Capítulo 2

A FESTA NO TERRAÇO da suíte presidencial organizada pelos patrocinadores de Jonathan já estava pegando fogo quando Janete e Rarissa desceram do elevador. O prédio do hotel onde ambas estavam hospedadas desde a tarde anterior era um dos mais luxuosos da ilha toda e costumava receber muitas celebridades ao longo do ano. Havia cerca de cinquenta convidados no terraço e um grupo de garçons não parava de trabalhar, levando bebidas para cada um dos quatro cantos da badaladíssima comemoração.

Janete estava trajando o único vestido de festa que havia colocado na mala antes de sair de casa, pensando justamente num momento como aquele de celebração e, estava estonteante. A saia era curta bem acima da metade das coxas e deixava as suas costas nuas com duas alças finas sustentando a frente, onde o busto avolumado ficava bastante evidente pelo decote. Seus cabelos estavam soltos e ela tinha passado um batom escuro nos lábios. Se serviu de champanhe assim que pisou na festa e pensou que ninguém ali iria lhe pedir a carteira de identidade.

Eles que ousem! Sou a irmã do dono da festa!

Rarissa tinha apostado num modelo menos provocativo que a amiga, mas estava igualmente linda em seu vestido branco justo sem alças, valorizando o belo par de seios médios. Assim como Janete, se serviu de uma taça de champanhe assim que o primeiro garçom cruzou a sua frente lhe oferecendo e ela sentiu o nariz formigar quando tomou a bebida.

— Olha lá o seu irmão. Vamos cumprimentá-lo.

Janete aceitou a sugestão da amiga e foi com ela abrindo espaço pela multidão de bajuladores até Jonathan. Suzana, a sua namorada, estava agarrada a ele aproveitando os holofotes dos fotógrafos que registravam a festa. A garota de pele preta e de brilhantes olhos cor de jabuticaba teve que ceder o seu espaço para Janete que colou nele já começando a ser fotografada ao seu lado.

— Essa é a minha irmãzinha, a Janete. Ela sempre apoiou a minha carreira no surfe e com certeza faz parte do meu sucesso. — comentou o rapaz loiro sorridente aos jornalistas, segurando o ombro da irmã.

— Um sorriso para a lente, Janete! — Sugeriu um dos fotógrafos.

— Abraça o campeão! — Recomendou outro já acionando o flash da sua câmera.

Janete estava muito à vontade ali, mas começou a sentir um frio na barriga só em pensar em ver o seu rosto estampado na maioria dos sites e jornais de cobertura esportiva na manhã seguinte ao lado de Jonathan.

Vou morrer de vergonha, pensou, modesta.

Um alvoroço teve início na suíte presidencial quando o famoso DJ “Maverick” apareceu para comandar a sua própria picape e ele ofereceu a primeira música ao campeão do dia.

— Essa é especial para o meu amigo Jonathan Castilho, o campeão do Hangloose Pro Contest deste ano!    

O som da música eletrônica ecoou no terraço do hotel e todos os presentes começaram a pular e dançar efusivamente. Entre uma bandeja de bebida cara e outra, já se podia ver sob as luzes estroboscópicas que coloriam o ambiente a distribuição de alguns comprimidos de ecstasy entre os convidados e a festa tomou um tom ainda mais alegre. Em época de competição, Janete sabia que o irmão procurava ficar limpo de entorpecentes, mas que ele era dado a certas experimentações depois dos campeonatos, principalmente, na hora de comemorar. O próximo torneio só rolaria em março daquele ano e ele não se negou a tomar a pílula que lhe foi oferecida, começando a curtir ainda mais a sua festa.

