SEMANAS DEPOIS do término do namoro entre Janete e Eduardo, as coisas voltaram a ficar agitadas nos escritórios da Suares & Castilho e, conforme os prazos das obras já contratadas e em licitação iam se encerrando, novos contratos se faziam cada vez mais necessários, o que se tornou um problema sem a antiga facilitação externa. A Monterey havia retomado a liderança nas negociações e estavam sobrando poucos clientes interessados em fazer negócios com a S&C, considerada a construtora mais cara do mercado. João Suares tinha voltado a ficar impaciente pelos corredores e era bem óbvio que toda sua irritação ia acabar sendo descontada em seus empregados. Elisa Tomazzi ficou insuportável naquele período. Janete tinha conseguido com sucesso fugir do próprio pai durante um tempo em casa, mas ela não pode evitar por muito tempo o assunto Eduardo. Numa tarde de inverno, Renato bateu em sua porta no segundo andar e ela o atendeu, vestida de moletom, meias e gorro. Era sábado e ela estava vendo um
PERDIDA EM PENSAMENTOS, se sentindo triste como tudo havia terminado com Eduardo, Janete desceu sozinha pelo elevador do décimo quinto andar ao térreo da torre noroeste e nem imaginou que seria surpreendida mais uma vez naquele dia tão especial. — Olha só quem eu vejo! A aniversariante do dia. Janete quase tropeçou ao pisar fora do elevador com o susto e viu a figura altiva e bem-vestida a poucos metros dela, escorada no balcão da recepção. Beto Suares estava à sua espera. — Liguei há pouco no seu ramal e descobri que você já tinha descido. Que bom que fiquei esperando aqui embaixo. O futuro herdeiro dos 30% das ações de João Suares estava bastante asseado com os cabelos castanhos penteados para trás e um terno slim cinza. Sua gravata estava feita com um nó Windsor e os sapatos dele quase podiam refletir o rosto de Janete de tão bem engraxados. — Você… estava me esperando? A voz dela saiu baixa, como se ela não quisesse que mais ninguém ao redor ouvisse o que dizia. A moça da rec
JANETE TERMINOU de se trocar e ficou um tempo em frente ao espelho admirando o vestido novo que tinha comprado especialmente para a sua festa de dezoito anos. Deu várias voltas medindo o quão curta era a saia levemente rodada do tecido floral azul e ajustou as mangas longas costuradas em material transparente. Apertou o sutiã sem alças que usava por baixo do vestido para avolumar mais os seios e puxou levemente a veste abaixo dos ombros descobertos, evidenciando a pedra safira do colar em seu pescoço, presente da tia Elisa. Tinha passado um batom bordô nos lábios e delineou os olhos, apostando também numa sombra esfumada. Os cabelos estavam soltos e ela os tinha cacheado com o seu babyliss. Tinha feito ela mesma, embora a sua mãe tivesse até marcado hora com a cabeleireira e maquiadora. Gostava de fazer tudo sozinha e achava desnecessário gastar dinheiro para uma produção tão simples quanto aquela. Se dependesse de mamãe, ela teria alugado o estádio do Morumbi só para fazer essa fest
ENQUANTO A BEBIDA começava a ser servida à vontade, os mais jovens passaram a se soltar e a playlist musical acelerou o ritmo, transformando a festa numa verdadeira rave. Mesmo Priscila, Pedro, Jéssica e Rarissa, que eram menores de idade, se serviram de vodca e outras bebidas tão fortes quanto, e não houve qualquer reprimenda dos mais velhos que assistiam tudo de perto. O grupo se sacudia ao som da música eletrônica que tocava na sala comunal e os globos de luzes estroboscópicas instalados numa estrutura do teto garantiam os efeitos alucinógenos da dança misturada com bebida alcóolica. Michael e Lúcia não se divertiam daquela maneira há muito tempo e até os dois caíram na dança, relembrando os tempos áureos em que ambos tinham a mesma idade que a molecada ali presente. — Tô me sentindo com quinze anos de novo! — disse a moça, aumentando o tom de voz para ser ouvida por ele, movendo os quadris. — Eu também. Com a diferença que agora me sinto como um garoto de quinze, mas com a coluna
