Capítulo 4 Manequim 48

Aos poucos Amélia foi acordando, estava em um quarto branco e amarelo pálido com uma tv enorme embutida na parede, um vaso de flores do campo de perfume suave; era um hospital particular.

Não fazia ideia de como foi parar ali, ela não tinha convênio médico e nem um centavo no bolso para pagar. Se sentou na cama reclinada confortável, o lençol macio escorregou revelando a camisola fina com o logotipo do lugar de alto padrão.

Esse é o tipo de hospital que os artistas e gente montado na grana procura quando precisa.

 Pelo menos a dor praticamente sumiu. Não via sinais de que passou por algum procedimento cirúrgico, felizmente.

Amélia suspirou de alívio. Sentindo-se observada, ela se virou nos travesseiros macios; seus olhos se depararam com um homem parado perto da porta fechada.

O homem a observava em silêncio. Incrivelmente alto e forte, imponente, o terno preto de alfaiataria cara talhava um porte muito sofisticado e másculo. O físico desenvolvido era invejável; os olhos de tom profundo de cinza esverdeado, faziam seu rosto ser ainda mais expressivo.

Com a barba farta, perfeitamente aparada, moldando o queixo longo e quadrado, ele parecia encarnar um verdadeiro espartano.

 Cada detalhe de sua aparência exalava força e mistério, como se fosse esculpido para atrair olhares. Os lábios, alinhados em uma linha precisa, conferiam um toque de severidade que apenas acentuava sua expressão marcante e impecavelmente desenhada.

Tudo nele irradiava masculinidade, poder e uma aura enigmática que parecia prender o ambiente ao seu redor. Seu magnetismo era quase irresistível, um reflexo de sua essência indomável.

Ela percebeu que estava olhando para ele por tempo demais. Envergonhada, piscou os olhos algumas vezes.

Fazia muito tempo que não se deparava com alguém daquela posição social. Se sentia tão insignificante perto de alguém como aquele homem a sua frente.

Ele retirou uma das mãos do bolso da calça e passou pelos cabelos castanhos claros, os alinhando no corte moderno, os fios estavam úmidos pela chuva.

O homem andou com passos firmes para perto da cama, parando somente quando a viu puxar o lençol rapidamente e se cobrir até o pescoço.

- Acho que está no quarto errado, senhor. - os olhos dela travaram nos dele em desafio.

Que merda! Ele não deveria se aproximar assim. Amélia não queria ficar perto de alguém como ele.

O cara olhou para ela com severidade. Amélia se arrepiou de uma forma diferente, ela não sabia traduzir o que estava sentindo.

Era vergonha? Medo ou Curiosidade?

- Não estou no quarto errado, Amélia Bastos.

O choque de seu nome pronunciado por aquele tom de voz grosso e rude, a deixou sem reação.

Ele continuou olhando fixamente nos seus olhos. De repente, seus lábios se curvaram levemente para o lado esquerdo, fomando um meio sorriso diabolicamente atraente.

- Estou no lugar de seu responsável, momentaneamente.

Levou alguns minutos para compreender o que ele queria dizer com essa afirmação, mas logo entendeu a situação toda.

Amélia só conseguiu sentir raiva, desalento e frustração, desviou o olhar para a janela como se perdesse o interesse na conversa e naquela pessoa.

- Então foi você quem me atropelou. - ela acenou com a mão esfolada, despreocupadamente. - Eu não vou prestar queixa, estava chovendo, fica propício a acidentes.

Agora entendia quem ele era e como sabia seu nome. Ele a atropelou e como precisava prestar socorro, pegou seus documentos de identificação e se responsabilizou por ela no hospital.

- Não deveria mesmo. Você foi imprudente. – o tom de voz rude dele, era como se estivesse tocando sua pele.

Quem ele pensa que é?!

- Foi você quem me atropelou! O único imprudente aqui é você. Eu já disse que não vou prestar queixa, portanto pode ir embora.

- Somente uma maluca para tentar concertar um carro sob a chuva sem nenhuma ferramenta.

- Você não sabe nada sobre mim! É só um riquinho arrogante. – Amélia respondeu com rispidez.

Seus olhos ferviam de raiva. Agora ela quem provocou seu próprio acidente! Era só o que faltava.

- Não estou preocupado com o que você acha. Se está bem, vista-se. Vou te levar para sua casa.

- Não preciso de ajuda, você pode ir embora.

- Mesmo? – ele ironizou. – Como vai sair daqui sem a sua bolsa e sem nenhum dinheiro? Vai voltar para casa andando?!

- Ótimo! – ela resmungou entendendo que ele estava certo.

Assim que percebeu que os olhos dele estavam avaliando seu corpo. Praguejando baixinho, ela se enrolou ainda mais no lençol do hospital.

Amélia estava mortificada de vergonha, já conseguia imaginar os pensamentos depreciativos dele, enquanto fazia aquela análise descarada.

- Se essa é a única forma de me livrar de você, saia. Eu vou me vestir. - respondeu enfrentando seu olhar firme e minucioso.

- Como quiser, Amélia. – ele respondeu com um sorriso misterioso.

A entonação melódica que usou para falar o seu nome, provou um verdadeiro caos em seu interior. Esse maldito estava brincando com a cara dela.

Assim que ele saiu, se levantou procurando suas roupas. Entrou no banheiro, mas não encontrou nada lá.

Queria ir para casa sem olhar para esse homem de novo, mas não adiantava fazer birra, ninguém viria buscá-la, e ele estava com a sua bolsa.

Também precisa buscar o seu carro. Se ele ficasse na frente daquele prédio, com certeza seria levado pelo guincho.

A roupa de camaleão não estava em nenhum lugar. Estava prestes a se enrolar no lençol e sair para perguntar por ela, quando viu uma sacola de papel sobre a poltrona de tecido cru.

Dentro dela havia um vestido preto, com decote desenhado em renda, que se abria em foma de A depois da cintura. A etiqueta mostrava o nome de uma grife plus size exclusiva, com o tamanho exato de seu manequim; 48.

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