Ainda com vestido nas mãos ela não conseguia chegar a uma conclusão sobre aquilo.
O vestido era perfeito, serviu como uma luva quando ela decidiu usar. Não sabia nada sobre aquele homem, e ele deduziu o seu tamanho com uma só olhada?!
Tudo estava confuso demais. O que aconteceu com fantasia de camaleão, e por que ele se deu ao trabanho de comprar uma roupa daquelas para uma desconhecida que ele considerava uma maluca?!
No espelho do banheiro ela deu uma ultima olhada em seu reflexo. Seus cabelos estavam embaraçados e molhados, seu rosto estava horrível, com um inchaço enorme no formato de bola na testa; um corte no lábio e um na sobrancelha esquerda; parecia cuspida pelo próprio desespero.
Mas a roupa trazia a dignidade que precisava para sair desse quarto. Ela pagaria pelo vestido, obviamente.
Saiu do quarto sem olhar para o homem. Quando sentiu uma tensão estranha e só ouviu o silêncio, resolveu apelar para seu orgulho próprio.
- O que aconteceu com minha roupa? – ela levantou os olhos, alinhando os ombros, com tudo que conseguiu reunir.
Os olhos do homem percorriam sua figura, como um animal que farejava a presa que cercava. Amélia estremeceu sob ele, mesmo com toda a sua coragem, queria se encolher e sair correndo.
- Aquela coisa estava suja e molhada. – ele respondeu, travando seus olhos nos dela, sua expressão severa e intimidadora faziam ela querer gritar de frustração.
- Obrigado pelo vestido. Pagarei por ele assim que possível. Só preciso dos seus dados bancários. – ela disse o acompanhando pelo corredor.
As pessoas começaram a notá-los. Amélia se sentiu desconfortável, ficando um passo para trás.
O homem se virou, quase colidindo com ela. Uma única avaliação ao seu redor, por cima da cabeça dela, foi o suficiente para que ele compreendesse seu receio.
Inesperadamente, ele agarrou sua mão, mantendo-a em um aperto firme, para que não pudesse se libertar.
- O que está fazendo?! Ficou louco! – vociferou entre dentes.
A ignorando completamente, ele voltou a caminhar, praticamente a arrastando até o corredor que levava ao estacionamento.
O tal homem era um troglodita! a conduziu entre os carros mantendo sua mão segura na dele. Os olhares curiosos a incomodava demais, todos com quem cruzavam, paravam o que estavam fazendo somente para olhar para eles.
- Pare com isso, todos estão olhando. – Amélia protestou.
Chegaram perto de um modelo luxuoso de cor escura, não era esportivo como ela imaginou, o carro dele é um suv enorme e robusto.
Abriu a porta do carro para ela, e a empurrou levemente para dentro.
Amélia ficou surpresa com o seu cavalheirismo rude, foi tão instantâneo que não conseguiu esconder sua reação. Entrou no veículo, sem olhar pra ele, e assim permaneceu até mesmo quando passava seu endereço em um tom de voz baixo.
O homem acenou com a cabeça desinteressado e digitou rapidamente no seu celular antes de sair com o carro para a rua molhada.
Amélia se voltou para a janela, queria evitar a todo custo o constrangimento dessa situação.
Sabia exatamente o que pessoas como ele, pensava sobre indivíduos como ela. Seu comportamento grosseiro só reafirmava esse fato.
Esse pensamento, aumentava sua vontade de se fundir ao banco do carro para que ele esquecesse que ela estava ali.
