A FORMATURA das turmas do terceiro ano do Colégio Batista Genari aconteceu numa cerimônia cheia de pompa e circunstância num salão de festa alugado perto da Avenida Paulista e, já na colação de grau, Janete, Rarissa, Rafaela e Drica não conseguiam conter as lágrimas, vestidas de beca preta e quepe. Juju havia sido escolhida como a oradora da turma com o aval unânime do corpo docente da escola e a garota tinha escrito um discurso motivador e comovente, dando todo o tom da carreira de escritora que ela pretendia seguir. Pais, tios, madrinhas e padrinhos foram às lágrimas na plateia volumosa e alguém podia jurar que vira até mesmo o professor de Matemática, um dos sujeitos mais durões de todo o colégio, levando um lenço até os olhos. Os aplausos ao discurso de Juju foram intensos e a garota o dedicou aos pais, que a assistiam ao lado da sua amiga Lisa, do seu namorado Mario — irmão de Lisa —, da sogra Sara Cerqueira — mãe de Lisa e Mario — e dos pais de Drica, Ester e Glauco Castanho. Ti
TRÊS DIAS APÓS SAIR do hospital, Renato Castilho conseguiu entrar em contato com o representante de Mercur e marcou um encontro pessoalmente com o homem encarregado das negociações do traficante. À revelia do que a esposa, o irmão e a própria Janete o haviam sugerido fazer, o homem preferiu encarar de frente os seus problemas, mesmo sabendo que poderia ser emboscado no tal encontro e acabar morto. Os serviços prestados por Mercur e a sua equipe tinham custado mais de cem mil reais ao bolso do empresário entre os meses de julho e outubro e, quando Renato havia decidido encerrar o contrato verbal por conta própria, ainda faltava pagar mais sessenta mil aos bandidos. Janete exigiu que o pai vendesse o seu Mini Cooper que estava no seguro e cuja seguradora havia substituído o avariado por um novo, e o dinheiro que ele devia a Mercur seria abatido do valor de quase cento e cinquenta mil que o carro valia. O encontro tinha sido marcado em um galpão abandonado nos arredores de Itaquera, per
NAS FÉRIAS DE DEZEMBRO, Janete negociou um pacote de viagens com o irmão de Rarissa em sua agência Vecchio Tour e ela incluiu as duas amigas no passeio ao Rio de Janeiro que ela pretendia fazer. As três, agora maiores de idade, viajaram juntas de primeira classe na ponte aérea São Paulo-Rio e aproveitaram o pacote que incluía hotel — com café da manhã e jantar inclusos —, transporte e sete dias de passeios incríveis pelos melhores pontos turísticos da Cidade Maravilhosa. Nos três primeiros dias, as garotas fizeram questão de visitar o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, as praias de Ipanema e de Copacabana, e ainda tiveram tempo de conhecer a Barra da Tijuca e o Leblon. Foi num daqueles dias na Barra, que Janete se lembrou que tinha um conhecido na cidade e insistiu para que as amigas a acompanhassem até onde ele trabalhava. — O que? Voar de asa-delta? Deus me livre! Me borro toda de medo de altura! — disse Rafaela, sendo a primeira a se recusar a visitar o clube para praticantes de
A ILHA DE FERNANDO DE NORONHA em Pernambuco estava recebendo uma das etapas nacionais do WSL Latin America naquele início de ano e Janete Castilho estava ali para prestigiar o irmão Jonathan. Em meio a uma plateia de pouco mais de algumas dezenas de observadores na areia da praia Cacimba do Padre, ela dividia um binóculo com a amiga Rarissa Vecchio acompanhando de longe — e empolgada — as manobras radicais que o irmão fazia naquele momento nas ondas perfeitas de Noronha. Era um dia maravilhoso na ilha pernambucana. O céu estava limpo, o sol ardia intenso um calor de quase trinta e cinco graus e o mar estava favorável para a prática do surfe. — O Johnny embocou num tubo sensacional, agora, amiga! — berrou Janete, após dar alguns pulinhos na areia com várias pessoas ao seu redor olhando atentas o cenário azul diante delas. Havia gritos de incentivo a Jonathan perto de onde elas estavam. O rapaz era um dos favoritos a vencer a etapa do Hang Loose Pro Contest e estava a poucos pontos de
