NO INÍCIO DAQUELA NOITE, como tinha prometido, Eduardo visitou a namorada em casa e todos os mal-entendidos foram resolvidos entre eles. Após se desculpar pela forma meio brusca que a tinha tratado na ligação mais cedo, o rapaz alegou que só estava preocupado que o seu chefe o visse no telefone na hora do trabalho e que não era a sua intenção ser rude com ela. — Eu não vou te trocar por ninguém. Não seja exagerada! — disse ele, após uma crise de carência em que ela ficou fazendo manha dizendo que ele a ia abandonar. Os dois ficaram de agarramento do sofá por um tempo aproveitando que a família dela estava dispersa em outros cômodos, mas quando a chance surgiu, eles foram para o quarto onde transaram até pouco antes do horário de ele ir embora. Parecia estar tudo bem entre eles novamente. Janete acompanhou o namorado até a garagem, onde ele já ia sair com o seu Golf, quando o farol do Volvo de Renato piscou duas vezes do lado de fora indicando que estava pronto a estacionar. O homem
DEPOIS DA VISITA DE GABRIEL, Janete achou melhor desligar o telefone celular e a garota ficou amuada o restante do domingo em seu quarto. Estava evitando contato com o namorado e achava melhor que a próxima conversa entre eles fosse pessoalmente. Queria olhar em seus olhos para tentar entender a razão que o havia levado a servir de espião para o seu pai e ela não abria mão disso. Naquela segunda-feira, Janete acordou indisposta, mas sabia que não podia deixar o seu time de vôlei na mão. Tomou um banho quente logo cedo, empurrou alguma coisa para dentro do estômago e compensou a falta de alimento por mais da metade do domingo. Viu Renato caminhando pela casa e fez de tudo para evitá-lo. Sentiu enjoo só de pensar em ter que olhar para ele depois do que tinha descoberto, por isso, se despediu da mãe e saiu de fininho sem dar maiores satisfações de porque não ia falar com o pai naquela manhã. Enquanto Mathias a levava até o Jardim Paulista de carro, Janete conferiu o celular e viu oito m
FLASHES DA PARTIDA contra o Paulo Dantas a assombraram pelo resto do dia e Janete não parava de pensar na decepção estampada no rosto da sua técnica Vera Martel após o jogo. A mulher a tinha incentivado desde o ensino fundamental e a tinha como um verdadeiro exemplo para as demais jogadoras em quadra. Não devia ter sido fácil para ela vê-la fraquejar daquele jeito e se descontrolar entre as quatro linhas. A coitada deve estar muito desapontada comigo. Aquele dia estava bem tranquilo no escritório e ela teve tempo até de fuçar o perfil de Caíque Ferreti no I*******m para tentar desanuviar os pensamentos nebulosos. Enquanto Elisa despachava com Mariana em sua sala, a garota se distraiu vendo as fotos do jogador de futebol, notando um número grande de curtidas em todas elas, em especial, depois que ele e o seu time haviam vencido o Torneio de Futebol Junior. Numa das fotos, ele aparece sem camisa ao lado de dois parceiros de clube e ela se pegou admirando o seu físico. Olha esse tanqu
SEMANAS DEPOIS do término do namoro entre Janete e Eduardo, as coisas voltaram a ficar agitadas nos escritórios da Suares & Castilho e, conforme os prazos das obras já contratadas e em licitação iam se encerrando, novos contratos se faziam cada vez mais necessários, o que se tornou um problema sem a antiga facilitação externa. A Monterey havia retomado a liderança nas negociações e estavam sobrando poucos clientes interessados em fazer negócios com a S&C, considerada a construtora mais cara do mercado. João Suares tinha voltado a ficar impaciente pelos corredores e era bem óbvio que toda sua irritação ia acabar sendo descontada em seus empregados. Elisa Tomazzi ficou insuportável naquele período. Janete tinha conseguido com sucesso fugir do próprio pai durante um tempo em casa, mas ela não pode evitar por muito tempo o assunto Eduardo. Numa tarde de inverno, Renato bateu em sua porta no segundo andar e ela o atendeu, vestida de moletom, meias e gorro. Era sábado e ela estava vendo um
