A CONSTRUTORA SUARES & CASTILHO possuía um complexo de quatro torres espelhadas de trinta andares cada localizado na região industrial de Moema, um dos bairros mais nobres de São Paulo. Os prédios podiam ser vistos de longe refletindo, em geral, a luz solar da manhã e emergiam do chão imponentes, causando uma sensação de metrópole futurista à cidade que não parava por nada sob seus pés.
A primeira torre — a sudoeste — tinha sido construída ainda nos anos oitenta, quando o patriarca da família Castilho, o velho e argucioso Jaime, filho de imigrantes espanhóis, vira no ramo da construção civil a grande oportunidade de quadruplicar a já milionária herança que possuía. Sob a b****a da, na época, modesta empresa, o grande centro de Moema se vira completamente modificado pelas construções arrojadas da construtora Castilho e, logo a fama de “a construtora do futuro” se espalhou por toda grande São Paulo, ganhando o país na década seguinte.
A morte de Jaime Castilho na segunda metade dos anos noventa obrigou os seus dois filhos mais velhos, Renato e Mauro, a reestruturarem a política da empresa e todas aquelas mudanças causaram um abalo geral na saúde financeira da construtora. Os gastos excessivos com a construção da segunda torre do complexo e os erros de estratégia com as negociações obrigaram os dois irmãos a abrirem o capital da empresa a fim de saudar as suas dívidas exorbitantes e, foi em meio àquela crise e a completa falta de rumo que surgiu a salvação da lavoura.
Pouco após o início do século XXI, um experiente administrador de empresas chamado João Suares surgiu à porta dos irmãos Castilho com uma proposta irrecusável de sociedade, o que fez com que Renato e Mauro repensassem pela primeira vez o seu faro para os negócios. O seu velho pai era um predador voraz no mundo da construção civil que durante anos havia mantido a Castilho nos primeiros lugares de qualquer ranking de qualidade e eficiência Brasil afora graças a suas decisões acertadas e acordos rentáveis com parcerias. Eles, no entanto, tinham tomado um sem número de deliberações discutíveis que quase tinham levado a empresa à falência e aquele foi o ponto decisivo para que eles aceitassem a sociedade com João Suares, mesmo que a união significasse que, a partir de então, eles seriam os sócios minoritários dentro da própria empresa.
Enquanto João detinha agora 51% das ações, cabia aos irmãos Castilho seus 30%, já que tinham sido obrigados a vender outros 9% na abertura de capital. À curto prazo, aquela parecia ser uma derrota pessoal, mas a decisão se tornaria a mais acertada à longo prazo.
Os anos seguintes se mostraram lucrativos para Renato e Mauro que, sob os bons conselhos de João Suares, conseguiram alavancar não só a saúde financeira da agora Suares & Castilho, como também o prestígio da qual a marca gozava nos idos anos oitenta. Contratos milionários seguidos de construções arrojadas e alinhadas com o novo século tornaram o nome da construtora a principal em seu seguimento, elevando mais uma vez o nome Castilho como sinônimo de qualidade e bom gosto.
Os melhores engenheiros do país começaram a se estapear para assinar os seus nomes nas construções da Suares & Castilho e, quanto mais esses profissionais brigavam para constar na folha de pagamento da empresa, mais o status da construtora era elevado. Naquele período de dez anos, João Suares não só conseguiu saudar todas as dívidas de seus sócios, como também elevou o lucro da empresa em 30%, o que já era o dobro do que os irmãos tinham conseguido faturar sem ele na década anterior. Suares tornou-se uma lenda das negociações dentro do complexo das quatro torres e nenhum projeto podia passar sem sua aprovação pessoal. Janete pisou na torre noroeste pela primeira vez certa de quem é que realmente mandava ali.
