O cheiro do homem ao seu lado era uma droga. Uma mistura alucinógena entre o amadeirado sofísticado e o doce excêntrico. Amélia se pegou inspirando fundo, só para reter aquele cheiro delicioso por mais tempo.
Suas mãos enormes, com veias saltadas segurando a direção, expunha um anel de obsidiana, e um relógio caríssimo de edição limitada.
Lembrava-se que esse modelo era único, alguém da sua antiga vida, tentou adquirir aquele relógio. E quando não conseguiu, foi ela quem arcou com as consequências.
Amélia se encolheu. Queria esquecer tudo aquilo, até agora se saiu bem, ela nunca conviveu ou encontrou pessoas como esse homem. Fez um bom trabalho em se esconder e recomeçar como uma outra pessoa.
Até aquele acidente, não tinha cruzado com ninguém que pudesse comprometer sua identidade. Sua terapia estava indo muito bem, sua vida era sacrificante, mas a liberdade não tinha preço.
Estava tudo bem. Logo chegaria em casa, e ela fecharia essa porta e jogaria a chave fora.
O que aconteceu a poucas horas seria somente a lembrança de um incidente infeliz. Repetia esse mantra constantemente em seus pensamentos, para se esquecer dos fantasmas de seu passado.
Após meia hora rodando pelas ruas cheias de movimento da cidade, ele a chamou de suas considerações angustiantes e a controversa atração que sentia por esse desconhecido arrogante.
Na verdade enquanto tentava não ser notada, acontecia exatamente o oposto, se sentia coberta pelo olhar cinza escuro mesmo que parecesse o contrário. Era como uma invasão invisível aos seus pensamentos.
- Você ainda não comeu. Vou parar em algum lugar para jantar.
Ele disse concentrado na direção do carro silencioso, o painel digital mostrava que alguém ligava insistentemente, mas não parecia disposto a atender.
Amélia sentiu o nó na sua garganta se formar. Óbvio que um homem daquele, pensaria que uma gorda como ela só pensava em comida. Sentia raiva por ele não passar de mais um preconceituoso que cruzava seu caminho.
-Não estou com fome. Quero ir direto para casa – suas palavras foram firmes, o tom de voz baixo soou hostil até mesmo para ela.
A reação dele foi quase palpável, sua irritação com a resposta deixava evidente que não estava acostumado a ser contrariado e muito menos ser tratado com aquele tom.
Aumentou a velocidade do carro, cerrando seu maxilar. O perfil anguloso se tornou austero e feroz.
Olhou para ela por breves segundos, sem dizer uma palavra.
Seguiu dirigindo em silêncio. Amélia ficou apreensiva quando pensou ter visto um meio sorriso no rosto dele. Que diabos esse homem estava pensado? Ele não estava irritado?!
Será que estava rindo de quão ridícula ela era, ou ria da situação hilária que estava vivendo essa noite?
De qualquer modo, nunca iria saber. Voltou sua atenção para a janela novamente, não queria manter aquela tensão, porque seus nervos já estavam em frangalhos.
A chuva havia parado e a estrada molhada refletia as luzes da cidade parecendo milhões de pedras preciosas. O azul escuro do céu parecia um imenso manto de veludo estendido sobre eles.
Em seu interior, se recriminou por deixar aquele homem a convencer de levá-la pra casa. Ficou pensando que ele recebeu todas informações sobre seu quadro clinico. Que constrangedor.
Não entendia por que ele ficou se poderia ter chamado o socorro e depois mandar alguém verificar se era necessário sua presença. Qualquer assistente resolveria aquele problema, isso bastaria para um homem como ele.
Nada que pensava, parecia ser compatível com a atitude que ele tomou. O rádio estava ligado em uma música bonita e triste ao mesmo tempo, era uma operata de uma soprano italiana da década de trinta.
Particularmente, ela adorava aquela obra. Olhando para ele disfarçadamente, viu como era ainda mais atraente, sua presença dominava tudo, era impressionante.
