Alex lembrou o sonho que tivera antes de acordar. Não falou dele a Juarez, não queria saber se batia com os fatos ou que ele soubesse. Manuel demorou a voltar, não havia ido logo ao quarto de Cíntia. Juarez pediu a ele que esperasse um pouco para trazê-la, ainda havia coisas que precisavam falar antes que ela estivesse presente.
“A única experiência que seu marido vai ter com a morte ele já teve”. Manuel dissera a Cíntia na noite anterior, mas Alex ainda se sentia tão vivo quanto antes, ou será que as mudanças foram tão pequenas e longas que nem chegou a perceber?
Segundo Juarez, este era um dos “efeitos colaterais” provocados pelo manto elétrico, o acidente havia atingido seus átomos, unindo o mundo espiritual ao material. E Alex o havia levado a todas as estações, dividindo com elas o mesmo destino. Como não acreditava no mundo espiritual, não era tão simples para ele quanto era para Juarez.
– Por que leu tanto sobre medicina, por que os laboratórios se não
Alex não queria, disse que estava bem, mas Cíntia insistiu para que ele fosse ao hospital. Como não havia energia para usar os equipamentos necessários aos exames, permitiram que Alex passasse a noite em observação. Quando souberam que o pai tinha voltado, Eduardo e Amanda logo foram ao hospital, acompanhados por Valdir. Ao chegarem, Heitor interrompeu a conversa que estava tendo com Alex e saiu do quarto para que as crianças ficassem um pouco ao lado do pai. No entanto, o caso ainda não fora resolvido, pois Alex, além de não falar muito sobre o que aconteceu, recusava-se a prestar queixa contra Juarez. E Heitor logo voltou. – Pegue Eduardo e Amanda e leve-os para a casa, não há a necessidade de eles continuarem aqui – Alex pediu a Cíntia, antes que retomassem a conversa. – Eu posso até ir, mas antes vocês vão me explicar o que está acontecendo – teimou Eduardo. – Eu gostaria que eles passassem a noite na casa de Valdir – começou Cíntia, e depois cont
Depois de alguns dias na estação os ecologistas de deram conta de que a situação tomara um rumo completamente inesperada. Segundo seus planos a esta altura eles já deveriam estar infiltrados entre os caçadores investigando de que forma tratavam o meio ambiente, no entanto tiveram o primeiro contratempo já na conversa com Ana descobrindo que para ir com eles teriam que passar por um treinamento. Além disso, quem poderia imaginar que o prédio mais importante da estação iria desabar? Esse evento além de inesperado colocava em risco toda a operação, pois além de terem que fazer o curso agora ainda precisavam aguardar a abertura de uma nova turma.– Como vamos nos manter se esta situação se prolongar? – perguntou Débora, numa tarde em que estavam na sala da pousada.– A estação vive do turismo com certeza não me
Na manhã do dia seguinte, Alex foi à universidade falar com Ana. Ela estava no laboratório com outros biólogos, analisando o material que recolheram no dia anterior. Como já conhecia o lugar, Alex foi ao laboratório quando lhe informaram onde ela estava. Assim que ele entrou, Ana largou o que estava fazendo e levou-o à sua sala.– Podia ter continuado o seu trabalho, só vim fazer uma visita – disse Alex, depois que entraram.– Mas depois do dia de ontem eu gostaria de falar com você num lugar mais tranquilo – disse Ana, sentando em sua cadeira. – Os deinonychus não vieram ao hospital ontem apenas para fazer uma visita, eles atacaram um funcionário da limpeza, o material que estávamos examinando veio de lá. O homem fugiu no momento do ataque sem dar explicações e não foi mais visto depois disso. Hoje pela manhã n&at
Novo Hamburgo, maio de 2017 Alex estava numa estação. Era diferente de tudo o que conhecia até então. No interior de um grande prédio, veículos do tamanho de um micro-ônibus sem rodas estavam acoplados a trilhos por quatro ganchos. Naquele momento, Alex acompanhava a partida de um deles. A ignição aciona um dispositivo elétrico atrás do veículo, envolvendo-o pela eletricidade e empurrando-o sobre os trilhos. O ônibus tomou impulso aumentando a velocidade, até se chocar contra uma placa de metal na parede oposta. Um clarão surgiu ao redor do veículo devido ao atrito da eletricidade contra o metal. O ônibus começou a atravessar a parede até sumir completamente, deixando para trás a parede intacta. Algum tempo depois, outro ônibus preparava-se para partir. Alex levantou-se, pegando seus pertences, e embarcou assim que fizeram a primeira chamada. Outros passageiros entraram depois dele e, por último, o motorista que, ocupando o seu lugar