A segunda filha de Renato Castilho sentia um peso enorme nas costas por ser a única na casa a se interessar realmente pelos negócios da sua família e não era raro que ela ouvisse da boca do pai o quanto era importante que ela assumisse um cargo na empresa, uma vez que Jonathan, o primogênito, havia aberto mão de um lugar na chefia da construtora para seguir o seu sonho de se tornar um surfista famoso. Os seus pais tinham orgulho do rapaz por todo o sucesso que ele vinha conquistando mundo afora com o surfe, mas eles sabiam bem que uma carreira de atleta não era duradoura e que a construção civil continuava sendo o principal filão da família.
— É muito importante que você assuma uma cadeira em nossa empresa, querida. Nós dependemos disso para manter o nosso status social sem degradações.
Pelo menos uma vez por mês Janete ouvia aquelas palavras exatas do pai — às vezes, com algumas variações de sentenças — e aquilo lhe causava uma pressão interna gigantesca. Ela ainda não tinha completado dezoito anos, nunca tinha pisado num ambiente corporativo na vida, mas sabia que tinha que aprender a sua função logo se não quisesse ser uma grande decepção dentro da sua própria casa.
Eu tenho que fazer por merecer todo o luxo e conforto da qual sempre gozei dentro da minha casa, começou a pensar cada vez mais constantemente, o que lhe rendeu pesadelos sobre fracasso pessoal durante as noites.
A vaga que Renato havia lhe conseguido funcionava como uma espécie de estágio de Jovem Aprendiz e, naquele primeiro dia na empresa, ela só teve que assistir a algumas palestras sobre empreendedorismo, marketing pessoal e finanças. O programa de estágio contava com outros vinte jovens além de Janete e, fora ela, todos eles haviam batalhado por uma vaga num processo seletivo árduo de cinco etapas. A maioria dos adolescentes eram de classe média ou baixa e muitos eram estudantes de escolas públicas do estado. Ninguém tinha sido indicado pelo pai rico ou sequer estava ali para aprender a herdar uma herança milionária como ela e aquela situação foi incômoda para Janete durante a primeira semana de aprendizado.
Na segunda semana, após as palestras instrutivas e os passeios agendados pelas quatro torres espelhadas para aprender como funcionava a empresa, Janete foi, enfim, designada para o cargo que assumiria e ela conheceu a sala onde iria trabalhar como assistente administrativa de Elisa Tomazzi, a sua tia.
— Você vai adorar trabalhar aqui, Jane. — comentou a moça de trinta e oito anos e cabelos castanhos à sobrinha no seu primeiro dia — Pelo nosso escritório passa quase toda a documentação de compra e venda da construtora e somos os responsáveis pelo controle de gastos. Em outras palavras, nós fazemos as contas e controlamos as despesas. Sei que você é boa em matemática. Vai amar o setor porque mexemos com muitos números aqui!
Elisa era a terceira filha de Jaime Castilho e tinha se formado em Gestão Financeira com pós-graduação em Administração, assim como o irmão Renato. Era casada com Peterson Tomazzi, o descendente de italianos que era formado em Engenharia Civil e que tinha assumido um cargo na empresa após o seu casamento com a terceira herdeira dos Castilho.
— Você vai ver o seu tio Peterson passeando por aí algumas vezes também, querida. Ele fica mais no prédio sudoeste, mas, de vez em quando, aparece aqui para supervisionar um ou outro relatório de compra e venda. — comentou Elisa atrás da sua escrivaninha dentro do escritório arejado e espaçoso.
— Mas vocês têm acesso ao sistema informatizado aqui, não têm? — Janete estava preocupada em não ter que mexer com muitos papéis dentro de nenhum depósito empoeirado por conta da sua rinite alérgica.
— Ah, sim, claro. A Mariana vai te passar todas as senhas de acesso em seu computador, não se preocupe.
Mariana era a assistente pessoal de Elisa e a moça ia começar a dividir a antessala do escritório com Janete que teria a sua própria mesa de trabalho. A moça tinha vinte e cinco anos e sentou-se ao lado da herdeira dos Castilho no primeiro dia, lhe ensinando o básico para acessar o sistema informatizado da construtora, bem como emitir notas, imprimir relatórios e enviar e-mails.