PERDIDA EM PENSAMENTOS, se sentindo triste como tudo havia terminado com Eduardo, Janete desceu sozinha pelo elevador do décimo quinto andar ao térreo da torre noroeste e nem imaginou que seria surpreendida mais uma vez naquele dia tão especial. — Olha só quem eu vejo! A aniversariante do dia. Janete quase tropeçou ao pisar fora do elevador com o susto e viu a figura altiva e bem-vestida a poucos metros dela, escorada no balcão da recepção. Beto Suares estava à sua espera. — Liguei há pouco no seu ramal e descobri que você já tinha descido. Que bom que fiquei esperando aqui embaixo. O futuro herdeiro dos 30% das ações de João Suares estava bastante asseado com os cabelos castanhos penteados para trás e um terno slim cinza. Sua gravata estava feita com um nó Windsor e os sapatos dele quase podiam refletir o rosto de Janete de tão bem engraxados. — Você… estava me esperando? A voz dela saiu baixa, como se ela não quisesse que mais ninguém ao redor ouvisse o que dizia. A moça da rec
JANETE TERMINOU de se trocar e ficou um tempo em frente ao espelho admirando o vestido novo que tinha comprado especialmente para a sua festa de dezoito anos. Deu várias voltas medindo o quão curta era a saia levemente rodada do tecido floral azul e ajustou as mangas longas costuradas em material transparente. Apertou o sutiã sem alças que usava por baixo do vestido para avolumar mais os seios e puxou levemente a veste abaixo dos ombros descobertos, evidenciando a pedra safira do colar em seu pescoço, presente da tia Elisa. Tinha passado um batom bordô nos lábios e delineou os olhos, apostando também numa sombra esfumada. Os cabelos estavam soltos e ela os tinha cacheado com o seu babyliss. Tinha feito ela mesma, embora a sua mãe tivesse até marcado hora com a cabeleireira e maquiadora. Gostava de fazer tudo sozinha e achava desnecessário gastar dinheiro para uma produção tão simples quanto aquela. Se dependesse de mamãe, ela teria alugado o estádio do Morumbi só para fazer essa fest
ENQUANTO A BEBIDA começava a ser servida à vontade, os mais jovens passaram a se soltar e a playlist musical acelerou o ritmo, transformando a festa numa verdadeira rave. Mesmo Priscila, Pedro, Jéssica e Rarissa, que eram menores de idade, se serviram de vodca e outras bebidas tão fortes quanto, e não houve qualquer reprimenda dos mais velhos que assistiam tudo de perto. O grupo se sacudia ao som da música eletrônica que tocava na sala comunal e os globos de luzes estroboscópicas instalados numa estrutura do teto garantiam os efeitos alucinógenos da dança misturada com bebida alcóolica. Michael e Lúcia não se divertiam daquela maneira há muito tempo e até os dois caíram na dança, relembrando os tempos áureos em que ambos tinham a mesma idade que a molecada ali presente. — Tô me sentindo com quinze anos de novo! — disse a moça, aumentando o tom de voz para ser ouvida por ele, movendo os quadris. — Eu também. Com a diferença que agora me sinto como um garoto de quinze, mas com a coluna
DEMOROU CERCA DE vinte minutos até que Janete estive reestabelecida com a maquiagem retocada, os cabelos arrumados e calçando agora um sapato mais confortável. Ela desceu as escadas e se juntou às amigas. Pediu que o controlador do som liberasse as músicas dançantes mais uma vez e voltou a beber doses cada vez mais altas de vodca pura, sem pausas. — Isso aqui é um aniversário ou um velório? Vamos dançar! Por ora, a garota tinha decidido que ia esquecer os seus problemas e se permitiu curtir a bebida e a dança. As amigas de escola, as colegas do trabalho, as primas e a irmã a acompanharam e todas elas começaram a pular, dançar e cantar juntas na sala comunal, como se não fosse haver um amanhã. Os seus pais acompanharam tudo agora de longe, da sacada e conversavam sobre negócios, bolsa de valores, preço do dólar, eleições e toda sorte de assuntos que os fazia parecer mais importantes que o resto da humanidade. Marco Túlio e Jefferson estavam se divertindo conversando com o casal Manto