Judy
Ligação Ativa
— Alô! Tem alguém aí? — A voz estava nervosa e um barulho de sirene ao fundo me fez ficar nervosa também.
— O que está acontecendo?
— Você é a Judy?
— Sim, sou eu. Pode me dizer o que está acontecendo?
Eu já estava nervosa pelo fato de ser o número do meu pai ligando.
— Seu pai sofreu um acidente. Irão levar para o hospital Dom Silion, bom, eu achei seu número aqui e te avisei.
— Obrigada por isso. Muito obrigada mesmo.
Ligação Inativa
Nesse momento eu senti o meu corpo perder as energias. Eu estava acabando de sair de um apartamento, cujo qual estava olhando para dar entrada com uma imobiliária, mas agora tudo está confuso. E agora eu preciso ir até o hospital, preciso vê-lo.
O trânsito não estava ao meu favor, como se isso não bastasse, uma tempestade começou a cair e eu tinha medo de trovões, isso me deixava ainda mais nervosa, principalmente no trânsito. Mas, com muita calma e paciência, duas horas depois eu cheguei ao hospital e meu pai já havia sido atendido. Assinei alguns papéis e pude vê-lo apenas através do vidro, eu ainda não podia entrar na sala, não ainda.
Eu não tive escolhas a não ser ir para casa e colocar a cabeça no lugar. Chegando eu ouvi as mensagens do Ramon no telefone, era o melhor amigo do meu pai e sempre estavam juntos.
(Recado 1)
"Lúcio, está me ouvindo meu amigo? Você me certificou que hoje iríamos ao tal clube que inaugurou e que você iria me levar hoje."
(Recado 2)
"Judy, eu fiquei sabendo do que aconteceu, se precisar de alguma coisa estarei aqui. Me liga se tiver notícias."
Ulisses é meu melhor amigo, e quando soube do que havia acontecido veio o mais depressa que pôde.
— Então, como você tá? Tá tudo bem com ele?
— Disseram que não foi nada grave, mas não me deixaram entrar. Mas eu acho que foi mais grave do que eu estou pensando. — Sentei cruzando as pernas enquanto Ulisses me entregava uma xícara de café. — Obrigada.
— Judy, precisa ser forte agora e você sabe, pode contar comigo para o que precisar.
— Eu sei que posso, não sabe o quanto me sinto aliviada por isso. Obrigada por estar comigo em todos os momentos da minha vida. Você é o melhor amigo que alguém poderia ter.
— Eu sei disso, Di Lua. — Ele sempre me chamava assim quando me sentia triste, eu amava meu nome, porque foi minha mãe que escolheu.
— Agora eu vou precisar de uma pessoa pra ficar no meu lugar, por enquanto não vou poder ir vender nada. A quitanda vai precisar de uma pessoa pra ficar lá.
— Eu tomo conta, não vai quebrar a cabeça com isso agora colando sua vida nas mãos de qualquer pessoa.
— Mas, Ulisses, eu não quero atrapalhar você. — Ele estava fazendo faculdade de direito e isso demandava muito do seu tempo, sem dúvidas eu não queria tornar isso um fardo para ele, que já era tão ocupado.
— Isso eu tiro de letra, vai ser até bom, assim eu estudo com mais calma. Além disso, eu adoro aquele lugar, principalmente porque é seu e eu zelo por isso.
Falamos sobre negócios, confusões que aconteceram recentemente no relacionamento da irmã de Ulisses e por fim, sobre homens e como eles eram complicados, pelo fato do namorado de Ulisses não tomar uma atitude sobre nada e o deixar magoado e pensativo sobre suas escolhas já feitas e sem voltas, porque mesmo com o término, nada será esquecido.
Ramon
Eu estava no aeroporto quando recebi a notícia de que meu amigo havia sofrido um acidente, deixei tudo para trás e fui até o hospital, mas não pude vê-lo. Deixei um recado e creio que Judy já escutou, mas não retornou nem mesmo para me dizer que estava tudo bem, com o coração apertado e cansado de passar o dia estando notícias, eu resolvi ir até ela.
— Boa noite, Judy. Eu vim sabe como você está! — Falava sozinha enquanto estava o sinal abrir no meio do congestionamento. Mas, eu estaria sendo invasivo demais na vida dela? Nós mal nos falamos, eu não tenho a menor intimidade com ela e isso vai ser no mínimo estranho.