— Anote o que estou te passando. Não quero ter que repetir.
A moça baixa de cabelos pretos e curtos na altura da orelha não parecia muito feliz em, de uma hora para outra, ter que começar a dividir o seu espaço de trabalho com Janete e a menina percebeu certa hostilidade vinda dela enquanto lhe passava os macetes. No mesmo instante, a garota sacou um caderno de anotações da bolsa e passou a anotar com uma esferográfica azul tudo que Mariana estava lhe ensinando.
Não parece ser tão difícil, pensou num primeiro momento.
O primeiro mês de adaptação dentro da empresa ensinou à Janete a dura lição de que nem tudo eram flores no mundo da construção civil e a garota foi obrigada a passar por muitos perrengues nas primeiras semanas, mesmo sendo apenas uma jovem estagiária em meio a dinossauros do ramo. O primeiro deles foi quando, por desatenção, ela enviou um relatório de vendas no lugar de um de compras para um fornecedor, o que causou vários transtornos como o atraso de mercadorias em uma construção que estava em andamento no centro de São Paulo.
— Esse tipo de equívoco compromete seriamente a imagem da empresa junto aos clientes, Janete. Mais atenção da próxima vez. — Reclamou Elisa pessoalmente em sua sala, após o seu erro.
— Não vai mais acontecer, tia Elisa. — Desculpou-se ela, percebendo um certo ar de escárnio no rosto de Mariana, que havia sido chamada para relatar o que ela tinha feito para apaziguar o equívoco de Janete.
— Elisa. Apenas Elisa. Não pega bem pelos corredores você me chamar de “tia” por aqui.
— Sim. Elisa. Apenas Elisa.
O segundo erro da estagiária aconteceu quando ela se esqueceu de enviar um e-mail com o balancete da empresa ao final do expediente, o que criou uma animosidade entre o escritório geral do presidente da empresa com o setor de finanças dirigido por Elisa. Mariana tinha precisado sair mais cedo naquele dia e deixou à cargo da novata o envio do relatório, que em geral, ela mesma enviava ao final de cada expediente.
— Não se esqueça do e-mail com o balancete para o chefe, Janete. Conto com você. Até amanhã.
— Pode deixar. Até amanhã, Mari.
Liberada por Elisa, a secretária tinha largado o expediente mais cedo por conta de uma consulta médica e aquele alerta sobre o e-mail aconteceu pouco antes do horário do almoço. Janete tinha muitos arquivos para lançar naquela tarde e quando deu seu horário de sair, ela acabou se esquecendo completamente do que tinha prometido à assistente da sua tia. No dia seguinte a bronca foi dupla.
— Nunca aconteceu do meu escritório ter a atenção chamada por conta de um erro tão estúpido. — Elisa estava irreconhecivelmente nervosa atrás da sua mesa. — Não quero mais receber ligações do CEO logo cedo por conta da incompetência de vocês duas. Eu espero que isso tenha ficado bem claro.
— Não vai mais acontecer, tia… — Elisa fitou Janete com frieza, interrompendo as suas desculpas e a fazendo se lembrar das recomendações parentais. — Elisa. Elisa.
Mariana e Janete saíram pela porta com as suas orelhas fritando e a mais velha fora enfática, rosnando para a estagiária:
— Se eu soubesse que você era tão lerda, eu teria pedido para o faxineiro enviar o e-mail no seu lugar. Com certeza ele saberia fazer o serviço!
Janete terminou aquele dia profundamente magoada e, pela primeira vez, pensou em desistir do estágio.
Isso aqui talvez não seja pra mim!
