Capítulo 05

Rose

Já se passou uma semana desde aquele dia, não tenho saído de casa para nada e ando muito assustada, sempre que alguém chega em casa, começo a tremer. Os meus pesadelos também ficaram pior, eles começam comigo presa no armário, o tal homem chega e me puxa para fora, ele me b**e enquanto vai rasgando minhas roupas; só de lembrar daquilo, sinto vontade de chorar. O pesadelo só acaba quando o homem misterioso aparece para me proteger, e toda vez ele me garante que em breve tudo irá ficar bem, por algum motivo que não sei explicar, eu confio nele e me sinto segura ao seu lado.

Não vi mais Alice depois do baile, o que é melhor, pois não sei como contaria a ela o que papai fez, às vezes penso que ela dirá que a culpa é minha por ter planejado fugir. Já Nathally, sei que se ficar sabendo, irá fazer algo para tentar me defender e tenho medo que isso irrite mais papai e ele acabe chamando aquele homem de volta. Não esqueço o olhar de cobiça do papai quando ele ofereceu dinheiro apenas por algumas horas comigo, só sei que tenho que aguentar firme até o dia da viagem, mas para todos os efeitos devo fingir que desisti de ir e aceitei me casar como papai deseja.

Ontem papai me avisou que o Dimitri pediu um jantar para as famílias se conhecerem, ele virá com seu pai, o Duque Leeds, e nesse jantar irá oficializar o compromisso de Daisy, talvez até marcar a data do casamento. Desde então venho arrumando a casa toda para a visita deles, ainda não sei o que papai planeja, já que se marcarem para logo o casamento, será impossível conseguir me casar antes dela.

Hoje papai permitiu que eu viesse ao mercado para comprar algumas coisas para o jantar, mas com a condição que Daisy viesse comigo, ele foi bem claro ao dizer que ela não deveria sair do meu lado um segundo sequer, ter que sair com uma vigia é terrível, mas é melhor do que não poder sair. Para o jantar decidi fazer uma sopa Pea and Ham de entrada, o prato principal será Roast Beef de carneiro, acompanhado de Yorkshire Pudding, e para a sobremesa pretendo fazer Halva de Chocolate acompanhado de Doce de leite caseiro. Espero conseguir agradá-los, tirando o tio Justin, nunca tive que cozinhar para a nobreza e não sei o que costumam comer.

Papai também chamou uma moça para servir o jantar, assim eu poderei me sentar à mesa, então, quando toda comida está pronta, subo para me arrumar e ficar apresentável, mal tenho tempo de sentar na sala quando eles chegam.

Quando entram, noto que o Duque Leeds tem a aparência abatida, de alguém doente e então penso que deve ser por isso que Dimitri quer que o casamento aconteça tão rápido, o Duque deve estar bem ruim e quer ver o filho se casar.

— Duque Leeds é um prazer lhe receber em nossa casa. Esta é minha esposa Sabine e nossas filhas Rose e Daisy. — Papai faz as apresentações.

— Senhor Pritchard é um prazer estar aqui, mas pode me chamar apenas de Ronald, é uma bela dama a prometida de meu filho. — Duque Leeds fala com a voz rouca.

A moça aparece para nos dizer que o jantar está servido e vamos para sala de jantar, noto que Dimitri olha algumas vezes de mim para Daisy, como se estivesse nos comparando, deve estar buscando alguma semelhança, se for isso, sei que será impossível de ele encontrar.

— De quem foi a escolha do cardápio desta noite? — O Duque Leeds pergunta quando é servido o prato principal.

— Foi tudo escolhido e feito pela minha filha Rose. — Fala papai.

— Você tem uma mão cheia para cozinhar. — Sorrio com o elogio do Duque. — Imagino que seja um dom de família. — Ele se vira para Daisy.

— Não meu senhor, aqui em casa apenas Rose tem jeito para cozinhar. — Daisy admite meio sem jeito.

— Uma pena isso, minha falecida esposa Galya, era uma excelente cozinheira, nunca me cansava de comer a comida dela e desde a sua morte não tenho mais o mesmo gosto pela culinária. — Vejo a tristeza dele ao falar da esposa e me pergunto se o Duque é um homem gentil assim como tio Justin.

Quando a sobremesa é servida, fico preocupada que tenha escolhido mal ou feito algo errado, pois quando prova o Halva, o Duque pede licença e se retira da mesa, noto que seus olhos estão marejados. Papai me olha questionando se fiz algo errado, provo e vejo que está no ponto certo, mesmo assim vou até a cozinha, para ver se a moça mexeu em algo nos pratos e constato que está tudo como deveria. Quando estou voltando para sala vejo o Duque entrando novamente.

— Com licença Duque Leeds, está tudo bem? O senhor precisa de algo?

— Está tudo bem, obrigado pela preocupação, menina.

Mesmo sabendo que deveria voltar para sala, não o faço, ele parece triste.

— Fiquei preocupada que tivesse feito algo errado no doce.

— Peço desculpas se lhe dei essa impressão, você é uma ótima cozinheira, é que como disse, minha Galya cozinhava muito bem e seu prato preferido era o Halva.

— Desculpe senhor, não imaginei que ao escolhê-lo fosse lhe trazer tristeza.

— Você me trouxe saudade daquela que foi o grande amor da minha vida, não sei se sabe, mas esse é um doce comum na Rússia que é a terra natal dela.