Tentei não pensar no que dizer, eu estava nervoso com o que poderia ouvir sobre meu amigo, sempre fomos como um irmão um para o outro e isso mexeu muito comigo. Ao chegar em frente a casa, notei que as luzes estavam apagadas, mas a porta estava aberta. Quando me aproximei do portão, Safira começou a latir e a pular, então Judy saiu mandando-a calar a boca e notando a minha presença.
— Eu deixei um recado, mas não obtive respostas, então…
— Ah, claro. Pode entrar, desculpe eu acabei esquecendo de responder. — Sua bochecha estava rosada por causa do frio, ou do choro, não sei.
Ela estava acompanhada de Ulisses, que também era amigo da minha filha e era um anos pessoa. Judy estava usando um vestido curto e com os cabelos bagunçados, enquanto tinha uma vassoura em suas mãos e Ulisses lavando a louça.
— Tem notícias de Lúcio, eu estou preocupado com ele e não me deixaram entrar.
— É… também não me deixaram ver ele, só disseram que ele iria ficar bem, mas não sei. — Em sua voz tinha tristeza e desconfiança. — Espero que estejam falando a verdade, eu não consigo nem pensar no pior.
— Pensamentos positivos atrai energias positivas. Então, eu vou nessa, já que está tudo bem! Se tiver notícias dele me avise, por favor. Lúcio sempre foi como um irmão para mim.
Eu queria perguntar se ela também estava bem, mas com Ulisses ali eu não tive muito o que falar, apenas me despedir e fui embora. Judy sempre foi uma mulher esforçada, sempre correu atrás dos seus sonhos. Lembro com clareza de quando ela perdeu sua mãe e o quanto meu amigo sofreu com isso, mas já fazem oito anos e ela parece estar bem em relação a isso, o problema sou eu, que sempre que a vejo sinto um arroio tomar meu corpo e uma falta de ar. Ela consegue mexer comigo e nem faz ideia do quanto isso me deixa confuso.
Vivian
Meu pai e Lúcio sempre foram melhores amigos e era nítido que ele estava sofrendo agora, mas eu também estava preocupada com Judy, afinal somos amigas desde o colegial, mas como tomamos decisões diferentes, eu estava agora voltando para casa do meu pai passar as férias e acho que isso será bom para mim também. Dessa vez eu estou levando Helena comigo, ela é uma amiga que conheci na faculdade, um pouco mais velha que eu e pensei na possibilidade dela e meu pai se conhecerem, acho que os dois dariam um belo casal, afinal, Helena é uma bela mulher e está a sua altura.
— Estou ansiosa para conhecer sua cidade, nunca havia saído de Londres para nenhum lugar, essa também será a minha primeira vez. — Helena estava tão ansiosa quanto eu.
— Não tem nada de especial isso, afinal, é só férias mesmo!
— Como não, Vivian? Você me falou tanto sobre seu pai que eu estou mais ansiosa para conhecê-lo do que para conhecer a cidade. — Helena era uma solteirona que só pensava em estudar e fazer coleções de carrinhos da Hot Wheels, ela tem um gosto peculiar para muitas coisas.
— Não vai na esperança achando que ele é grandes coisas, porque não é, além disso não esqueça que ele é meu pai! — Eu tinha um pouco de ciúmes do meu pai? Sim, claro que eu tinha, mas sabia que ele precisava ser livre e quando ele nos adotou (eu e Andrew), foi difícil conseguir colocar na cabeça que ele não vivia apenas para nós dois.
— Eu sei disso, mas não podemos ser amigos? Afinal, nós somos amigas, ou não somos?
— Para de falar besteiras, Helena. É claro que somos.
Ramon adotou a gente quando tínhamos cinco meses, desde então ele é o nosso pai e nosso herói. Nunca tive vontade de conhecer a minha mãe, embora Andrew ainda tenha algumas lembranças dela, porque ele é sete anos mais velho que eu. Sim, eu sou apenas uma jovem mimada por um pai e um irmão maravilhoso, Ramon já foi casado, mas isso não durou muito tempo, ela estava o traindo e pelo que eu me lembro, já faz mais de quatro anos que ele não nos apresenta ninguém, e eu fico triste por ele.
Judy
Não consegui dormir, diferente de Ulisses que roncava ao meu lado. Eu estava pensativa demais, jamais imaginei que isso poderia acontecer com o meu pai. Antes de sair eu deixei um bilhete pregado na geladeira, avisando que eu tinha ido comprar pão.
Na padaria eu encontrei Vivian, ela estava linda e me admiro em vê-la tão cedo, normalmente ela dorme até às 12hrs.