UM MÊS E MEIO APÓS a sua contratação, Janete foi chamada para a sua primeira reunião da diretoria principal da empresa e aquela foi uma das raras vezes que viu o próprio pai em seu trabalho. João Suares tinha convocado a reunião para discutir os novos planejamentos financeiros que a Suares & Castilho projetava para o próximo semestre e, por isso, precisava de toda a equipe financeira presente, incluindo os estagiários. Além de Janete, o time era formado por sua tia Elisa, a assistente Mariana, o técnico em TI Michael Mantovanni e os seus dois aprendizes, Gabriel Souza e Marco Túlio, ambos com dezesseis e dezessete anos respectivamente. A sala de reunião era um auditório com pé-direito alto que possuía seis fileiras de cadeiras para os espectadores em forma de arco côncavo, com o palco onde João falaria com um microfone à frente. Havia uma espécie de púlpito de onde ele comandava o Macbook que gerava as imagens pelo projetor e, atrás dele, um telão de quase dez metros de comprimento mo
NOS MESES SEGUINTES, a relação entre Janete e Eduardo evoluiu de uma amizade momentânea para um namoro admitido e era cada vez mais comum ver os dois juntos nos eventos sociais que a moça ainda se dava ao luxo de participar. A sua vida como estagiária na Suares & Castilho ainda era bastante agitada com a pressão de metas a serem batidas, envios de relatórios para a diretoria, apresentações semanais de resultados financeiros e muitas reuniões com a equipe da sua tia Elisa. Por conta das chamadas de atenção costumeiras em público e pelos casuais destemperos da mulher nos dias que antecediam o fechamento de resultados, Janete passou a encarar a, até então, tia preferida, como uma verdadeira carrasca empresarial com quem gostaria de estabelecer devida distância nos próximos encontros de família. O pior é que a reunião anual na casa de veraneio dos Castilho está chegando. Nem quero pensar como vai ser horrível! pensou ela ligeiramente desgostosa. Eduardo passou a buscar Janete quase todos
NA SEMANA SEGUINTE, Janete se viu sem muito tempo para encontrar o namorado e começou a entender o significado das palavras “hora-extra” no trabalho. Como aprendiz, ela sabia que tinha assegurado o direito de não poder trabalhar além da jornada estabelecida em seu contrato, mas Elisa quis passar por cima disso mantendo a sobrinha no escritório muito além de horário padrão. A Suares & Castilho estava em negociação para fechar o contrato com um importante grupo farmacêutico holandês que queria abrir um complexo de pesquisas avançadas em São Paulo e todos os setores — incluindo aquele que Elisa gerenciava — estavam em polvorosa para fazer tudo certo até que a assinatura dos europeus estivesse, enfim, no papel. Sabia-se que a conta do grupo holandês também estava sendo disputada pela Monterey e pela Constrular — a terceira construtora mais rentável do pais — e o velho CEO não estava a fim de perdê-la. Beto, que até então estava enfiando as caras em todos os projetos para tomar a frente do
QUANDO GUILHERMINA e Wilson voltaram para a sala, atraídos por vozes exaltadas e preocupadas, Eduardo e Janete estavam terminando de se vestir abotoando calças e terminando de amarrar cadarços. A garota estava muito aflita e as suas mãos tremiam segurando o iPhone que atendera há menos de dez minutos. — Mãe, pai, eu prometo que explico tudo na volta. Eu preciso levar a Jane de carro até a Zona Sul. — Zona Sul? A essa hora, filho? — Wilson olhou para o relógio na parede da sala. Batia mais de meia-noite. — Eu explico tudo na volta. Prometo. Eduardo viu a namorada se despedir dos seus pais meio que no automático e ela tomou a frente abrindo a porta para começar a descer as escadas do sobrado. Os cães das casas vizinhas começaram a latir ao ouvir a movimentação incomum àquela hora e intensificaram os ganidos quando o Golf deu marcha a ré na rua e saiu da garagem. O rapaz era ótimo condutor de veículos e aprendera cedo a dirigir para ajudar o pai a consertar os carros que chegavam na o
