POV: CarinaSento no sofá próximo à janela, minha mão pressiona o vidro frio, traçando os desenhos dos vitrais coloridos. A dor de cabeça ainda pulsa atrás dos meus olhos, e a sensação metálica do sangue seco no nariz me faz sentir inútil, exatamente como me sentia na torre.Fraca.Enfermiça.Uma mancha para os poderosos Starbane.A aprendiz de Embry, a jovem mesma com mãos ágeis e olhar atento de sempre, já me atendeu. Ela trouxe uma mistura de ervas para aliviar a dor e controlar a hemorragia, uma infusão quente que ainda posso sentir em meus lábios. A sala acaba infestada pelo cheiro de raízes secas e folhas esmagadas.Há vários homens saindo a cavalo do palácio, muitos, na frente deles vejo o cavalo de Nathaniel liderando o bando. Meu olhar segue Nathaniel enquanto ele atravessa os portões, suas costas retas numa postura perfeita. Por um momento ele para e acho que olhará para trás, mas isso não acontece.Observo-o desaparecer de vista e os portões se fecham.Ele não disse para ond
POV: CARINAA sala mergulha num silêncio opressivo. O Alfa Supremo continua parado, me encarando, o olhar rubro assume um brilho intenso, quase hipnótico. O ar parece mais pesado, e a umidade do ambiente aumenta a sensação de desconforto.A menina que saiu era aprendiz de Embry, então imagino que deve estar a par de tudo, ou Lycander nunca falaria sobre coisas tão íntimas. Ele me ordena que fale sobre meus sonhos, os pesadelos que têm atormentado minhas noites desde que tenho dezesseis anos.Minha garganta seca e minha respiração se torna irregular. Eu não quero falar.Mesmo não sendo real, não quero reviver aqueles horrores. Mas a voz do Alfa Supremo é irresistível, uma força invisível que me obriga a obedecer. Sinto meus dedos se movendo involuntariamente para meu pescoço, minhas unhas penetrando a carne. A dor é um alívio momentâneo e me faz manter o controle, mas logo ele repete o comando. — Carina. Conte-me sobre seus sonhos agora e pare de se machucar. Minha resistência desm
POV: Carina A saída de Nathaniel significou que meu treinamento estava acabado, então recebi algumas tarefas no palácio. Continuo dormindo no quarto dele, e não preciso ficar no tapete, o que é bom e ruim ao mesmo tempo. Agora existe um alvo enorme nas minhas costas, seria muito mais fácil ser tratada como algo insignificante. Meu primeiro trabalho é na biblioteca, que é enorme e bem iluminada. As estantes formam labirintos sinuosos e nunca vi tantos livros empilhados num único lugar.Com um pano na mão, começo a tarefa de tirar o pó das prateleiras. O início é divertido, mas após alguns minutos fazendo a mesma coisa não é nada além de tedioso. Não ajuda que sou lenta demais no serviço, pois me pego folheando sem querer alguns volumes antes de colocá-los no lugar. — É como ver a vadia da Mira esfregando o chão. — uma voz ríspida interrompe minha leitura.Levanto os olhos para ver um grupo de criadas observando-me com sorrisos maliciosos. Eles se apoiam nas prateleiras e me enc
POV: Carina O Conde se aproxima da escrava ao meu lado e, sem dizer uma palavra, coloca a mão no ombro dela. Vejo o corpo da garota enrijecer, um tremor a percorre da cabeça aos pés. Ela não levanta o olhar, mas o medo está impresso em seu rosto e no meu.O homem não disse uma única palavra, mas provoca um desconforto ainda mais intenso do que o burburinho dos criados, e o motivo é óbvio, o conde pode me prejudicar. Ainda que Nate intervenha depois, o dano estaria feito. Meu apetite desaparece instantaneamente. Sinto uma onda de náusea ao observar a cena, lembrando do que vi no banquete. Foi ele quem obrigou a pobre garota a comer no chão.O Conde se inclina ligeiramente, e por um breve momento, vejo o interior de sua capa. Lá, presos em pequenos compartimentos, estão vários incensos. Reconheço o cheiro inconfundível de afrodisíacos, é doce demais, e muito procurado. Minha mãe os tinha em casa para estudo, disse, e usava diferentes venenos para cortar seu efeito, o favorito era o