O cheiro do homem ao seu lado era uma droga. Uma mistura alucinógena entre o amadeirado sofísticado e o doce excêntrico. Amélia se pegou inspirando fundo, só para reter aquele cheiro delicioso por mais tempo. Suas mãos enormes, com veias saltadas segurando a direção, expunha um anel de obsidiana, e um relógio caríssimo de edição limitada.Lembrava-se que esse modelo era único, alguém da sua antiga vida, tentou adquirir aquele relógio. E quando não conseguiu, foi ela quem arcou com as consequências.Amélia se encolheu. Queria esquecer tudo aquilo, até agora se saiu bem, ela nunca conviveu ou encontrou pessoas como esse homem. Fez um bom trabalho em se esconder e recomeçar como uma outra pessoa.Até aquele acidente, não tinha cruzado com ninguém que pudesse comprometer sua identidade. Sua terapia estava indo muito bem, sua vida era sacrificante, mas a liberdade não tinha preço.Estava tudo bem. Logo chegaria em casa, e ela fecharia essa porta e jogaria a chave fora.O que aconteceu a po
ÍcaroO vestido que mandou trazerem para ela, caiu como uma luva, modelando sua cintura e os seios redondos e volumosos. Sua boca ficava seca de vontade, só de olhar para o contorno daquele decote.A surpresa em reencontrar aquela menina mascarada ainda provocava um frenezi por todo o corpo. Se conter deixou de ser uma opção, depois de tanto tempo, não poderia deixar ela ir sair assim, sem ter certeza que essa mulher gostosa, de olhos desafiadores, era a sua garota daquela noite.O gosto dela era o mesmo. A boca quente de lábios indecentes, a reação pecaminosa de seu corpo ao dela. Sim. Não tinha dúvidas. Era ela, com certeza. A sua garota.O olhar confuso dela inflamava seu sangue, deveria possuír Amélia Bastos no meio da rua? Talvez assim, ela se lembraria de como gemeu inocentemente sob seu corpo, enquanto pedia por mais de seu toque.- Não deveria ter feito isso...A voz dela soou tão baixa, que por um instante julgou ter imaginado suas palavras.Levou a mão ao seu rosto, passand
AméliaA certeza de que fez papel de ridícula era mortificante, mas ela só queria sair da presença daquele homem que a fazia se sentir em brasa viva.Como foi que aquele beijo aconteceu? Tocou os lábios com as pontas dos dedos, ainda sentindo a boca dele ali. Seu sangue pulsava para áreas adormecidas do seu corpo.Deslizou contra a porta. O que havia de errado com ela?! As pernas amoleceram, como se fossem parafina contra o fogo. O batimento acelerado de seu coração deixou a garganta seca, sedenta de algo que não era água.- Eu preciso arrumar um namorado... – murmurou para si mesma.Repassando cada gesto dele, seu jeito forte de pegar e apertar; provar e devorar; certamente ele estava acortumado a ter as mulheres se jogando aos seus pés.Ela não era feita de ferro. Que santa resistia a um homem daquele?Além de gostoso, forte, ele era muito atraente e másculo. E com um beijo desses, poderia fazer qualquer uma perder a sanidade.- Não seja burra Amélia! Pare de pensar nesse homem....
Logo que o dia amanheceu, já estava de pé. Pronta para sair em busca de emprego. Antes de clarear, ouviu o barulho da porta, com certeza Sam voltou para casa cedinho, para não perder o dia de trabalho.Ela sempre foi muito comprometida, mesmo quando ficava doente, não costumava faltar.A caminho da cozinha, passou quarto de Samanta, que estava aberto. Era totalmente diferente do seu, em gosto e pertences. Equanto sua prima era romântica e delicada, o seu gosto era mais sóbrio e sério sem ser impessoal.O seu quarto já era o oposto, era básico apenas com uma cópia de uma pintura de Renoir, era simples e as paredes em amarelo claro conferiam um certo aconchego, os móveis eram rústicos e pequenos e o único detalhe pessoal era uma foto das duas no porta retrato no criado mudo com um abajur simples.Havia várias roupas sobre a cama, sandálias e sapatos muito bonitos e elegantes no chão. Sua prima estava sempre na dúvida do que vestir quando ia sair com aquele novo namorado, era como se ela
