Ao entrar em seu apartamento, Marcus sentiu o peso da pasta em suas mãos, trazendo consigo lembranças sombrias que o atormentavam. Com um suspiro pesado, ele jogou a pasta sobre a mesa, deixando escapar um grunhido de frustração. Seus olhos arderam com uma fúria contida, ansiosos pela oportunidade de finalmente acertar as contas com Sergey, o responsável por tantas dores em sua vida. Desta vez, Marcus estava determinado a garantir que o bastardo não escapasse vivo.
Com passos pesados, Marcus se dirigiu à geladeira, encontrando-a como sempre, vazia e desolada. Agarrando uma garrafa de água, ele a esvaziou de um só gole, sentindo o líquido fresco descer pela garganta ressecada. Em seguida, enrolou meticulosamente uma faixa em torno de suas mãos, focando toda a sua raiva e frustração no saco de areia pendurado no meio do apartamento. A cada golpe desferido, Marcus despejava sua fúria, determinado a canalizá-la para a tarefa que o aguardava: a busca implacável por vingança. Enquanto desferia golpes no saco de areia, as memórias se entrelaçavam com a dor e o suor que escorria por seu rosto. Os gritos angustiados de seu parceiro e amigo ecoavam incessantemente em sua mente, como uma ferida que se recusava a cicatrizar. Marcus sentia o peso avassalador da culpa pressionando contra seu peito, a sensação de falha iminente o consumia por dentro. Ele havia decepcionado seu amigo, traído a confiança que havia sido depositada nele, e a culpa o corroía como um veneno insidioso, alimentando-se de sua angústia e remorso.
A mente de Marcus retrocedeu no tempo, relembrando os dias em que ele e Paul estavam na cola de uma perigosa quadrilha especializada em tráfico de mulheres. Juntos, realizaram um trabalho arriscado e disfarçado, desmantelando toda a organização criminosa. Durante a operação, os líderes da quadrilha foram capturados ou mortos, incluindo Pavel Polonov, pai de Sergey, que encontrou seu fim durante o tumulto. Esse caso elevou Marcus e Paul ao topo da lista dos melhores agentes do serviço.
No entanto, Sergey descobriu a verdade sobre Paul e o capturou. Antes de executá-lo, Sergey torturou Paul, cortando parte de sua língua como punição por sua traição. Paul sempre foi habilidoso na arte da espionagem, dominando seus gadgets eletrônicos com maestria. Seu apartamento possuía um sofisticado sistema de vigilância, que foi destruído por Sergey durante o ataque, exceto por uma câmera estrategicamente escondida no brinco de Paul. Foi através dessa câmera que Marcus testemunhou a terrível cena da captura e tortura de seu colega nas mãos de Sergey. Por um milagre, Marcus conseguiu salvar seu amigo. Mesmo privado de parte da língua, Paul transformou-se em uma lenda do serviço secreto. Todos sabem de sua existência, mas ninguém conhece seu rosto. Afinal, o velho Paul foi sepultado, aguardando o momento propício para acertar contas com Sergey e emergir do túmulo.
Saindo do banho, Marcus sentiu a água escorrer por seu corpo, deixando uma sensação fresca e revigorante em sua pele. A toalha, não muito grande, estava pendurada de maneira despreocupada em sua cintura, revelando sugestivamente parte de sua forma tonificada por baixo. Sentando-se em sua cama, ele abriu a pasta em suas mãos e começou a examinar os nomes e imagens com seriedade. Cada rosto representava um desafio, uma parte do quebra-cabeça que ele estava determinado a resolver.