DANIEL GUIOU EDUARDO até a entrada de uma tubulação de concreto perdida no meio de uma espécie de esgoto a céu aberto e mandou que ele se preparasse para o cheiro. O lugar fedia a excremento e um líquido amarronzado escorria de dentro do tubo de aproximadamente um metro e meio de circunferência. — Dá para andar abaixado por essa tubulação. — Indicou Daniel. — Ela leva até a galeria de esgoto e, de lá, você vai ver uma escada de ferro que vai dar nos fundos do galpão. A entrada fica escondida por umas caixas velhas e entulhos de obra. Você vai poder entrar sem ser visto. Eduardo estava confiante naquele plano de surpreender o meliante antes que a polícia acabasse atirando em sua cunhada e se preparou para entrar no tubo após acender a lanterna do seu celular. — Espera aí mesmo. Se eu não voltar em uns vinte minutos ou se ouvir tiros, sai daqui e avisa a Janete e a Priscila. Daniel acenou que sim e passou as mãos nos cabelos castanhos quando viu Eduardo entrar pela tubulação e desapa
NA NOITE DO BAILE FUNK e do sequestro de Jéssica Castilho, Eduardo foi levado até a delegacia regional e passou horas sentado diante do delegado para, entre outras coisas, prestar seu depoimento sobre tudo que tinha acontecido desde que chegara ao bairro de Paraisópolis. Por sua interferência em assunto policial, o sargento Gomes queria que ele fosse punido ao colocar a vida da vítima em risco, mas Renato Castilho conseguiu convencê-lo do contrário e deixar aquele assunto para lá, uma vez que sua filha estava segura agora. A intervenção do sogro, no entanto, não impediu que ele levasse uma bela de uma bronca do delegado, que o chamou de irresponsável para baixo o fazendo tremer em sua cadeira. Para os Castilho, todavia, o garoto tinha salvado o dia e foi recebido como herói na casa do Campo Belo onde a família da namorada morava. A notícia sobre a batida policial malfadada na comunidade do Paraisópolis estampou as capas da maioria dos jornais e sites de notícia no dia seguinte e as me
O MÊS DE FÉRIAS escolares do meio do ano não foi o mesmo dos anteriores para Janete porque, daquela vez, ela tinha a responsabilidade de estagiar na S&C durante meio período e a única viagem a que ela se deu o direito de fazer foi com a família para o litoral norte, num dos finais de semana de junho. O seu irmão mais velho tinha conseguido uma folga das competições de surfe que vinha participando desde o começo do ano e apareceu na casa de veraneio para dar um “oi”. A casa estava na família há algumas gerações e costumava ser a sede das reuniões anuais dos Castilho desde os anos setenta, quando então o velho patriarca Jaime organizava várias orgias regadas a sexo, drogas e Rock N’ Roll. A reunião daquele ano estava marcada para agosto, no mês de aniversário de Janete, e prometia ser tão agitada quanto a dos anos anteriores. Todos costumavam ficar muito ansiosos perto daquela data, mas, naquele ano, Janete não estava muito animada a participar por estar namorando sério desta vez. Com
O RETORNO DAS AULAS no mês de julho deu início à preparação para o campeonato intercolegial com o qual Janete e as suas colegas de classe estavam envolvidas desde o início do ano na data de inscrição, mas, devido as suas novas ocupações, a garota precisou entrar em um acordo com sua tia Elisa para poder jogar. Na semana que antecedia os primeiros treinos da equipe de vôlei feminino do colégio Batista Genari, ela fez uma ligação ainda em casa, evitando levar assuntos pessoais para o trabalho. — O torneio começa em duas semanas, tia, mas eu preciso me reunir com a equipe antes para os treinos. — Janete estava em seu quarto numa tarde após o expediente no prédio da Suares & Castilho. Estava tensa e andava de um lado para outro descalça, sentindo com os dedos dos pés os pelos felpudos do tapete branco em que pisava. — Sabe que não posso liberar você do estágio nesses dias só porque é minha sobrinha, não é, Janete? — resmungou a mulher com voz impaciente. — Não seria bom exemplo para os d