O sinal do final da aula soou, tirando-me de meus devaneios enquanto eu o via estudar os vários papéis que espalhara sobre a mesa. Aparentemente, Liam já queria começar com todo o ânimo, afinal, o ano letivo nem tinha começado para ele e eu já o via debruçado em vários e vários relatórios.
- O seu tormento acabou, Mads. – ele falou enquanto recolhia os papéis. Tinha ficado ali por todo o resto da aula da qual fui tirada sem motivo algum, tendo ainda que esperar a minha mãe para me buscar, o que me lembrava que ir de carro era uma opção viável e agradável.
Ele se levantou junto comigo e me acompanhou até a saída do refeitório. Olhei para o corredor cheio de gente, com pessoas indo de lá para cá, rindo de coisas bobas e ainda conversando com alguém a dez metros de distância como se esse estivesse ao seu lado, e me bateu um sério desânimo.
Já colocou fogo em um formigueiro? As formigas com a sua casa destruída e incendiada tinham o mesmo comportamento alvoroçado. Não estava preparada para enfrentar aquele mar de gente outra vez. Os ânimos pareciam ainda mais alterados pelo fim do dia letivo e as formigas pareciam confusas, alvoroçadas. Na verdade, eu não sabia o que os deixava mais agitados, o começou o fim do dia naquele lugar.
Aproveitei a deixa de Liam que ia logo a minha frente e o segui de perto para poder sair sem muito esforço.
Selvagens, isso que eram! Nós chegamos à saída em poucos minutos e eu ergui o meu corpo, colocando-me sob as pontas de meus pés tentando procurar Gaya no meio da multidão.
É claro que eu não tive muito sucesso – o que não quer dizer que seja pela minha altura não muito favorecida.
Eu sabia que ela não ficaria satisfeita se eu fosse embora sem me despedir ou ainda expressar a minha revolta sobre um determinado professor fascinante que era também muito irritante. Na verdade, tinha certeza que o seu assunto do dia seria o tal do professor Morris e não sabia se estava pronta para ouvir. O cara dormia com as alunas – não que antes esse incrível conclusão me afetasse – e ainda parecia ter algo contra mim. Logo no primeiro dia eu já conquistava fãs, impressionante.
Eu observei o carro de minha mãe ao longe, lutando para estacionar junto à guia. Ela buzinou para mim e eu suspirei pensando na bronca que levaria de Gy no dia seguinte – eu estava considerando faltar à aula, até. Eu não gostaria de ver aquele meio metro de gente bravo, não mesmo. Liam percebeu minha movimentação e se despediu com um beijo em minha bochecha antes de ir ao carro estacionado um pouco ao longe no estacionamento.
Rendida – como se eu quisesse ouvir mais alguma coisa do professor Morris hoje –, andei rapidamente, pelo menos o mais rápido que as pessoas em meu caminho permitiam, e entrei no carro já parado junto à guia – uma chance única. Minha mãe me cumprimentou animada enquanto perguntava como tinha sido meu primeiro dia e tentava sair do lugar com o carro, mesmo que a fila de carros ao lado não permitisse. Eu não estava exatamente eufórica em minhas respostas, para falar a verdade.
“Mãe, eu descobri que tenho um professor de laboratório que é extremamente sedutor e, aparentemente, um idiota.” Será que ela ficaria feliz com meu resumo do dia? Era depressivo que eu resumisse meu dia a ele. Eu podia falar de Liam também. Seria bem mais interessante voltar a minha paixão platônica e deixar o professor longe de meus pensamentos – tanto quando eles eram ruins, quanto quando eram bons.
Certo, depois de cinco minutos ali naquele lengalenga, eu estava achando a ideia de vir de ônibus extremamente sedutora. Adorável para falar a verdade. Eu a colocaria em prática assim que eu pudesse, tinha certeza. Nós estávamos mais tempo paradas ali do que se eu tivesse ido para casa a pé.
Bem, deixando a minha revolta de lado e voltando a falar em sedutor... O professor Morris saía apressado do prédio com umas pastas em mãos e um sorrisinho irritantemente bonito no rosto. O seu cabelo estava ainda mais bagunçado e a gola de sua camisa social preta parecia desarrumada propositadamente. Ou ele estava brincando de Conde Drácula ou escondia algo sob o pano.