Marcus folheou a pasta com concentração, absorvendo cada detalhe das informações que tinha diante de si. — Mariano Pedra Santa, cerca de sessenta anos, chefe do cartel colombiano, dono de uma grande refinaria de cocaína, principal fornecedor de drogas para América do Sul e Estados Unidos. Pedra Santa é o número sete, na lista dos mais procurados, trezentas mortes, quinze delas em solo americano, responsável pela entrada de pelo menos trinta toneladas de drogas nos Estados Unidos nos últimos anos. Viúvo, sua mulher foi morta pela explosão de uma bomba em um hotel em Nova Iorque, os responsáveis pelo atentado ainda não foram encontrados. O filho de Pedra Santa sobreviveu ao ataque, mas ficou com graves sequelas. Ele fora treinado para substituir o pai, o cartel agora não tinha herdeiros. Pedra Santa teve uma filha, fora do casamento que está aparentemente desaparecida, a mãe fugiu ainda grávida ao descobrir que seu bebê seria dado ao filho do chefe da máfia russa em pagamento de uma dívida. Pedra Santa é um homem inteligente e frio, seu nome é respeitado e temido em toda a Colômbia. Vive cercado de capangas bem armados, é praticamente inacessível. O segundo nome na lista pertencia a Juan Carlos Pedra Santa, vulgo Juanito, 32 anos, herdaria o império do pai se não tivesse sido ferido no atentado. Juanito era, sem dúvida, pior que o pai. — O mundo teve sorte — Marcus resmungou.
Marcus percorreu as páginas da pasta com intensidade, sua atenção sendo capturada por cada nome e rosto gravados ali. — Rosa Velásquez, cerca de 40 anos — Ele leu o nome seguinte, demorando um pouco mais na foto da jovem. — Rosa havia sido comprada por Pedra Santa quando tinha apenas 14 anos. Aos 20 anos, engravidou e, ao descobrir que sua filha ainda não nascida teria o mesmo destino cruel que o seu, conseguiu fugir. Seu paradeiro é desconhecido, mas muitos acreditam que Pedra Santa a matou.
Nikolai Nirkov, cerca de sessenta e cinco anos, chefe da máfia russa atuante em solo americano, controla o tráfico de drogas e de mulheres, comanda os principais centros de prostituição em Orlando, na Flórida. Nirkov tem aumentado seu império, tomando à força o controle de outras facções e organizações mafiosas em uma guerra sangrenta. O filho de Nikolai Nirkov foi morto por membros da máfia italiana, e Nirkov aposta todas as suas fichas em seu braço direito, Sergey Polonov, enquanto aguarda um grande prêmio que espera receber com o controle da máfia colombiana.
Os olhos de Marcus travaram sobre o nome, a bile subindo em sua garganta, trazendo um gosto amargo. — Sergey Polonov — grunhiu diante da ficha com os dados do seu pior inimigo — trinta e seis anos. Principal homem de Nirkov, procurado em mais de quinze países, tanto pela polícia quanto pela máfia.
Exímio lutador, suas técnicas de tortura são conhecidas em todos os círculos do crime organizado. Polonov jamais se deixa ser visto; poucos são os que viram seu rosto e menos ainda os que sobreviveram para contar. Caça tão bem quanto se esconde, as fotos tiradas não são precisas e nem sequer podem ser admitidas como sendo realmente dele.
Marcus olha as imagens em suas mãos e balança a cabeça, confirmando que seu inimigo não estava entre elas. — Eles podem não saber como é o seu rosto, mas eu sei, e estou oficialmente abrindo a temporada de caça, Polonov! — Marcus declarou com determinação. —Caramba! Devo ser o orgulho da mamãe com uma ficha dessas, — resmungou para si mesmo após receber as últimas informações sobre sua mais nova missão.
Marcus Siegro, aos 26 anos, era professor de educação física e mestre nas artes marciais. Após vingar a morte de sua família, assassinada por policiais corruptos, Marcus fugiu para a América do Sul. Agora, ele estava prestes a se tornar uma peça-chave nos negócios de Mariano Pedra Santa, o temido chefe do maior cartel de drogas da Colômbia.
