Capítulo 2 Demissão

Amélia bateu na porta, respirando fundo para que não transparecesse sua frustração e raiva na frente daquele cara mesquinho.

Ele era um sujeito de meia idade, com pouco cabelo seboso, usava roupas sociais baratas e cara de que estava sempre com dor.

Jaime Caetano sempre lhe dava trabalho extra quase no fim do expediente. Ele não gostou da sua contratação, que foi feita pelo gerente geral das lojas.

Segundo ele, Amélia não tinha a imagem que a Color Graphic precisava para suas atendentes; ou seja ela não servia para um conjunto de lojas de gráfica, porque não tinha o mesmo perfil físico de Jéssica.

Magra, de cabelos compridos e olhos claros. Ela não era muito eficiente, e costumava faltar bastante, mas esse era o padrão correto para seu chefe.  A linda Jéssica, foi contratada por ele pessoalmente.

Já imaginando o que estava por vir, seu estômago que roía de fome, passou a doer de nervoso.

A enxaqueca que iniciou por causa do calor escaldante lá fora, agora estava no auge. Ela só pensava em ir pra casa tomar um banho gelado e estudar um pouco, antes de dormir mais cedo.

Um luxo que não tinha há meses.

Hoje felizmente, não teria aula. Esperou por essa chance de descansar um pouquinho a semana toda.

Antes de entrar, Amélia se controlou para não perder a paciência com a arrogância e folga daquele sujeito, aspirou o ar com força e tentou adquirir uma serenidade que estava longe de sentir.

Mesmo no fim da tarde, estava muito calor. Nem o ar condicionado da loja era capaz de acabar com esse desconforto dentro da roupa peluciada.

Odiava profundamente aquela fantasiava. Sonhava secretamente com o dia em que colocaria fogo naquele negócio horrível. Principalmente porque ela aumentava ainda mais sua silheta avantajada.

Aquele troço foi feito para lembrá-la de que estava gorda.

Entrou no escritório pequeno que cheirava a cigarro e chicletes de menta. Logo de cara viu que Caetano estava de pé, com uma carranca ainda pior que o normal. Isso não era nada bom.

- Você não precisa se sentar, eu serei rápido. – ele disse quando a viu olhar para a cadeira a sua frente, doida para descansar as pernas.

- Tudo bem, o que precisa Caetano?

- A empresa agadece o trabalho de todos durante esses anos, mas infelizmente precisaremos cortar gastos. O salário dos funcionários terá uma redução de sete por cento.

- Mas isso não é certo, mais de quize pessoas só nessa produção, dependem desse emprego e passam apertado com o salário mensal. Se a empresa diminuir ainda mais, não teremos como pagar nossas contas.

Era só o que faltava, se eles fizessem isso seu pagamento não cobriria o valor da faculdade, nem com seu trabalho extra.

- Não temos outra opção. Como está mais familiarizada com o pessoal da produção, você fará o comunicado a eles amanhã de manhã, até o meio dia todos devem estar cientes do reajuste de salários.

-Algo mais? – Amélia só conseguia pensar em sair daquela sala e ficar longe daquele homem detestável.

- Sim, você fez o relatório de compras que eu pedi mais cedo?

- Mas você não pediu esse relatório, geralmente sempre faço na segunda.

Sentiu a raiva fervilhar, aquele sujeito já estava com tudo planejado para faze-la trabalhar até tarde. Além de fechar a loja, porque a dondoca da recepção foi embora.

Jéssica nunca voltava quando saia mais cedo, como hoje.

- Preciso dele para hoje, então não perca tempo e vá fazê-lo. Nem pense em usar a faculdade como desculpa, eu sei que hoje você não tem aula. Me envie por e-mail, tenho um compromisso e já estou de saída.

O homem alisou o pouco cabelo que tinha, e se sentou em sua cadeira gesticulando com a mão para que ela saísse.

Caetano certamente estava de encontro marcado com Jéssica para essa noite. O caso dos dois, era do conhecimento de todos.

Saiu da sala dele, sem olhar de novo para sua cara de desgosto. Quando ele liberava Jéssica mais cedo, era porque ficariam juntos em algum motel da cidade.

Como Amélia sempre reclamava de ficar no lugar da protegida de Caetano, ele gostava de castigá-la.

Olhou no relógio, já eram seis e meia, com certeza só terminaria tudo após as oito; estava virando rotina isso, e seu tempo para preparar sua tese estava acabando.

Ainda faltava metade para a conclusão, pois no seus únicos dias livre, estava trabalhando até tarde.

Ali parada no pequeno corredor, Amélia apertou o estômago que doía mais que o normal. A gastrite nervosa era sua companheira implacável.

Respirou fundo, sua mente foi tomada por um pensamento óbvio. Porque ainda trabalhava ali?

 Suportou por tempo demais o chefe que constantemente a humilhava por sua aparência. Ele sempre a perseguiria no ambiente de trabalho. Não se importava em soterrar a mulher gorda em funções de outras pessoas com tarefas extras. Caetano achava que ela merecia isso, pela audácia de trabalhar ali.

Seus estudos já estavam sofrendo o impacto desse desequilíbrio, e sua saúde também. Não havia maneiras diplomáticas para lidar com esse problema. Houve várias tentativas anteriores. Precisava tomar uma atitude.

Chega! Não passou por um inferno, para viver dessa forma. Marchou de volta para a porta do escritório rapidamente, temendo que sua convicção falhasse.

Bateu novamente, e assim que ele resmungou uma resposta desagradável, e Amélia entrou na sala de uma vez.

- Já chega! Eu estou cansada de ser feita de idiota! Tudo tem limite! Estou caindo fora! Envio por e-mail minha carta de demissão.

- Como é?

O rosto do homem ficou roxo de raiva, ele se levantou bruscamente.

- Você acha que terá outra oportunidade como esta? Quem vai fazer o relatório?!

- Você! essa é a sua função! E não se preocupe, tenho certeza que posso arrumar um emprego melhor.

A raiva por todos os insultos e piadinhas enfim explodiu, não conseguia mais conter as palavras. Caetano não merecia nenhum respeito ou consideração.

- Com certeza encontrarei um bom trabalho. Um emprego que eu não tenha que executar as funções do meu gestor adicionadas as minhas, sem contar o assédio moral.

- Se você acredita que foi assediada, por que não me acusa? – ele riu ironicamente. – Parece que você não se enxerga mesmo não é Amélia? Eu nunca ficaria com alguém como você, nem mesmo bêbado dá para encarar.

- Já estou acostumada com seus insultos, eles não tem mais efeitos sobre mim. Não vale a pena discutir com você.

Reunindo todo o seu orgulho, ela levantou a cabeça e se dirigiu a porta o mais rápido que pode, seus nervos estavam tremendo e sua cabeça doía a ponto de pulsar em suas têmporas.

O imbecíl entendeu que estava sendo acusado de assédio sexual. Ele era tão ignorante e inapto, que não fazia ideia da diferença entre ambos. Para ela, era irritante demais lidar com uma pessoa assim, que se achava o tal.

No fim, Caetano não correspondia ao básico de suas atribuições profissionais, ainda se perguntava como ele foi contratado como gerente daquela loja.

- Não vai demorar pra você voltar implorando para ficar, e vai se arrepender dessse seu showzinho carente de atenção, sua gorda idota.

Amélia sentiu vontade de vomitar com aquelas palavras, mas reuniu seu orgulho ferido e pegou sua mochila rapidamente. Nem se importou em se trocar, só queria sair dali o mais rápido possível.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo