Capítulo 04

Dimitri

No caminho para casa, fico pensando no porque não senti calor no olhar da minha prometida, mas senti no de sua irmã, o que será que diferencia as duas? E esse não é o único mistério, Rose aparenta ser mais velha que Daisy, porque será que ainda não se casou? Será que tem alguma relação com o fato da filha do Duque também não ter se casado? Por que as mais velhas não estão casadas, mas a mais nova já está comprometida? Que segredos eles escondem? São muitas perguntas e para nenhuma delas tenho resposta, e acho que só depois do casamento poderei descobrir melhor o que eles escondem.

Chego em casa e como meu pai já se recolheu, decido me recolher também, deito em minha cama e como o sono não vem, fico pensando no mistério que envolve as famílias Chambers e Pritchard. De uma coisa tenho certeza, eles escondem algo. E com essa certeza, me vem uma dúvida, será que esse segredo será algo que impossibilite meu casamento com a jovem Daisy? Terei que descobrir isso logo, antes que esse compromisso se estenda demais e só vejo uma forma de fazer isso, irei conversar com meu pai pela manhã e marcar com Karl um jantar para as nossas famílias se conhecerem melhor, e quem sabe assim, não consigo algumas respostas para minhas perguntas, será apenas uma pena minha avó não estar presente, sua palavra nesse momento seria muito importante, mas ela não deverá chegar tão logo e não posso esperar muito.

Levanto pela manhã e desço para tomar café, encontro meu pai já na mesa, é bom ver ele mais animado. Tomamos nosso desjejum em silêncio, em seguida sigo com ele até a sala e lhe conto sobre as dúvidas que tenho, principalmente o fato da filha mais velha de Karl não ter se casado ainda, e por fim falo minha decisão de marcar logo o jantar.

— Está certo meu filho, melhor marcar logo e assim, se notarmos algo de errado, poderá cancelar esse compromisso sem causar danos à reputação da dama e a sua, mas espere primeiro passar o segundo passeio, depois fale com ele.

Meu pai sempre foi uma voz de sabedoria, e por muito pouco não se tornou Conselheiro real do falecido Rei Herbert, cargo que espero ocupar após a coroação do Príncipe Anthony. Mesmo não sendo o Conselheiro, meu pai tem muito prestígio na família real, e a Princesa Caitlyn costuma pedir seus conselhos em determinados momentos.

— Irei fazer como disse meu pai.

— Bom, agora tem algo que venho pensando nos últimos dias, você me fez ficar na corte para cuidar de mim, no entanto, logo irá se casar e precisa de tempo para conhecer melhor sua esposa, e nós dois sabemos que sua avó pode ser um pouco difícil. — De fato a babushka não é uma pessoa fácil. — Por isso quero lhe sugerir que após se casar, se mude para a casa que era de sua avó Violet, eu ficarei aqui e terei Masha para me fazer companhia.

Meu pai tem razão, morar em outro lugar nos dará mais liberdade para nos conhecer e começar a viver como casal. E a casa a que ele se refere, é uma boa propriedade, em um bairro bom e não estarei muito longe, caso precise vir até a casa de meu pai. Foi nela que minha avó Violet cresceu, e quando herdei o título de Conde Sheffield a casa passou a ser minha, no entanto sempre morei na casa de meu pai, mas irei mudar isso.

— É uma boa ideia meu pai, irei pedir para que uma das criadas vá até lá e faça uma limpeza no lugar, depois irei ver quais móveis precisarei substituir. Para assim deixar o lugar do melhor jeito para viver.

— Isso mesmo meu filho, e veja também quais criados irá levar com você, será melhor levar os que já conhece e já tem confiança, depois posso contratar pessoas novas para os substituir.

— Sim senhor.

Saio da sala de estar pensando em quem posso levar comigo, aqui temos muitos empregados, mas esta casa é grande, não irei precisar de tanto na nova casa. Decido levar o mordomo Kelson comigo, ele já sabe o modo que gosto que as coisas sejam feitas, e irei levar Reese para ser cozinheira e governanta, eles poderão cuidar de achar duas ou três criadas para limpeza, depois se for preciso for, mais para frente contrato outros criados.

Chamo Kelson e peço que ele chame Reese e venham ter comigo no escritório. Assim que eles entram, peço que sentem antes de falar.