— Caramba se não é a Di Lua. Caraca, você mudou demais e eu sinto muito por tudo que está acontecendo, mas sabe que pode contar comigo. — Ela me deu um abraç
o e me apresentou uma tal de Helena, não consegui simpatizar com a mesma, ela tinha uma áurea ruim.
Judy Duas semanas já se passaram e eu não tenho encontrado tempo para quase nada. Meu pai iria precisar fazer fisioterapia e isso é caro, só as vendas que eu fazia na quitanda não daria nem para metade dos gastos que será daqui para frente. Ulisses fez um currículo legal pra mim, já que não estava tendo tempo para isso. Enviamos alguns por e-mail, mas algumas lojas não tinham isso, então hoje aproveitei o horário de almoço para fazer isso. Passei na quitanda e lá estava Ulisses, conversando com as clientes como se estivesse muito empolgado com aquilo. — Olá, boa tarde a todos, espero que eu não esteja atrapalhando. — Imagina, Judy. Estávamos falando sobre como você é maravilhosa e como estamos torcendo pela recuperação do seu pai. — Dizia uma das clientes fixas, todos os dias ela comprava o mesmo sabor de geleia e cinco pães de batata, sempre no mesmo horário. — Vocês que são maravilhosas! Obrigada pelo apoio. Ulisses, posso falar com você rapidinho? Com licença. — Sorri gentilmen
Andrew Ultimamente as coisas não estavam indo tão bem assim. Eu precisava tomar um jeito na minha vida antes que fosse tarde demais e isso envolvia Judy. Desde que disse a ela o que sentia por ela, que ela não me procura mais, sempre usa a mesma desculpa: seu pai e o meu são como irmãos, deveríamos ser assim também. E eu não conseguia aceitar isso, meu pai me mataria se soubesse disso, mas eu não mando nos meus sentimentos e por isso estava determinado em ir conversar com ela após sair do trabalho, mas como sempre, ela estava ocupada demais para me dar o mínimo de atenção. — Judy, será que a gente pode conversar? Eu juro que vai ser rápido, é só que… — Andrew, por favor, não me diga que vai continuar dizendo que está apaixonado por mim? Isso nem faz o seu tipo, está claro que deve ser algum tipo de piada comigo. É difícil alguém acreditar nos seus sentindo baseado na má fama que você tem pela cidade? Sim, muito possível. — Judy, eu não estou mentindo. Eu estou apaixonado você, ou
Ulisses Ficar responsável pela Quitanda esses dias estava sendo um alívio pra mim, mas eu tinha que enfrentar também os meus problemas. Assim como Judy, minha família também não sabe que eu fui expulso da faculdade por agredir um cara que tentou abusar da minha amiga de sala em uma social que teve como comemoração aos novatos. Eu não devo explicações para minha família, já que não dependo deles para absolutamente nada, já Judy, achava que estava me atrapalhando. — Acabei de chegar da entrevista. — E como foi lá? — Terrível. Pra piorar o chão era de vidro, ainda fui de vestido e foi uma droga, a mulher era extremamente operacional e teve algumas perguntas que eu nem fazia ideia que existiam, acho que eu nem vou conseguir… — Judy sempre trabalhou com o pai, eles moravam em uma fazenda e quando vieram para cidade, Judy comprou está Quitanda e era nisso que ela trabalhou até hoje. — Eles vão te ligar, você vai ver só. Nada disso é em vão. — Disse e a vi sorrir, mas sei que não deve e
Judy Andando de um lado para o outro eu pensando no que fazer. Eu nunca tive um encontro, nunca me interessei muito pelo fato de sair e me divertir igual as outras pessoas, eu gostava da minha paz e por outro lado eu tinha medo de me deitar com um homem, já que as experiências que eu ouvi não foram muito agradáveis. O fato de ser órfã de mãe complicava o meu lado, porque meu pai jamais sentou comigo e falou sobre coisas relacionadas ao sexo, eu o compreendo, seria estanho para mim também. Eu estava com medo, não do Ramon, mas de acontecer alguma coisa que não esteja em meus planos. — Eu acho que vou me sair bem… — Falava pra mim mesma enquanto encarava o espelho, até que ele tocou o Interfone. Suspirei fundo e abri a porta. Ele estava perfeito, essa era a palavra que o definia, eu estava vestida o mais simples possível. — Eu, vou me vestir e já volto. Pode ficar a vontade. — Disse lhe dando as costas, mas ele foi mais rápido e segurou a minha mão, o que me fez ficar nervosa de rep
