Marcus Siegro era uma figura temida e respeitada, conhecida por sua frieza implacável e força inabalável, ocupando o posto mais alto sob o comando de Mariano Pedra Santa. Ao desembarcar do pequeno avião, sua presença imponente abria caminho entre os demais, e as portas pareciam ceder automaticamente à sua passagem, como se reconhecessem a autoridade que ele carregava. No entanto, esse status não lhe foi concedido facilmente; Marcus conquistara a confiança do chefe colombiano com sua lealdade inabalável e habilidades inigualáveis. Desde que salvou a vida de Mariano Pedra Santa em um momento crítico, ele ascendeu rapidamente na hierarquia do cartel, tornando-se a peça mais importante abaixo do próprio líder. Seu comprometimento com a causa e sua capacidade de realizar tarefas difíceis e perigosas o elevaram a esse posto de destaque, onde sua influência se estendia por todas as áreas operacionais da organização criminosa.
Apesar de sua reputação de homem desconfiado, Mariano confiava em Marcus como em poucos. Com o filho do chefe incapacitado após um atentado em Nova Iorque, muitos viam Marcus como o possível sucessor de Pedra Santa no comando do cartel. Sua posição era alvo de inveja para muitos, porém ninguém, dentro ou fora do cartel, ousava desafiar os desejos do poderoso líder colombiano. Marcus personificava sua fama: silencioso, desconfiado e extremamente violento, sempre vigilante em relação a tudo e todos. O chefe jamais dava um passo fora de sua propriedade sem que Marcus estivesse ao seu lado, pronto para agir em sua defesa. Marcus se tornara a sombra de Pedra Santa, um guardião implacável que protegia os interesses e a integridade do líder a todo custo. — Vamos buscá-la, disse o chefe com sua voz rouca lapidada por anos de charutos e cigarros.
— Sí! — Respondeu Marcus e os carros seguiram o seu destino.
O carro parou diante de uma modesta residência, e Marcus prontamente avançou para abrir o portão que conduzia às escadas. Pedra Santa seguia atrás dele, deixando escapar baforadas de seu charuto perfumado. Foi o próprio Pedra Santa quem bateu à porta. Pouco depois, uma jovem mulher latina, de cabelos negros, abriu-a. Seus olhos se arregalaram em choque ao ver os visitantes, e ela tentou fechar a porta novamente, gritando e implorando em espanhol, enquanto Marcus e Pedra Santa observavam com expressões inabaláveis.
— Por favor! Ela não sabe de nada, eu juro, Mariano. Não machuque minha filha, ela é só uma criança! — Rosa implorou com lágrimas nos olhos, tentando proteger sua filha a todo custo.
— Ah, minha querida Rosa! Há quanto tempo não nos vemos? — Mariano invadiu o espaço, seu corpo imponente bloqueando a porta enquanto ele confrontava Rosa. — Você realmente achou que poderia fugir de mim, após todos esses anos? Dos segredos que escondeu?
— Você a vendeu! Vai entregá-la àquele homem. Eu só queria protegê-la, Mariano, por favor, deixe minha filha em paz! — Rosa implorou, sua voz tremendo de medo e desespero.
— Conte-me, Rosa, onde está o que Sanches te deu antes de morrer? — Mariano exigiu, sua voz dura e implacável.
— Ele não me deu nada além de dinheiro, eu juro! — Rosa respondeu, sua expressão vazia, mas os olhos transbordando de angústia. Marcus percebeu que ou ela não sabia do que ele falava, ou era uma excelente mentirosa.
— Eu não acredito em você, Rosa. Mas seja o que for que ele te deu, não fará diferença agora! — Mariano gargalhou, um som sinistro ecoando pela sala.
— Levem-na para o quarto e certifiquem-se de que ela não está mentindo! — Mariano ordenou a um dos capangas, que arrastou Rosa para longe.