A FESTA NO TERRAÇO da suíte presidencial organizada pelos patrocinadores de Jonathan já estava pegando fogo quando Janete e Rarissa desceram do elevador. O prédio do hotel onde ambas estavam hospedadas desde a tarde anterior era um dos mais luxuosos da ilha toda e costumava receber muitas celebridades ao longo do ano. Havia cerca de cinquenta convidados no terraço e um grupo de garçons não parava de trabalhar, levando bebidas para cada um dos quatro cantos da badaladíssima comemoração. Janete estava trajando o único vestido de festa que havia colocado na mala antes de sair de casa, pensando justamente num momento como aquele de celebração e, estava estonteante. A saia era curta bem acima da metade das coxas e deixava as suas costas nuas com duas alças finas sustentando a frente, onde o busto avolumado ficava bastante evidente pelo decote. Seus cabelos estavam soltos e ela tinha passado um batom escuro nos lábios. Se serviu de champanhe assim que pisou na festa e pensou que ninguém ali
HENRIQUE ESTAVA DIVIDINDO um dos quartos do hotel com o editor de vídeos do seu canal do Youtube, mas, naquele momento, ele sabia que Fred não estaria lá. O garoto tinha ido fazer algumas filmagens noturnas da ilha e só voltaria mais tarde. Janete sentia que eles mal podiam esperar para chegar ao quarto para liberar aquele desejo súbito que haviam sentido um pelo outro durante a festa e, quando adentraram o lugar, se jogaram logo na cama de lençóis brancos. Henrique arrancou a sua própria camiseta e já abaixou a calça jeans surrada que usava. A garota viu um mastro enorme surgir de dentro da cueca boxer que ele estava vestindo e salivou. Olha o tamanho desse pau, pensou ela admirada, já o vendo subir sobre o seu corpo e começar a despi-la. O vestido não fez qualquer resistência na pele de Janete e logo estava sendo jogado de lado. O loiro mirou entre as suas pernas como que tentando adivinhar o que teria por trás da sua calcinha branca que a cobria e, então, começou a deixá-la compl
A CONSTRUTORA SUARES & CASTILHO possuía um complexo de quatro torres espelhadas de trinta andares cada localizado na região industrial de Moema, um dos bairros mais nobres de São Paulo. Os prédios podiam ser vistos de longe refletindo, em geral, a luz solar da manhã e emergiam do chão imponentes, causando uma sensação de metrópole futurista à cidade que não parava por nada sob seus pés. A primeira torre — a sudoeste — tinha sido construída ainda nos anos oitenta, quando o patriarca da família Castilho, o velho e argucioso Jaime, filho de imigrantes espanhóis, vira no ramo da construção civil a grande oportunidade de quadruplicar a já milionária herança que possuía. Sob a b****a da, na época, modesta empresa, o grande centro de Moema se vira completamente modificado pelas construções arrojadas da construtora Castilho e, logo a fama de “a construtora do futuro” se espalhou por toda grande São Paulo, ganhando o país na década seguinte. A morte de Jaime Castilho na segunda metade dos ano
UM MÊS E MEIO APÓS a sua contratação, Janete foi chamada para a sua primeira reunião da diretoria principal da empresa e aquela foi uma das raras vezes que viu o próprio pai em seu trabalho. João Suares tinha convocado a reunião para discutir os novos planejamentos financeiros que a Suares & Castilho projetava para o próximo semestre e, por isso, precisava de toda a equipe financeira presente, incluindo os estagiários. Além de Janete, o time era formado por sua tia Elisa, a assistente Mariana, o técnico em TI Michael Mantovanni e os seus dois aprendizes, Gabriel Souza e Marco Túlio, ambos com dezesseis e dezessete anos respectivamente. A sala de reunião era um auditório com pé-direito alto que possuía seis fileiras de cadeiras para os espectadores em forma de arco côncavo, com o palco onde João falaria com um microfone à frente. Havia uma espécie de púlpito de onde ele comandava o Macbook que gerava as imagens pelo projetor e, atrás dele, um telão de quase dez metros de comprimento mo