Capítulo 3 Acidente

Palavrões e impropérios escapavam de sua boca.

Parada sob a chuva, Amélia tentava apertar a tampa traseira do fusca, quando sentiu um impacto muito forte e ouviu um barulho alto de freada brusca.

O som ao seu redor foi sumindo repentinamente, enquanto ela perdia os sentidos.

O barulho de um assovio ensurdecedor na sua cabeça foi a primeira coisa que tomou consciência, sentia uma dor aguda em partes do corpo. Alguém estava tocando seu rosto, um pavor aterrorizante a tomou por não conseguir se mexer.

Seus sentidos voltavam letárgicamente, a visão estava embaçada demais, a chuva foi a segunda coisa que conseguiu distinguir. No instante seguinte ouviu uma voz profunda a chamando.

A pessoa dizia alguma coisa, mas ela não conseguia entender o que era.

Compreendeu então, que sofreu um acidente. O que estavam dizendo? Será que a poça que sentia sob seu corpo era água da chuva ou sangue?

- Você... me atropelou... – Amélia conseguiu dizer, ainda não enxergava quase nada e nem sabia se a pessoa tinha escutado o que ela disse.

Um rosto que parecia masculino, se aproximou dela e um cheiro de perfume caro a envolveu, se misturando aos seus sentidos já perturbados pelo choque.

- Fique parada, o socorro está a caminho. Você vai ficar bem.

Ele tinha uma voz grave, suave e ao mesmo tempo penetrante, ela tentou levantar as mãos, mas sentiu um toque quente e firme em seus braços a mantendo imóvel no chão sob a chuva.

- Eu disse para não se mexer. Você continua teimosa.

O barulho da ambulância se aproximando, fez sua cabeça doer ainda mais, seus sentidos foram sumindo novamente.

Amelia tentou puxar o que aconteceu, entre uma volta e outra de sua consciência. 

Se lembrava de sair da gráfica com raiva…

Raios e trovões cortaram o céu em resposta a seu protesto revoltado.  Entrou no carro batendo a porta com toda a sua força. 

O espaço pequeno transformava seu fusca em um forninho. A fantasia estava grudada em sua pele. Só conseguiria tirar aquilo com calma em casa.

Deu partida no carro que fez uma manha para pegar, como de costume. Já estava saindo de sua vaga quando viu a luz da tela do celular se iluminar no banco do passageiro.

Pegou o celular e viu várias chamadas perdidas de Sam. Além disso, duas mensagens truncadas, com palavras quebradas e letras faltando, deixavam claro que ela estava bêbada. 

Terceira vez só naquele mês.  

Mais uma vez, Samantha pedia para ser resgatada em um endereço luxuoso, aparentemente a casa do novo namorado. Um sujeito de quem mal falava e cujo nome Amélia sequer sabia. 

A história se repetia. 

Uma briga, Sam afundava na bebida, e agora não conseguia dirigir nem pegar um táxi. O "namorado", por sua vez, se recusava a levá-la para casa.  

Amélia suspirou, irritada. Três vezes. 

Três vezes em um mês!

 Se aquilo não fosse um alerta, nada mais seria.  

O olhar caiu sobre a própria roupa e a frustração só cresceu. O tecido colorido em tons de rosa e os detalhes metálicos faziam com que parecesse saída de um circo ou, pior, uma um show de horrores. 

Nenhum porteiro em um bairro daqueles a deixaria entrar sem chamar a segurança.  

A solução era óbvia, avisaria Sam para descer, Amélia esperaria por ela na rua. Assim, ao menos, não precisaria lidar com olhares de julgamento ou explicações absurdas.  

Depois de enviar as mensagens, Amélia percebeu que a chuva piorou, e se lembrou de um pequeno detalhe sobre o seu carro.

Merda!

Saiu do carro rápido, a chuva caía pesada,  cortante e fria. Ela correu até  a traseira do seu fusca para apertar a tampa do motor que estava entreaberta, por causa de um alicate que ficava segurando um cabo da bateria.

Se continuasse entrando água daquele jeito,  ele não iria querer dar sinal de vida depois. 

Foi nesse momento em que foi atingida. 

Quem era o homem que falava com ela como se a conhecesse?

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