Procurar emprego é cansativo e frustrante. Ela rodoy o dia todo procurando uma vaga que cubrisse seus gastos. Mas não encontrou nada que chegasse perto. O único lugar que estava pagando um pouquinho melhor, ficava muito longe da faculdade, e seria impossível chegar lá no horário das aulas.Amélia pegou o cartão do transporte público e guardou na bolsa. Passava das seis e meia da tarde, estava na hora de ir para a lanchonete.Sábado a noite era um dia muito movimentado no estabelecimento. Chegou ao lugar suada, com os cabelos presos em um coque frouxo, e uma mancha na calça jeans. Alguém passou por ela dentro do ônibus e derramou molho de alguma coisa na sua roupa.Cumprimentou algumas pessoas que eram clientes assiduos, e se voltou para os fundos.A cozinha já exalava o cheiro de fritura dos salgados e lanches. Gostava de trabalhar ali, porque não tinha que lidar com o público.O tempo passou rápido. Logo já estava na hora de limpar tudo e encerrar a noite. Levou a última bandeja pa
-Para onde está me levando? Isso é sequestro, sabia?! - protestou ela. Ícaro cerrou o maxilar, evidenciando sua irritação. Lançou um olhar penetrante na direção dela e não disse mais nada. -Pare o carro, eu quero descer! Amélia tentava abrir a porta inutilmente. O cheiro forte de óleo de fritura que ela exalava, deixava a mulher ainda mais constrangida. Não deveria estar perto desse homem de novo. Muito menos assim, suja e cheirando a salgado frito! Que merda de sina era essa, que toda vez que estava mal vestida e nada apresentável, esse riquinho aparecia?! A camiseta azul clara que vestia, estava colada nos seios grandes e nas dobras de gordura de sua barriga. Havia manchas de molho nela, porque o avental que usava na cozinha era pequeno demais para o seu tamanho. Que vergonha! Amélia abraçou a mochila para esconder aquela visão horrível. Seus cabelos estavam presos no costumeiro coque no alto da cabeça, e alguns fios se enroscavam em seus brincos de trio. -Deveria estar em
ÍcaroA pasta sobre sua mesa continha documentos importantes sobre o novo projeto da Acrópole. Estava assinando as páginas que já tinha revisado, quando seu assistente bateu na porta e entrou.- Estava me perguntando onde você se meteu a manhã toda.- Você estava precisando de mim? – Ticiano tirou o celular do bolso, checando sua tela. – Não tem nenhuma chamada perdida.- É porque eu não te liguei. – respomdeu, sem levantar os olhos dos papeis que assinava. – Sente-se.- O complexo da Casa Verano foi concluído com sucesso. A inauguração contarará com um evento grande, eles contam com a sua presença e a do senhor Alberto.Na hora do almoço, sempre repassavam os compromissos para os próximos dias. Era uma maneira eficiente de se preparar para suas reuniões.- A viagem para Dallas está marcada para o dia dezenove, daqui a oito dias, a transação com a Hilse esta na faze final, a sua presença fechará o negócio.- Meu irmão confirmou presença?- O senhor Alberto não irá, disse que não pode
O barulho da porta se abrindo confirmou a chegada de Alberto ao seu apartamento. Margarete, sua única funcionária doméstica, recebeu seu irmão e informou onde deveria encontra-lo.Na sala de estar, ouviu a aproximação do outro, mas não se voltou. Seus pensamentos ainda estavam fixos naquela mulher.Amélia, era um nome que combinava com essa versão que ele reencontrou. Era forte, decidida e destemida. Atraente e sedutora, ao mesmo tempo tímida com a própria feminilidade.Estava muito interessado em descobrir, desbravar suas emoções, seus medos e anseios, conhecer e saber de tudo em relação a ela. Amélia também era muito interessante intelectualmente.Ticiano fez um trabalho completo, por isso teve acesso aos documentos acadêmicos dela. Os traços de seus projetos eram únicos, um talento formidável. Não compreendia por que ela não estava sendo disputada entre as empresas que buscavam novos talentos, ainda na faculdade.A sociedade preconceituosa era uma vadia cruel.Na Acrópole, ela pode