Kevin não parava de caminhar de um lado para o outro no corredor do hospital. O seu olhar estava fixo na ex-mulher, que tinha as mãos apertadas nas bordas da saia e os olhos baixos. — Tudo isso é culpa sua! — A voz estava ficando mais rouca de tanto berrar. — Que tipo de mãe deixa o filho correr na frente de um carro? — Eu me distraí por um segundo e Bryan correu para pegar a bola.— A culpa é toda sua, Justine!Kevin não compreendia que ela sacrificava a sua juventude enquanto trabalhava em dois empregos para cuidar do filho. A constante reprovação de Kevin apenas agravava a dor de uma vida já complicada por si só.— Bryan estaria em um hospital melhor se você tivesse concordado com a porra da transferência. — A voz de Kevin se fez ouvir novamente. Justine se concentrou em seus sapatos surrados, como se ela pudesse encontrar alguma resposta ali. O silêncio dela parecia uma defesa mais forte do que qualquer argumento. Kevin parecia não se importar com a luta silenciosa dela; sua
— Por que está usando o casaco do meu noivo? — Os olhos de lince da mulher enciumada examinavam Justine de cima a baixo. — Eu estava com muito frio e o Kevin me emprestou. Beatrice percebeu quando Justine tocou na marca vermelha no pescoço. Aquele aperto forte do capanga poderia ter danificado o esôfago e a traqueia dela. “Será que ela fez fofoca?” Murmurou a questão em seus devaneios. “Justine não seria tão estúpida ao ponto de rejeitar a minha proposta. Ela sabe que ficará sem o filho se fizer isso.” O estalo em sua mente fez com que Beatrice recuperasse sua autoconfiança. — Contou alguma coisa para o meu noivo? — Não contei nada… — Justine retrucou em voz baixa. — Por que ele está aborrecido? — O Kevin vive estressado. — Tenho um calmante perfeito para ele… — Melindrosa, Beatrice teceu o comentário e então umedeceu a boca com a língua. Justine revirou os olhos e, em seguida, deu uma breve olhada para o homem que estava bem distante dela antes de encarar Beatrice mais uma vez
As rodas do Porsche Panamera Turbo seguiam pelas ruas em meio à tempestade que se abatia sobre a cidade. Justine estava acomodada no assento macio do banco traseiro e a sua roupa ensopada molhava o estofado. Sentado do outro lado, Kevin discutia com a noiva pelo celular.— Não sei que horas vou chegar. — A mandíbula dele estava tão apertada que parecia que cada palavra que ele pronunciava era uma luta. — Tenho algo importante para resolver no momento. Te ligo assim que puder, até mais! — Tocou na tela e encerrou a chamada.Minutos antes, o senhor Harrison havia dado a ordem seca e direta para que seu guarda-costas os levasse até Case Bianchi na Via Salomone, uma decisão que vinha carregada de uma urgência fria.Após guardar o celular, Kevin olhou de soslaio para Justine, que estava encostada no banco. Os olhos dourados estavam voltados para a janela, como se a vista turva da chuva pudesse oferecer algum tipo de alívio. A presença da ex-mulher dentro do veículo trazia uma recordação c
A mão ainda tremia enquanto Justine observava o arranhão no rosto do senhor Harrison após golpeá-lo. O som da respiração entrecortada preenchia o espaço entre eles, mesclando-se com o murmúrio dos vizinhos curiosos que surgiam nas portas das moradias e começavam a fuxicar. A última coisa que Justine gostaria era de alimentar mais boatos em torno do seu tumultuado estado de vida.Algumas das vizinhas olhavam o homem alto e bem-afeiçoado. Uma delas chegou a cochichar que aquele bonitão devia ser cliente de Justine.Alheio ao burburinho no corredor, Kevin tocou o ferimento e franziu o cenho. As pupilas azuis estavam fixas no rosto de Justine. Ela sentiu um frio no estômago ao perceber que o ex-marido a fulminava com o olhar. — Por que fez isso? — As pontas dos dedos do senhor Harrison deslizavam em torno das pequenas gotas de sangue no arranhão.Justine cruzou os braços, podia sentir o coração batendo forte enquanto tentava recuperar o fôlego. — A culpa é sua! — Ela supriu a necessidad
Friedrich Nietzsche disse: “O amor e o ódio não são cegos, mas ofuscados pelo fogo que trazem consigo”.O ódio no coração amargurado do CEO também era um sentimento que crescia junto a paixão ardente que o compelia a desejar a sua ex-mulher.Tê-la em seus braços trouxe uma miríade de sentimentos. Por mais que se negasse a demonstrar, ele estava à mercê do desejo.“Por que vim até aqui?” O pensamento ocorreu. “Não posso deixar que ela veja como me afeta.” Ele queria explorar cada centímetro de sua pele quente e penetrá-la com vigor, como fazia nos primeiros meses de casados.— Ah, foda-se! — Exclamou ele entre dentes.— O quê você está… — as suas palavras foram silenciadas por um beijo.Os lábios do senhor Harrison pressionavam contra os de Justine, a língua passeou lentamente por sua boca comprimida, pedindo passagem. Pouco a pouco, deixou-se levar pelo mesmo sentimento que o incentivou a casar com a filha de seu inimigo anos atrás. Com a outra mão, ele tocou no colchão, sentindo os le
Revoltada, Justine passou pelo homem alto e foi direto para sala, parando ao lado do telefone. — Se não sair da minha casa agora, vou ligar para polícia. — Por que faria isso? — A testa de Kevin vincou. — Não te convidei para entrar na minha casa. — Sei que ouviu quando discuti com a Beatrice pelo celular. Briguei com minha noiva porque fui generoso ao trazer você até aqui… — Generoso? — Ela arqueou as sobrancelhas ao ouvi-lo. — Você só está me seguindo para reunir provas que te ajudem a tomar a guarda do meu filho. — Tenho certeza que o Bryan vai gostar mais da minha casa do que dessa espelunca. — Levantou as mãos ao criticar o ambiente. — Vá embora! — Exasperada, Justine indicou a saída. — Não vou sair. — Ele projetou o queixo em desafio. — Acho que vou tirar fotos desse lugar e enviar para o meu advogado. — Após pegar o celular, ele apontou a câmera para a janela quebrada. — Juro que irei procurar qualquer repórter e contarei todos os segredinhos dos seus negócios aqui n
Beatrice estava na sala de estar em uma mansão de prestígio do Século XV perto de Milão. Ela andou pelo piso de mármore polido e parou diante de uma das grandes janelas, puxou as cortinas de veludo vermelho, revelando a visão do pátio interno. A chuva caía fina, molhando o jardim privado, cujas flores e árvores ancestrais se erguiam como testemunhas silenciosas de gerações de intrigas e paixões. O som da água batendo nas pedras ecoava pela mansão, adicionando uma camada extra de solidão àquele momento.Faltavam poucos dias para ela se tornar a nova Senhora Harrison. Dias atrás, a perspectiva de finalmente tomar esse título a deixava em êxtase; no entanto, Justine voltou e estragou tudo. A ex-esposa de Kevin estava cada vez mais presente e Beatrice tinha certeza de que o noivo não estava no hospital apenas pelo filho, mas pela ex-mulher. A proximidade deles a irritava mais. Tinha que dar um jeito de separá-los outra vez.“Kevin ainda sentia algo por ela”, a constatação a incomodou. A p
Kevin tentava manter a calma enquanto o som do motor do Porsche Panamera ecoava pela cidade. Ele estava a caminho de casa, mas no meio do trajeto, o celular vibrou. Ao olhar para a tela, viu uma mensagem de Alessandro: “A sua noiva já está na ambulância”. O coração de Kevin acelerou ao ler, e ele sentiu uma onda de frustração por não ter conseguido chegar a tempo.A agonia o consumia a cada quilômetro percorrido até que, por fim, ele avistou o Humanitas Research Hospital em Rozzano. O carro mal parou e ele já estava fora, saltando para o asfalto sem se preocupar com quem pudesse estar ao redor. Seu único pensamento era Beatrice, a mulher que esteve ao seu lado quando Justine o traiu e no momento em que divórcio lhe roubou o chão. Beatrice o ajudou a reencontrar a vontade de seguir em frente, e desta vez, era ela que precisava dele. Não podia abandoná-la.Ao entrar no saguão do hospital, Kevin encontrou o assistente que tentou transmitir uma falsa tranquilidade. — Senhor, os médicos e