Entre Dois Mundos (Parte 6)

A reunião terminou com um consenso positivo, os investidores dispostos a financiar as próximas fases do projeto. Emma, ainda absorvendo o peso da aprovação, se virou para seu pai com um sorriso discreto. — Foi melhor do que eu esperava,— ela admitiu.

— Você fez muito bem,—Tom disse, seu tom de aprovação contido, mas claro. —Mas a jornada está apenas começando.

Ela saiu da sala e percebeu que havia esquecido o celular sobre a mesa. Voltou apressada e, ao pegá-lo, viu várias notificações. A maioria foi ignorada, exceto uma mensagem de Eric, seu assistente, que ela atendeu rapidamente.

— Emma, como foi a reunião?—Eric perguntou, sem rodeios.

— Foi boa, Eric, mas preciso que você cancele todas as minhas obrigações de hoje à tarde. Tenho algo mais importante para fazer,—ela disse com um tom de autoridade.—Entendido?

—Claro, só isso? Ele parecia acostumado com o tom de voz de Emma, sempre firme e decisiva.

—Sim, só isso. Obrigada,—Emma finalizou e desligou, já saindo em direção ao estacionamento.

Na garagem subterrânea, ela caminhou até seu Bentley Flying Spur preto. Era o reflexo perfeito de sua personalidade: elegante, poderosa, sem pretensão. Ela ligou o motor e saiu, o silêncio do carro contrastando com o caos das ruas da cidade.

A reunião com o Conselho vampírico tinha sido tensa, com a decisão de desaparecer com a humana Livy que sabia do segredo e com o vampiro Robert a morte, mas o que realmente pesava no coração de Emma era a incerteza do que viria a seguir. Seus pais, Tom e Laura, mantinham uma postura inabalável, cumprindo as leis do conselho com a precisão e a frieza que a posição deles exigia. Mas, em seu íntimo, Emma sentia que algo estava prestes a desmoronar. Não podia deixar de se perguntar se as decisões tomadas ali, aquelas que pareciam tão definitivas e imutáveis, realmente poderiam ser desfeitas.

Ao sair da sala, ela os observava, sentindo-se desconectada. O peso da decisão, os olhares furtivos que trocaram, tudo parecia um cenário de uma peça que ela não queria mais assistir. A lealdade deles à lei era evidente, mas Emma sabia que algo mais havia sido deixado de lado: a verdadeira natureza do que era justo. Ela não sabia o que mais lhe inquietava—se era a política fria ou o futuro incerto que lhe aguardava, mas aquele sentimento de desconforto parecia se agarrar a ela como um espectro.

Voltar para casa não parecia aliviar a sensação de urgência em seu peito. Sabia que a noite reservava um compromisso mais leve, um jantar com Chris, mas a carga emocional que carregava da reunião ainda estava colada à sua pele. Ao adentrar seu quarto, o reflexo no espelho a encarava com olhos cansados, mas também com uma determinação renovada. Ela não podia se entregar ao turbilhão interno, pelo menos não naquela noite. Precisava de um momento de paz, e Chris representava essa fuga.

Decidiu-se por um vestido de seda azul, a tonalidade suave contrastando com a tempestade que a agitava por dentro. Ele descia até o chão de forma elegante, mas discreta, com um brilho sutil que parecia capturar a luz do ambiente de maneira delicada. A escolha era um equilíbrio entre o conforto que ela ansiava e a consciência de que a noite merecia algo mais. Emma queria se sentir bem, não apenas confortável, mas livre, ao menos por algumas horas. O perfume de jasmim e lavanda que usava completava o efeito, como uma brisa fresca ao entardecer.

Quando o som da buzina cortou o ar, o nervosismo e a excitação a tomaram por completo. Chris havia chegado. Emma desceu as escadas, seus sapatos de salto médio fazendo um som suave no piso de madeira, e ao abrir a porta, viu o carro luxuoso de Chris estacionado, com ele ali, aguardando com um sorriso que a fazia esquecer, ao menos por um momento, o peso de seu mundo.

— Você está incrível,— disse ele, com a suavidade de quem entende como aliviar os momentos mais pesados. A voz dele parecia familiar e acolhedora, como um abrigo em uma noite fria.

— Obrigada, Chris,—Emma respondeu, embora o sorriso que deu não fosse exatamente o que ela queria transmitir. Havia um toque de distância em seus olhos, uma barreira que ela não conseguia baixar completamente.

Ela se acomodou no banco do carro, o aroma de couro e gasolina preenchendo o espaço ao redor enquanto Chris dava partida. A cidade se estendia diante deles, suas luzes refletindo nas janelas, mas Emma ainda se sentia distante, como se estivesse em um sonho leve, sem conseguir tocar o mundo real. O jantar, no entanto, era uma oportunidade para escapar, ainda que brevemente.

— Eu estava pensando,— começou Chris, quebrando o silêncio confortável, — faz tempo que não vamos a esse restaurante. Lembra da última vez? Foi logo depois daquela reunião... você parecia tão cansada de tudo.

Emma sorriu, a lembrança trazendo um sopro de alívio. — Sim, foi a única coisa que conseguimos fazer naquele dia—relaxar um pouco depois de tanta tensão.

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