- Minha cabeça não é mais a mesma, me desculpe por estar aqui te enchendo... – Miguel diz, se levantando rapidamente. – Eu vou embora, e prometo não aparecer mais na sua frente, nunca mais! – ele começa a chorar desesperadamente, e naquele momento, eu percebo que naquela altura do campeonato ele precisava de ajuda.
- Não, Miguel! – digo entrando em sua frente, e olhando no fundo de seus intensos e, agora molhados, olhos verdes. – Eu não quero que você vá embora! – exclamo. – Eu quero que você fique aqui e... E... Seja a pessoa que eu mais amo nesse mundo! – digo com toda sinceridade que tenho.
- Luis, eu não sou tão inteligente quanto Gemma... Mas eu sei que só te causei mal! – ele diz, sentan
Não demoraram muitos dias para que todas as pessoas de nossa vida soubessem de todas as novidades que aquele respectivo dia tinha trazido a mim. Comemoram conosco todo o amor que sentíamos um pelo outro. Choraram conosco toda a tristeza que aquela maldita doença trouxe a Miguel.Não sabia como me sentir em relação a toda aquela bagunça, que migrara da minha vida para a de Miguel. Não sabia quando dizer algo, quando me mover para abraçá-lo, não sabia como agir. Por mais que parecidas, nossas dores estavam separadas a quilômetros de distância. Dizem que o câncer modifica tudo em nosso corpo, corrói cada parte viva e feliz de nossa existência, até que apenas sobre um cansado e fraco corpo, e uma rabugenta de difícil alma. Era inevitável que, uma hora ou outra, isso aconteceria com Miguel, que no decorrer das várias sessões de quimioterapi
Até que ponto somos manipulados e jogados de um lado ao outro pela vida e suas façanhas? Me pergunto se um dia poderemos tomar o controle de nossa própria vida, afinal, tudo o que fazemos é servir de bonecos de papel indo e vindo pela imensidão da vida. Tenho minhas próprias respostas a respeito disso, mas nunca fui um espectador muito confiável... afinal não me conformo com as escolhas que somos obrigados a tomar.As semanas foram passando, e juntos delas, a ansiedade de Miguel aumentava a cada hora completada. O medo e a curiosidade de saber se finalmente estava livre daquela maldita doença afundava todos os seus sentidos em apenas um único desejo: a liberdade. Eu realmente sentia que estava a um passo de perder o amor da minha vida. Não estava preparado para sentir essa sensação... e sendo sincero, não gostaria de senti-la nunca.&nbs
Antes que eu conseguisse dizer qualquer outra coisa, Miguel me segura com força em seus braços e me beija intensamente me arrastando para nosso quarto. Nos últimos dias, mesmo com tudo que estava acontecendo, nos aproximamos muito,e passávamos todos os dias juntos em minha casa. Aos poucos ele se mudava para lá, e eu adorava a ideia de tê-lo perto, todos os dias.- Eu te amo... – ele sussurra em meu ouvido enquanto tirava minha camisa, me deixando arrepiado por alguns longos segundos. – Eu te amo! – ele diz novamente, mais alto e com mais ênfase. – Eu te amo!!! – ele grita, me fazendo rir enquanto caímos na cama, ao mesmo tempo.Suas tatuagens mostravam como sua pele arrepiava e enlouquecia a cada toque meu, que percorria minhas mãos por todo seu peito.Miguel, com sua delicadeza e intensidade toda, ra
Antes que eu consiga dizer qualquer coisa para Agatha, ela nos recepciona e nos leva à uma das salas do hospital para nos explicar o que estava acontecendo.- O que houve? – Miguel diz assustado, enquanto fecha a porta da sala.- Você nos ligou desesperada... Agatha, o que aconteceu com Raphael e Jude? – digo sentindo meus olhos lacrimejarem.- Eu não sei direito como aconteceu, mas eu achei melhor chamar vocês... Porque...- Por que somos a única família que os dois tem? – completo.- É... isso. – ela concorda, baixo. 
- Ainda não sei como tudo isso foi acontecer, parece que as vezes ainda ouço a voz. – diz, se apoiando no tumulo de concreto, retirando as folhas secas em excesso.- Eu também não, eu também não! – as lágrimas invadem seu rosto, que estava inchado e enfrentando muitas lágrimas nos últimos dias.O dia estava tão silencioso como qualquer outro naquele cemitério sombrio e afastado. Ao observar todas as pessoas que iam e vinham, chegou-se à conclusão de que o luto tem um significado diferente para cada pessoa no mundo. A dor não escolhe vítimas a dedo, ela simplesmente está destinada a atingir cada coração batente no mundo, seja ele bom ou não.- Acho que nunca saberemos como e porque aconteceu
Meu coração batia desesperadamente de uma forma muito rápida e dolorosa, nunca sentida por mim. Talvez fosse pelo fato de eu não ter vivido mais do que 22 anos ou pela falta de interesse constante em novas aventuras. Nunca, em toda minha medíocre vida, eu sentiria algo assim; minhas entranhas se contorcem em um ritmo nada sincronizado, enquanto meus sentidos faziam meu cérebro se perder em meio a todo o controle que dominava sobre mim. Todo esforço físico feito por meu corpo naquele momento era em vão, não conseguia correr, nem muito menos gritar por socorro, porque (a) minha boca e corpo estavam sendo bloqueados por dois pares de mãos masculinas, nas quais eu não tinha nenhuma chance em deter, (b) mesmo que por um milagre divino – na qual eu não fazia de acreditar – eu conseguisse gritar, ninguém naquela rua me ajudaria pois (c) gays não merecem ajuda. Mesmo desesperado por ajuda, depois de um longo período de tentativas em vão, meu corpo desfalece e meu cérebro – antes dominando,
Mesmo sem poder ver o rosto do rapaz, pude ver que assim como Miguel e a maioria dos jovens da minha idade que eu tinha visto dias antes naquela cidade, era muito bonito. O rapaz tinha uma pele negra, cabelos castanhos e alguns músculos. O rapaz desconhecido possuia vários hematomas abertos, mesmo não sendo médico, eu pude perceber que aquele garoto estava muito mal.Meu pensamento voava pelos quatro cantos daquele quarto frio colorido por cores neutras e escuro, quando Miguel entra em silêncio com um homem um pouco gordo, loiro, alto que vestia um jaleco levemente amarelado. O médico segurava uma prancheta com muitas folhas, deduzo que seja minha ficha médica ou algo do gênero.- Bom dia, Luis! Como está? – consigo ler seu nome no crachá que está preso no bolso de seu jaleco amarelo. Bernardo sorri enquanto arruma a mesma cadeira que Miguel estava sentado, para sentar-se perto de mim.
Cheguei naquela cidade sem conhecer (ou esperar conhecer) ninguém. Alguém bondoso, em algum lugar do universo havia me dado a oportunidade de estudar em uma metrópole de Santa Catarina e por conta disso, estava longe do inferno onde eu morava, que era uma cidade minúscula situada no interior do Rio de Janeiro, da qual não quero nem me recordar o nome. Morava com mais quatro irmãos e dois pais não muito amorosos e desde pequeno sempre tive que lutar para conseguir qualquer coisa, seja pelo último pedaço de pão ou pelo melhor caderno. Estar sozinho em uma cidade totalmente desconhecida me dava chances de ser quem eu realmente nasci para ser: um artista! Se interessar por arte e morar em uma cidade que discrimina qualquer tipo de forma de expressão é algo difícil e por isso estava tão esperançoso em morar em Blumenau. -D-desculpa– digo após de esbarrar em um homem alto e loiro que estava parado em frente a meu novo prédio. - Não foi