Um sorriso insinuante revelava que ele havia percebido sua avaliação. Instintivamente Amélia fechou a cara e se voltou novamente para a janela, feliz ao perceber que estavam na sua rua.
Finalmente essa noite horrível teria fim.
O carro parou suavemente, ele desceu e abriu a porta para ela. Isso não fazia sentido, para quê agir dessa forma com ela?! Tanto calheirismo com uma gorda, era um desperdício.
- Você deve descansar. Sofreu uma leve concussão na cabeça. - ele lhe estendeu um cartão elegante, junto com seus documentos.
Amélia pegou somente suas coisas, levantou os olhos atrevidos sem pegar o cartão.
- Não preciso disso.
- Ah não? – ele se aproximou, projetando sua figura imensa sobre ela. Seus olhos escureceram, a pouca iluminação da rua criava uma sombra em sua expressão severa e atraente. – E como planeja me pagar?
- Pagar? Do que está falando? – perguntou confusa.
- Pelo vestido.
Ele colocou um braço de cada lado do corpo dela, prendendo a mulher contra o carro. Amélia segurou o ar, inalando seu inebriante perfume, ele estava muito, muito perto.
Não conseguia pensar direito, por que ele estava tão perto?!
- Você disse que pagaria por esse vestido. Estava mentindo?
- É claro que não! Eu posso procurar suas informações na internet e...
Respondeu baixando os olhos para evitar aquelas íris de aço líquida, que queimavam sua pele.
- Mas você não sabe o meu nome. – uma de suas mãos enormes agarrou a cintura dela, colidindo seus corpos com força. - Sabe?
- Não.. eu...
- Presta atenção, para nunca mais esquecer.
O homem, agarrou seus cabelos com a outra mão, fazendo Amélia levantar a cabeça e enfrentar seu olhar.
- Ícaro Darius.
O som grave de sua voz, era como uma punição. No instante seguinte a boca dele tomou a dela. Seus lábios vigorosos consumiam os seus, abrindo passagem por sua boca. A barba grossa contra sua pele despertava uma sensação deliciosa e arrepiante.
Amélia sentiu o gosto intenso de sua língua que invadia cada canto da dela com aquele beijo possessivo.
Sua língua involuntariamente começou a se mover, dançando contra a dele, desfrutando daquele sabor de malte adocicado impregnado à sua própria essência.
Ele a segurava com força, apertando sua cintura imperfeita, afundando seus dedos na carne quente de seu corpo.
Amélia se arrepiou, o calor e a eletricidade daquela beijo obsceno, deixou sua mente em branco. Não se lembrava mais de onde estava e nem das circunstâncias desse encontro improvável.
Abraçou o pescoço dele, sentindo seus seios grandes se amassarem contra o peito firme como uma parede. Ícaro Darius, segurou seu queixo, sugando seus lábios com desejo e luxuria.
Como se reafirmasse sua posse sobre ela. Sua mão esquerda desceu para os quadris largos de Amélia e agarraram suas nádegas com força, a pressionando contra uma ereção monstruosamente grande.
Um gemido escapou contra a boca máscula, que degustava sua língua como um doce sublime.
Até que uma buzina estridente de um carro que passava, a trouxe de volta para a terra.
Amélia interrompeu o contato, afastando seus lábios inchados e vermelhos. Por mais de um minuto, ela mergulhou nos olhos desse estranho que a arrebatou com esse beijo cheio de poder e paixão
Ícaro mantinha o aperto firme em sua cintura, um sorriso charmoso, prepotente e satisfeito cruzou seus lábios marcantes.
- Nunca mais esqueça meu nome, Amélia Bastos.
