Quando olhei para o lado, percebi o motivo dela sorrir assim tão alegremente. Ele se esgueirava entre um bando de alunos e se aproximava de nós. Senti um sorriso nervoso se prostrar em meus lábios. Só não podia falar algo estúpido – o que acontecia na maioria das vezes em que ele estava perto.
- Pequena Marcela! – sorriu quando chegou perto, abrindo os braços para me receber em um abraço. Aquilo era sério? Belisquem-me! Eu juro que me arriscaria a caber entre aqueles braços saudosos sem o empurrão de Gaya.
Era, sem dúvida, o melhor abraço de todos. O seu perfume entrava em meu sistema, abalando os meus pensamentos e o meu coração que começava a seguir um caminho de arritmia que eu não sabia se teria volta – ou se queria voltar para qualquer lugar que não fosse ali.
Fazia quanto tempo que eu não o via? Uns 3 anos? Sim, sim, desde que ele se mudara para a cidade vizinha.
Normalmente, ele e Rick se viam esporadicamente, mas normalmente eu, a irmã pirralha de Frederick, não era muito inclusa nos... Encontros. Certo, eu não queria saber o que ele estava fazendo ali, mas tinha a necessidade de saber se ele permaneceria dessa vez.
- Ou não tão pequena assim. – ele falou soltando-me, mas não se afastando. Aquela falta de distância era maravilhosa. – Os três anos te fizeram muito bem, Mads. – eu me senti morrer naquelas palavras enquanto ele sorria com graça.
Duas meninas passaram por nós bem mais animadas do que Gaya – o que me parecia algo impossível até então.
Elas pareciam eufóricas com os seus horários em mãos e eu me perguntava o que tinha demais em algumas aulas de cálculo e química – não que desgostasse das matérias, mas elas não passavam disso, afinal.
Pude ouvir de relance, mesmo que passassem rapidamente, algo como “ele é perfeito” e ainda “ele vai ser meu até o final do semestre”, o que foi acompanhado por uma bateria de risadas ao estilo hiena com dor de estômago. Não sabia o motivo de não ter muitos amigos, mas tinha quase certeza que era por minha ligeira intolerância.
- O professor Morris. – rolou os olhos. – Ele tem várias fãs. – ele deu de ombros enquanto eu sorria do jeito que ele falava. Droga, por que tinha de ser tão bonito?
- Rick já sabe que está aqui? – eu dei mais uma passo na fila enquanto ele espremia os olhos, como se pensasse em uma resposta. Eu não sabia porque o tinha perguntado. Como melhores amigos, é claro que sabia. Por que não tinha me contado? Certo, podemos mudar a pergunta. Por que não casa comigo, Liam?
- Isso é complicado, pequena Mads. – ele riu sem humor. – Não é o primeiro ano que estou aqui, Marcela. – ele deu de ombros. Como assim? Acho que pela minha cara de ponto de interrogação, ele resolveu explicar. – Eu voltei há um ano, mais ou menos. Mas eu e seu irmão... É complicado, sabe? – ele fez careta. Eu continuei a encará-lo. – Nós brigamos por algo muito besta, mas ele pareceu não desculpar.
- Hm. – eu estava chateada. Talvez eu devesse esmurrar Rick por brigar com ele e me impedir de vê-lo. Ele merecia alguns tapas. – Vocês eram tão amigos...
- Bem, não se chateie com isso. – ele deu de ombros. – Faculdade, é? – sim, Liam, eu não estava mais na quarta série, sabia?
- Química. – eu falei feliz e ele sorriu, animado.
- Vai ser bom te ter por aqui, pequena Mads. Eu senti saudades. – sério? Certo, Marcela, lembre-se de como respirar.
Uma menina veio perguntar alguma coisa para ele que teve que se despedir de mim com um singelo “Nos vemos por aí” para auxiliá-la. Sei, dúvidas, não? Não precisava alisar tanto o braço dele para ter sua dúvida resolvida, sério.
Oferecida!
Demoramos mais alguns minutos – diga-se de passagem, que foram muitos – na fila antes de pegar os nossos horários. Eu estava espumando por causa da menina que se jogava sobre o meu príncipe encantado fujão e não melhorou quando soube que não eram todas as aulas que eu e Gy tínhamos juntas, o que me deixava um tanto insatisfeita – a quebra de hábitos para mim era uma droga.
Como ainda faltavam alguns minutos para as aulas, tivemos tempo para achar a nossa sala sem problema algum.
Era grande. Uma sala no estilo auditório estava a nossa frente. Gaya entrou sem muito pensar, levando-me com ela.
Ela andou até a segunda fileira e se sentou em uma das primeiras cadeiras perto da saída para o corredor. Ela começou a tagarelar cruzando os nossos horários com interesse. Eu tentava seguir a sua linha de raciocínio – juro que tentava –, mas era difícil acompanhar a sua animação. Eu apenas abri os meus cadernos e me mantive a olhar para a frente, esperando que eu não dormisse. Eu estava me sentindo um pouco letárgica e estava xingando mentalmente o meu irmão – não só por me acordar com a sua música alta, mas por ter brigado por um motivo idiota com Liam Harrison.
Logo a sala estava cheia e eu nem mesmo tinha percebido. Não demorou para que o professor entrasse na sala.
Ele encheu a lousa rapidamente e depois apenas começou a falar, sem deixar muito tempo nem para que pensássemos. A aula era de Cálculo e o assunto, interessante, mesmo que o professor Rogers não fosse um tipo exatamente didático. A sua aula não demorou para passar e fiquei feliz por ter conseguido acompanhar a sua linha de raciocínio enquanto alguns outros tinham um grande ponto de interrogação estampado nos rostos.
Bem, números nunca tinham sido os meus problemas – o que não posso dizer de História, exatamente. E eu realmente tinha certeza de que seria um semestre bem tranquilo naquela parte, ao menos, o que me deixava, de certa forma, aliviada.
Nós não demoramos muito para deixar a sala e nos lançamos ao tumulto que era a porta. Já era hora do intervalo e todos pareciam terrivelmente ouriçados. Saindo para o corredor, a situação não melhorou muito – na verdade, piorou dez vezes, mas não podia dizer algo assim senão seria considerada ranzinza, mesmo sendo verdade.
Com muito esforço conseguimos chegar ao refeitório que, adivinhem, também estava cheio. As mesas lotadas, vários corpos de lá para cá, muitos falando ao mesmo tempo. Eu não era o tipo ideal para participar de multidões. No fundo do refeitório, em uma mesa vazia, estava Liam que acenava para nós.
Eu senti meu coração disparar enquanto Gaya sorria e me guinchava até lá. Ele tinha a sua frente três pratos de pizza e mostrava para nós duas, as cadeiras, indicando que era para que sentássemos, enquanto ele mordia uma pizza de mozarela. Gaya foi logo se sentando e eu fiz o mesmo, puxando a cadeira perto dele.
- A pizza de mozarela é a única coisa que presta daqui. – falou depois de engolir o pedaço que mastigava e nos entregando os pratos com os pedaços.
- Não precisava... – sorriu e rolou os olhos, como se dissesse que não era nada. Eu dei uma mordida na pizza e até que não era ruim.
- E então, o que acharam da primeira aula? – ele perguntou animado. – Ah, sou Liam Harrison. – ele estendeu a mão para Gaya. É claro que ela já sabia tudo sobre ele, afinal, eu tinha contado há muito tempo.
- Gaya Flynn. – ela apertou a sua mão com um meio sorriso. Eu bem sabia que ela podia traçar um perfil completo dele se bem quisesse. – Nós achamos bem legal, certo Mads? – ela falou e eu concordei com a cabeça. Eu estava babando?
Ela perguntou para ele como tinha sido na outra faculdade e ele começou uma conversa animada. Eu passei praticamente todo o meu intervalo o observando e vendo que eu senti falta dele, mesmo que eu nunca o tivesse realmente tido. Ele parecia se esforçar para me incluir na conversa e eu me esforçava para não me alterar muito.
Eu sei que meu coração parecia não querer voltar ao normal.
