A Força da Roza
A Força da Roza
Por: Mah Louvid
Prólogo

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Todos os direitos reservados. É proibido o armazenamento, e/ou reprodução de qualquer parte dessa obra – física ou eletrônica – através de quaisquer meios (tangível ou intangível) sem o consentimento escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal 2018.

Epígrafe 

Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar. Lutar pelo amor é bom, mas alcança-lo sem lutar é melhor.

William Shakespeare

Prólogo

 Rose

Escuto a porta bater e sei que papai chegou bravo, certamente irá descontar em mim sua raiva, ele sempre faz isso, não sei por que odeia-me tanto. Papai sempre reclamou por não ter filhos homens, mas aparentemente o fato de Daisy também ser menina não o incomoda, ele faz tudo por ela, diz que um dia ela será uma grande dama e se casará com um nobre muito importante, talvez até mesmo um príncipe.

Quem vê a nos duas juntas, não diz que somos irmãs, não apenas pelo fato de que com dez anos eu seja mais alta que Daisy, que tem só oito anos, mas fisicamente também, dado quê, enquanto Daisy tem a pele clara como porcelana, os cabelos loiros e olhos verdes, assim como nosso pai, eu tenho a pele oliva, os olhos e cabelos negros, como o céu em uma noite sem estrelas. Não sei a quem puxei para ser assim, já que mamãe tem a pele clara, os olhos azuis e cabelos cor de mel.

Papai entra em nosso quarto e vai até a cama de Daisy, ela passou o dia todo deitada, vejo que ele trouxe um pacote de presente. Ele sempre dá presentes para ela quando fica doente, mas para mim, nem em meu aniversário, ele dá algum presente.

— Como vai minha princesinha?

— Estou melhor, papai.

Ele lhe entrega o presente, fico olhando ela abri-lo, é um arranjo de cabelo com detalhes em pérolas, muito lindo, e depois de dar um beijo em sua testa, papai sai do quarto, sem nem ao menos olhar para mim.

Pouco depois desço para ajudar Grace com o jantar, ficar com ela na cozinha é a melhor parte de meu dia, pois gosto de cozinhar, e ela sempre me ensina com carinho. Chegando aos pés da escada, ouço vozes vindas do escritório, e mesmo sabendo que devo ir logo para a cozinha, paro para ouvir o que está acontecendo.

— Arrependo-me da m*****a hora que lhe aceitei em vez de mostrar a todos a vagabunda que realmente é. E a recompensa por minha bondade é ter que criar àquela menina.

É a voz do papai, sinto que ele está falando de mim, mas não tenho a chance de ter certeza, pois papai me vê ali e fica furioso por eu ter ouvido a conversa deles. Pegando-me pelo cabelo, papai me arrasta até o pequeno armário embaixo das escadas e me prende ali.

Já faz muito tempo que estou aqui, sei porque minha barriga dói de tanta fome que estou, para evitar que os ratos subam em minhas pernas, me encolho o máximo possível no pequeno espaço. Há tempos que não tenho mais medo dos ratos ou aranhas, mas não falo isso em voz alta, pois, é por pensar que tenho medo que papai me prende aqui, se souber, ele pode pensar em um novo castigo para me punir quando fizer algo que o desagrade. Em alguns momentos penso que só a minha existência já é para ele um grande motivo.

Ouço barulhos na sala e fico o mais quieta possível, parece estar vindo da direção à porta, deve ser papai para me bater e então me liberar do castigo, prendo a respiração ao ouvir o trinco de madeira sendo girado; essa é uma parte que nunca vou me acostumar, me encolho ainda mais quando a porta se abre, me preparando para o primeiro golpe, mas ele não vem.

— Rose, saia, somos nós. — Essa não é a voz de papai, é uma voz que sempre me acalma, a voz da esperança, é Nathally.

Relaxo um pouco e abro os olhos, mas a claridade é tão forte que preciso cobri-los.

— Nathally, é você?

— Sim, viemos lhe resgatar.

Tento me levantar para sair, mas minhas pernas doem e não consigo, estou muito fraca, sinto alguém me segurar e assim consigo levantar e sair. Olho para minhas salvadoras, Nathally e Alice, duas das pessoas mais importantes para mim, e minhas únicas amigas.

Nathally é filha de tia Sophie, irmã de mamãe, ela é apenas alguns meses mais nova que eu, e assim como nossas mães, tem a pele clara, os olhos azuis e cabelo cor de mel. Ela é extrovertida e muito divertida, seu pai é o tio Oscar, que é guarda real e protege o Príncipe Anthony, e por conta disso, raramente está em casa. Já Alice é filha de tia Julie, irmã de papai, ela já tem 11 anos e é praticamente idêntica à Daisy, porém, seus cabelos são cacheados, ela é muito afável, seu pai é o Duque Plymouth, e o único homem gentil que existe.

— Como souberam que eu estava aqui?

— Quando não apareceu na missa, nós logo suspeitamos. — Nathally explica.

Então hoje é domingo, isso significa que fiquei mais de dois dias presa nesse armário, não é por menos que me sinto tão fraca e não consegui me levantar, nunca fiquei tanto tempo presa.

— Rose, vamos para minha casa, meu pai vai lhe proteger.

A oferta de Alice é tentadora, poder ir para sua casa e ser bem cuidada será bom demais, mas se eu for papai ficará furioso com minha fuga e o castigo será ainda pior. Porém, pensar em voltar para o armário é mais assustador do que pensar em papai bravo, e por isso com a ajuda das meninas, saio de casa.

