EM UMA VIAGEM QUE levou cerca de vinte minutos, Beto conduziu o seu sedan até Pinheiros, onde estacionou em frente a um elegante hotel da região. Soprava uma brisa mais gelada e ele apanhou uma jaqueta de couro no banco de trás, que ele vestiu pouco antes de abrir a porta para Janete. Ele indicou a entrada do WZ Hotel e ela caminhou com ele até lá. — Vou te levar para conhecer o Tetto Rooftop Lounge que fica no topo do hotel. Um amigo meu é o bartender de lá. Você vai adorar. Janete estava sentindo um frio na barriga ao lado de Beto e, quando chegou ao restaurante-bar, ficou deslumbrada. O lugar tinha dois ambientes e era construído com um pé-direito duplo e janelas generosas que permitiam a vista impressionante dali de cima das avenidas Rebouças e Paulista. Ela não estava com fome, por isso, o seu acompanhante pediu um lugar entre as áreas com sofás e poltronas, onde eles podiam degustar alguma bebida. Ele sugeriu um vinho tinto, ela aceitou. Sentaram-se de frente para a janela. As
AQUELA SEMANA PASSOU lentamente para Janete e, depois de tantos problemas em sua vida profissional refletidas em sua vida pessoal, ela se permitiu andar nas nuvens com o relacionamento que parecia estar começando com Beto. Seu humor mudou radicalmente e todos à sua volta perceberam, vendo-a mais sorridente e alegre do que há algumas semanas. Priscila matou a charada na hora e quando a viu de sorrisinhos para a tela do celular, trocando mensagens, deduziu: — A Jane tá de romance novo! Certeza! A prima jogou-lhe uma almofada e preferiu continuar em zona neutra, dizendo que não podia confirmar ou negar nada ainda. — Com o tempo, quem sabe eu diga o que está rolando? Na escola foi a mesma coisa com Rarissa e Rafaela que notaram o clima mais leve com a amiga. — Tem a ver com o bonitão que veio te buscar na escola segunda-feira? — perguntou a herdeira dos Albuquerque, curiosa. — Tem. Nós vamos nos encontrar no fim de semana de novo. — Ela admitiu, abrindo um sorriso largo e fechando a
NO FINAL DO MÊS DE AGOSTO, Janete se matriculou na autoescola e passou a ter aulas teóricas de direção para aprender a conduzir veículos motorizados. Frequentava o curso de segunda à sexta na parte da manhã e ajudava a tia Solange à tarde com a organização dos seus arquivos no escritório que ela dividia com o marido em casa. — Você ficou boa nessa coisa de organizar arquivos, Jane! O elogio da tia surgiu numa tarde em que as duas passaram horas em frente ao computador do escritório organizando o espaço que Solange tinha ali para salvar os seus projetos de design. Mauro tinha pouca coisa do seu trabalho como gestor da Suares & Castilho em casa e mais da metade do HD era ocupado por plantas 3D, plantas baixas e desenhos esquemáticos do trabalho da tia como designer de interiores. — Organizar arquivos era o que basicamente eu fazia o dia inteiro na S&C, tia. — Aqui em casa nem o Pedro e nem a Priscila se interessam pelo que eu e o pai deles fazemos em nosso trabalho. Quem bom que você
NAS DUAS PRIMEIRAS semanas de novembro, Janete fez a prova de direção da autoescola e foi aprovada com todos os méritos. A sua CNH provisória estaria pronta em alguns dias e ela, enfim, poderia dirigir o Mini Cooper que tinha ganhado de aniversário em agosto. Para comemorar, Beto a levou para um novo passeio de iate, mas desta vez, eles teriam companhia. — Pessoal, essa é a Janete Castilho. Ela vai com a gente para Ilhabela. Janete estava surpresa por ele a estar apresentando para os seus amigos mais próximos, mas sentiu uma ponta de incômodo por não ser como a sua namorada. No iate também estava Miguel Olivett, o seu parceiro de Miami quando eles conheceram a Rihanna; João Carlos Gomes, amigo dos tempos de escola; Roberta Mancini, a melhor amiga de Beatriz Suares e a própria Beatriz, que ainda não parecia simpatizar com a herdeira dos Castilho, a olhando sempre com certo desprezo. Aquele fim de semana foi cercado de muitos altos e baixos e Janete só foi se sentir melhor quando eles
EDUARDO ACORDOU NO hospital no dia seguinte. Estava com o ombro esquerdo imobilizado e sentia um curativo espesso em seu nariz, além de um cheiro forte de medicação. Os seus olhos demoraram a focalizar algo, mas quando o fez, ele viu uma enfermeira ajustando um novo volume de soro em um pedestal ao seu lado. — O… Onde eu estou? Ele estava zonzo e viu um cateter preso ao seu braço direito quando a mulher respondeu: — Você está no hospital. Você levou um tiro e foi feita uma cirurgia de reconstrução em seu ombro ontem. Você está bem agora. Ele olhou em volta com a pouca mobilidade que tinha e quis saber de Janete. — A moça que te trouxe até aqui está lá fora. Ela não quis arredar o pé do hospital mesmo quando soube que você já estava bem. — Me deixa falar com ela, por favor. Não era horário de visitas, mas a enfermeira permitiu que Janete entrasse por alguns minutos, deixando-os a sós. Eduardo sorriu quando a viu entrar, mas sentiu dor no nariz e desfez o sorriso imediatamente.
