Antes que eu conseguisse dizer qualquer outra coisa, Miguel me segura com força em seus braços e me beija intensamente me arrastando para nosso quarto. Nos últimos dias, mesmo com tudo que estava acontecendo, nos aproximamos muito, e passávamos todos os dias juntos em minha casa. Aos poucos ele se mudava para lá, e eu adorava a ideia de tê-lo perto, todos os dias.
- Eu te amo... – ele sussurra em meu ouvido enquanto tirava minha camisa, me deixando arrepiado por alguns longos segundos. – Eu te amo! – ele diz novamente, mais alto e com mais ênfase. – Eu te amo!!! – ele grita, me fazendo rir enquanto caímos na cama, ao mesmo tempo.
Suas tatuagens mostravam como sua pele arrepiava e enlouquecia a cada toque meu, que percorria minhas mãos por todo seu peito.
Miguel, com sua delicadeza e intensidade toda, ra
Antes que eu consiga dizer qualquer coisa para Agatha, ela nos recepciona e nos leva à uma das salas do hospital para nos explicar o que estava acontecendo.- O que houve? – Miguel diz assustado, enquanto fecha a porta da sala.- Você nos ligou desesperada... Agatha, o que aconteceu com Raphael e Jude? – digo sentindo meus olhos lacrimejarem.- Eu não sei direito como aconteceu, mas eu achei melhor chamar vocês... Porque...- Por que somos a única família que os dois tem? – completo.- É... isso. – ela concorda, baixo. 
- Ainda não sei como tudo isso foi acontecer, parece que as vezes ainda ouço a voz. – diz, se apoiando no tumulo de concreto, retirando as folhas secas em excesso.- Eu também não, eu também não! – as lágrimas invadem seu rosto, que estava inchado e enfrentando muitas lágrimas nos últimos dias.O dia estava tão silencioso como qualquer outro naquele cemitério sombrio e afastado. Ao observar todas as pessoas que iam e vinham, chegou-se à conclusão de que o luto tem um significado diferente para cada pessoa no mundo. A dor não escolhe vítimas a dedo, ela simplesmente está destinada a atingir cada coração batente no mundo, seja ele bom ou não.- Acho que nunca saberemos como e porque aconteceu
Meu coração batia desesperadamente de uma forma muito rápida e dolorosa, nunca sentida por mim. Talvez fosse pelo fato de eu não ter vivido mais do que 22 anos ou pela falta de interesse constante em novas aventuras. Nunca, em toda minha medíocre vida, eu sentiria algo assim; minhas entranhas se contorcem em um ritmo nada sincronizado, enquanto meus sentidos faziam meu cérebro se perder em meio a todo o controle que dominava sobre mim. Todo esforço físico feito por meu corpo naquele momento era em vão, não conseguia correr, nem muito menos gritar por socorro, porque (a) minha boca e corpo estavam sendo bloqueados por dois pares de mãos masculinas, nas quais eu não tinha nenhuma chance em deter, (b) mesmo que por um milagre divino – na qual eu não fazia de acreditar – eu conseguisse gritar, ninguém naquela rua me ajudaria pois (c) gays não merecem ajuda. Mesmo desesperado por ajuda, depois de um longo período de tentativas em vão, meu corpo desfalece e meu cérebro – antes dominando,
Mesmo sem poder ver o rosto do rapaz, pude ver que assim como Miguel e a maioria dos jovens da minha idade que eu tinha visto dias antes naquela cidade, era muito bonito. O rapaz tinha uma pele negra, cabelos castanhos e alguns músculos. O rapaz desconhecido possuia vários hematomas abertos, mesmo não sendo médico, eu pude perceber que aquele garoto estava muito mal.Meu pensamento voava pelos quatro cantos daquele quarto frio colorido por cores neutras e escuro, quando Miguel entra em silêncio com um homem um pouco gordo, loiro, alto que vestia um jaleco levemente amarelado. O médico segurava uma prancheta com muitas folhas, deduzo que seja minha ficha médica ou algo do gênero.- Bom dia, Luis! Como está? – consigo ler seu nome no crachá que está preso no bolso de seu jaleco amarelo. Bernardo sorri enquanto arruma a mesma cadeira que Miguel estava sentado, para sentar-se perto de mim.
Cheguei naquela cidade sem conhecer (ou esperar conhecer) ninguém. Alguém bondoso, em algum lugar do universo havia me dado a oportunidade de estudar em uma metrópole de Santa Catarina e por conta disso, estava longe do inferno onde eu morava, que era uma cidade minúscula situada no interior do Rio de Janeiro, da qual não quero nem me recordar o nome. Morava com mais quatro irmãos e dois pais não muito amorosos e desde pequeno sempre tive que lutar para conseguir qualquer coisa, seja pelo último pedaço de pão ou pelo melhor caderno. Estar sozinho em uma cidade totalmente desconhecida me dava chances de ser quem eu realmente nasci para ser: um artista! Se interessar por arte e morar em uma cidade que discrimina qualquer tipo de forma de expressão é algo difícil e por isso estava tão esperançoso em morar em Blumenau. -D-desculpa– digo após de esbarrar em um homem alto e loiro que estava parado em frente a meu novo prédio. - Não foi
[continuação] Agora tudo fazia sentido! João tinha sido o responsável por aquela experiência grotesca e assustadora! Antes que Miguel voltasse, eu me esforçara para lembrar um pouco mais sobre aquele dia, com João e Carlos, e sobre alguns detalhes sobre aquela noite. Tudo que lembrava era que dois pares de mãos me puxaram... E tudo que sofri teve efeito dobrado por conta desses dois pares de mãos. Mas como eu provaria tudo isso? Eu não tinha ideias nem lembranças concretas de tudo que aconteceu e por isso não acreditava que essa busca implacável que os policiais, e Miguel, queriam fazer teria realmente um final feliz. Talvez, se tudo aquilo fosse esquecido ou, ao menos, deixado de lado... assim eu não seria obrigado a recordar cada passo que dei naquele dia, como se - Luis, liguei para os policiais... Eles estavam pelo bairro e vieram correndo para cá, estão ali fora... Posso chamá-los? - Miguel entra desesperado pelo quarto, junto com o médico e ant
- Luis – Miguel chama e levo meus olhos, que até então estavam grudados no céu azul do lado de fora daquele hospital, para Miguel, que sorri e quer dizer algo.- Fala, Miguel – digo prestando atenção.- Eu preciso ir para casa, avisar minha mãe onde eu estou e onde passarei os próximos dois dias – Miguel diz com seu tom de voz bem baixo, para não atrapalhar o sono do garoto da maca ao lado.- Próximos dois dias? Miguel, você não vai passar dois dias aqui comigo, sério, não precisa! – digo tentando não aumentar o tom de voz para parecer sério e confiante. Gostava da companhia de Miguel, mas era loucura alguém passar dois dia
No dia seguinte, pela manhã, Bernardo tinha passado em nosso quarto: Raphael estava reagindo a medicação de forma “promissora”, porém iria precisar ficar no hospital por mais alguns dias, e eu poderia sair naquele mesmo dia, sob condição de que ficaria em repouso durante mais três dias em casa.- Estamos entendidos? – Bernardo disse me olhando.- Sim, Bernardo. Estamos entendidos – digo sorrindo enquanto assino os documentos. Bernardo dá de ombros e sai da sala nos deixando apenas com Agatha que ri e pede desculpa.- E quem cuidará de você nesses dias, Luis – ela pergunta depois que eu entreguei os papéis.&nbs