— Os chamei aqui, pois pretendo me casar em breve e irei me mudar para uma nova casa, e preciso de pessoas de confiança trabalhando comigo, por esse motivo gostaria de saber se ambos aceitam esse novo trabalho.

— Eu aceito, Milorde. — Kelson fala e noto em sua voz que está satisfeito com minha confiança.

— Eu também aceito, Milorde. — Reese fala, ela porém é mais contida.

— Que bom, Kelson você permanecerá como mordomo e Reese você será governanta e cozinheira no momento. Quero que hoje vocês providenciem de duas a três criadas e vejam tudo que será preciso para limpar a casa, que esteve por muitos anos fechada. Amanhã comecem o serviço, qualquer coisa que tiverem dúvida ou precisarem, só me falar.

— Está bem, Milorde, não se preocupe que tudo ficará como deseja. — Kelson fala.

— Obrigado, agora podem se retirar.

Com essa questão resolvida, me troco e vou para meu escritório, ainda tenho muito trabalho a fazer.

Rose

Quando saímos do salão de baile, estranho o comportamento do papai, ele não fez nenhum comentário sobre o fato que não arrumei um pretendente. Ao chegar em casa, subimos para ver como Daisy está, ela continua febril e mesmo não tendo culpa por ela ter tomado meu suco, me sinto culpada por ela estar doente. Mamãe queria levá-la para seu quarto, para que assim possa cuidar dela durante a noite, mas papai não aceita, me manda ir dormir no quartinho dos fundos, para que assim mamãe possa dormir em nosso quarto com Daisy. Aceito e apenas peço para tirar meu vestido de baile primeiro, papai aceita e saí do quarto, mamãe vem e me ajuda, coloco uma roupa de dormir e desço até o quartinho.

Sonho que estou de volta ao salão de baile, porém, desta vez sou a única mulher presente, um homem chega e me puxa pelo braço, dizendo que devo dançar com ele, meu braço dói de tanto que ele aperta, tento me afastar, mas ele me dá um forte tapa no rosto. Nesse momento outro homem aparece e segura meu outro braço, cada um me puxa para um lado, um terceiro homem chega e começa a dar t***s em meu rosto. Lágrimas escorrem pelo meu rosto e não sei como sair dessa situação, é quando um barulho de tiro ecoa pelo salão, os homens param e olham para o outro homem que chegou.

— Se não soltarem a moça agora, garanto que nenhum de vocês sairá vivo deste local. — A voz é forte e sei que nunca a ouvi antes.

Todos os homens que estavam ao meu redor somem, caio sentada no chão, o homem que fez a ameaça vem até a mim, não consigo ver seu rosto e isso me intriga, mas sei que é meu protetor. Ele me abraça e me sinto protegida como nunca me senti na vida, principalmente na presença de um homem.

— Não se preocupe minha querida, apenas seja forte e fique tranquila que tudo dará certo. — Sinto que ele fala a verdade e me deixo acalmar.

Acordo e fico triste ao perceber que tudo não passou de um sonho, mas por algum motivo a sensação que senti continua em meu peito. Volto a dormir e sonho dessa vez que estou dançando novamente com o Conde Sheffield, mas ao contrário do que foi esta noite, no sonho ele não fala nada, queria que ele falasse para ouvir sua voz, ele tem um sotaque bonito.

Assusto-me ao ser acordada por papai, e levo um momento para me lembrar de que não estou mais no baile. Por que eu estava sonhando com o noivo de minha irmã? Olho para o papai ao meu lado e vejo que não está sozinho, tem um homem alto e forte ao seu lado, ele tem uma feição que me dá medo. Percebo que ele me olha de uma forma estranha, como se estivesse me avaliando, não gosto disso, tento puxar a coberta para cobrir meu corpo, mas papai não deixa, me puxando pelo braço para fora da cama.

— Como lhe disse, ela é uma moça bonita, e além disso, sabe cozinhar e limpar muito bem.

— Realmente ela é muito bonita, meus amigos irão gostar de conhecê-la, dou-lhe dois mil libras pela moça.

Ao ouvi-lo falar, entendo o que está acontecendo aqui, papai está me vendendo para esse homem estranho.

— Papai, por que está fazendo isso?

— Eu lhe disse para arrumar um marido ou iria se arrepender.

— Mas eu fiz o que o senhor pediu, fui ao baile e dancei com os rapazes.

— Eu não sou burro, garota, sei que está planejando fugir. — Como ele sabe sobre isso? — Mas isso não vai acontecer do jeito que você quer. Se for para me livrar de você, que eu ao menos receba algo por isso, é o mínimo que mereço depois de ter lhe criado.

Isso não pode acontecer, se esse homem me levar daqui estarei perdida e ninguém poderá me ajudar. Penso rápido e faço a única coisa que posso nesse momento, implorar.

— Papai, eu suplico, não deixe esse homem me levar, eu faço o que o senhor mandar, mas não me vende.

— Por que não venderia? Para suas primas te ajudar a fugir?

Então ele sabe do meu plano, mas não entendo como, e agora não posso pensar nisso, tenho que me livrar de ser vendida.

— Eu prometo que não vou fugir.

— Vou lhe dar uma chance, mas você fará exatamente o que eu disser.

— Eu farei papai. — Falo com muita tristeza.

— A partir de agora você só sai de casa com minha autorização, não lhe quero mais de conversa com suas primas, e vai se casar com quem eu escolher.

— Sim papai.

— Barton, iremos deixar nosso negócio em aberto, se ela aprontar alguma, nós o fechamos. — Papai fala para o homem.

— E se eu lhe oferecer 200 libras por algumas horas a sós com ela?

Arrepio-me toda ao ouvir isso, esse homem quer me desonrar, quando olho para papai, vejo que ele reflete sobre a proposta, morro de medo só de pensar nesse homem me tocando, preciso intervir na conversa.

— Papai não faça isso, não conseguirá um bom marido para mim se eu estiver desonrada, pense na vergonha que será.

Meu apelo funciona e papai recusa a proposta dele. Antes de sair, o homem me olha mais uma vez e diz que pode pagar mais para me ter como propriedade dele.

Papai sai do quarto, em seguida, deito na cama e começo a chorar, penso em como papai pode ter descoberto sobre minha fuga, é quando me lembro de minha conversa ontem com Alice, depois que percebi que ela estava fazendo os homens me tirar para dançar.

Flashback

— Alice, por que fica fazendo os rapazes me tirarem para dançar? — Falei baixo para não atrair atenção de ninguém.

— Porque seu pai foi bem claro ao dizer que você tem que casar, só quero lhe ajudar.

— Não será empurrando um monte de homens que fará isso, entenda Alice, eu não vou me casar e nem ficar aqui sofrendo.

— Pelo amor de Deus, Rose, você prometeu que não iria fugir.

— Eu não prometi isso, disse que lhe avisaria se eu fosse fugir e vou fazer isso.

— Rose, por favor, não faça isso. — Ela tinha lágrimas nos olhos. — O Patrick lhe achou bonita, ele é meu primo e sei que é um bom rapaz, dê uma chance. — Ela implorou.

— Alice, pela última vez, entenda que eu não vou me casar, desista disso, já está tudo pronto para minha partida, então se quiser estar ao meu lado, me apoie e não dificulte mais as coisas. — Dei-lhe as costas sem dar a oportunidade de responder.

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Então foi assim que papai soube, só pode ter sido, ele não estava em casa quando Nathally trouxe o xarope. Choro mais ainda ao pensar como eu estava tão perto de ser livre e agora precisarei achar outra forma, e dessa vez sem a ajuda de Nathally.

Escuto alguém entrar no quarto, pelos passos sei que é mamãe que está aqui comigo, ela se senta na cama e começa a acariciar meus cabelos.

— O que aconteceu aqui minha menina? Porque está chorando? — Sua voz está preocupada.

— Papai trouxe um homem aqui para me ver, ele ia me vender.

— Karl não podia ter feito isso, Rose, aconteceu alguma coisa?

Sei que ela não me culpa pelo que ocorreu, mamãe sempre tentou me proteger de papai, mas só o que conseguia era apanhar também.

— Ele percebeu que não quero me casar e que pretendia fugir daqui.

— Rose, como pode pensar em fugir? Ao menos pensou em como eu me sentiria se você sumisse e eu nunca mais a visse?

— Eu não quero lhe magoar mamãe, só não quero continuar presa e nem me casar.

— Rose, prometa-me uma coisa, se você for fugir, me fale, eu quero sua felicidade e vou estar sempre ao seu lado, independente do que aconteça. Eu lhe condenei a essa vida infeliz e cruel, mas darei a minha vida se for preciso, para que seja feliz no futuro.

Sem conseguir dizer nada depois dessa declaração, apenas abraço forte minha mãe e choro em seus braços.

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