Judy — Então, como foi a noite? — Ulisses perguntava me olhando e mascando chiclete, eu me arrumava para ir até o hospital. — Até que foi tranquila. — Disse sorrindo e encarando o espelho, pensando em como eu fui me deixar levar por uma boa conversa. "Sua barba cerrando a minha nuca, enquanto Ramon dizia o quanto estava esperando por aquele momento, mal sabia ele que eu também. Nossos corpos por um breve momento quase não ficaram despidos dentro do seu carro, mas eu não pude fazer tal loucura e quando voltei para a realidade, abri a porta e corri para dentro de casa, pois estávamos na porta da minha casa, e não morávamos em prédios". Mas Ulisses não iria saber disso nunca, ou não iria parar de falar nisso sempre que me visse. — É, achei que fosse me dizer alguma coisa que rolou entre vocês, porque sempre que falo dele você fica toda sem jeito e isso nem é de hoje. — Ulisses, sabe que meu pai me mataria se soubesse que a filha dele tem pensamentos no melhor amigo dele, só que pela
Judy Estava me arrumando para o meu primeiro dia de trabalho, nem sei se assim posso dizer, porque ainda irei passar por uma experiência e conhecer mais chefe, já que disseram que hoje ele estaria lá.Escolhi uma calça não tão justa, uma blusa de mangas longas, porque estava feio e um tênis salto não muito alto. Fiz um rabo de cavalo, fiz uma maquiagem básica e por fim, passei um batom nude para combinar com o dia feio que estava fazendo. Estava pronta para sair quando olhei para um retrato em que estava eu e meu pai juntos, ali eu senti saudades e desejei com todas as minhas forças para que ele se recuperasse logo e que pudesse vir para casa logo. Estava prestes a entrar no prédio e estava nervosa com tudo que estava por vir, então tomei coragem, desliguei o celular e entrei com a vara, coragem e a precisão. — Bom dia, Srta. Di Lua, espere aqui que a gerente já vai lhe auxiliar, tudo bem? — Agradeci a senhora e fui até a recepção esperar o meu chamado. Uma vinte minutos depois a
Judy Hoje eu tive um dia péssimo. Amanheceu chovendo, eu quase cheguei atrasada no trabalho, me molhei toda na volta e o carro quase quebrou. E como se tudo isso não fosse o suficiente, Ramon estava me mandando mensagens, dessa vez perguntando como eu estava e se já vi meu pai. Não o vi ainda, talvez eu irei ainda hoje vê-lo, se não for tão tarde. Ignorei suas mensagens e fui até o banheiro, eu estava precisando disso, foi um dia terrível e eu estava super cansada. — Boa noite minha flor, trouxe pizza e algumas coisas pra jantar. Sei que está cansada, então… — Ulisses estava com sua mochila nas costas e um monte de besteiras super gostosas. Eu pedi pra ele vir dormir comigo e ele veio, eu não poderia ter um amigo melhor na vida. — Eu te amo, sabia? — O encarei e ele ficou sem graça, jogando um travesseiro em mim. — Trouxe um vinho pra gente também, a vida anda bem tensa. Merecemos ser felizes também. Mas, vai me contar qual é a sua com o coroa gato? — Como eu estava pensando, ele
Ramon Tudo me dizia que ela estava com vergonha de mim. Seu jeito tímido, sempre tirando o cabelo do rosto e pondo atrás da orelha eram sinais de que ela estava prestando atenção nas coisas que eu estava dizendo. Conversamos sobre Lúcio, sobre como foi seu primeiro dia de trabalho e como ela estava se sentindo. — Eu estou me esforçando para dar o melhor para o meu pai, mas às vezes sinto que vou fraquejar. Sei lá, tenho medo de conseguir dar conta de muitas coisas. — Ela sorria sem graça e levou a taça de vinho até seus lábios, dando uma leve saboreada. Eu herdei as empresas do meu pai, portanto já nasci digamos que rico. Lúcio teve uma vida instável, mas não tão boa assim. Quando ele tinha 12 anos eu o conheci, o tempo passou e com 20 anos ele era um homem bem sucedido, por seu mérito. Não quis trabalhar comigo, mas aceitou a minha ajuda para conseguir um bom emprego. Tirou a mãe de Judy das drogas, mas após seu nascimento ela teve uma parada cardíaca e veio a óbito. Mas, nunca lh