DEMOROU CERCA DE vinte minutos até que Janete estive reestabelecida com a maquiagem retocada, os cabelos arrumados e calçando agora um sapato mais confortável. Ela desceu as escadas e se juntou às amigas. Pediu que o controlador do som liberasse as músicas dançantes mais uma vez e voltou a beber doses cada vez mais altas de vodca pura, sem pausas. — Isso aqui é um aniversário ou um velório? Vamos dançar! Por ora, a garota tinha decidido que ia esquecer os seus problemas e se permitiu curtir a bebida e a dança. As amigas de escola, as colegas do trabalho, as primas e a irmã a acompanharam e todas elas começaram a pular, dançar e cantar juntas na sala comunal, como se não fosse haver um amanhã. Os seus pais acompanharam tudo agora de longe, da sacada e conversavam sobre negócios, bolsa de valores, preço do dólar, eleições e toda sorte de assuntos que os fazia parecer mais importantes que o resto da humanidade. Marco Túlio e Jefferson estavam se divertindo conversando com o casal Manto
NA SEGUNDA-FEIRA após a festa de arromba na mansão dos Castilho no Campo Belo, Janete foi até o escritório da tia na torre noroeste do complexo da construtora da família e informou que estava quebrando o seu contrato de estágio, pedindo demissão do seu cargo de assistente. Elisa foi pega completamente de surpresa com aquela notícia e ligou na mesma hora para a sala do irmão Renato na torre sudoeste para saber o que estava acontecendo, enquanto a sua sobrinha largava o seu crachá em sua mesa. A menina estava decidida e informou à mulher que não voltaria a trabalhar ali. — Obrigada pela oportunidade, Elisa, mas não posso continuar trabalhando aqui. Mariana, a assistente pessoal e secretária de Elisa, nem conseguia esconder a sua satisfação com o pedido de demissão de Janete e olhou a garota deixar a sala com um tremendo sorriso de deboche no rosto. Após se despedir da tia, Janete caminhou lentamente até à sala de TI ao fundo do mesmo corredor e respirou fundo antes de aparecer à por
EM UMA VIAGEM QUE levou cerca de vinte minutos, Beto conduziu o seu sedan até Pinheiros, onde estacionou em frente a um elegante hotel da região. Soprava uma brisa mais gelada e ele apanhou uma jaqueta de couro no banco de trás, que ele vestiu pouco antes de abrir a porta para Janete. Ele indicou a entrada do WZ Hotel e ela caminhou com ele até lá. — Vou te levar para conhecer o Tetto Rooftop Lounge que fica no topo do hotel. Um amigo meu é o bartender de lá. Você vai adorar. Janete estava sentindo um frio na barriga ao lado de Beto e, quando chegou ao restaurante-bar, ficou deslumbrada. O lugar tinha dois ambientes e era construído com um pé-direito duplo e janelas generosas que permitiam a vista impressionante dali de cima das avenidas Rebouças e Paulista. Ela não estava com fome, por isso, o seu acompanhante pediu um lugar entre as áreas com sofás e poltronas, onde eles podiam degustar alguma bebida. Ele sugeriu um vinho tinto, ela aceitou. Sentaram-se de frente para a janela. As
AQUELA SEMANA PASSOU lentamente para Janete e, depois de tantos problemas em sua vida profissional refletidas em sua vida pessoal, ela se permitiu andar nas nuvens com o relacionamento que parecia estar começando com Beto. Seu humor mudou radicalmente e todos à sua volta perceberam, vendo-a mais sorridente e alegre do que há algumas semanas. Priscila matou a charada na hora e quando a viu de sorrisinhos para a tela do celular, trocando mensagens, deduziu: — A Jane tá de romance novo! Certeza! A prima jogou-lhe uma almofada e preferiu continuar em zona neutra, dizendo que não podia confirmar ou negar nada ainda. — Com o tempo, quem sabe eu diga o que está rolando? Na escola foi a mesma coisa com Rarissa e Rafaela que notaram o clima mais leve com a amiga. — Tem a ver com o bonitão que veio te buscar na escola segunda-feira? — perguntou a herdeira dos Albuquerque, curiosa. — Tem. Nós vamos nos encontrar no fim de semana de novo. — Ela admitiu, abrindo um sorriso largo e fechando a