A minha mãe começou a buzinar loucamente e imaginei que ela estava estressada com o trânsito. Não era difícil vê-la perder a paciência. Na verdade, tinha sido o motivo alegado por meu pai para a separação. Sim, sim, que bizarro.
Não era bem mais fácil falar que não estava mais dando certo do que alegar que a outra pessoa era um tanto “explosiva” demais?
Mas não era o trânsito. E se eu tivesse tirado os meus olhos dele, olhos tais que o seguiam como polos opostos de um imã – que não era algo tão novo quanto deveria –, eu teria percebido exatamente o motivo de sua ligeira careta e depois o seu rápido sorriso – exatamente assim, no maior estilo bipolar. E teria realmente entendido o motivo dele estar se aproximando de meu carro, mesmo que esse fosse desesperador.
Olhei para minha mãe, incrédula. Ela acenava energicamente para o meu professor. Em que lugar do universo eu tinha sido jogada? Que tipo de mundo paralelo e bizarro era aquele? Certo, não havia nem tido reunião de pais e mestres para que aquele momento constrangedor ocorresse. O que estava acontecendo ao meu redor? Era um pesadelo? Alguém me acorda?
O homem incrivelmente lindo, quero dizer, o professor Morris andou pela entrada como se fosse um rei, sem a menor dificuldade que eu tivera – talvez fosse um complô do universo, vai saber. Ele se debruçou em meu vidro como se apenas estivesse com preguiça para dar a volta e falar direto com minha mãe e olhou para dentro do carro. Seus olhos recaíram sobre mim por alguns segundos e me senti tremer pouco – mentira, eu sentia cada parte de mim morrendo – antes dele desviar os olhos para a minha mãe. Na verdade, agora ele sustentava um sorriso que iluminaria até mesmo o céu da noite mais escura e sem lua.
- Olha o que o vento trouxe. – a minha mãe cantarolou, mais feliz impossível. – Samuel Morris, há quanto tempo, querido. Como você está diferente...
- Olá Emma – ele a cumprimentou de volta. Eu me sentia engasgar.
A imagem do adolescente magrelo veio em minha cabeça e não se conectou de modo algum com o adulto deslumbrante. O aparelho dental, as milhões de espinhas que pareciam vulcões em plena atividade na pele extremamente pálida. Os cabelos curtos e batidinhos, no melhor estilo mauricinho.
É claro que eu já tinha visto aqueles olhos antes. Eu não esperava vê-lo tão crescido – na verdade, nem o esperava ver novamente –, mas se eu observasse bem ao fundo dos olhos bem azuis que pareciam agora tão capazes de hipnotizar qualquer um, ia encontrar o mesmo garoto que um dia encontrei, que um dia idolatrei e amei.
Eu tinha pouco mais de oito anos quando ele foi embora. Estudar fora do país, fazer uma pós ou sei lá o que, foi o que os seus pais disseram quando ele partira sem se despedir. Um choque. Lembrava-me dele em cada parte daqueles meus oito anos, sempre rodeando-me, sempre sendo mais um irmão para mim. Ele tinha sido criado a vida toda em minha casa. Filho dos melhores amigos de meus pais, de meus padrinhos.
Bass, meu querido Bass. Como eu pudera me esquecer? Já fazia tanto tempo assim? Era certo que o nosso contato com a família Morris tinha diminuído com o tempo, mas eu ainda o tinha como exemplo, certo? Quando eu tinha oito, ser um dia como ele era tudo que eu almejava. E há tanto, ele parecia ter caído no esquecimento. Como eu pudera? Tinha sido apenas como os meus ursinhos de pelúcia que pegavam pó no sótão de minha casa? Eu nem me dera ao trabalho de lembrar ao ver os seus olhos? Ele o tinha feito?
