Ela não respondeu, apenas desligou a chamada, exausta. O peso da conversa e a falta de soluções a deixavam cada vez mais perdida. Olhou para o relógio e percebeu que tinha algumas horas antes do encontro com seu pai. Ela não estava pronta para mais uma batalha, mas não tinha escolha.Chegando à Smith Enterprises, Emma sentiu o coração acelerar. O prédio imponente, símbolo de sua conquista, parecia agora um peso sobre seus ombros. Ao passar pela recepção, Eric, seu assistente, a interceptou com uma expressão preocupada.— Emma, já vi as notícias. Está tudo bem? — Ele perguntou, segurando uma prancheta com os compromissos do dia.— Não, Eric, não está. — Ela respondeu com um suspiro pesado, tirando os óculos escuros que usava para esconder a tensão no rosto. — Cancele todos os meus compromissos de hoje. Reagende o que for possível e envie desculpas formais para o que não puder ser adiado.Eric hesitou por um instante, o tom dela o fazendo perceber a gravidade da situação. — Tem certeza?
As vozes dentro da sala ficavam cada vez mais claras, a tensão crescente sendo sentida até no ar. Emma podia distinguir os tons de raiva na voz de seu pai, a frustração em cada palavra. Não havia dúvida de que aquilo não era uma conversa simples. A situação estava fora de controle, e ela sabia disso.— Você não entende, Bruce! — a voz de Tom explodiu, a frustração escorrendo de sua garganta. — Ela está se arriscando! Mas não podemos permitir que essa exposição nos afete assim, não podemos permitir que isso nos destrua diante do concelho.Laura, sentada ao lado de Tom, estava visivelmente perturbada, mas não podia esconder a preocupação que tomava conta dela. Ela cruzou os braços, a expressão fechada, refletindo sua própria inquietação. — Tom tem razão. A mídia está nos devorando. Isso já saiu do nosso controle, e agora, com esse beijo… Como vamos lidar com isso, Bruce? Como você propõe que lidemos com isso?Bruce, o vampiro mais velho do conscelho, falou com autoridade e uma precisão
— Não fez nada de errado? — Tom repetiu, agora com a voz mais grave. O peso daquelas palavras a esmagava, como se o ar ao redor dela ficasse mais denso. — Emma, você não entende. Cada passo seu agora será analisado, distorcido, julgado. O mundo está de olho em você. E o pior... todos sabem que você é minha filha. O que você esperava?As palavras do pai atingiram Emma como uma lâmina afiada. O que esperava? Nem ela sabia mais. Mas, em algum lugar lá dentro, ela sabia que o que importava para ele não era o beijo em si, mas o reflexo da sua imagem pública. Ela sentia, com uma clareza dolorosa, que seu pai sempre a vira como um reflexo dele mesmo.Laura, que até então permanecia em silêncio, finalmente interveio, a expressão em seu rosto carregada de uma mistura de preocupação e frieza.— Emma, você sabia que isso teria consequências. Não podemos mais esconder o que aconteceu. Precisamos controlar a narrativa, e rápido.Aquilo foi como uma bofetada. A voz de sua mãe, normalmente suave e c
Emma hesitou por um momento, como se ponderasse a resposta. Sabia que ele estava certo. Ela estava preocupada. Mas, ao mesmo tempo, sabia que não podia simplesmente se abrir para um estranho.— Desculpe — repetiu, sua voz mais suave, e deu um passo para frente. — Eu realmente preciso ir.O homem a observou mais um instante, os olhos parecendo captar algo que ela não queria revelar. Mas ele não disse mais nada. Apenas ficou ali, observando enquanto ela se afastava.O barulho frenético da cidade foi se dissipando lentamente conforme Emma se aproximava do Central Park. As ruas agitadas, o som constante de carros, o murmúrio de conversas apressadas... tudo parecia sumir à medida que ela entrava na calmaria daquele refúgio verde. As árvores se erguiam ao seu redor, suas folhas dançando suavemente ao ritmo do vento, e Emma respirou fundo, sentindo a brisa fresca acariciar seu rosto. Era como se, pela primeira vez em horas, ela conseguisse respirar.Ela procurou um banco vazio, sentando-se c
Emma sentia o peso do desejo pulsando dentro de si, como uma fome insaciável que só poderia ser apaziguada por algo sombrio e vital. Ela forçou cada passo em direção à cozinha, seus sentidos aguçados pelo impulso que crescia dentro de sua carne. O lugar estava silencioso, mas ela podia sentir o cheiro da necessidade no ar — uma mistura do próprio medo e da fome que a consumia. A cozinha parecia distante, como se estivesse em outro mundo, mas, ao mesmo tempo, os passos de Emma eram rápidos e certeiros.Ela se dirigiu ao freezer, um ponto de refúgio no qual guardava as bolsas de sangue para aqueles momentos de fragilidade, quando a parte vampírica dentro de si ameaçava dominá-la. Ela não precisaria daquelas bolsas com frequência, mas havia horas em que seu corpo exigia que ela cedesse. E aquele momento era um deles. A parte humana de Emma sabia o que era certo, mas a besta dentro de si estava sedenta, exigindo seu sacrifício.A porta do freezer cedeu ao seu toque, mas a força com que a
Ela entrou na ducha com um movimento brusco, sentindo a água fria a envolver e cortar a pele quente. Mas não era o suficiente. A água não era suficiente para apagar o que ela havia feito. Não havia água suficiente no mundo para tirar o gosto amargo que ainda lhe impregnava a boca e a alma. O fluxo de água a lambia, mas Emma queria mais. Ela esfregava a pele freneticamente, como se pudesse rasgar a própria carne e afastar o que a corroía por dentro. A água não conseguia limpar o que ela sentia. Não podia apagar a vergonha que a consumia.Com os olhos fechados, ela deixou a água escorrer por seu rosto, tentando afogar os pensamentos, tentando fugir do que estava dentro dela. Mas o sangue não deixava. Estava ali, presente, dentro de seu corpo, dentro de sua mente, como uma mancha invisível que a perseguiu até o fim. Emma se afundou ainda mais sob a água, deixando que ela a envolvesse como uma tentativa desesperada de purificação.O som da água caindo sobre ela era como um abafamento, uma
Quando os primeiros raios de luz da manhã atravessaram a janela, Emma acordou com a sensação de que o dia seria mais um a ser suportado do que vivido. Sua mente estava turva, como se estivesse submersa em um nevoeiro denso que se recusava a dissipar. Ela sentia uma falta de energia avassaladora, uma fraqueza que ia além do físico. Não havia forças suficientes em seu corpo para se levantar, muito menos para enfrentar o mundo lá fora. A lembrança de sua fragilidade ainda estava viva dentro dela, como uma sombra invisível, e o peso da sua incapacidade de controlar seus próprios instintos a esmagava de uma forma indescritível. A dor no peito, como se um fardo invisível se tivesse instalado ali, era constante. O coração batia acelerado, mas cada batida parecia mais uma tortura do que uma resposta natural de seu corpo.Ela ficou deitada por alguns minutos, relutante em se mover, mas sabia que não poderia permanecer ali. O tempo passava e ela precisava fazer algo. Respirou fundo, tentando re
Ela fechou os olhos por um momento, sentindo a culpa apertar seu peito. — Não, Chris, você fez o que tinha que fazer.— Não tenta me aliviar, Emma. — Ele suspirou profundamente do outro lado da linha, a dor na sua voz clara. — Eu sei o que aconteceu ontem. Tudo começou com aquela maldita foto.A lembrança da imagem dela e de Chris se beijando, espalhada por todas as redes sociais, ainda doía como uma lâmina afiada, cortando profundamente. Os comentários... a exposição... a vergonha. Era como se estivesse sendo observada o tempo inteiro, sem escapatória.— E depois veio a conversa com seu pai — continuou Chris, mais baixo, como se a lembrança fosse dolorosa. — Eu vi como aquilo te abalou. Você estava começando a perder o controle no Central Park, Emma. Eu vi nos seus olhos.O silêncio caiu entre eles, pesado. Emma apertou o telefone com força, como se aquilo pudesse impedir a dor de transbordar.— E quando você sumiu e não atendia o telefone... — Ele fez uma pausa, e ela sentiu a dor e