Ana Luz Velásquez, ou apenas Analú como gostava de ser chamada, era uma jovem que morava com sua mãe, Rosa Velásquez, em uma pequena cidade do interior. Seu lar era acima de uma modesta papelaria, onde sua mãe trabalhava arduamente para sustentá-las. A relação entre mãe e filha era marcada por uma ligação forte, mas também por segredos e silêncios. Sempre que Analú perguntava sobre seu pai, sua mãe respondia com voz firme: "Ele está morto e enterrado! Sua mãe é tudo o que você precisa, então pare de se queixar!" Analú aceitava essa resposta resignadamente, pois sabia que arrancar algo mais de Dona Rosa Velásquez seria mais difícil do que encontrar água em Marte.Apesar da ausência paterna, Analú era uma jovem feliz e querida pelos moradores da pequena cidade. Sua personalidade alegre e educada a tornava popular, e seu sorriso era como um raio de sol, iluminando até os dias mais sombrios. Corpo esguio, e longos cabelos encaracolados até o meio das costas que dançavam ao vento enquanto
Marcus Siegro era uma figura temida e respeitada, conhecida por sua frieza implacável e força inabalável, ocupando o posto mais alto sob o comando de Mariano Pedra Santa. Ao desembarcar do pequeno avião, sua presença imponente abria caminho entre os demais, e as portas pareciam ceder automaticamente à sua passagem, como se reconhecessem a autoridade que ele carregava. No entanto, esse status não lhe foi concedido facilmente; Marcus conquistara a confiança do chefe colombiano com sua lealdade inabalável e habilidades inigualáveis. Desde que salvou a vida de Mariano Pedra Santa em um momento crítico, ele ascendeu rapidamente na hierarquia do cartel, tornando-se a peça mais importante abaixo do próprio líder. Seu comprometimento com a causa e sua capacidade de realizar tarefas difíceis e perigosas o elevaram a esse posto de destaque, onde sua influência se estendia por todas as áreas operacionais da organização criminosa.Apesar de sua reputação de homem desconfiado, Mariano confiava em
Marcus ordenou que a garota fosse mantida no quarto, recebendo apenas as refeições necessárias. Ela precisava de seu tempo para o luto, e ele estava determinado a protegê-la desse momento tão delicado. Era o mínimo que podia fazer por ela naquele momento difícil. — Três anos. Três anos ainda nessa tortura. — pensou Marcus com tristeza. Nunca antes ele havia enfrentado uma missão tão longa, e a saudade de casa, dos pais, era o aspecto mais difícil de lidar.Ele dirigiu-se à academia, um lugar que sempre lhe oferecia refúgio. Marcus tinha o costume de treinar intensamente; era sua forma de manter-se concentrado na missão. No entanto, notava que conseguir voluntários para os treinos de luta estava se tornando cada vez mais complicado, pois alguém sempre acabava gravemente ferido. Marcus não era conhecido por pegar leve com bandidos, e ali, com certeza não havia mocinhos. — bando de inúteis! — resmungou optando por sair para uma corrida.Ao chegar ao final da trilha, ele olhou ao redor, t
Analú observava atentamente a movimentação tanto dentro quanto fora da casa. Ainda que confinada ao quarto, encontrava consolo na pequena sacada que lhe proporcionava vistas do sol poente e das estrelas despontando no céu noturno. Com um propósito determinado para aquela noite, ela fixou o olhar no carro que transportava seu guarda-costas e aquele homem que se recusava a chamar de pai. Notou que estavam de saída, acompanhados por pelo menos três veículos.Analú calculou que, talvez, poucos homens permanecessem na propriedade naquele momento. Reunindo toda a coragem que tinha, ela saiu do quarto improvisando uma corda resistente com os lençóis da cama, amarrando-a firmemente na grade da sacada. Sentindo-se sortuda, quando ninguém apareceu quando se se desequilibrou e caiu, como uma fruta madura, no chão abaixo. O som das vozes masculinas vindas de dentro da casa, acompanhadas por risadas altas, denunciou que um jogo de pôquer estava em pleno andamento. Analú sabia que precisava agir ra
Desde que chegara ao Vale Del Calca, Marcus tornou-se a sombra de Pedra Santa, nunca deixando o chefe desprotegido. Quando foi convocado para acompanhá-lo em uma reunião de negócios em Cali, sabia que seria uma ausência prolongada. Deixou a jovem aos cuidados dos homens encarregados da segurança da fazenda e da governanta da casa.— Como vai o progresso com a garota, Marcus — Pedra Santa perguntou, entre baforadas de seu charuto.— Teimosa e desafiadora, chefe. Mas está progredindo nos estudos e em breve a introduzirei aos negócios da família — respondeu Marcus.— Ótimo. Faça o que for necessário, apenas certifique-se de que ela não me cause problemas. Ela será fundamental para nossa aliança com o russo nos negócios — concluiu Pedra Santa.Marcus optou por não pressionar o assunto, sabendo que sua influência poderia impedir a união com o velho russo, algo que ele trabalhava arduamente para evitar. Ao chegarem ao local onde Pedra Santa era aguardado, ele se viu no centro das atenções.