ÍcaroO vestido que mandou trazerem para ela, caiu como uma luva, modelando sua cintura e os seios redondos e volumosos. Sua boca ficava seca de vontade, só de olhar para o contorno daquele decote.A surpresa em reencontrar aquela menina mascarada ainda provocava um frenezi por todo o corpo. Se conter deixou de ser uma opção, depois de tanto tempo, não poderia deixar ela ir sair assim, sem ter certeza que essa mulher gostosa, de olhos desafiadores, era a sua garota daquela noite.O gosto dela era o mesmo. A boca quente de lábios indecentes, a reação pecaminosa de seu corpo ao dela. Sim. Não tinha dúvidas. Era ela, com certeza. A sua garota.O olhar confuso dela inflamava seu sangue, deveria possuír Amélia Bastos no meio da rua? Talvez assim, ela se lembraria de como gemeu inocentemente sob seu corpo, enquanto pedia por mais de seu toque.- Não deveria ter feito isso...A voz dela soou tão baixa, que por um instante julgou ter imaginado suas palavras.Levou a mão ao seu rosto, passand
AméliaA certeza de que fez papel de ridícula era mortificante, mas ela só queria sair da presença daquele homem que a fazia se sentir em brasa viva.Como foi que aquele beijo aconteceu? Tocou os lábios com as pontas dos dedos, ainda sentindo a boca dele ali. Seu sangue pulsava para áreas adormecidas do seu corpo.Deslizou contra a porta. O que havia de errado com ela?! As pernas amoleceram, como se fossem parafina contra o fogo. O batimento acelerado de seu coração deixou a garganta seca, sedenta de algo que não era água.- Eu preciso arrumar um namorado... – murmurou para si mesma.Repassando cada gesto dele, seu jeito forte de pegar e apertar; provar e devorar; certamente ele estava acortumado a ter as mulheres se jogando aos seus pés.Ela não era feita de ferro. Que santa resistia a um homem daquele?Além de gostoso, forte, ele era muito atraente e másculo. E com um beijo desses, poderia fazer qualquer uma perder a sanidade.- Não seja burra Amélia! Pare de pensar nesse homem....
Logo que o dia amanheceu, já estava de pé. Pronta para sair em busca de emprego. Antes de clarear, ouviu o barulho da porta, com certeza Sam voltou para casa cedinho, para não perder o dia de trabalho.Ela sempre foi muito comprometida, mesmo quando ficava doente, não costumava faltar.A caminho da cozinha, passou quarto de Samanta, que estava aberto. Era totalmente diferente do seu, em gosto e pertences. Equanto sua prima era romântica e delicada, o seu gosto era mais sóbrio e sério sem ser impessoal.O seu quarto já era o oposto, era básico apenas com uma cópia de uma pintura de Renoir, era simples e as paredes em amarelo claro conferiam um certo aconchego, os móveis eram rústicos e pequenos e o único detalhe pessoal era uma foto das duas no porta retrato no criado mudo com um abajur simples.Havia várias roupas sobre a cama, sandálias e sapatos muito bonitos e elegantes no chão. Sua prima estava sempre na dúvida do que vestir quando ia sair com aquele novo namorado, era como se ela
Procurar emprego é cansativo e frustrante. Ela rodoy o dia todo procurando uma vaga que cubrisse seus gastos. Mas não encontrou nada que chegasse perto. O único lugar que estava pagando um pouquinho melhor, ficava muito longe da faculdade, e seria impossível chegar lá no horário das aulas.Amélia pegou o cartão do transporte público e guardou na bolsa. Passava das seis e meia da tarde, estava na hora de ir para a lanchonete.Sábado a noite era um dia muito movimentado no estabelecimento. Chegou ao lugar suada, com os cabelos presos em um coque frouxo, e uma mancha na calça jeans. Alguém passou por ela dentro do ônibus e derramou molho de alguma coisa na sua roupa.Cumprimentou algumas pessoas que eram clientes assiduos, e se voltou para os fundos.A cozinha já exalava o cheiro de fritura dos salgados e lanches. Gostava de trabalhar ali, porque não tinha que lidar com o público.O tempo passou rápido. Logo já estava na hora de limpar tudo e encerrar a noite. Levou a última bandeja pa