Preciso de respostas, e sei que elas não serão encontradas na proteção das muralhas. Meus homens me seguem em silêncio, todos tensos, mas sem estar a par da verdadeira situação.A base de apoio do reinado foi conquistada graças à evacuação dos vampiros. Não será bom que a notícia de que talvez os desaparecimentos estejam ligados a eles. Assim que estamos fora do palácio, paro e me viro para eles. — Dispersem. Procurem nos subúrbios por qualquer pista. Faça perguntas discretamente sobre forasteiros ou qualquer movimentação suspeita, não queremos chamar atenção desnecessária. — Eles acenaram com a cabeça e se afastaram rapidamente, cada um tomando uma direção diferente. Fico sozinho na rua, tentando avaliar a situação com mais calma. É a maior cidade do reino, também é a mais próspera. Os níveis de criminalidade são quase nulos, até os subúrbios são limpos e desde que os canais e poços foram revitalizados o número de doentes diminuiu. Claro que eles não agiriam diretamente aqui,
POV: NATHANIELO retorno é mais tranquilo do que imaginei, e infrutífero. Demoramos mais tempo esperando o efeito da poção que muda a cor dos olhos passar, e só depois disso nos trocamos para retornar para o castelo. Alfas ou betas não faz muita diferença, os humanos ficam mais arredios perto de lycans, tendem a se proteger de nós e claro, ocultar informações. Após uns minutos de cavalgada em silêncio, o falatório recomeça. — Vocês não vão acreditar no que aconteceu comigo — diz Lucian, com sorriso largo no rosto. Ele não deveria participar desse tipo de missão, mas insistiu e meu pai não se opôs em deixá-lo participar. — Fui abordado por um comerciante que queria me contratar para trabalhar em Raven's Nest. Ofereceu o triplo do que pagam para um vigia. — Os outros começam a rir, e até mesmo eu não consigo conter um sorriso. Ele nunca foi vigia noturno, e é claro que seus rendimentos superam e muito os ganhos de um. Mas de todas as cidades a capital é a que paga mais para particula
POV: Nathaniel Caminho pelos corredores do palácio, a raiva ferve no meu peito como lava. Os passos ecoam no piso de mármore e todos os rostos se voltam para baixo quando passo. O ar está pesado, eu deveria ter notado que havia algo de errado assim que coloquei os pés aqui. Saio por uma noite e tudo sai fora de controle. Meu coração acelera quando abro as portas da sala do trono.Lycander a arrastou para fora do quarto. Foi isso que minha criada principal disse ao ser interrogada. A ira infectou minhas veias ao ouvir, senti meus músculos se contraírem com a necessidade de recuperá-la a qualquer custo.Não posso aceitar a ideia de que ela possa estar ferida.Respiro fundo, tentando controlar o impulso de me transformar e rasgar todos ao meu redor. Preciso de respostas, e vou começar com meu pai.— Pai, onde está minha mulher? — rosno, sem um único sinal de reverência. Ele acena para que os presentes saiam e eles obedecem. O Alfa Supremo levanta uma sobrancelha, seus olhos azuis
POV: Nathaniel Mal respiro, e quando meu pé se move mais um passo na direção dela Carina faz um sinal de ‘não’ com o dedo quase imperceptível.O rosto está abatido, e pelos olhos inchados é perceptível que chorou, mas meu pai não mentiu sobre ela ter concordado com o teatro.Não posso decepcioná-la mais, e apesar de a minha vontade ser abraçá-la e dizer que sinto muito por não ter conseguido chegar a tempo de impedir que um maldito sem rosto a destruísse como Sasha me destriu, endureço o olhar e a voz para participar do maldito espetáculo, pois é o que ela quer.— É minha culpa, fui leniente demais com você. — Há algo na respiração dela que me faz ficar em alerta, está calma demais. Também não está com o olhar de um bichinho assustado. O guarda não percebe, pois sua cabeça baixa e cabelos cobrindo a maior parte das feições só me permitem ver por estar perto o suficiente. — Vigie a porta, não quero ser interrompido. — Assim que ele sai vou até ela, ajoelhando-me no piso úmido sem me