Analú foi arrastada em direção ao escritório de Pedra Santa, ela entrou de cabeça erguida. Estaria pela segunda vez diante do responsável por todas as desgraças da sua vida, o homem que puxou o gatilho, o responsável pela morte de sua mãe. Ela não tinha medo dele, e se ele a matasse ainda assim seria um favor.— Sente-se! — ordenou com voz rouca.— Estou bem de pé! — declarou erguendo o queixo e olhando em seus olhos frios.— Sente-se! — repetiu mais uma vez, seu pai não estava disposto a ser ignorado desta vez.— Ou o quê? Você vai atirar em mim como fez com minha mãe? Faça isso, não temo menos a morte do que temo ter que olhar para você novamente. — Analú gritou lançando-se contra ele, mas seu pai a parou com a força de seu punho.— Quem você pensa ser para ousar me desafiar? Você é apenas uma criança bastarda. Ensinar-te-ei a nunca, jamais ousar a faltar com respeito a mim novamente. Rosa só saiu porque eu permiti, acha mesmo que eu não sabia o tempo todo onde vocês estavam?— Não
El Cairo, um município no Valle del Cauca, Colômbia, exibia-se modestamente com pouco mais de 9 mil habitantes. Seu encanto residia na arquitetura espanhola meticulosamente preservada, nas cores vibrantes que adornavam suas casas e estabelecimentos, e na natureza exuberante que abraçava suas fronteiras. Este cenário idílico atraía anualmente turistas e amantes do ecoturismo, seduzidos pela promessa de uma experiência única em meio a paisagens deslumbrantes. A principal atração cultural era a Festa do Retorno, um evento que atraía uma enxurrada de turistas para o vilarejo, inundando as ruas com uma energia efervescente. Nessas ocasiões, as casas de jogos de Mariano Pedra Santa transbordavam de visitantes em busca de diversão e entretenimento. Além disso, os clubes de jogos e os estabelecimentos de prostituição se apresentavam como opções para todos os gostos, garantindo uma variedade de experiências para os visitantes mais ávidos por diversão. Marcus dirigiu-se determinado em direção a
Ao voltar para a fazenda, Marcus foi chamado para jantar na residência do chefe, Mariano Pedra Santa. Ele era um dos poucos a quem o líder permitia tão grande proximidade, o que fazia parte do disfarce de Marcus como o homem de confiança do bandido. No entanto, ao entrar na casa, Marcus se surpreendeu ao ver Pedra Santa visivelmente abatido. Aquela imagem contrastava com a habitual aura de poder e controle que o mafioso emanava, deixando Marcus inquieto sobre o que poderia estar acontecendo nos bastidores do império criminoso. O homem olhava fixamente para o copo à sua frente, balançando o líquido de cor âmbar. — Entre filho, você é bem-vindo à minha mesa! — Obrigado chefe, mandou me chamar? — perguntou, Marcus queria ver como estava a garota, no entanto, ali estava ele agindo como puxa-saco. — Desejei matá-la, sabe? Mas ela não me pertence mais. Em breve ela irá para longe de mim. — Pedra Santa parecia estar perdido em seus pensamentos, a bebida ainda não havia sido sorvida, como