- Não sabia que tinha voltado, Samuel. – minha mãe falou animada. – Eu sinto falta daquele tempo. – riu entristecida. – Maddie nem deve se lembrar, era tão pequena... – senti-me corar, tendo seus olhos recaindo sobre mim de novo. Lembrava-me tão vagamente que parecia ter sido em outra vida. Ele também teria esquecido? – Mas acho que se lembra. Ela idolatrava você. Chorou por dias quando foi embora.
- Mãe... – esbravejei, mas saiu como um gemido de dor. Era uma verdade, mas agora, o meu professor que aparentemente tinha algo contra mim não precisava saber. – Não acho que o professor Morris esteja interessado em nostalgia.
- Professor? – ele concordou com a sua cabeça, como se não tivesse espaço para falar e eu abaixei meu olhar. – Você em uma sala de aula? – riu como se fosse a melhor das piadas. – Você gostava de fugir delas, se bem me lembro. – ele sorriu genuinamente. Por que era tão difícil me manter sã ali? – Deve ser um pouco difícil para as suas alunas tirarem boas notas com você as distraindo. – alguém oferece uma bola de algodão para minha mãe colocar na boca e parar o disparo de perguntas? Eu me senti afundar no banco, envergonhada. Sim, mãe, era mesmo difícil.
Ele riu com gosto. Oh certo, por que tinha de ser tão... Miraculosamente bonito? A minha mente não conseguiria lidar com aquilo. Eu ergui meus olhos para observar aquele seu movimento tão desenvolto e me deparei com uma marca em vermelho. Um chupão? Por que na minha cabeça vinha a imagem de Mia Laurence? Será que eu era adivinha? Ew, nojento! – para ele e não para ela, claro.
- Bem, não espero muitos problemas com relação a isso. Elas costumam tirar boas notas. – claro, todas dormiam com ele mesmo. Sim, eu estava atônita ainda. – É, tudo muda. – fitava as minhas mãos como se elas estivessem diferentes. Não estavam. De fato, se ousasse fita-lo, acho que encararia a marca bem definida que logo ficaria púrpura com uma expressão total de repreensão e nojo. Para alguém que não parecia ser muito meu fã, não era um bom movimento. – Nunca imaginei que passaria tanto tempo em um laboratório de Química.- Seria interessante ver essa mudança. – minha mãe riu, animadamente. O que tinham colocado em seu café?Drogas? – Tenho certeza que você é ótimo no que faz, querido. Você era muito dedicado ao que gostava. – como um estalo ela pareceu se tocar da palavra
Três dias depoisOs outros dias tinham se passado tranquilamente. Os meus outros professores eram tranquilos e bons no que faziam. Já tinha uma tonelada de trabalhos para fazer, o que ditava que o ritmo ali seria alucinante e bem diferente da época do colégio – eu já sentia falta dos trabalhos em grupos de dez, sério.Liam não tinha mais ido naquela semana e eu acreditei que só o tinha feito no primeiro dia para ajudar os novatos. Era péssimo. Como se já tivesse se acostumado a tê-lo por perto mais uma vez, eu parecia frustrada toda vez que eu entrava naquele refeitório e não o via na mesa mais ao canto. Bem, eu estava sendo grudenta, eu sei.Mas deixando Liam de lado, agora eu estava frente ao laboratório de Química sem saber o que fazer a seguir.Para piorar tudo, à
- Bem, não vou estragar meu dia por causa de alguém como ele. – falei quase determinada, enquanto observava a minha casa a menos de uma quadra.- Se eu fosse você, não estragaria mesmo. – ela falou em meio a devaneios.Eu só entendi o que queria dizer quando a vi acenando para alguém que estava encostado junto a um carro parado em frente a minha casa. Eu senti o meu corpo se aquecer em uma animação muda quando percebi que era Liam. Sim, era tudo que eu precisava para deixar meu dia alegre.As passadas foram se tornando compridas – porque não seria legal correr até ele – até chegar a minha casa e, consequentemente a ele. Ele me abraçou apertado como se fizesse tempos que não nos víamos e eu me perguntei desde quando éramos tão próximos, mesmo que eu não esti
