04

Ele era alto e corpulento, com músculos que faziam certo relevo em sua camisa social preta que contrastava com sua pele clara – era uma visão e tanto. Os seus olhos eram de um azul piscina incrivelmente bonito, mesmo que parecessem um pouco distantes, meio frios para ser mais exata. Não sabia o que estava passando por minha mente, mas havia alguma força invisível que me impedia de afastar os meus olhos dos seus, como se considerasse tal feito uma falha ou um dos maiores pecados.

Seus cabelos compridos eram de um desalinhado delicioso de castanho claro e pareciam propositadamente bagunçados. Eu me perguntava o motivo de minha mão desejar tocá-los, sentir a textura entre meus dedos ávidos que se embolariam em seu pescoço durante um beijo voraz. A sua expressão em meio aos seus traços finos e desenhados com a perfeição de um mestre das artes, parecia tão gelada como um iceberg – e eu via a hora em que eu iria naufragar se continuasse a encara-lo do jeito que estava –, o que me deixava curiosa para descobrir seu sorriso. Eu ansiava por ver um sorriso em meio aos seus lábios finos, os quais imaginei me beijando milhões de vezes apenas naqueles segundos.

Eu não era assim! Havia alguma coisa nele que me desconcertava, que me desestabilizava. Apostei afastar meu olhar do dele que parecia me retribuir de forma curiosa – já que parecia fissurada demais – e observei as primeiras bancadas repletas de garotas. Eu me senti sorrindo quase aliviada ao saber que ele não causava aquele efeito apenas em mim. Todas pareciam imersas em seu mundo, como dentro de sua bolha particular, focando o olhar em todos os seus míseros movimentos.

Graças aos santos que eu gostava de Química, afinal não acreditava que seria a arte mais fácil me concentrar com um homem daquele tipo me ensinando reações. A imagem fez com que o meu corpo se retesasse enquanto eu me sentia prender o suspiro. Oh well, eu nunca tinha imaginado o quanto eu gostava da imagem de um homem bonito dentro de um jaleco.

- Olha o que o garotinho insolente me trouxe. – ele riu irônico. A sua voz me fez tremer, como se uma corrente elétrica passasse por meu corpo desobediente que não sabia se controlar. – Presentes. – eu jurei que podia ouvir o barulho do maxilar de Liam se trincando enquanto o mesmo era abafado pela aceleração desesperada de meu coração. – Acho que nossa relação será até melhor a partir de agora, pequeno Harrison. Eu posso até mesmo te dar uma chance... – ele tinha a voz provocativa.

- Não seja um bastardo, Samuel. – Liam alterou o tom de voz, evidentemente irritado. Eu não o tinha visto daquele jeito antes e não imaginava o motivo de o fazer justo com um professor. – Juro que se você se meter a esperto com minhas amigas, eu acabo com você, ouviu bem? – o exemplar perfeito de Deus Grego sorriu com uma graça que só ele via. Certo, era uma séria doença achar graça numa ameaça. Eu não acharia, mesmo imaginando Liam como a pessoa mais adorável e mais incapaz de ameaçar alguém na face do planeta Terra.

- Claro, Harrison. – ele riu irônico, mas logo endureceu a expressão. – Tome o seu lugar, garoto. Eu não gosto de ameaças. – Liam abriu a boca para responder, mas o professor Morris foi mais rápido. Seu recado já estava dado, de qualquer forma. – Entrem, por favor, meninas. – ele fez menção para dentro da sala. Gy me lançou um olhar significativo e eu quase o li. Ela também parecia bem interessada no professor terrivelmente bonito e pouco ortodoxo.

Ele fechou a porta com Liam ainda ali, o olhando de modo descontente – na verdade, parecia que aquele olhar ficaria para sempre no rosto dele –, e voltou para a sua mesa como se não tivesse sido interrompido. Via muitas meninas na sala babando pelo professor que me parecia um tanto... Cínico. Pequenas mentiras são saudáveis quando você não entende a linguagem de seu próprio corpo que parece afobado demais. Eu não queria admitir que eu tinha muitas outras palavras a seu respeito.

Ele deu a volta em sua mesa e se sentou sobre ela, passando seu olhar por nós. Ele permaneceu com o olhar parado por um bom tempo em minha mesa – uma bem ao fundo já que todas as da frente pareciam ocupadas por toda a população feminina da sala –, enquanto eu me sentia ficar nervosa, quase sem ar. Ele sorriu satisfeito e me perguntei se eu estava demonstrando tanto assim. Certo, eu definitivamente deveria estar mostrando mais do que deveria, mas nada se comparava ao decote da menina na primeira bancada – para o qual o professor Morris desviou os seus olhos bonitos de azul a seguir.

Retiro o que disse. Era muita animação para um primeiro dia.

