O RETORNO DAS AULAS no mês de julho deu início à preparação para o campeonato intercolegial com o qual Janete e as suas colegas de classe estavam envolvidas desde o início do ano na data de inscrição, mas, devido as suas novas ocupações, a garota precisou entrar em um acordo com sua tia Elisa para poder jogar. Na semana que antecedia os primeiros treinos da equipe de vôlei feminino do colégio Batista Genari, ela fez uma ligação ainda em casa, evitando levar assuntos pessoais para o trabalho. — O torneio começa em duas semanas, tia, mas eu preciso me reunir com a equipe antes para os treinos. — Janete estava em seu quarto numa tarde após o expediente no prédio da Suares & Castilho. Estava tensa e andava de um lado para outro descalça, sentindo com os dedos dos pés os pelos felpudos do tapete branco em que pisava. — Sabe que não posso liberar você do estágio nesses dias só porque é minha sobrinha, não é, Janete? — resmungou a mulher com voz impaciente. — Não seria bom exemplo para os d
NA VÉSPERA DA PRIMEIRA partida entre o seu time e o terceiro ano do Colégio Paulo Dantas, Janete mal conseguiu pregar os olhos durante a noite e teve que tomar algumas latas de energético antes de sair de casa para aguentar o cansaço. Mathias, o motorista da família, a levou de carro até o Jardim Paulista e a garota estava elétrica ao encontrar as amigas na concentração. Tratou de largar a bolsa onde trazia os materiais esportivos sobre o banco chumbado ao centro do vestiário e começou a tirar a calça jeans que vestia. Rafaela já exibia em seu corpo curvilíneo o novo uniforme personalizado feito para a equipe e a cor amarela do conjunto de regata e short de malha curto lhe caía bem sobre a pele marrom. — Esses novos uniformes ficaram muito irados! Tem o meu nome atrás! — E ela virou de costas em frente ao espelho toda feliz, tirando o cabelo encaracolado da frente e se encurvando inteira para ver o nome estampado sobre o número sete no reflexo. Talita e Juju também já começavam a ves
A SEGUNDA PARTIDA contra o time de uniforme azul do Alves Alcântara seria o último daquela manhã e Janete teve que esperar na arquibancada junto dos primos e dos seus irmãos o início do jogo. O ginásio estava ainda mais cheio do que na manhã anterior e a presença de Jonathan Castilho entre os espectadores causou um furor por ali, uma vez que ele era reconhecidamente um dos surfistas de maior destaque entre o público jovem. Tirando selfies e dando autógrafos em camisetas, o rapaz curtiu bastante o seu momento de fama entre os seus admiradores, mas estava ali mesmo para torcer para a sua família. Tinha estado ao lado da irmã caçula Jéssica, dos primos Cleber — irmão gêmeo de Cleide e filho da chefe de Janete, Elisa —, Pedro e Micaela na torcida por Priscila, cujo time em quadra enfrentava a sensação do intercolegial Aline Ferreti, a principal estrela do primeiro ano do Colégio Paulo Dantas, e o surfista sofreu como todos eles. Apesar dos esforços, o segundo ano do Batista Genari não con
NO INÍCIO DAQUELA NOITE, como tinha prometido, Eduardo visitou a namorada em casa e todos os mal-entendidos foram resolvidos entre eles. Após se desculpar pela forma meio brusca que a tinha tratado na ligação mais cedo, o rapaz alegou que só estava preocupado que o seu chefe o visse no telefone na hora do trabalho e que não era a sua intenção ser rude com ela. — Eu não vou te trocar por ninguém. Não seja exagerada! — disse ele, após uma crise de carência em que ela ficou fazendo manha dizendo que ele a ia abandonar. Os dois ficaram de agarramento do sofá por um tempo aproveitando que a família dela estava dispersa em outros cômodos, mas quando a chance surgiu, eles foram para o quarto onde transaram até pouco antes do horário de ele ir embora. Parecia estar tudo bem entre eles novamente. Janete acompanhou o namorado até a garagem, onde ele já ia sair com o seu Golf, quando o farol do Volvo de Renato piscou duas vezes do lado de fora indicando que estava pronto a estacionar. O homem
