Não sou estúpido, e por azar não havia bebido o sugiciente para ficar bêbado e desconsiderar as reações dela depois dos rumores. Seguro a ponta da corrente de Carina e ando em direção a porta, embora não na velocidade que desejo, pois as pernas dela são menores e não estou disposto a arrastá-la pelos corredores. Os criados já estão limpando a bagunça, desde as cadeiras até as numerosas poças de sangue. Aparentemente o baile só foi um desastre para mim. As portas dos nossos aposentos já estavam abertas, então quando Carina entra só preciso fechar a porta atrás de nós. — Carina, até quando os boatos são reais? —Ela não responde, se aproxima de mim, os dedos percorrendo a parte externa dos cortes. Uma mistura de dor e excitação me envolve, meu lobo a quer de novo. Eu a impeço segurando os pulsos de Carina, imobilizando ambos com uma única mão. —Você está ferido, Nate, preciso de um curandeiro.—— Os arranhões irão curar sozinhos. Não preciso de um curandeiro, preciso de respostas
POV: CARINADespertamos cedo, eu, na verdade, Nathaniel mal dormiu. Ele já estava sentado na poltrona da janela quando me levantei, então só mudou para a mesa onde a bandeja com o café da manhã estava posta. A bandeja com a ração de escravo que seria minha é empurrada para o lado, e ele divide seu café da manhã comigo, de novo.— Eles vão estranhar. Não me acordou para mudar para o tapete quando vieram trazer a comida. Pondero, temendo que os nobres façam uma petição para mudar meu contrato de servidão para outro.— Lutei por você ontem e venci, estranhariam se eu não a tivesse na minha cama hoje. Só coma, preciso que termine o que te pedi ainda hoje. Recebo um beijo terno na testa e então o foco volta a ser a comida.Gosto do cuidado que recebo dele, é bom, é muito bom. Ter companhia durante todas as refeições, ter alguém ao meu lado quando fico doente, não ouvir o tempo inteiro que devo sacrificar meu conforto e bem estar em troca da vida de alguém remove um peso enorme dos meus o
POV: NATHANIEL A noite foi tranquila para ela e uma tortura para mim. Seu corpo pequeno se aninhou ao meu e descansou protegido, enquanto tive que lidar com a tempestade em minha mente que só piorou ao vê-la desenhar. Ela ainda está alheia ao fato do que fez. O esboço é perfeito, os círculos, e traços do esboço seguem a técnica padrão para depois surgir o retrato, mas Carina o estraga nessa parte, riscando vários redemoinhos no que deveria ser o rosto. No início achei que era um tipo de rebelião, mas não havia no seu semblante um único indício de raiva ou divertimento, manteve a expressão séria e os traços firmes até começar a tocar as próprias têmporas e então sangrar. Essa garota não tem ideia do que está fazendo, mas não quero assustá-la com suposições antes de ter a chance de descobrir a verdade. Não sei como irá reagir num interrogatório direto. Atravesso os corredores, deixando-a trancada.Não quero nenhum criado tendo contato com Carina sem a minha supervisão, o palácio
POV: CarinaSento no sofá próximo à janela, minha mão pressiona o vidro frio, traçando os desenhos dos vitrais coloridos. A dor de cabeça ainda pulsa atrás dos meus olhos, e a sensação metálica do sangue seco no nariz me faz sentir inútil, exatamente como me sentia na torre.Fraca.Enfermiça.Uma mancha para os poderosos Starbane.A aprendiz de Embry, a jovem mesma com mãos ágeis e olhar atento de sempre, já me atendeu. Ela trouxe uma mistura de ervas para aliviar a dor e controlar a hemorragia, uma infusão quente que ainda posso sentir em meus lábios. A sala acaba infestada pelo cheiro de raízes secas e folhas esmagadas.Há vários homens saindo a cavalo do palácio, muitos, na frente deles vejo o cavalo de Nathaniel liderando o bando. Meu olhar segue Nathaniel enquanto ele atravessa os portões, suas costas retas numa postura perfeita. Por um momento ele para e acho que olhará para trás, mas isso não acontece.Observo-o desaparecer de vista e os portões se fecham.Ele não disse para ond
POV: CARINAA sala mergulha num silêncio opressivo. O Alfa Supremo continua parado, me encarando, o olhar rubro assume um brilho intenso, quase hipnótico. O ar parece mais pesado, e a umidade do ambiente aumenta a sensação de desconforto.A menina que saiu era aprendiz de Embry, então imagino que deve estar a par de tudo, ou Lycander nunca falaria sobre coisas tão íntimas. Ele me ordena que fale sobre meus sonhos, os pesadelos que têm atormentado minhas noites desde que tenho dezesseis anos.Minha garganta seca e minha respiração se torna irregular. Eu não quero falar.Mesmo não sendo real, não quero reviver aqueles horrores. Mas a voz do Alfa Supremo é irresistível, uma força invisível que me obriga a obedecer. Sinto meus dedos se movendo involuntariamente para meu pescoço, minhas unhas penetrando a carne. A dor é um alívio momentâneo e me faz manter o controle, mas logo ele repete o comando. — Carina. Conte-me sobre seus sonhos agora e pare de se machucar. Minha resistência desm
POV: Carina A saída de Nathaniel significou que meu treinamento estava acabado, então recebi algumas tarefas no palácio. Continuo dormindo no quarto dele, e não preciso ficar no tapete, o que é bom e ruim ao mesmo tempo. Agora existe um alvo enorme nas minhas costas, seria muito mais fácil ser tratada como algo insignificante. Meu primeiro trabalho é na biblioteca, que é enorme e bem iluminada. As estantes formam labirintos sinuosos e nunca vi tantos livros empilhados num único lugar.Com um pano na mão, começo a tarefa de tirar o pó das prateleiras. O início é divertido, mas após alguns minutos fazendo a mesma coisa não é nada além de tedioso. Não ajuda que sou lenta demais no serviço, pois me pego folheando sem querer alguns volumes antes de colocá-los no lugar. — É como ver a vadia da Mira esfregando o chão. — uma voz ríspida interrompe minha leitura.Levanto os olhos para ver um grupo de criadas observando-me com sorrisos maliciosos. Eles se apoiam nas prateleiras e me enc
POV: Carina O Conde se aproxima da escrava ao meu lado e, sem dizer uma palavra, coloca a mão no ombro dela. Vejo o corpo da garota enrijecer, um tremor a percorre da cabeça aos pés. Ela não levanta o olhar, mas o medo está impresso em seu rosto e no meu.O homem não disse uma única palavra, mas provoca um desconforto ainda mais intenso do que o burburinho dos criados, e o motivo é óbvio, o conde pode me prejudicar. Ainda que Nate intervenha depois, o dano estaria feito. Meu apetite desaparece instantaneamente. Sinto uma onda de náusea ao observar a cena, lembrando do que vi no banquete. Foi ele quem obrigou a pobre garota a comer no chão.O Conde se inclina ligeiramente, e por um breve momento, vejo o interior de sua capa. Lá, presos em pequenos compartimentos, estão vários incensos. Reconheço o cheiro inconfundível de afrodisíacos, é doce demais, e muito procurado. Minha mãe os tinha em casa para estudo, disse, e usava diferentes venenos para cortar seu efeito, o favorito era o
Preciso de respostas, e sei que elas não serão encontradas na proteção das muralhas. Meus homens me seguem em silêncio, todos tensos, mas sem estar a par da verdadeira situação.A base de apoio do reinado foi conquistada graças à evacuação dos vampiros. Não será bom que a notícia de que talvez os desaparecimentos estejam ligados a eles. Assim que estamos fora do palácio, paro e me viro para eles. — Dispersem. Procurem nos subúrbios por qualquer pista. Faça perguntas discretamente sobre forasteiros ou qualquer movimentação suspeita, não queremos chamar atenção desnecessária. — Eles acenaram com a cabeça e se afastaram rapidamente, cada um tomando uma direção diferente. Fico sozinho na rua, tentando avaliar a situação com mais calma. É a maior cidade do reino, também é a mais próspera. Os níveis de criminalidade são quase nulos, até os subúrbios são limpos e desde que os canais e poços foram revitalizados o número de doentes diminuiu. Claro que eles não agiriam diretamente aqui,