— Vamos nos divertir um pouco, Rosa? — Um dos capangas sussurrou, passando o cano da arma pelo rosto dela. Marcus avançou com fúria nos olhos.
— Se tocar nela assim, morrerá com ela. E será uma morte muito mais dolorosa, entendeu? Isso vale para todos! — Marcus rosnou, sua voz ecoando pela sala.
— Por que se importa tanto, Marcus? Ela não tem valor para mim, já está morta! — Mariano mostrou desinteresse pela sorte de Rosa.
— Não há necessidade disso, chefe. Além disso, ela não sabe de nada, seus olhos dizem isso! — Marcus interveio, sua expressão sombria.
— Você pode estar certo! — Mariano concordou, mostrando desinteresse pela mulher.
— Chefe, a garota já está aqui. — Marcus interrompeu com urgência, sua voz carregada de tensão.
— Tragam-nas para cá! — Mariano ordenou, sua expressão séria enquanto um dos homens saía para cumprir sua ordem.
— Por favor, Mariano! Leve-me, mas deixe minha filha em paz! — Rosa implorou aos prantos, suas palavras ecoando pelo ambiente enquanto era arrastada para longe.
Marcus observava a cena com uma frieza calculada, mantendo-se imóvel e imperturbável diante do desespero da mulher. Quando ela se lançou sobre Pedra Santa em um ato de desespero, ele a segurou com firmeza e a empurrou de volta ao chão, sem mostrar qualquer hesitação. Colocando-a em uma poltrona diante do chefe, Marcus permaneceu impassível enquanto ela suplicava.
— Por favor, deixe-a ir. Ela tem o seu sangue, não a faça viver essa tortura. — A voz da mulher estava repleta de angústia, implorando por misericórdia com um tremor palpável, como se cada palavra fosse um último esforço de esperança para salvar a filha.
— Cale-se, mulher estúpida! — Pedra Santa, irritado, desferiu um golpe violento contra ela, fazendo-a cair com um gemido abafado. Sob a ameaça de uma arma apontada para sua cabeça, ela esperava, com os olhos marejados, o retorno da filha. — Peguem a garota, vamos sair daqui.
No aeroporto privado, Marcus guiou a garota até o avião e a prendeu no assento com o cinto de segurança. Evitando encará-la nos olhos, uma onda de culpa o dominou. Ele conhecia muito bem o destino que aguardava aquela mulher e se sentia como um monstro por não ter sido capaz de detê-lo. As palavras ecoavam incessantemente em sua mente, como um lamento constante: "Você está aqui pelo Polonov. É por ele que você está aqui. Você o fará pagar por mais essa morte." Repetindo essas palavras para si mesmo enquanto encarava seu reflexo no espelho, Marcus não conseguia dissipar a culpa que o consumia.
— Assuma a responsabilidade por ela, Marcus. Ela é sua até ser entregue a Nirkov. Entendeu? — Pedra Santa ordenou com firmeza ao chegarem em sua residência.
— Sim, chefe, cuidarei disso. — Marcus respondeu, adentrando sua parte da casa. Era isso que ele desejava, não é mesmo? A garota não era fundamental para alcançar Sergey Polonov e cumprir as ordens de seu superior? Então, por que ele tinha a sensação de que algo estava errado?
