar.A madrugada avançou lenta, cada minuto parecia uma eternidade. Os sons da floresta, que antes lhe traziam paz, agora a faziam sentir-se desconfortável, como se tudo ao seu redor estivesse observando e esperando por seu próximo movimento. Lá fora, ela sabia que Draven estava de guarda. Mesmo sem vê-lo, ela sentia sua presença firme e protetora, mas isso não era suficiente para acal
Capítulo 9 Draven a havia levado até a vila, como ela pedira, e durante o caminho, o silêncio entre os dois era quase palpável. Ela podia sentir a tensão no ar, mas, mais do que isso, sentia a responsabilidade que agora recaía sobre seus ombros. O peso de ser a Luna de cem Alfas – uma conexão que ela não havia escolhido, mas que parecia estar destinada a ela desde o momento em que naufragou naquela ilha.Seus passos eram firmes, mas seu coração batia descompassado. Enquanto caminhava ao lado de Draven, sentia os olhares dos outros Alfas a seguirem. Eles não falavam, mas o olhar deles dizia muito. Expectativa, esperança, e até um pouco de dúvida. Mas Bianca sabia o que precisava fazer.Quando finalmente chegaram ao centro da vila, onde Lucian, Jarek, e os outros Alfas estavam reunidos, a presença deles parecia preencher o espaço. Bianca respirou fundo, sentindo a tensão na vila aumentar com sua chegada. Seus olhos encontraram os de Lucian, que parecia já adivinhar o que estava por vir
Capítulo 10A noite havia sido intensa, e a sensação de pertencimento ainda pulsava em seu peito. Mas, agora que a euforia da festa havia passado, uma nova tensão começou a tomar conta dela, algo mais pessoal, mais íntimo.Draven caminhava ao seu lado, em seu habitual silêncio, mas Bianca podia sentir algo diferente no ar. Talvez fosse a maneira como ele a olhava, ou o simples fato de que, naquele momento, ambos estavam finalmente sozinhos, afastados da agitação e da multidão. O frescor da noite envolvia os dois, mas o calor que Bianca sentia por dentro era muito mais intenso.Quando chegaram à cabana, Draven abriu a porta com um gesto tranquilo, como se fosse algo que ele já havia feito muitas vezes. Ele era sempre tão contido, quase inabalável. E, por isso, quando Bianca entrou, sentiu-se estranhamente à vontade.Ela se sentou na beirada da cama, sentindo o cansaço da noite de comemoração pesar sobre seu corpo, mas sua mente estava inquieta. Seus olhos, involuntariamente, procuraram
Capítulo 11Ela tentou controlar as emoções que explodiam dentro dela — raiva, confusão, medo — mas era difícil. A sensação de estar presa entre as expectativas da alcatéia e seus próprios desejos a deixava tensa. Tudo estava acontecendo rápido demais, e ela não sabia como reagir.Draven, por sua vez, observava-a em silêncio. Ele não tentou se aproximar nem tocá-la. A tensão entre eles agora era palpável, como um fio prestes a se romper. Bianca conseguia ver a dor nos olhos dele, mas isso só a deixava mais confusa. Como ele podia dizer que a queria e, ao mesmo tempo, admitir que ela pertencia a todos? A contradição se torcia em seu estômago como um nó.— Eu não sabia... — murmurou ela, quase para si mesma, sua voz entrecortada. — Eu não sabia que ser Luna significava... isso.A verdade a atingiu com força, e a ideia de ser uma líder, não apenas para Draven, mas para toda a alcatéia, parecia um peso esmagador. O que ela sabia sobre liderança? O que ela poderia oferecer a um grupo que p
Capítulo 12Há uma semana, Bianca se isolara na cabana de Draven, afastando-se dos alfas e de qualquer interação. No entanto, não era dentro da cabana que ela encontrava refúgio. A maior parte dos dias, ela passava no topo de uma colina, de onde podia ver o oceano se estender até o horizonte. O isolamento, seu único escape, a mantinha longe das responsabilidades que a aguardavam, dos olhares dos alfas e das expectativas que pesavam sobre ela. Era um esforço consciente de se esconder, de evitar decisões e encarar o destino que a aguardava. Ninguém ousava perturbar sua reclusão. Exceto Draven.Ele sempre aparecia silenciosamente, nunca diretamente. Draven respeitava seu espaço, quase como se sentisse o quanto sua presença constante a sufocaria ainda mais. Em vez disso, deixava discretamente alimentos ao lado do abrigo improvisado, durante a noite, quando Bianca estava adormecida. Cada manhã, ao despertar, ela encontrava as frutas frescas, o pão cuidadosamente deixado, e sabia que ele