Se achou bonita, mas o sentimento de melancolia voltou a tomar conta dela. A mansão era grande demais, silenciosa demais, e ela se sentia sufocada pelas paredes que a cercavam.
O tédio a invadiu novamente, e Isabela decidiu que precisava sair de casa. Talvez uma tarde de compras no centro da cidade a ajudasse a afastar a monotonia. Além disso, era uma boa desculpa para conhecer um pouco mais sobre o novo motorista, a quem ela mentalmente apelidara de "Sr. Misterioso". Com essa ideia em mente, se arrumou brevemente, escolhendo uma roupa mais elegante, e pegou o celular para enviar uma mensagem a Eduardo.
"Eduardo, gostaria de fazer algumas compras no centro hoje. Posso sair um pouco?"
A resposta não tardou a chegar, e foi exatamente o que ela esperava.
"Estou muito ocupado. Não saia sozinha. Leve o novo motorista com você."
Isabela suspirou. Eduardo sempre preocupado com a imagem pública e a segurança, mas nunca com seus sentimentos. Decidida a aproveitar a oportunidade, chamou Leonardo.
— Leonardo, preciso ir ao centro da cidade fazer algumas compras. Pode preparar o carro, por favor? — disse ela, tentando soar casual.
— Claro, senhora. Estarei pronto em um momento — respondeu Leonardo, com a mesma postura profissional de antes.
Poucos minutos depois, Leonardo estava com o carro preparado. Ele abriu a porta para Isabela, que entrou sentindo uma leve emoção com a proximidade do Sr. Misterioso. Enquanto dirigiam pelas ruas movimentadas de São Paulo, Isabela tentou iniciar uma conversa.
— Leonardo, há quanto tempo você trabalha como motorista? — perguntou ela, olhando pela janela.
— Há alguns anos, senhora. Tive a oportunidade de trabalhar em diferentes lugares e conhecer muitas pessoas interessantes — respondeu ele, mantendo os olhos na estrada. — Estou morando em São Paulo há pouco tempo e o Sr. Eduardo me deu essa oportunidade de trabalho.
— E o que o trouxe para esta cidade? — Isabela continuou, curiosa.
— Busquei novas oportunidades e desafios. Gosto de mudanças, elas nos mantêm alertas — disse ele, com um leve sorriso.
O silêncio confortável pairou por um momento, até que Leonardo fez uma observação humorística sobre o trânsito caótico.
— Às vezes, penso que os motoristas desta cidade acreditam que estão em uma corrida de Fórmula 1. Olhe aquele ali, parece que está tentando ganhar o prêmio de ultrapassagem mais arriscada — comentou ele, apontando discretamente para um carro que ziguezagueava entre as faixas.
Isabela riu do comentário bobo. A risada foi um alívio bem-vindo, algo que ela não sentia há muito tempo.
— É um comentário meio bobo — disse ela, ainda sorrindo.
— Às vezes, o humor é a melhor maneira de lidar com o caos ao nosso redor, senhora — comentou Leonardo, olhando-a pelo retrovisor.
Chegaram ao centro da cidade, e Leonardo estacionou. Antes de sair do carro, ele voltou-se para Isabela.
— Deseja que eu a acompanhe nas compras, senhora? — perguntou ele, sempre cortês.
— Sim, por favor. Pode ser útil — respondeu Isabela, sentindo-se mais à vontade com a companhia dele.
Enquanto caminhavam pelas lojas, Leonardo se mostrou atento e prestativo, mas também soube dar espaço para Isabela fazer suas escolhas. Isabela tinha uma lista de lojas que precisava visitar, e Leonardo a acompanhava de perto, sempre pronto para ajudar. Em um momento, enquanto experimentava um vestido, Leonardo fez outro comentário leve que a fez rir novamente.
— A senhora ficaria maravilhosa até com um saco de batatas, mas esse vestido realmente realça sua elegância — disse ele, com um brilho divertido nos olhos.
Isabela riu mais uma vez, sentindo-se leve e descontraída. A presença de Leonardo era surpreendentemente agradável, e ela apreciava a forma como ele conseguia tornar o dia mais ameno.
Depois de algumas horas de compras, Isabela e Leonardo voltaram para o carro. O trajeto de volta à mansão foi tranquilo, com uma conversa leve fluindo naturalmente entre eles. Isabela percebeu que, pela primeira vez em muito tempo, tinha tido um dia realmente agradável.
— Obrigada, Leonardo. Sua companhia foi muito boa hoje — disse ela, sincera.
— Fico feliz em saber, senhora. Estou aqui para ajudar no que for preciso — respondeu Leonardo, com um sorriso indecifrável.
Chegando à mansão, Leonardo ajudou Isabela com as sacolas e se despediu respeitosamente. Isabela subiu para o quarto, ainda sentindo os resquícios da leveza que o dia trouxera. Olhou-se no espelho novamente, desta vez notando um sorriso genuíno em seu rosto.
