Entre Dois Mundos (Parte 4)

Ela virou-se ligeiramente, um sorriso travesso brincando nos lábios. — Está bem, Chris. Jantar. Mas eu escolho o lugar.

O sorriso dele se alargou, e a confiança nos olhos dele ficou ainda mais evidente.— Feito. Oito horas. E não se atrase.

Emma revirou os olhos com humor, saindo do escritório sem olhar para trás. Eric a seguiu em silêncio, mas antes de fechar a porta, lançou um olhar curioso para Chris, que ficava para trás, observando a cena com a expressão de quem acabara de ganhar uma pequena vitória.

Ao caminhar pelos corredores elegantes, Emma sentia o peso das suas responsabilidades cada vez mais presente. A cada passo em direção à sala de seu pai, um sentimento de autoridade e respeito parecia envolver o ambiente, como se a própria estrutura do prédio estivesse imbuída de poder. Não era surpresa que sua presença fosse sentida com tanta intensidade. Tom, seu pai, era um dos vampiros originais. A menção de seu nome causava reverência, até mesmo um certo temor, no mundo sobrenatural.

Ao adentrar na sala, Emma viu Tom de pé, perto da janela, olhando para a cidade abaixo. Sua aparência era a de um homem jovem, mas seus olhos azul profundo carregavam séculos de história. A pele pálida, como a neve, fazia com que ele parecesse quase intocável, como se o tempo não tivesse controle sobre ele. O cabelo loiro escuro, levemente desgrenhado, contrastava com o terno preto impecável, cortando a luz de maneira tão elegante que o simples ato de estar presente ao seu lado fazia qualquer um se sentir pequeno.

— Você me chamou, pai?— Emma perguntou, a voz carregada de curiosidade e uma ponta de apreensão. O silêncio entre eles era sempre denso, carregado de significados.

Tom virou-se lentamente, seus olhos avaliando a filha com uma intensidade que ela conhecia bem. Ele a estudava, não com crítica, mas com aquela análise profunda que apenas um vampiro original poderia ter.

— Sim, Emma. Precisamos conversar sobre algo importante—, ele disse, sua voz grave preenchendo o ambiente.

Ela entrou na sala, sentindo o ar ao redor dela se tornar mais pesado. A presença dele era um manto de autoridade, e, por mais que estivesse acostumada com isso, a sensação nunca passava.

Tom apontou para a cadeira diante de sua mesa, gesticulando de maneira sutil. Emma se sentou sem hesitar, cruzando as pernas, e aguardou, seu olhar fixo no pai. Ele, por sua vez, não se sentou imediatamente. Ajustou a gravata bordô com calma, como se o gesto fosse mais uma maneira de manter o controle da situação, antes de começar a falar.

—A reunião das 10h com os investidores de Londres, — começou ele, sua voz imperturbável, —não será mais apenas sua responsabilidade.

Emma franziu o cenho, surpresa pela mudança. —Você vai participar também?

Tom esboçou um pequeno sorriso, mas seu semblante continuava sério. —Sim. O Projeto X é vital para o futuro da nossa empresa. Não é apenas sobre lucros, Emma. É sobre consolidar nossa posição e mostrar ao mundo — humano e vampírico — que estamos sempre à frente. Quero que eles vejam a força da nossa visão... e da nossa família.

Ela assentiu lentamente, sentindo o peso das palavras. — Eu já estava me preparando para apresentar os dados principais. O que mais você quer que eu foque?

Tom caminhou até sua cadeira, mas não se sentou. Em vez disso, ele se inclinou sobre a mesa, suas mãos apoiadas com firmeza enquanto seus olhos fixavam Emma. — Quero que você fale sobre a sustentabilidade do projeto. Como ele vai redefinir não apenas o mercado, mas a própria relação entre tecnologia e natureza. Esse é o ponto que vai atrair os investidores.

Emma respirou fundo, absorvendo a responsabilidade, mas também o orgulho que ela sentia em carregar o nome da família. —Entendido. Vou revisar todos os documentos.

— Ótimo,— ele respondeu com um aceno de aprovação, mas antes que Emma pudesse acrescentar mais alguma coisa, ele falou novamente, sua voz agora mais grave.— Isso é só o começo. Depois do almoço, temos uma reunião com o Conselho dos Vampiros.

O nome do Conselho ecoou na mente de Emma, despertando uma série de questionamentos.—Algo grave aconteceu?

Tom suspirou, ajustando a postura. — Um vampiro recém-transformado foi flagrado tendo relações com um humano. Isso gerou... complicações. Precisamos decidir como lidar com isso.

Ela estreitou os olhos, tentando decifrar o que ele queria dizer. "Complicações como... exposição?"

— Não diretamente, — Tom respondeu, ponderando suas palavras. — Mas o conselho está preocupado com os limites. Vampiros transformados têm mais dificuldades em controlar seus impulsos. O que começou como uma relação consensual pode facilmente se tornar algo perigoso.

Emma inclinou a cabeça, processando a informação. — E o que você sugere? Que decisão o conselho quer tomar?

— Isso é o que vamos discutir,— Tom disse, cruzando os braços com autoridade. — Alguns defendem punições severas, outros acham que é um caso isolado. Minha posição será neutra no início, mas quero ouvir os argumentos antes de tomar uma decisão.

Ela sabia que, apesar de seu tom impassível, Tom sempre tinha uma estratégia em mente. —E onde eu entro nisso?

— Quero que você observe,— ele respondeu com calma. — Essa será uma oportunidade para entender as dinâmicas do conselho. Um dia, você precisará assumir um papel maior nessas decisões.

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