-Para onde está me levando? Isso é sequestro, sabia?! - protestou ela. Ícaro cerrou o maxilar, evidenciando sua irritação. Lançou um olhar penetrante na direção dela e não disse mais nada. -Pare o carro, eu quero descer! Amélia tentava abrir a porta inutilmente. O cheiro forte de óleo de fritura que ela exalava, deixava a mulher ainda mais constrangida. Não deveria estar perto desse homem de novo. Muito menos assim, suja e cheirando a salgado frito! Que merda de sina era essa, que toda vez que estava mal vestida e nada apresentável, esse riquinho aparecia?! A camiseta azul clara que vestia, estava colada nos seios grandes e nas dobras de gordura de sua barriga. Havia manchas de molho nela, porque o avental que usava na cozinha era pequeno demais para o seu tamanho. Que vergonha! Amélia abraçou a mochila para esconder aquela visão horrível. Seus cabelos estavam presos no costumeiro coque no alto da cabeça, e alguns fios se enroscavam em seus brincos de trio. -Deveria estar em
ÍcaroA pasta sobre sua mesa continha documentos importantes sobre o novo projeto da Acrópole. Estava assinando as páginas que já tinha revisado, quando seu assistente bateu na porta e entrou.- Estava me perguntando onde você se meteu a manhã toda.- Você estava precisando de mim? – Ticiano tirou o celular do bolso, checando sua tela. – Não tem nenhuma chamada perdida.- É porque eu não te liguei. – respomdeu, sem levantar os olhos dos papeis que assinava. – Sente-se.- O complexo da Casa Verano foi concluído com sucesso. A inauguração contarará com um evento grande, eles contam com a sua presença e a do senhor Alberto.Na hora do almoço, sempre repassavam os compromissos para os próximos dias. Era uma maneira eficiente de se preparar para suas reuniões.- A viagem para Dallas está marcada para o dia dezenove, daqui a oito dias, a transação com a Hilse esta na faze final, a sua presença fechará o negócio.- Meu irmão confirmou presença?- O senhor Alberto não irá, disse que não pode
O barulho da porta se abrindo confirmou a chegada de Alberto ao seu apartamento. Margarete, sua única funcionária doméstica, recebeu seu irmão e informou onde deveria encontra-lo.Na sala de estar, ouviu a aproximação do outro, mas não se voltou. Seus pensamentos ainda estavam fixos naquela mulher.Amélia, era um nome que combinava com essa versão que ele reencontrou. Era forte, decidida e destemida. Atraente e sedutora, ao mesmo tempo tímida com a própria feminilidade.Estava muito interessado em descobrir, desbravar suas emoções, seus medos e anseios, conhecer e saber de tudo em relação a ela. Amélia também era muito interessante intelectualmente.Ticiano fez um trabalho completo, por isso teve acesso aos documentos acadêmicos dela. Os traços de seus projetos eram únicos, um talento formidável. Não compreendia por que ela não estava sendo disputada entre as empresas que buscavam novos talentos, ainda na faculdade.A sociedade preconceituosa era uma vadia cruel.Na Acrópole, ela pode
AméliaAmélia já tinha amaldiçoado os sapatos de salto uma centena de vezes, infelizmente era necessário aguentar aquele incomodo.Olhou para a fachada do prédio sentindo um misto confuso de emoções. Desde que parou ali na calçada, não conseguia parar de admirar a riqueza de detalhes daquele lugar, o prédio chamava atenção por sua singularidade despretensiosa e elegante desde o exterior.A Acrópole é sinônimo de inovação, requinte e sofisticação.“Por que eu estou aqui?” Se perguntou, pela enésima vez.O motivo que a levou a esse momento, deveria se parecer com uma coincidência feliz. Mas somente uma idiota acreditaria nisso.Na última aula, o professor designado como seu orientador de TCC, pediu que ficasse um pouco mais para conversarem. Imaginou que o assunto seria as últimas modificações em sua tese, mas o que ele disse deixou Amélia sem palavras por um tempo.Segundo ele, o perfil acadêmico dela foi indicado para preencher uma vaga júnior na maior Holding de arquitetura da Améric