Pensou na ironia da situação: conversar com o próprio motorista tinha conseguido trazer emoções que ela, uma senhora rica teoricamente com tudo que o dinheiro poderia comprar, não tinha há muito tempo. Nem viagens, nem compras, preenchiam o vazio que ela sentia. Ela estava se sentindo muito carente. Mas o Sr Misterioso tinha alguma coisa especial em relação a ele. Isabela realmente não conseguia deixar de pensar nele.
Isabela se preparou para a chegada de Eduardo, organizando as compras e arrumando-se para o jantar. Quando Eduardo finalmente chegou, ele estava cansado e distante, como de costume. Durante o jantar, ele falou pouco, focando-se principalmente em seus negócios e no que esperava de Isabela para o próximo evento social.
Após o jantar, Eduardo se trancou em seu escritório dizendo que Isabela não o esperasse para dormir, que ele ainda se demoraria em uma reunião online com clientes estrangeiros.
— Eles estão na China. O fuso horário é um porre. Subirei mais tarde.
Isabela voltou ao seu quarto, sozinha.
Por algum motivo, o Sr. Misterioso ocupava um triplex na cabeça dela. Ele era muito bonito e interessante. E com certeza despertava algo nela que estava adormecido há muito tempo. Ansiosa pelo próximo dia, começou a pensar em que desculpas poderia dar para precisar sair da mansão, apenas para poder passar um pouco mais de tempo com ele. Naquela noite, Isabela dormiu com um leve sorriso nos lábios, esperando ansiosamente pelo que o próximo dia poderia trazer.
Na manhã seguinte, Isabela desceu para o café da manhã e foi surpreendida ao encontrar Eduardo presente na mesa. Geralmente, ele já havia saído para o escritório a essa hora. Sentou-se à mesa com ele.— Bom dia, Eduardo — disse ela, tentando esconder a surpresa.— Bom dia, Isabela — respondeu ele, sem levantar os olhos do jornal. — Estarei ocupado o dia todo, mas preciso que você vá à festa beneficente esta noite. Será importante que você nos represente.— Claro, Eduardo. Vou precisar de um vestido novo para o evento — respondeu Isabela, aproveitando a oportunidade.— Vá comprar um vestido então. Mas lembre-se, precisa ser algo adequado para a ocasião — disse ele, ainda sem desviar o olhar do jornal.— Obrigada, Eduardo. Farei isso — disse Isabela, sentindo uma rara alegria.Eduardo reagiu com impaciência, dobrando o jornal com força.— Só vá e compre o que precisa. Tenho muito o que fazer — disse ele, levantando-se abruptamente e saindo da mansão sem mais explicações.Isabela termino
Leonardo estacionou o carro perto do café e saiu rapidamente para abrir a porta para Isabela. Ela desceu do carro com um sorriso agradecido, apreciando o gesto cavalheiresco. Caminharam juntos até o café, e Isabela escolheu uma mesa em um canto tranquilo, longe dos olhares curiosos. A manhã estava clara e fresca, e Leonardo achou que o ambiente acolhedor do café parecia o lugar perfeito para relaxar e conversar. — Sente-se, Leonardo. Vamos tomar um café juntos — disse Isabela, indicando a cadeira em frente à sua. Leonardo hesitou por um momento, mas decidiu aceitar o convite. Sentou-se, tentando parecer profissional, mas sentindo-se bem mais à vontade fora dos muros da mansão. — O que vai querer, Isabela? — perguntou ele, sorrindo levemente. — Acho que vou querer um cappuccino. E você? — respondeu ela, pegando o cardápio. — Vou de expresso duplo — disse Leonardo, tentando esconder como ela era encantadora quando estava sorrindo. Enquanto esperavam pelo pedido, Isabela olhou ao re
O dia começou tranquilo para Isabela. Ela acordou cedo, determinada a aproveitar a manhã com Leonardo, mas algo na atmosfera parecia diferente. Sentia-se inquieta, como se pressentisse que algo ruim estava para acontecer. Decidiu não deixar que isso a abatesse e se preparou para o dia. Estava uma manhã de sol muito bonita, e ela resolveu que seria uma boa ideia aproveitar o jardim da mansão. Ela poderia meditar sobre os últimos acontecimentos, se acalmar e pensar melhor sobre se deveria tomar algum tipo de atitude em relação à sua vida. — Bom dia, Marta. Vou dar uma volta no jardim — disse Isabela, enquanto terminava de tomar seu café da manhã. — Claro, Dona Isabela. Tenha um bom dia — respondeu Marta, sempre atenciosa, enquanto tirava a louça da mesa. Isabela caminhou pelos corredores da mansão e saiu para o jardim, apreciando a beleza das flores e a tranquilidade do lugar. Ela sempre se sentia mais calma ali, longe das preocupações e tensões do dia a dia. Sentou-se em um banco per