O sinal bateu, tirando-nos de um assunto agradável. Tirando-o de mim. Todos começaram a se movimentar para ir para suas aulas, transformando o que tinha quase se aquietado há alguns minutos em um formigueiro novamente. Eu já me sentia com dor de cabeça por ter que entrar na muvuca mais uma vez.
- O que vocês têm agora? – ele perguntou curioso. Gaya remexeu nos bolsos e tirou o seu horário já amassado.
- Química laboratorial. – ela falou animada, enquanto se levantava.
- Professor Morris? – ele perguntou e ela acenou com a cabeça. Ele fez careta. – eu continuei a olhá-lo, a tentar entender. – Vocês mesmo vão ver.
Ele se levantou também e saiu conosco do refeitório – com ele abrindo o caminho ficou bem mais fácil. Ele nos levou até a parte leste do prédio em que estávamos. Tivemos que descer dois lances de escadas e andar por mais um corredor. A sala ficava no final do mesmo e já estava de porta fechada – de fato, estávamos atrasadas.
Ele bateu na porta e demorou alguns minutos para que ela fosse aberta. De dentro da sala, saía um Deus Grego.
Eu senti o meu coração vibrar e minha boca se entreabrir em um choque mudo. Patético, mas motivado. Nunca tinha visto alguém tão bonito em toda a minha vida – a não ser em revistas, filmes e passarelas.
- Professor... – Liam falou rancoroso. Certo, aquilo seria... Muito esquisito.
Ele era alto e corpulento, com músculos que faziam certo relevo em sua camisa social preta que contrastava com sua pele clara – era uma visão e tanto. Os seus olhos eram de um azul piscina incrivelmente bonito, mesmo que parecessem um pouco distantes, meio frios para ser mais exata. Não sabia o que estava passando por minha mente, mas havia alguma força invisível que me impedia de afastar os meus olhos dos seus, como se considerasse tal feito uma falha ou um dos maiores pecados.Seus cabelos compridos eram de um desalinhado delicioso de castanho claro e pareciam propositadamente bagunçados. Eu me perguntava o motivo de minha mão desejar tocá-los, sentir a textura entre meus dedos ávidos que se embolariam em seu pescoço durante um beijo voraz. A sua expressão em meio aos seus traços finos e desenhados com a perfeição de um mestre das artes, parecia tão gelada como um
Aquilo era pior que tortura. Eu acabaria contando o que fosse que ele quisesse se ele continuasse a me olhar daquele jeito.- Hm. – ele pareceu pensar. – Saiba que eu não admito conversas paralelas em minha aula, White. – ele falou seco.Ele parecia ter mudado da água para o vinho e não imaginava o que tinha perdido no meio do caminho. Ele parecia bruto agora, como se tivesse mudado de opinião sobre ser como era. Outras perguntas foram feitas e ele as respondeu da mesma forma desenvolta. Ele era bipolar, tinha um sério distúrbio de personalidade dupla ou ainda o som de outra voz senão a dele o irritava? De qualquer forma, achei melhor não me expressar mais sobre a “biscatisse” – sim, elas tinham uma nova palavra – das meninas daquela sala. Um menu e tanto para ele, claro.Quando as perguntas enfim cessaram,
O sinal do final da aula soou, tirando-me de meus devaneios enquanto eu o via estudar os vários papéis que espalhara sobre a mesa. Aparentemente, Liam já queria começar com todo o ânimo, afinal, o ano letivo nem tinha começado para ele e eu já o via debruçado em vários e vários relatórios.- O seu tormento acabou, Mads. – ele falou enquanto recolhia os papéis. Tinha ficado ali por todo o resto da aula da qual fui tirada sem motivo algum, tendo ainda que esperar a minha mãe para me buscar, o que me lembrava que ir de carro era uma opção viável e agradável.Ele se levantou junto comigo e me acompanhou até a saída do refeitório. Olhei para o corredor cheio de gente, com pessoas indo de lá para cá, rindo de coisas bobas e ainda conversando com alguém a dez metros de