Marcus ordenou que a garota fosse mantida no quarto, recebendo apenas as refeições necessárias. Ela precisava de seu tempo para o luto, e ele estava determinado a protegê-la desse momento tão delicado. Era o mínimo que podia fazer por ela naquele momento difícil. — Três anos. Três anos ainda nessa tortura. — pensou Marcus com tristeza. Nunca antes ele havia enfrentado uma missão tão longa, e a saudade de casa, dos pais, era o aspecto mais difícil de lidar.Ele dirigiu-se à academia, um lugar que sempre lhe oferecia refúgio. Marcus tinha o costume de treinar intensamente; era sua forma de manter-se concentrado na missão. No entanto, notava que conseguir voluntários para os treinos de luta estava se tornando cada vez mais complicado, pois alguém sempre acabava gravemente ferido. Marcus não era conhecido por pegar leve com bandidos, e ali, com certeza não havia mocinhos. — bando de inúteis! — resmungou optando por sair para uma corrida.Ao chegar ao final da trilha, ele olhou ao redor, t
Analú observava atentamente a movimentação tanto dentro quanto fora da casa. Ainda que confinada ao quarto, encontrava consolo na pequena sacada que lhe proporcionava vistas do sol poente e das estrelas despontando no céu noturno. Com um propósito determinado para aquela noite, ela fixou o olhar no carro que transportava seu guarda-costas e aquele homem que se recusava a chamar de pai. Notou que estavam de saída, acompanhados por pelo menos três veículos.Analú calculou que, talvez, poucos homens permanecessem na propriedade naquele momento. Reunindo toda a coragem que tinha, ela saiu do quarto improvisando uma corda resistente com os lençóis da cama, amarrando-a firmemente na grade da sacada. Sentindo-se sortuda, quando ninguém apareceu quando se se desequilibrou e caiu, como uma fruta madura, no chão abaixo. O som das vozes masculinas vindas de dentro da casa, acompanhadas por risadas altas, denunciou que um jogo de pôquer estava em pleno andamento. Analú sabia que precisava agir ra
Desde que chegara ao Vale Del Calca, Marcus tornou-se a sombra de Pedra Santa, nunca deixando o chefe desprotegido. Quando foi convocado para acompanhá-lo em uma reunião de negócios em Cali, sabia que seria uma ausência prolongada. Deixou a jovem aos cuidados dos homens encarregados da segurança da fazenda e da governanta da casa.— Como vai o progresso com a garota, Marcus — Pedra Santa perguntou, entre baforadas de seu charuto.— Teimosa e desafiadora, chefe. Mas está progredindo nos estudos e em breve a introduzirei aos negócios da família — respondeu Marcus.— Ótimo. Faça o que for necessário, apenas certifique-se de que ela não me cause problemas. Ela será fundamental para nossa aliança com o russo nos negócios — concluiu Pedra Santa.Marcus optou por não pressionar o assunto, sabendo que sua influência poderia impedir a união com o velho russo, algo que ele trabalhava arduamente para evitar. Ao chegarem ao local onde Pedra Santa era aguardado, ele se viu no centro das atenções.
Analú foi arrastada em direção ao escritório de Pedra Santa, ela entrou de cabeça erguida. Estaria pela segunda vez diante do responsável por todas as desgraças da sua vida, o homem que puxou o gatilho, o responsável pela morte de sua mãe. Ela não tinha medo dele, e se ele a matasse ainda assim seria um favor.— Sente-se! — ordenou com voz rouca.— Estou bem de pé! — declarou erguendo o queixo e olhando em seus olhos frios.— Sente-se! — repetiu mais uma vez, seu pai não estava disposto a ser ignorado desta vez.— Ou o quê? Você vai atirar em mim como fez com minha mãe? Faça isso, não temo menos a morte do que temo ter que olhar para você novamente. — Analú gritou lançando-se contra ele, mas seu pai a parou com a força de seu punho.— Quem você pensa ser para ousar me desafiar? Você é apenas uma criança bastarda. Ensinar-te-ei a nunca, jamais ousar a faltar com respeito a mim novamente. Rosa só saiu porque eu permiti, acha mesmo que eu não sabia o tempo todo onde vocês estavam?— Não