Alice veio com um cavalo de seu pai, e após estarmos às três montadas, saímos a galope pela cidade, é muito bom sentir o ar fresco em minha pele e meu cabelo balançando com ao vento.

Ao chegar à casa de Alice, tia Julie me pediu para sentar e contar o que aconteceu, apenas lhe falo que estava de castigo sem comer, sem entrar em muitos detalhes. Vamos para o quarto, e logo uma criada vem trazendo uma bandeja cheia de comida, Nathally pega o prato e vai intercalando entre nós duas, ela faz isso há muito tempo, sempre que papai está bravo demais, corro para casa de tia Sophie.

— Rose o que aconteceu, porque estava de castigo? — Nathally pergunta ao me abraçar.

— Na quinta, eu ouvi papai discutindo com a mamãe, disse que ela era uma vagabunda e que se arrependia de tê-la aceitado, e por de ter que me criar. — Só queria saber o porquê papai não gosta de mim.

— Eu não entendo por que tio Karl é assim, como ele pode ser tão rude? — Alice parece confusa.

— A única coisa que sei é que, com exceção do seu pai, todo homem é rude e só pensa em si mesmo. — Penso na mamãe chorando quase todas as noites. — Por isso, aqui com vocês, eu juro que jamais irei me casar.

— Você não pode fazer isso, sabe que mulheres solteiras não são bem-vistas pela sociedade. — Alice como sempre é sensata.

— Prefiro ser uma solteirona mal falada e ficar sozinha, do que viver sujeita a um homem que me fará sofrer e me verá apenas como um objeto dele.

— Rose, nem todo homem é assim, você pode casar com um homem gentil como meu pai.

— Alice, eu sei que seu pai é um bom homem, mas admita que ele é uma raridade, eu sei porque vejo como os amigos de papai são, homens não prestam. Estou decidida, jamais me casarei.

— Rose está certa, homens só irão nos prender em casa, também não irei me casar, seremos uma dupla de solteironas e vamos viver grandes aventuras pelo mundo. — Nathally parece muito animada com a ideia.

— Seremos um trio, juramos estar sempre juntas, e estou com vocês para tudo que vier.

Ver Alice concordando é animador, mas no fundo, sei que ela está nessa não apenas por nos apoiar, mas por sua paixão pelo Príncipe Anthony, desde que ela foi um dia no palácio com tio Justin e o viu, isso foi há mais de um ano, ela tem adoração por ele, mas todas sabemos que dificilmente ela ficará com ele, quando estiver na idade de casar.

E assim, depois de dias sem comer e dormir bem; deito-me entre as meninas, que ficam fazendo carinho em meus cabelos, até por fim adormecer. Tenho muitos pesadelos durante a noite, em grande parte com papai me batendo, e que sempre acaba com um homem grande aparecendo e me protegendo da surra.

Acordo pela manhã e fico pensando no pacto que fizemos, e em como nossos pais ficarão furiosos ao saber. Mesmo tio Justin sendo gentil, não gostará nada de saber que Alice não irá se casar, isso poderá causar problemas para ele, pois sendo membro do Parlamento, não ficará bem tendo uma filha solteirona, ainda mais, ela sendo sua única herdeira. Entretanto, ele a ama e quer – acima de tudo – que ela seja feliz, o mesmo vale para tio Oscar, apesar de nunca estar por perto, ele quer a felicidade de Nathally, mas, eu não tenho essa esperança, papai nunca me amará e nem mesmo quer me ver feliz, ainda sim prefiro ficar com ele ou fugir, do que casar e sofrer como mamãe.

Descemos para tomar café, sei que logo terei que voltar para casa e enfrentar a fúria de papai por minha fuga, mas não tenho outra opção. Quando entramos na sala, vejo a tia Julie sentada no sofá, com a mesma roupa que ontem, ela nos explica que tio Justin não voltou para casa, e vejo como está angustiada com isso, ela tem um bom marido e se preocupa com ele.

Estamos tomando café quando tio Justin chega, seu rosto muito abatido, aos poucos ele nos conta que o Rei Herbert e a Rainha Stephanie faleceram em um trágico acidente enquanto voltavam de uma viagem, por conta disso, todo Parlamento esteve reunido desde ontem para decidir o futuro do reino, pois como o Príncipe Anthony, com apenas 11 anos, é muito jovem reinar, alguém precisa assumir o trono até que ele chegue a idade para ser o Rei, que será aos 21 anos. Somente essa manhã, eles entraram em um consenso e ficou decidido que a Princesa Caitlyn assumirá como Princesa Regente, assim, pela primeira vez na história; teremos uma mulher no trono da Inglaterra.

Levou um tempo para que tio Justin notasse a minha presença, ele sabe o que acontece comigo em casa, afinal, não é nenhum segredo em nossa família como papai me despreza, sendo um homem inteligente, sabe o motivo pelo qual estou aqui, mas ainda assim, fica muito bravo quando Alice conta que passei mais de dois dias presa, sem comer. Encolho-me com medo, mas ao ver que me assustei, tio Justin se controla e pede que eu termine a refeição, para que possa me levar para casa.

Gostaria de dizer a ele que não precisa, porém, por mais gentil que tio Justin seja, ainda sim, é homem e não tenho coragem para contradizê-lo. Fico o caminho todo com medo de que sua presença, apenas deixe o papai mais irritado, e torne o castigo por minha fuga ainda pior.

Em casa vejo que não estava errada. Papai está furioso, mas como tio Justin está comigo, apenas me manda para meu quarto dizendo que depois conversaremos; o que significa uma grande surra. Tio Justin diz que precisa conversar com papai e os dois vão para o escritório, enquanto eu vou para meu quarto, esperar pelo que virá.

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