- Como eu estava falando, – ele sorriu magnificamente. O seu sorriso era ainda mais bonito do que eu imaginara e eu me sentia arfar. – Sou o professor Samuel Morris e lecionarei as aulas de Química laboratorial. – falou calmamente. – Saibam que o laboratório nunca está fechado para aulas de reforço ou ainda alguma – ele pareceu raspar a garganta, antes de deixar um sorrisinho se espreitar por seus lábios. Um sorriso maroto onde li diversas segundas intenções. – ajuda. – ele não parecia um mau professor, apesar de estimular demais meus pensamentos maliciosos. Não sabia qual era o problema com Liam, mas não via nada demais até então. Quer dizer, o professor tinha tido um comportamento bem diferente do recomendado para a relação professor-aluno para com Liam, assim como o próprio Liam, mas eu não podia julgar se não sabia o que tinha acontecido. – Alguma dúvida?

Uma loira que sentava na primeira fileira levantou a mão entusiasticamente. Ela tinha os cabelos notavelmente tingidos esticados bem compridos – tanto que nem podia ver onde terminava, sendo que as mesas a escondiam parcialmente. Ela tinha os olhos bem verdes e grandes que pareciam bem expressivos – agora, por exemplo, pareciam engoli-lo – e um sorriso bem branco e galanteador – de biscate, na verdade.

- Diga, senhorita... – ele começou.

- Mia Laurence. – o cortou, animada. Ele concordou com a cabeça. – Só queria saber se o senhor tem namorada professor. – Sério? Tinha como ser mais descarada?

- Na verdade, não. – ele falou caindo no seu joguinho de cobra pronta para dar o bote. Bem, ele não parecia fazer o tipo bobo, então eu tinha quase certeza de que ele sabia bem a sua intenção. E quando passou os olhos pelo decote fato da garota oferecida, soube bem que ele compactuava com aquilo. Já podia imaginar a cena dos dois na sala dele naquele dia mais tarde, o que fazia meu estômago se enjoar.

- E gostaria de ter? – perguntou com a voz sedutora. Ok, em algum universo, aquilo deveria ser uma voz sedutora. Era um pouco impossível ver algo sedutor na voz de taquara rachada da menina que mais parecia uma lhama mascando o chiclete. Ew!

- Não é um assunto ideal para se ter aqui, não acha Mia? – ele sim era sedutor. Eu cheguei a arfar com sua voz grave. Eu era muito boba mesmo. A menina deixou um sorriso satisfeito habitar seus lábios. Aquilo parecia soar como vitória e tinha certeza que aquela conversa continuaria mais tarde. Ou não, já que eu podia imaginar que não haveria tempo para palavras. Isso, Marcela, torture-se com essas imagens mentais. – E então, alguma outra pergunta?

Na verdade, não era de se espantar, afinal ele era o que todo conceito geral diria de um símbolo sexual, um deus da beleza, então era previsível que muitas alunas ficassem atrás dele. E certo, não me espantava nem um pouco que ele jogasse aquele jogo. Ele podia ter quem quisesse – não era algo difícil de perceber – e não via como poderia não ter algumas alunas como passatempo. O motivo daquilo não me enjoar e a minha expectativa de poder comprovar a minha teoria que eram um mistério.

Mais algumas foram lançadas, tanto pessoais demais quanto impessoais sobre a matéria e modo de avaliação.

Senti-me feliz quando soube que seria por relatórios das aulas, o que me faria prestar menos atenção ao professor e mais à matéria – ou assim eu esperava, já que não desejava “bombar” na matéria.

Estou dizendo, meu corpo já parecia falar sozinho. Eu nunca tinha tido aqueles tipos de pensamentos por tanto tempo assim. Eu não era daquele tipo, do tipo que Mia Laurence parecia ser, mas parecia inegável que ele despertasse instintos estranhos em mim – e acho que em todas as mulheres normais na face da Terra.

- Oferecidas. – comentei baixo com Gaya após mais uma bateria de perguntas pessoais que perguntavam até mesmo o seu telefone e endereço. Gaya rolou os seus olhos e concordou com a cabeça.

- Alguma dúvida, senhorita... – eu fiquei quieta, esperando que alguém o respondesse. Com aquilo, já tinha aprendido a maior parte dia nomes da população feminina da sala. Quando ninguém o respondeu, ergui meus olhos para procurar o tapado que demorava e me surpreendi ao ver que ele tinha os dele sobre mim. Ele tinha percebido minha movimentação? Certo, ele era ninja, tinha audição de morcego ou coisa do tipo? Quando o cara dá para ser bom em tudo...

- White. Marcela White. – eu falei rápido, esperando profundamente que eu não gaguejasse. Nossa, que momento James Bond da minha parte. Ele me encarou por mais alguns segundos, como se então estivesse pensativo.

– Não, senhor, não tenho nenhuma dúvida, professor Morris. Era só um comentário entre amigas. – falei meio sem jeito com seus olhos sobre mim.

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