El Cairo, um município no Valle del Cauca, Colômbia, exibia-se modestamente com pouco mais de 9 mil habitantes. Seu encanto residia na arquitetura espanhola meticulosamente preservada, nas cores vibrantes que adornavam suas casas e estabelecimentos, e na natureza exuberante que abraçava suas fronteiras. Este cenário idílico atraía anualmente turistas e amantes do ecoturismo, seduzidos pela promessa de uma experiência única em meio a paisagens deslumbrantes. A principal atração cultural era a Festa do Retorno, um evento que atraía uma enxurrada de turistas para o vilarejo, inundando as ruas com uma energia efervescente. Nessas ocasiões, as casas de jogos de Mariano Pedra Santa transbordavam de visitantes em busca de diversão e entretenimento. Além disso, os clubes de jogos e os estabelecimentos de prostituição se apresentavam como opções para todos os gostos, garantindo uma variedade de experiências para os visitantes mais ávidos por diversão. Marcus dirigiu-se determinado em direção a
Ao voltar para a fazenda, Marcus foi chamado para jantar na residência do chefe, Mariano Pedra Santa. Ele era um dos poucos a quem o líder permitia tão grande proximidade, o que fazia parte do disfarce de Marcus como o homem de confiança do bandido. No entanto, ao entrar na casa, Marcus se surpreendeu ao ver Pedra Santa visivelmente abatido. Aquela imagem contrastava com a habitual aura de poder e controle que o mafioso emanava, deixando Marcus inquieto sobre o que poderia estar acontecendo nos bastidores do império criminoso. O homem olhava fixamente para o copo à sua frente, balançando o líquido de cor âmbar. — Entre filho, você é bem-vindo à minha mesa! — Obrigado chefe, mandou me chamar? — perguntou, Marcus queria ver como estava a garota, no entanto, ali estava ele agindo como puxa-saco. — Desejei matá-la, sabe? Mas ela não me pertence mais. Em breve ela irá para longe de mim. — Pedra Santa parecia estar perdido em seus pensamentos, a bebida ainda não havia sido sorvida, como
Marcus retornou à fazenda, determinado. Dirigiu-se diretamente ao quarto de Analú, sem dar atenção a quem cruzasse seu caminho. Nos olhos experientes da governanta, ele vislumbrava um conhecimento oculto, adquirido por anos de observação dos acontecimentos naquela propriedade. Consuelo sabia mais do que deixava transparecer; a velha governanta parecia ser a resposta para as muitas perguntas de Marcus. — Como ela está? — perguntou apontando para a garota dormia encolhida em sua cama. — Ela estaria bem se você não a tivesse entregado ao demônio — a mulher retrucou empurrando Marcus com o dedo, suas palavras estavam carregadas de fúria desafiando-o a contestá-la. — Já chega, Consuelo. Venha ao meu escritório agora! — interrompeu, ríspido, e a mulher saltou assustada. Ela o seguiu, tentando manter-se longe dele, e ficou ao lado da porta, recusando-se a entrar até que ele a ordenou. Suas mãos trêmulas dançavam ao redor de seu rosário; Marcus teria rido se a situação não fosse tão caótic
Em seu quarto, perdido em seus pensamentos, a mente de Marcus fervilhava com as novas informações. Entrou no banheiro aquecido; o duro inverno parecia ter chegado mais poderoso do que nunca. Ligou a água quente, deixando o vapor tomar conta do Box antes de entrar no chuveiro, permitindo que a água levasse seu cansaço, suas preocupações e o remorso que fazia seu peito doer. A imagem de Analú encolhida e machucada aos pés de Pedra Santa fez o seu sangue ferver em suas veias; a culpa o corroía. Ele bateu na parede do banheiro com os punhos repetidas vezes, sem se importar com a dor. — Juro por mim que ninguém vai te machucar novamente, eu os farei pagar por cada lágrima. — prometeu silenciosamente. Marcus saiu do banho com uma minúscula toalha pendendo da sua cintura, ele parou diante da janela observando através do vidro a escuridão lá fora. Ele pressentiu o invasor e saltou rapidamente em direção a sua arma na mesa de cabeceira. — Analú? O que houve você está bem? Como entrou aqui?