Leonardo observou cuidadosamente o armazém abandonado de sua posição segura. Ele sabia que precisava agir rapidamente e com precisão. Determinado a resgatar Isabela e obter provas contra Ferrari e Eduardo, ele fez um plano. Pegou sua câmera de alta resolução, um microfone direcional e alguns dispositivos de gravação de áudio que sempre mantinha por perto para emergências. Ele se aproximou silenciosamente do armazém, usando a penumbra do local a seu favor. Havia dois guardas do lado de fora, mas Leonardo conseguiu se aproximar despercebido, graças ao seu treinamento e habilidades furtivas. Ele neutralizou os dois, deixando-os desacordados. Rapidamente os amarrou, amordaçou e os deixou em um cantinho discreto. Encontrou uma janela aberta e entrou no edifício por ela sem fazer barulho. Dentro do armazém, ele já havia localizado apenas três indivíduos. Dois capangas e o próprio Marcelo Ferrari. Não seria muito difícil pra ele derrotar os três, mas Isabela estava presente, vulnerável. Ele
Leonardo tinha estacionado o carro em frente a um discreto prédio de apartamentos em um bairro tranquilo. Após o beijo, Isabela, ainda em choque com os eventos recentes, olhou ao redor tentando processar tudo o que havia acontecido. Leonardo abriu a porta para ela e a ajudou a sair, seus toques gentis a confortando.— Vamos entrar. Aqui você estará segura. — Leonardo disse com uma voz calma e protetora.Isabela assentiu, sentindo-se inexplicavelmente segura ao lado dele. Subiram as escadas até o apartamento, e Leonardo abriu a porta, revelando um espaço simples, limpo e muito confortável. Ele a guiou para dentro, fechando a porta atrás deles.— Pode se sentir à vontade aqui. — Ele disse, oferecendo um sorriso reconfortante. — Vou preparar algo para você beber.Isabela olhou ao redor, apreciando a simplicidade e o aconchego do lugar. Era um contraste gritante com a opulência fria de sua casa. Ela se sentou no sofá, tentando acalmar sua mente turbulenta.Leonardo voltou com um copo de
Isabela se aproximou da mansão sozinha, o coração batendo acelerado com a mistura de medo e antecipação. Ela acabara de viver uma das experiências mais aterrorizantes de sua vida, seguida por uma noite de intensa paixão com Leonardo. Agora, precisavam retornar à realidade fria e perigosa da mansão de Eduardo, o marido ciumento e controlador.Leonardo estacionou o carro discretamente longe da vista dos guardas. Eles haviam discutido o plano antes de Isabela sair do carro. Isabela precisava convencer Eduardo de que havia fugido do cativeiro por conta própria, aproveitando a confusão causada por uma invasão ao galpão. Sua aparência suja e os machucados reais ajudariam a tornar a história mais crível.Isabela caminhou em direção à entrada principal da mansão, seus passos hesitantes e o coração pesado. Sabia que uma única falha poderia ser fatal. Ela ajustou a postura e forçou algumas lágrimas nos olhos antes de abrir a porta.Eduardo estava na sala de estar, revisando documentos. Quando o
A rotina de Isabela havia se transformado drasticamente nas últimas semanas. Seu coração estava dividido entre o medo de ser descoberta e a paixão avassaladora que sentia por Leonardo, seu belo e misterioso motorista. Cada dia era uma dança cuidadosa entre a normalidade aparente com Eduardo e os encontros furtivos com Leonardo, que preenchiam seu coração com uma alegria e adrenalina que ela nunca havia experimentado antes.A manhã estava clara e ensolarada quando Isabela desceu as escadas da mansão, pronta para mais uma de suas "atividades terapêuticas". Ela vestia roupas esportivas elegantes, adequadas para a suposta aula de ioga que supostamente frequentava, mas que na verdade serviam apenas como pretexto para suas escapadas. Eduardo estava no escritório, absorto em seus negócios, como sempre.— Bom dia, querido. — Isabela disse, mantendo a voz calma e casual.— Bom dia, Isabela. — Eduardo respondeu, sem tirar os olhos dos papéis à sua frente. — Onde vai hoje?— Tenho uma aula de io
Isabela dormiu até mais tarde e acordou com uma determinação renovada. Sabia que precisava descobrir mais sobre os segredos de Eduardo e se preparar para qualquer eventualidade. Isabela tinha que aproveitar que Eduardo mais uma vez estava ausente, pra vasculhar as gavetas do escritório. Ela evitava que Marta ou algum outro funcionário da casa percebesse suas investigações, pois não queria envolver nenhum deles em qualquer tipo de risco. Eduardo não era um homem que perdoasse traições. Não encontrou nada. A tarde chegou e, com ela, uma mensagem de Leonardo: "Encontre-me no jardim às 17h." Ela passou o dia tentando agir normalmente, mas a ansiedade corroía por dentro. Isabela aproveitou que Marta estava ocupada com os afazeres domésticos e saiu discretamente para o jardim. Encontrou Leonardo perto da fonte, onde a água caía suavemente, criando um ambiente calmo e isolado. — Leonardo, precisamos ser rápidos. Marta pode notar minha ausência — disse Isabela, olhando ao redor. E