O segundo instante de euforia da noite se deu quando um jogador de futebol brasileiro que jogava na Europa resolveu aparecer de surpresa para comemorar a vitória de Jonathan. Janete e Rarissa se viram boquiabertas quando o craque revelado no time do Santos há alguns anos surgiu no terraço com dois seguranças particulares e se dirigiu até Jonathan, próximo ao DJ “Maverick”. Com o microfone em mãos após a diminuição do volume da música e tocando o ombro do surfista, ele falou em alto e bom som a todos os presentes:

— Eu estou de férias. Estava curtindo uma praia vizinha aqui perto e não pude deixar de parabenizar pessoalmente essa revelação do surfe que é o Jonathan. Esse moleque ainda vai brilhar muito! — O rapaz loiro deu um riso nervoso ainda cheio de si pelos elogios e um pouco alto pelo efeito do ecstasy que tinha tomado. Em seguida, continuou ouvindo o jogador de futebol: — Eu sou de Santos, sempre vivi em praia e o mar é a minha segunda casa depois dos gramados. Torço muito pelo surfe brasileiro e sei bem do potencial do nosso Johnny “Bravo” aqui.

O jogador abraçou Jonathan a seguir e um alvoroço tomou os demais convidados que não podiam perder a chance de tirar fotos ao lado do craque do Barcelona.

— Ninguém vai acreditar que eu estive na mesma festa que o Ney Junior se eu não tirar uma foto com ele! Vem amiga, me acompanha! — E Rarissa puxou Janete, começando a se infiltrar na multidão diante do craque de futebol.   

Algum tempo depois da foto com o jogador de futebol que tinha sido negociado para o time espanhol numa das transações mais caras da história, as meninas o viram se despedir do homenageado e sair pela porta como tinha entrado, envolto em muita badalação. Janete e Rarissa, então, voltaram para a pista e dançavam alegremente entre os convidados quando foram abordadas.

— Duas vezes no mesmo dia? É muita coincidência!

As meninas viram o cara que tinha entrevistado Janete para o seu canal de Youtube mais cedo, ali sorridente, segurando um copo de vodca. Elas o cumprimentaram.

— Você também foi convidado ou entrou de penetra? — indagou Janete, um pouco mais solta sob efeito do álcool.

Ele se aproximou bem perto da orelha esquerda dela e sussurrou:

— Não conta pra ninguém, mas na verdade eu sou agente secreto. Tem um segurança desacordado lá fora na entrada da festa nesse momento.

Ela riu alto, incapaz de controlar o seu próprio humor. Rarissa não estava tão bêbada, mas estava atenta à conversa quando ouviu a amiga dizer:

— E o que um agente secreto lindo como você está fazendo numa festa como essa? — Ela estava começando a jogar o seu charme. O sorriso no rosto dele demonstrava que estava curtindo aquela faceta menos tímida da garota.

— Estou procurando uma jovem milionária paulista que anda arrasando na pista de dança. Preciso prendê-la por excesso de beleza. Você a viu por aí?

Janete juntou os dois pulsos diante do corpo para simular uma rendição e, então, voltou a sussurrar a ele:

— Eu vi sim. Ela está bem diante de você. Pode me prender todinha, seu agente secreto.

Os dois continuaram por algum tempo naquela encenação e, depois de passarem algum tempo juntos na pista de dança, entre conversas ao pé do ouvido e passadas de mão oportunas um no outro, nenhum deles conseguiu resistir por mais tempo. Estavam exalando química.

— Amiga! Curte o restante da festa sem mim. — disse Janete ao ouvido de Rarissa que bebia uma caipirinha no balcão do bar, acompanhada por um dos fotógrafos da festa que a cortejava há vinte minutos. — O youtuber dos esportes radicais vai me levar para o quarto dele no décimo andar pra gente… Conversar um pouquinho.

Rarissa sabia exatamente a que tipo de conversa Janete estava se referindo e, então, a liberou:

— Vai sim, amiga. Ele é uma delícia. Depois me conta como foi.

A herdeira dos Castilho piscou para ela, depois, deu uma corridinha afobada até Henrique que já a esperava na porta da saída do terraço. Os dois seguiram de mãos dadas até o elevador e de lá sumiram rumo aos andares inferiores. Rarissa não via muito futuro naquela conversa com o tal fotógrafo, mas o deixou continuar falando enfadonhamente sobre suas coberturas jornalísticas para A Gazeta, jornal onde trabalhava. Naquele momento, ela invejou fortemente Janete e começou a se coçar de curiosidade para saber os detalhes do que ia rolar entre os dois.

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