DEPOIS DA VISITA DE GABRIEL, Janete achou melhor desligar o telefone celular e a garota ficou amuada o restante do domingo em seu quarto. Estava evitando contato com o namorado e achava melhor que a próxima conversa entre eles fosse pessoalmente. Queria olhar em seus olhos para tentar entender a razão que o havia levado a servir de espião para o seu pai e ela não abria mão disso. Naquela segunda-feira, Janete acordou indisposta, mas sabia que não podia deixar o seu time de vôlei na mão. Tomou um banho quente logo cedo, empurrou alguma coisa para dentro do estômago e compensou a falta de alimento por mais da metade do domingo. Viu Renato caminhando pela casa e fez de tudo para evitá-lo. Sentiu enjoo só de pensar em ter que olhar para ele depois do que tinha descoberto, por isso, se despediu da mãe e saiu de fininho sem dar maiores satisfações de porque não ia falar com o pai naquela manhã. Enquanto Mathias a levava até o Jardim Paulista de carro, Janete conferiu o celular e viu oito m
FLASHES DA PARTIDA contra o Paulo Dantas a assombraram pelo resto do dia e Janete não parava de pensar na decepção estampada no rosto da sua técnica Vera Martel após o jogo. A mulher a tinha incentivado desde o ensino fundamental e a tinha como um verdadeiro exemplo para as demais jogadoras em quadra. Não devia ter sido fácil para ela vê-la fraquejar daquele jeito e se descontrolar entre as quatro linhas. A coitada deve estar muito desapontada comigo. Aquele dia estava bem tranquilo no escritório e ela teve tempo até de fuçar o perfil de Caíque Ferreti no I*******m para tentar desanuviar os pensamentos nebulosos. Enquanto Elisa despachava com Mariana em sua sala, a garota se distraiu vendo as fotos do jogador de futebol, notando um número grande de curtidas em todas elas, em especial, depois que ele e o seu time haviam vencido o Torneio de Futebol Junior. Numa das fotos, ele aparece sem camisa ao lado de dois parceiros de clube e ela se pegou admirando o seu físico. Olha esse tanqu
SEMANAS DEPOIS do término do namoro entre Janete e Eduardo, as coisas voltaram a ficar agitadas nos escritórios da Suares & Castilho e, conforme os prazos das obras já contratadas e em licitação iam se encerrando, novos contratos se faziam cada vez mais necessários, o que se tornou um problema sem a antiga facilitação externa. A Monterey havia retomado a liderança nas negociações e estavam sobrando poucos clientes interessados em fazer negócios com a S&C, considerada a construtora mais cara do mercado. João Suares tinha voltado a ficar impaciente pelos corredores e era bem óbvio que toda sua irritação ia acabar sendo descontada em seus empregados. Elisa Tomazzi ficou insuportável naquele período. Janete tinha conseguido com sucesso fugir do próprio pai durante um tempo em casa, mas ela não pode evitar por muito tempo o assunto Eduardo. Numa tarde de inverno, Renato bateu em sua porta no segundo andar e ela o atendeu, vestida de moletom, meias e gorro. Era sábado e ela estava vendo um
PERDIDA EM PENSAMENTOS, se sentindo triste como tudo havia terminado com Eduardo, Janete desceu sozinha pelo elevador do décimo quinto andar ao térreo da torre noroeste e nem imaginou que seria surpreendida mais uma vez naquele dia tão especial. — Olha só quem eu vejo! A aniversariante do dia. Janete quase tropeçou ao pisar fora do elevador com o susto e viu a figura altiva e bem-vestida a poucos metros dela, escorada no balcão da recepção. Beto Suares estava à sua espera. — Liguei há pouco no seu ramal e descobri que você já tinha descido. Que bom que fiquei esperando aqui embaixo. O futuro herdeiro dos 30% das ações de João Suares estava bastante asseado com os cabelos castanhos penteados para trás e um terno slim cinza. Sua gravata estava feita com um nó Windsor e os sapatos dele quase podiam refletir o rosto de Janete de tão bem engraxados. — Você… estava me esperando? A voz dela saiu baixa, como se ela não quisesse que mais ninguém ao redor ouvisse o que dizia. A moça da rec