GABRIEL TENTOU O QUE estava ao seu alcance para ajudar Janete e tudo que conseguiu foi e-mails trocados da sala de Renato na torre sudoeste com um tal de “Mercur”, pedindo mais informações sobre invasão cibernética a servidores. Em sigilo, o assistente levou o que tinha descoberto ao seu chefe e amigo Michael, que aconselhou que ele fizesse aquilo em mais perfeito segredo. — Não conte a mais ninguém sobre isso, Gabriel. Os caras com quem o pai da Janete está metido são barra pesadíssima. Michael tinha trabalhado por anos com hacktivismo e possuía uma gama elevada de subterfúgios informáticos para driblar certas barreiras que a internet convencional proporcionava. Naqueles dois dias, eles deixaram o trabalho no setor de finanças da S&C um pouco de lado e os dois se dedicaram a mergulhar fundo na Deep Web para achar provas da existência do cartel de informação que era liderado pelo tal “Mercur”. Ninguém da sua bolha conhecia a verdadeira identidade da pessoa por trás daquele nick, mas
O HORÁRIO DO FIM do expediente se aproximava e, tão logo alcançou Ednei, Janete mandou que ele se comunicasse com Alceu, o outro agente de segurança, para se certificar se o seu pai ainda estava no prédio. A comunicação foi rápida e o homem informou: — Sim. Ele ainda está em sua sala na torre sudoeste, senhorita. — Me leve até lá, Jack. Assim que me ver entrando no elevador, eu quero que você me deixe aqui e siga para esse endereço. Janete deu a Ednei um cartão de um hospital localizado a duas quadras dali e ele ficou sem entender o que aquilo significava. Ela explicou: — Quero que você faça a escolta de um paciente de lá que vai receber alta daqui a alguns minutos. Você vai abordá-lo, vai se identificar e vai garantir que ele chegue em segurança até a sua casa na Água Branca. Entendeu? Os dois caminhavam lado a lado saindo do estacionamento e já alcançavam o pátio onde as quatro torres do complexo começavam a fazer sombra sobre as suas cabeças. — Não estou autorizado a fazer iss
A FORMATURA das turmas do terceiro ano do Colégio Batista Genari aconteceu numa cerimônia cheia de pompa e circunstância num salão de festa alugado perto da Avenida Paulista e, já na colação de grau, Janete, Rarissa, Rafaela e Drica não conseguiam conter as lágrimas, vestidas de beca preta e quepe. Juju havia sido escolhida como a oradora da turma com o aval unânime do corpo docente da escola e a garota tinha escrito um discurso motivador e comovente, dando todo o tom da carreira de escritora que ela pretendia seguir. Pais, tios, madrinhas e padrinhos foram às lágrimas na plateia volumosa e alguém podia jurar que vira até mesmo o professor de Matemática, um dos sujeitos mais durões de todo o colégio, levando um lenço até os olhos. Os aplausos ao discurso de Juju foram intensos e a garota o dedicou aos pais, que a assistiam ao lado da sua amiga Lisa, do seu namorado Mario — irmão de Lisa —, da sogra Sara Cerqueira — mãe de Lisa e Mario — e dos pais de Drica, Ester e Glauco Castanho. Ti