— Quando pequena, tivemos uma cozinheira que me ensinou a fazer o Halva e ela contou que ele é comum na Rússia, escolhi fazê-lo, porque como não é uma comida comum, poderia agradar mais ao senhor.

— Pois saiba que agradou demais, desde a morte dela nunca mais comi o Halva e hoje você me deixou feliz ao comê-lo e me lembrar de momentos tão alegres de minha vida. — Vejo sinceridade e carinho em sua fala — Eu seria muito mais feliz se fosse você a prometida a meu filho em vez de sua irmã. — Fico sem reação com essa frase. Ele parece notar e complementa. — Só peço que não comente com ninguém isso que lhe falei, pode gerar constrangimentos.

Ainda sem conseguir falar, apenas concordo com a cabeça e voltamos à sala, o Duque fala o porquê de ter saído da mesa, embora não tanto quando falou para mim na cozinha. Após o jantar todos vamos à sala para conversar.

Dimitri

Hoje é o dia do jantar com a família de Daisy, estou ansioso para ver se descubro algum dos segredos que eles escondem, pelo menos saber porque a filha caçula está casando antes da mais velha.

Alguns dias atrás, eu tive meu segundo passeio em companhia de Daisy, durante todo passeio procurei em seus olhos pelo calor que vi nos olhos de sua irmã, mas não encontrei, o que me deixou ainda mais intrigado do porquê as duas irmãs são tão diferentes. Eu não tenho irmãos, mas tenho alguns amigos para usar como exemplo, como Patrick e suas irmãs ou como meus primos Andrey e Katya, ao olhar, é possível ver diversas semelhanças, algo que não ocorre quando comparo Daisy com sua irmã.

Chegamos à casa dos Pritchard e somos bem recebidos, tenho a chance de pela primeira vez comparar as irmãs uma ao lado da outra, e constato que elas não têm um único traço em comum. Fico surpreso ao saber que foi Rose quem preparou a refeição, está deliciosa e enquanto ao meu pai lembra a comida de minha mãe, a mim lembra da minha babushka, não deixo de notar que Daisy não parece feliz com o elogio que meu pai faz a irmã. Quando o Halva é servido, já me preparo para a reação do meu pai, que logo saí da mesa, decido lhe dar um tempo para se recompor, mas vejo que Rose se preocupada com a reação dele, e antes que eu tenha tempo de dizer que não há nada de errado com o doce, ela se levanta e vai para a cozinha. Karl vai atrás da filha, mas pouco depois volta com um sorriso no rosto, em seguida meu pai volta e Rose também. Escuto meu pai explicando porque reagiu daquela forma ao doce, sei bem como as lembranças mexem com ele.

Enfim, com o jantar terminado, vamos para sala, agora chegou a hora de ter perguntas respondidas.

— Ronald, o Dimitri me contou que o senhor mora na Rússia e está passando uma temporada em Londres, pretende ficar muito tempo na corte?

— Ainda não sei ao certo, mas devo ficar pelo menos até a coroação do Príncipe.

— Claro, dizem que será uma grande festa, ouvi dizer que sua Alteza pretende casar antes da coroação, é verdade?

— É o que se espera de um evento como este, e sim, o Príncipe deverá se casar antes da coroação, mas como não pode sair para conhecer as damas, foi decidido que damas de boa família irão passar algum tempo no Palácio, para que assim ele escolha qual delas será Rainha ao seu lado. — Meu pai respira fundo, sinto que ele está se cansando. — Agora vamos tratar sobre nossos filhos, eu não pude deixar de notar que Daisy é sua filha caçula, e gostaria de saber: por que ela irá se casar antes da filha mais velha?

— Realmente, Daisy é mais nova que Rose, acontece que quando Daisy era criança, ela ficou muito doente, e desejando ver a irmã saudável, Rose prometeu que abriria mão do direito de se casar primeiro, caso Daisy se curasse.

Então se trata apenas de uma promessa feita por amor à irmã, não é nada tão complicado, e provavelmente, como Patrick disse, o Duque Plymouth não casou a filha ainda, pois espera para tentar casá-la com o Príncipe.

— Muito nobre de sua parte, senhorita, são poucas as pessoas que pensam nos demais primeiro. — Noto que Rose dá um pequeno sorriso em resposta, mas não parece feliz com o elogio. — Com essa questão explicada, creio que podemos marcar a data do casamento.

— Sim, estive pensando em realizarmos a cerimônia no dia seguinte ao Natal, antes do pôr-do-sol, se vocês estiverem de acordo.

Assim que Karl fala a data, faço as contas mentalmente, tenho certeza que minha babushka já terá chegado até lá. Meu pai olha para mim, esperando que eu responda.

— Por mim a data é ótima, e podemos fazer o baile de noivado na próxima sexta, de modo a dar tempo de todos os proclames correrem.

— Perfeito.

Poucas questões foram respondidas essa noite, mas sei que com o tempo saberei de tudo, apesar das duas irmãs serem tão diferentes, elas são unidas e isso é algo bom, me mostra que são pessoas de boa índole.

Olho para meu pai, e noto que ele está cansado demais, então nos despedimos de todos e vamos para casa. Assim que chegamos, peço para Hazel auxiliar meu pai e vou para o meu quarto.

Deitado em minha cama, reflito sobre a noite de hoje, ainda me intriga o fato que Daisy não tem o mesmo calor no olhar que a irmã tem, e não é só isso, como pode as duas serem dois opostos, não parecem ser filhas do mesmo pai e mesma mãe.

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