Uma semana depoisE aqui estava eu, à sombra de uma das árvores mais longes no estacionamento, enroscada em seu abraço gostoso. Era impressionante como eu podia sentir falta dos momentos que nunca antes tinha tido, como se passar mais algum segundo de minha vida sem aquele pedacinho de paraíso fosse o maior sacrilégio de todos.- Não é um lugar muito inteligente para nos agarrarmos, sabe Maddie? – ele riu enquanto colocava o meu cabelo para trás de minha orelha. – Se o que dizem sobre o melhor esconderijo ser à vista de todos, então estamos mesmo fazendo isso certo.- Está com medo de Rick, Li? – eu pirracei e recebei um rolar de olhos de volta.- Bem, meu olho roxo ainda dói, sabe? – ele deu de ombros e eu ri, passando os meus dedos pelo local ainda meio arroxeado. Os &oacut
Eu não merecia aquilo! Tinha um alvo em minhas costas? Eu tenho certeza que minha passagem para o céu estava garantida, então tinha o direito de expressar minha revoltada e manda-lo para um lugar desagradável? Eu esperava que sim, afinal, minha mente já não respondia aos meus comandos antes de amaldiçoá-lo.- Engula seus pontos de presença, Samuel. – eu falei irada e dei as costas para ele. Eu quase podia afirmar que em seu rosto bonito surgira um meio sorriso.Não sabia como alguém podia ter prazer em azucrinar tanto a vida do outro, mas, com certeza, tornar a minha vida um inferno era o melhor passatempo dele. Ele parecia gostar, fazer até de propósito. Sério, ele não tinha mais nada para fazer na vida não? Se me livrasse de seu comportamento bizarro, que ficasse à vontade em olhar os decotes alheios, dar em cima das alunas ou fazer qualquer co
Samuel Lewis Morris, Oryon CityEla descia e subia em meu corpo em um ritmo frenético. Nossos corpos se chocavam com voracidade, com fome um do outro. Ela tinha a cabeça voltada para trás, deixando as pontas de seus cabelos encaracolados e castanhos roçando em minhas pernas nuas. Os seus olhos da cor do mel estavam cerrados com força e um sorriso surgia entre os seus lábios e se revezava entre caretas e gemidos altos.Suas coxas bem definidas estavam uma em cada lado de meu corpo e se tencionavam toda vez que ela subia, deixando entre nossos corpos um espaço não antes existente. Seus músculos se tencionaram e por seu corpo espasmos se passaram como se ela sofresse uma forte descarga elétrica. Respirou profundamente, tentando controlar a respiração ofegante, enquanto os gemidos seriam ouvidos por meu vizinho.Eu nã
- Por que não revisa a matéria? – falei sem ideias e ela me fuzilou com o olhar de um verde infindo. Certo, ela queria me matar. Ótimo, assim poupava o trabalho de meu corpo que me torturava e queria fazer o mesmo só que aos pouquinhos.- Seb... Professor Morris, nós dois sabemos que eu já sei essa matéria. – ela falou certa de si. Era verdade, ela sabia. – Por que não me aplica logo essa prova e nos libera da situação desagradável? – era também para ela?Espera, por que era para ela?- Não acho que eu possa fazer isso pelas regras da universidade. – era verdade. Ótimo, tinha armado para mim mesmo uma armadilha. Genial mesmo, Samuel. – Está com pressa, White? Não acho que o seu namoradinho vai querer muita conversa com você hoje. – o que? Eu prec
Marcela Gear WhiteEra um universo totalmente paralelo. Na verdade, parecia uma bolha particular, uma parte de um mundo inexplorado que compreendia apenas os nossos corpos. Não sentia os meus pés no chão, eu me sentia levitar, leve como uma pena. Era como cair de uma nuvem, sem parada e eu nunca tinha me sentido daquela forma antes.Não era um beijo, era um mundo inteiro. Tudo se passava por minha cabeça, milhões de sensações diferentes que eu nem posso descrever. Era como ver o mundo pela primeira vez, sentir a chuva pela primeira vez, ouvir, ver, sentir como algo inédito. Era tudo para lá de inédito e todas as sensações que me abrasavam imploravam para que aquele momento nunca acabasse, nunca partisse.Maldição! Estava enfeitiçada, só podia. Seus lábios nos meus dançavam