C5 — Frenesi

Judy

Andando de um lado para o outro eu pensando no que fazer. Eu nunca tive um encontro, nunca me interessei muito pelo fato de sair e me divertir igual as outras pessoas, eu gostava da minha paz e por outro lado eu tinha medo de me deitar com um homem, já que as experiências que eu ouvi não foram muito agradáveis. O fato de ser órfã de mãe complicava o meu lado, porque meu pai jamais sentou comigo e falou sobre coisas relacionadas ao sexo, eu o compreendo, seria estanho para mim também. Eu estava com medo, não do Ramon, mas de acontecer alguma coisa que não esteja em meus planos.

— Eu acho que vou me sair bem… — Falava pra mim mesma enquanto encarava o espelho, até que ele tocou o Interfone.

Suspirei fundo e abri a porta. Ele estava perfeito, essa era a palavra que o definia, eu estava vestida o mais simples possível.

— Eu, vou me vestir e já volto. Pode ficar a vontade. — Disse lhe dando as costas, mas ele foi mais rápido e segurou a minha mão, o que me fez ficar nervosa de repente.

— Não precisa melhorar nada aí, está linda.

— Obrigada, Ramon, mas eu acho que vai fazer frio mais tarde, então vou colocar alguma coisa mais coberta.

— Se prefere assim, tudo bem.

Eu não sabia o que vestir. Não queria colocar nada sem graça, mas de última hora escolhi um vestido longo azul celeste, um salto não muito alto e um sobretudo, coloquei em meu braço e se fizesse muito frio eu usaria. Para me ajudar, o vestido ainda tinha um decote nos seios que ia quase até o umbigo e não tinha como reverter isso, mas eu não tinha outro vestido tão bonito e digno de sair de casa.

— Estou pronta, vamos!

(...)

O restaurante era coisa de gente rica, para evitar alguma coisa deixei o celular em casa e qualquer coisa Ulisses daria um jeito de falar comigo. Meu pai estava lutando pela vida, enquanto eu estava tentando criar uma melhor relação com Ramon, ele sempre um cara legal com meu pai.

As pessoas nos olhavam. Senti o frio na espinha quando Ramon colocou uma de suas mãos em minha cintura, me guiando até onde estaria nossa mesa.

— Obrigada. — Disse dando um sorriso ladino, para que o clima não ficasse tão tenso.

— Judy, precisamos agir como dois adultos. Eu sei que não me conhece muito bem, apesar de que eu conheço seu pai há muitos anos, minha filha e você são amigas e afins… Eu não quero que me veja como um estranho e sei que não está sendo nada fácil pra você, então se precisar de qualquer coisa que seja pode contar comigo. Se ver que não está conseguindo segurar a barra, pode me ligar.

Eu não vou pedir dinheiro a ele, se é isso que ele está pensando, sem chances disso acontecer.

— Quando as coisas se tornarem mais rígidas, eu vou dar um jeito. Afinal, não posso passar toda a minha vida pensando que uma Quitanda irá ser o suficiente para mim.

— O que está pensando em fazer? — Ele parecia mesmo interessado nesse assunto e eu não via o problema em alguma conversa sobre isso.

— Eu entreguei alguns currículos esses dias, aproveitando sempre a hora do almoço e estou esperando um milagre acontecer. Mas, eu sei que uma hora vai dar certo, não precisa se preocupar.

— Claro que é preciso. Eu não quero perder o meu melhor amigo por falta de cuidados e irei auxiliar do que ele precisar, mas para isso, preciso que me dê autorização no hospital. — Eu não estava com muita direito de escolher alguma coisa, porque já não tinha mais tanto dinheiro assim e ainda tinha as minhas despesas.

— Se fizer isso, vai aceitar que eu lhe pague depois?

— Claro que não, Judy. Posso lhe presentear com isso? É como se fosse uma forma de agradecimento por ter aceitado o meu convite.

— Mas eu não aceitei isso em troca de nada. — Ele me encarava sem disfarçar, e eu estava me sentindo diferente. — Eu nunca tive um encontro antes, então, não ligue se eu disser alguma coisa estranha.

Ramon

Judy estava nervosa e era perceptível demais isso. A todo momento ela colocava os cabelos atrás das orelhas, como se isso fosse uma mania ou como se estivesse nervosa e aquilo me deixava nervoso também.

— Judy, calma, eu não vou fazer nada, será que dá pra confiar em mim? — Pedi segurando sua mão e vi a mesma ficar nervosa.

— É que eu não tenho muito jeito pra essas coisas e ainda mais com você, sabe… nunca tivemos nenhum tipo de conversa e a primeira é a gente parecendo que está tendo um encontro romântico.

— Então você pensa assim? Por que o fato disso te incomoda? Eu sempre tive momentos assim com seu pai, onde nós dois se divertia até o dia amanhecer.

— Mas vocês tinham mulheres, eu conheço bem o pai que eu tenho, Ramon. Ele jamais sentaria com um homem, mesmo que fosse com você para apenas jogar conversa fora. — Ela estava chateada, com o que eu não sabia, mas estava.

Abrir a galeria do telefone e fui lhe mostrando nossas fotos, onde havia eu e o seu pai bebendo, jogando, assistindo e afins… apenas nós dois, sem mulheres e sem problemas.

— Então, Judy, sabia que dá pra se divertir a sós com seu melhor amigo? — Perguntei e ele ergueu a sobrancelha, apoiou os cotovelos na mesa, apoio o rosto em sua mão e fez um biquinho.

— Eu sei disso, já me divirto assim com o Ulisses e antigamente com a sua filha, mas ela já não está mais tão legal quanto antes, você está criando uma cobra, Ramon.

— Me perdoe por isso, mas Vivian teve uma educação igualmente a de Andrew, a personalidade dela que deve ser ruim mesmo. — Eu falava isso com o coração partido. Jamais pensei que Vivian fosse me dar desgosto após tantos anos de vida, eu não quero ter que me preocupar com Vivian agora, faltam apenas alguns meses pra ela completar 19 anos e já lhe falta juízo.

— Não é culpa sua. As pessoas tendem a trilhar caminhos diferentes dos que lhe foram ensinados. Eu acho que você sempre foi um bom pai. Já pensou em casar de novo?

A conversa era pra ser sobre o Lúcio, mas tomou um rumo totalmente diferente e eu já não falava desse assunto há muito tempo…

— Eu não quis mais me casar pelo simples fato de não sentir mais vontade. Meu último foi terrível, ela não gostava dos meus filhos e ainda me traia com o meu vizinho, ex vizinho no caso.

— Eu sinto muito, eu sei que não é fácil, vi o quanto meu pai lutou para me criar.

Judy

Era para estarmos conversando sobre como meu pai está e que ele precisa ficar bem, mas Ramon parecia que estava querendo conversar sobre isso, o que me deixou um pouco confortável. Mas, também estava o achando mais sexy e aos poucos eu ficava bêbada.

Estávamos há quase duas horas no restante e não percebi quando começou a nevar, não era muita coisa, mas o suficiente para deixar o clima frio. Era quase meia-noite quando Ramon ligou para os filhos e se certificou de que tudo estava bem e ambos estavam em casa. Bebemos até dizer chega, e isso não demorou muito, eu é que já estava um pouco bêbada.

— Mas, o que me intriga é o fato de você nunca ter falado sobre namoro. O que pensa sobre os homens?

— Sinceramente? Eu não penso nada a respeito de ninguém, cada um sabe o que faz e sim, eu acho homens idiotas e sem utilidade alguma.

— E o que te levou a pensar assim? — Ele se aproximou o suficiente do meu rosto.

Minhas pernas estavam se espremendo em baixo da mesa, enquanto ele chegava cada vez mais perto, até que ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e depositou um beijo em minha nuca, e naquele momento eu me descontei por dentro e automaticamente meus olhos se fecharam e por um momento eu não cedi, estávamos no meio do restaurante e havia alguns conhecidos dele por perto, também não queria passar vexame com as pessoas falando de mim depois.

— Eu não quero estragar essa noite te fazendo pensar que eu sou como os homens da sua imaginação. — Sua voz sussurrou em meu ouvido, fazendo meu corpo arder em chamas.

— Podemos ir até uma pista de dança? Eu adoro aquelas luzes, aquele ritmo e tudo que tem lá dentro.

Pista de dança sempre foi o meu lugar favorito, ali eu me divertia com meu pai sem precisar mais de nada que o mundo tinha a me oferecer, inclusive ainda vou algumas vezes com Ulisses, mas ele meio que não curte muito e prefere suas baladas.

— Então eu acho melhor a gente ir antes que a noite acabe!

Finalmente lá foi um dos lugares onde não havia ninguém que conhecesse Ramon e isso era melhor do que eu poderia imaginar…

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