- Bem, não espero muitos problemas com relação a isso. Elas costumam tirar boas notas. – claro, todas dormiam com ele mesmo. Sim, eu estava atônita ainda. – É, tudo muda. – fitava as minhas mãos como se elas estivessem diferentes. Não estavam. De fato, se ousasse fita-lo, acho que encararia a marca bem definida que logo ficaria púrpura com uma expressão total de repreensão e nojo. Para alguém que não parecia ser muito meu fã, não era um bom movimento. – Nunca imaginei que passaria tanto tempo em um laboratório de Química.- Seria interessante ver essa mudança. – minha mãe riu, animadamente. O que tinham colocado em seu café?Drogas? – Tenho certeza que você é ótimo no que faz, querido. Você era muito dedicado ao que gostava. – como um estalo ela pareceu se tocar da palavra
Três dias depoisOs outros dias tinham se passado tranquilamente. Os meus outros professores eram tranquilos e bons no que faziam. Já tinha uma tonelada de trabalhos para fazer, o que ditava que o ritmo ali seria alucinante e bem diferente da época do colégio – eu já sentia falta dos trabalhos em grupos de dez, sério.Liam não tinha mais ido naquela semana e eu acreditei que só o tinha feito no primeiro dia para ajudar os novatos. Era péssimo. Como se já tivesse se acostumado a tê-lo por perto mais uma vez, eu parecia frustrada toda vez que eu entrava naquele refeitório e não o via na mesa mais ao canto. Bem, eu estava sendo grudenta, eu sei.Mas deixando Liam de lado, agora eu estava frente ao laboratório de Química sem saber o que fazer a seguir.Para piorar tudo, à
- Bem, não vou estragar meu dia por causa de alguém como ele. – falei quase determinada, enquanto observava a minha casa a menos de uma quadra.- Se eu fosse você, não estragaria mesmo. – ela falou em meio a devaneios.Eu só entendi o que queria dizer quando a vi acenando para alguém que estava encostado junto a um carro parado em frente a minha casa. Eu senti o meu corpo se aquecer em uma animação muda quando percebi que era Liam. Sim, era tudo que eu precisava para deixar meu dia alegre.As passadas foram se tornando compridas – porque não seria legal correr até ele – até chegar a minha casa e, consequentemente a ele. Ele me abraçou apertado como se fizesse tempos que não nos víamos e eu me perguntei desde quando éramos tão próximos, mesmo que eu não esti
Uma semana depoisE aqui estava eu, à sombra de uma das árvores mais longes no estacionamento, enroscada em seu abraço gostoso. Era impressionante como eu podia sentir falta dos momentos que nunca antes tinha tido, como se passar mais algum segundo de minha vida sem aquele pedacinho de paraíso fosse o maior sacrilégio de todos.- Não é um lugar muito inteligente para nos agarrarmos, sabe Maddie? – ele riu enquanto colocava o meu cabelo para trás de minha orelha. – Se o que dizem sobre o melhor esconderijo ser à vista de todos, então estamos mesmo fazendo isso certo.- Está com medo de Rick, Li? – eu pirracei e recebei um rolar de olhos de volta.- Bem, meu olho roxo ainda dói, sabe? – ele deu de ombros e eu ri, passando os meus dedos pelo local ainda meio arroxeado. Os &oacut
Eu não merecia aquilo! Tinha um alvo em minhas costas? Eu tenho certeza que minha passagem para o céu estava garantida, então tinha o direito de expressar minha revoltada e manda-lo para um lugar desagradável? Eu esperava que sim, afinal, minha mente já não respondia aos meus comandos antes de amaldiçoá-lo.- Engula seus pontos de presença, Samuel. – eu falei irada e dei as costas para ele. Eu quase podia afirmar que em seu rosto bonito surgira um meio sorriso.Não sabia como alguém podia ter prazer em azucrinar tanto a vida do outro, mas, com certeza, tornar a minha vida um inferno era o melhor passatempo dele. Ele parecia gostar, fazer até de propósito. Sério, ele não tinha mais nada para fazer na vida não? Se me livrasse de seu comportamento bizarro, que ficasse à vontade em olhar os decotes alheios, dar em cima das alunas ou fazer qualquer co