Entre Dois Mundos (Parte 2)

Emma ergueu o olhar, um sorriso enigmático brincando em seus lábios.—Ah, claro, mamãe. Porque todos nós sabemos o quanto você preza por uma vida equilibrada —, respondeu, sua voz gotejando sarcasmo.—Eu deveria largar tudo para tomar chá com investidores? Ou talvez para passear ao sol como você, graças à sua encantadora runa?

Laura inclinou levemente a cabeça, avaliando a filha. — Sempre com essas respostas afiadas, não é? Você é muito parecida comigo e seu pai do que gostaria de admitir, querida.

Emma ficou em silêncio, absorvendo as palavras da mãe, como se o peso delas fosse mais forte do que a força de qualquer vampiro. Ela sabia que, por trás da fachada de autoridade e controle, Laura era uma mulher com seus próprios medos e inseguranças. Mas o que mais incomodava Emma era o fato de que sua mãe, sendo uma vampira original, uma criatura tão poderosa, não conseguia entender o milagre que ela própria representava.

— Eu não sou como você, nem como o papai, mãe —, Emma disse, a voz calma, mas carregada de uma certeza inabalável.— Eu sou Emma Smith, e minha vida é minha. Não vou me prender ao que vocês acham que eu deveria ser.

Laura a olhou com uma mistura de orgulho e uma tristeza tão sutil que só alguém como Emma poderia perceber. — Eu sei—, ela respondeu, a voz suave como um sussurro carregado de emoções contidas. —Só espero que um dia você perceba que não precisa fazer tudo sozinha. Não precisa carregar esse peso sozinha, Emma.

— Eu não sou sozinha—, ela murmurou, mais para si mesma do que para Laura. — Eu tenho o controle.

Laura a observou, um olhar quase imperceptível de preocupação passando por seu rosto. — Mas o controle, querida, nem sempre é tudo o que precisamos.

Essas palavras pairaram no ar entre elas, pesando como uma névoa, enquanto mãe e filha compartilham uma compreensão silenciosa, uma conexão que não precisava de palavras para ser sentida. Uma compreensão que, embora vaga e difícil de colocar em palavras, ainda assim estava ali, um laço indestrutível entre elas.

Finalmente, Emma respirou fundo. — Eu vou me encontrar com os investidores em breve. Não podemos perder tempo —. Ela se afastou da janela, seus olhos voltando para a mesa, onde o trabalho a aguardava. Ela já estava pronta para retomar o controle da situação.

Laura a observou, seus olhos suavizando, mas um mundo de sentimentos ainda escondido por trás de sua expressão. —Nos vemos em breve, Emma—, disse ela, a voz agora mais suave, carregada de uma emoção difícil de esconder.

—Sim—, Emma respondeu sem virar a cabeça, concentrada no trabalho que jamais parava. — Nos vemos, mãe.

Quando a porta se fechou atrás de Laura, o escritório de Emma se encheu novamente com o som constante dos teclados e o suave zumbido da cidade que nunca descansava. Mas, por um momento, o foco de Emma vacilou, uma dúvida pequena, mas persistente, surgindo em sua mente. Ela se inclinou para frente, os cotovelos apoiados na mesa, mãos entrelaçadas debaixo do queixo, tentando reorganizar seus pensamentos. O silêncio que a envolvia era quase tangível, e o peso de seu próprio destino parecia se amontoar nas sombras de sua mente.

Mas antes que pudesse recuperar o controle total, a porta do escritório se abriu abruptamente. Emma não precisou olhar para saber quem era.

— Você tem o dom de aparecer nos momentos mais inoportunos, Chris—, ela disse, sua voz soando mais exasperada do que realmente estava.

Chris Jones entrou como uma tempestade silenciosa, sua presença imponente e impossível de ignorar. Sua aparência era impecável, quase sobrenatural. A pele pálida, como mármore polido, refletia a luz de forma sutil, dando-lhe um brilho etéreo. Seus olhos, de um âmbar profundo, pareciam mudar conforme a luz, fixando Emma com uma intensidade desconcertante. Aqueles olhos a observavam com uma curiosidade afiada, mas ao mesmo tempo com uma leveza que parecia desarmar qualquer defesa.

O cabelo de Chris, um castanho escuro que quase parecia preto sob a luz, caía suavemente sobre sua testa, criando um contraste perfeito com sua mandíbula forte e definida. Ele estava vestido com um terno cinza grafite que parecia ter sido feito sob medida, ajustando-se aos seus ombros largos de maneira quase predatória, mas também elegante. A camisa branca por baixo estava aberta no colarinho, dispensando a gravata, mas a postura que ele mantinha falava de uma sofisticação inata, como se o próprio espaço ao redor dele se curvasse.

E então, havia o cheiro. Um aroma sutil, mas inconfundível, que parecia ser uma mistura de madeira queimada, âmbar e algo doce, como mel. Era um perfume que ressoava com a essência de Chris: misterioso, hipnótico e, de algum modo, perigoso.

Quando ele se movia, seus passos eram graciosos e calculados, como se ele fosse dono de cada centímetro de espaço em que pisava. Ele exalava uma confiança que vinha de algo mais profundo do que sua aparência ou sua postura. Era a confiança de alguém que sabia que o tempo estava ao seu favor, que carregava séculos de história e experiência em cada palavra e movimento.

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