Porto Alegre, julho de 2035Heitor era delegado em um distrito de Porto Alegre. Numa terça-feira à tarde ele estava na delegacia quando um policial entrou em seu gabinete e entregou-lhe um envelope. Esse envelope estava fechado, mas não trazia nenhuma informação sobre o remetente. Um logotipo da Dimensão Turismo à frente do envelope era a única informação disponível, e também não tinha selo dos Correios.Ao ser perguntado sobre quem lhe entregara a carta, o policial respondeu que um rapaz o chamou quando estava entrando na delegacia e pediu que o envelope fosse entregue ao delegado. Quando o policial perguntou do que se tratava, o rapaz também não soube dizer; disse apenas que fora incumbido de fazer a entrega, encomendada por um desconhecido, e assim o fez. O policial saiu em seguida, deixando Heitor sozinho em seu gabinete. Ao abrir a car
No dia seguinte, por volta do meio dia, entrou num restaurante próximo à estação de Porto Alegre. Logo chamou um garçom e lhe disse que havia reservado uma mesa. – Estou aguardando mais duas pessoas, por isso, no momento, quero apenas uma garrafa de vinho – respondeu Renato ao chegar à mesa. – E traga também três copos, por favor. Passados alguns instantes, o garçom estava de volta com a garrafa de vinho e os copos, que largou sobre a mesa, e encheu um deles. O homem bebeu um gole de vinho e pegou um jornal para ler enquanto aguardava. Alguns minutos depois uma mulher entrou no restaurante como se procurasse por alguém. Renato levantou-se e fez um sinal para ela. – Já pediu alguma coisa? – perguntou Débora, ao chegar à mesa. – Apenas uma garrafa de vinho – respondeu Renato, enchendo outro copo para ela. Renato largou o jornal e os dois continuaram conversando por alguns minutos, enquanto aguardavam pela chegada do terceiro indivíduo. Q
Ana tinha uma estatura média, magra, cabelos loiros e olhos azuis, filha de Douglas Ribeiro, um dos sócios fundadores da Dimensão Turismo, por intermédio do qual viera à estação pela primeira vez. Seu amor pela natureza a levou a estudar biologia, a possibilidade de encontrar novos elos que expliquem os caminhos da evolução a levou a trabalhar com a Dimensão Turismo. Desenvolveu uma personalidade forte e teimosa, o que já a fez passar por grandes dificuldades.Muito antes de Renato e seus companheiros se reunirem para investigar os caçadores, Ana já desconfiava que pudesse haver alguma atividade ilegal entre eles. Nunca tivera a confirmação de nenhuma dessas suspeitas, por isso, às vezes, pensava que estava sendo injusta ao pensar que seus caçadores estivessem traficando animais. Por outro lado, sentia algo estranho no ar.Já aconteceu dela ouvir um nome desconhecido que parecia estar ligado a um grupo ou algum equipamento que não conhecia. O que aumentava suas suspeitas é que eles era
Jorge mal falou com Ana depois que chegaram. Logo deixou que os outros terminassem o que ainda havia por fazer e se afastou, dizendo a Ana que iria tomar banho e descansar um pouco. Como estava com pressa de falar com Jeremias, Ana concordou e, quinze minutos depois, autorizou o resto da equipe a deixar o que estavam fazendo para mais tarde. Depois que todos se retiraram apenas Jeremias ficou para trás e Ana ordenou que a aguardasse em sua sala. Quando Jorge chegou ao alojamento, foi logo tomar banho. Ao voltar para o quarto, em que dormia com outros três caçadores, percebeu que não havia mais ninguém além dele e trancou a porta. Sentou-se sobre a outra cama e, exausto, logo se deitou. Alguns minutos depois, quando Jorge já estava cochilando, alguém bateu à porta. Ele despertou de repente e levantou num pulo. Sobressaltado, olhou em direção à porta, só então lembrou que a havia trancado. Como Jorge demorou a responder, o assistente de Ana bateu mais uma vez e então disse: