Inerte, Justine permanecia presa ao olhar do homem que aguardava por uma resposta. No segundo em que os lábios dela se moveram, o motorista do táxi apareceu.— Quem vai pagar essa corrida?Só naquele instante, Justine sentiu falta da bolsa.— Eu, eu acho que fui roubada… — disse ela, olhando para a idosa ao lado. — Essa senhora me ajudou a chegar aqui.— Desculpe, mas isso não é da minha alçada, — replicou o taxista. — Eu só quero que pague a corrida de Giambellino até aqui.Em silêncio, Kevin franzia o rosto, olhando da ex-mulher para o motorista que exigia o pagamento.— Quanto foi a corrida? — A voz rouca do senhor Harrison se meteu na conversa. — € 17,65 — foi o valor que cobrou o motorista.Tirando a carteira do bolso do longo casaco marrom-escuro, Kevin pegou uma nota de 100 euros e olhou para a senhora ao lado de Justine antes de pagar ao condutor do táxi.— Leve essa senhora de volta e dê o troco para ela.— Muito obrigada, senhor.Com certa relutância, a idosa direcionou um o
O silêncio de Justine o encorajou a continuar:— Por que você tinha que me trair com o meu maior inimigo? — Questionou-a entre dentes. — Você passou uma hora na casa do seu amante, imagino que tenha se divertido muito com Andrew naquele dia.Perplexa, Justine ouvia o interrogatório do ex. Ele sequer notou a maneira como a insultava.— O Andrew nunca foi o meu amante… — respondeu ela antes que Kevin continuasse insultando seus princípios morais.— Então, quer dizer que ele era seu melhor amigo? — A voz profunda estava repleta de sarcasmo.— O Andrew era meu padrasto. — As lágrimas escaparam de seus olhos no momento em que confessou.Cerrando os olhos, Kevin sentiu o nó no estômago. Ele havia se casado com a enteada do homem que fez de tudo para destruir os seus negócios. As pálpebras abriram e os olhos azuis miravam na mulher sentada ao lado da cama do menino que dormia placidamente.— Antes do nosso casamento, você disse que era órfã.Cabisbaixa, ela assentiu com um leve aceno de cabe
Kevin não parava de caminhar de um lado para o outro no corredor do hospital. O seu olhar estava fixo na ex-mulher, que tinha as mãos apertadas nas bordas da saia e os olhos baixos. — Tudo isso é culpa sua! — A voz estava ficando mais rouca de tanto berrar. — Que tipo de mãe deixa o filho correr na frente de um carro? — Eu me distraí por um segundo e Bryan correu para pegar a bola.— A culpa é toda sua, Justine!Kevin não compreendia que ela sacrificava a sua juventude enquanto trabalhava em dois empregos para cuidar do filho. A constante reprovação de Kevin apenas agravava a dor de uma vida já complicada por si só.— Bryan estaria em um hospital melhor se você tivesse concordado com a porra da transferência. — A voz de Kevin se fez ouvir novamente. Justine se concentrou em seus sapatos surrados, como se ela pudesse encontrar alguma resposta ali. O silêncio dela parecia uma defesa mais forte do que qualquer argumento. Kevin parecia não se importar com a luta silenciosa dela; sua
— Por que está usando o casaco do meu noivo? — Os olhos de lince da mulher enciumada examinavam Justine de cima a baixo. — Eu estava com muito frio e o Kevin me emprestou. Beatrice percebeu quando Justine tocou na marca vermelha no pescoço. Aquele aperto forte do capanga poderia ter danificado o esôfago e a traqueia dela. “Será que ela fez fofoca?” Murmurou a questão em seus devaneios. “Justine não seria tão estúpida ao ponto de rejeitar a minha proposta. Ela sabe que ficará sem o filho se fizer isso.” O estalo em sua mente fez com que Beatrice recuperasse sua autoconfiança. — Contou alguma coisa para o meu noivo? — Não contei nada… — Justine retrucou em voz baixa. — Por que ele está aborrecido? — O Kevin vive estressado. — Tenho um calmante perfeito para ele… — Melindrosa, Beatrice teceu o comentário e então umedeceu a boca com a língua. Justine revirou os olhos e, em seguida, deu uma breve olhada para o homem que estava bem distante dela antes de encarar Beatrice mais uma vez
As rodas do Porsche Panamera Turbo seguiam pelas ruas em meio à tempestade que se abatia sobre a cidade. Justine estava acomodada no assento macio do banco traseiro e a sua roupa ensopada molhava o estofado. Sentado do outro lado, Kevin discutia com a noiva pelo celular.— Não sei que horas vou chegar. — A mandíbula dele estava tão apertada que parecia que cada palavra que ele pronunciava era uma luta. — Tenho algo importante para resolver no momento. Te ligo assim que puder, até mais! — Tocou na tela e encerrou a chamada.Minutos antes, o senhor Harrison havia dado a ordem seca e direta para que seu guarda-costas os levasse até Case Bianchi na Via Salomone, uma decisão que vinha carregada de uma urgência fria.Após guardar o celular, Kevin olhou de soslaio para Justine, que estava encostada no banco. Os olhos dourados estavam voltados para a janela, como se a vista turva da chuva pudesse oferecer algum tipo de alívio. A presença da ex-mulher dentro do veículo trazia uma recordação c
A mão ainda tremia enquanto Justine observava o arranhão no rosto do senhor Harrison após golpeá-lo. O som da respiração entrecortada preenchia o espaço entre eles, mesclando-se com o murmúrio dos vizinhos curiosos que surgiam nas portas das moradias e começavam a fuxicar. A última coisa que Justine gostaria era de alimentar mais boatos em torno do seu tumultuado estado de vida.Algumas das vizinhas olhavam o homem alto e bem-afeiçoado. Uma delas chegou a cochichar que aquele bonitão devia ser cliente de Justine.Alheio ao burburinho no corredor, Kevin tocou o ferimento e franziu o cenho. As pupilas azuis estavam fixas no rosto de Justine. Ela sentiu um frio no estômago ao perceber que o ex-marido a fulminava com o olhar. — Por que fez isso? — As pontas dos dedos do senhor Harrison deslizavam em torno das pequenas gotas de sangue no arranhão.Justine cruzou os braços, podia sentir o coração batendo forte enquanto tentava recuperar o fôlego. — A culpa é sua! — Ela supriu a necessidad
Friedrich Nietzsche disse: “O amor e o ódio não são cegos, mas ofuscados pelo fogo que trazem consigo”.O ódio no coração amargurado do CEO também era um sentimento que crescia junto a paixão ardente que o compelia a desejar a sua ex-mulher.Tê-la em seus braços trouxe uma miríade de sentimentos. Por mais que se negasse a demonstrar, ele estava à mercê do desejo.“Por que vim até aqui?” O pensamento ocorreu. “Não posso deixar que ela veja como me afeta.” Ele queria explorar cada centímetro de sua pele quente e penetrá-la com vigor, como fazia nos primeiros meses de casados.— Ah, foda-se! — Exclamou ele entre dentes.— O quê você está… — as suas palavras foram silenciadas por um beijo.Os lábios do senhor Harrison pressionavam contra os de Justine, a língua passeou lentamente por sua boca comprimida, pedindo passagem. Pouco a pouco, deixou-se levar pelo mesmo sentimento que o incentivou a casar com a filha de seu inimigo anos atrás. Com a outra mão, ele tocou no colchão, sentindo os le
Revoltada, Justine passou pelo homem alto e foi direto para sala, parando ao lado do telefone. — Se não sair da minha casa agora, vou ligar para polícia. — Por que faria isso? — A testa de Kevin vincou. — Não te convidei para entrar na minha casa. — Sei que ouviu quando discuti com a Beatrice pelo celular. Briguei com minha noiva porque fui generoso ao trazer você até aqui… — Generoso? — Ela arqueou as sobrancelhas ao ouvi-lo. — Você só está me seguindo para reunir provas que te ajudem a tomar a guarda do meu filho. — Tenho certeza que o Bryan vai gostar mais da minha casa do que dessa espelunca. — Levantou as mãos ao criticar o ambiente. — Vá embora! — Exasperada, Justine indicou a saída. — Não vou sair. — Ele projetou o queixo em desafio. — Acho que vou tirar fotos desse lugar e enviar para o meu advogado. — Após pegar o celular, ele apontou a câmera para a janela quebrada. — Juro que irei procurar qualquer repórter e contarei todos os segredinhos dos seus negócios aqui n