AIYANA
Eu não deveria estar aqui. Deveria estar com os outros, ajudando, planejando o que fazer a seguir. Mas, em vez disso, meus pés me trouxeram até aqui, para perto do rio, para onde Maxim está.
Ele estava na água fria, mais distante de olhares. As roupas dele estão espalhadas sobre uma pedra, e isso me fez parar por um instante. Eu não sei se deveria continuar andando, se deveria deixá-lo em paz, ou se esse era o momento. O momento em que eu tinha que dizer o que estava sufocando minha garganta.
Eu sabia o que precisava dizer. Sabia que havia uma montanha de coisas não ditas entre nós. Mas a voz na minha cabeça, a voz da minha loba, me dizia que não era o momento certo. Que ele não estava pronto. Que eu também não
AIYANAVocê deve obediência.Aquilo foi demais. Eu não sabia mais o que fazer com essa raiva crescente dentro de mim, e as palavras saíram antes que eu pudesse pensar.— Vai se foder, seu idiota. Coma pau. — disse sem filtro, minha voz cortante e cheia de desprezo.Maxim riu, um som baixo, cruel, e sem nenhum vestígio de arrependimento em seu olhar. Como se fosse tudo uma piada para ele.— Que classe. A decisão que eu tomei não vai mudar — ele disse, o sorriso ainda no rosto, mas com uma dureza crescente nas palavras.Isso só me fez ficar ainda mais furiosa. Não ia mais deixar ele me tratar como uma garota fraca, submissa.<
AIYANA—Eu vou com eles.— disse, observando Max conversar com minha vó,eles estão na margem do rio e minha vó parece irritada. Icarus me encarou e arqueou uma sobrancelha, ele estava silencioso desde que me encontrou com Maxim mais cedo, ele também parecia irritado e estava com um péssimo humor. —O quê?— Pare de ficar atrás dele como um maldito cachorrinho. — ele rosnou, jogando pedaços de madeira que pegamos na floresta no chão, bem próximo dos meus pés. O que, é claro,me fez pular e gritar.—Ei! — retruquei, me afastando um passo. — Qual o seu problema?Icarus se aproximou, os olhos queimando em âmbar, como se uma tempestade estivesse por trás deles. Ele parecia prestes a explodir, e por um segundo, achei qu
AIYANAO céu já começava a perder a cor, tingido por um dourado opaco que logo se dissolveria no azul escuro da noite. As sombras se arrastavam pelas árvores, e o som distante do rio ajudava a manter meu foco enquanto eu deslizava a lâmina da faca pela pedra de amolar, com movimentos lentos e cuidadosos.Uma das três. A de caça. As outras duas já estavam no lugar, uma presa no interior da minha bota esquerda, a outra, no cós da calça, na parte de trás.Senti o olhar dele antes mesmo de ouvir a voz.— Você não devia ir com ele.Icarus estava de pé a poucos passos, os braços cruzados sobre o peito e aquele cenho franzido que ele achava que escondia o que sentia. Não escondia.Levantei o
AIYANAO dia amanheceu em tons dourados e rosados, mas a tensão no ar parecia tingi-lo de algo mais sombrio. O grande evento da noite lançava uma sombra sobre cada olhar e gesto da minha prima e tia, elas estavam reluzentes e tentei ficar minimamente feliz por elas.A aldeia estava em alvoroço desde cedo. As amigas de Isabela entravam e saíam do pequeno quarto de madeira, carregando vestidos, bijuterias brilhantes e potes de unguentos perfumados. O cheiro adocicado de jasmim e baunilha impregnava o ar, tornando tudo ainda mais sufocante. Eu me encostei no batente da porta, observando minha prima sentada diante de um espelho rachado, sorrindo de forma presunçosa enquanto uma de suas amigas trançava seu cabelo negro e sedoso, que descia como um rio escuro até sua cintura. Cada movimento dela era preciso, ensaiado. Ela sempre soube como cativar a atenção de uma sala inteira, e hoje não seria diferente.— Você está especialmente pensativa hoje, Aiyana. — A voz de Isabela tinha um tom quas
AIYANAA sensação de calor no peito, aquele fogo incontrolável que dançava dentro de mim, ainda estava lá, como se a chama ancestral tivesse se enraizado em meu corpo. Mas o que antes parecia ser um privilégio agora só me trazia agonia.A cada passo que dava, sentia os olhares da alcateia pesando sobre mim, frios, duros, implacáveis. O desprezo estampado em seus rostos me cortava mais do que qualquer palavra. Eles me viam como uma intrusa, uma ameaça. Não pertencente a eles. E, se já não fosse suficiente, eu tinha que enfrentar o ódio de Isabela e a rejeição estampada no olhar de Maxim.Isabela se aproximou com um sorriso venenoso nos lábios, seus olhos brilhando com um ódio latente. Eu podia quase sentir a tensão pulsando no ar.— Você realmente acha que pode simplesmente ser a "escolhida", Aiyana? — disse ela, a voz baixa e cortante, quase como se quisesse me ferir com cada sílaba. — Sua mãe era uma bruxa, e agora você acha que a chama te escolheu por acaso? Não engula essa mentira.
AIYANAO amanhecer estava perto de chegar, mas eu já estava de volta à beira da floresta, caminhando devagar. Meu corpo cansado ainda sentia os efeitos da noite mal dormida, e minha mente estava um turbilhão. A caverna onde passei a noite, embora já fosse um lugar familiar para mim, não me trouxe a paz que eu procurava. Dormir na floresta já não era tão fácil quanto antes. As árvores começaram a clarear com os primeiros raios de sol, mas o ar ainda estava frio, e eu sentia meu corpo arrepiado, não só pela temperatura, mas também pela inquietação. Meu coração batia mais rápido a cada passo que dava em direção à aldeia. Eu não sabia o que iria enfrentar lá, mas sabia que não podia continuar fugindo. Eu precisava voltar.De repente, alguém me pegou pela cintura, puxando-me com força para fora da trilha. Antes que pudesse reagir, uma mão cobriu minha boca, abafando meu grito. Meu corpo entrou em pânico, mas não pude fazer mais nada além de tentar me soltar. Estava sendo arrastada, forçad
AIYANAUma batida suave na porta me acordou, e eu levantei a cabeça, atordoada e ainda com a sensação de que a noite inteira tinha sido uma luta. A batida se repetiu, mais firme desta vez.Já se passou um ano desde que a chama revelou que Maxim e eu somos companheiros destinados, e as coisas só pioraram. Isabela se tornou mais cruel a cada dia, e ela fazia questão de transformar cada minuto que eu passava perto dela em um inferno. Não havia um só momento em que ela não fizesse questão de esfregar na minha cara o quanto ela e Maxim estavam juntos e felizes, com toques constantes e beijos sempre visíveis ou quando ela o fazia dizer que a amava. Ele, por sua vez, me ignorava na maior parte das vezes, mas não fazia nada para impedir Isabela em seus ataques maldosos.Às vezes, eu sentia o olhar dele. Um olhar que parecia me atravessar, e por um breve momento, eu via algo ali. Mas era tão efêmero, tão pequeno, que logo desaparecia. Maxim continuava distante, implacável, como se eu fosse ins
AIYANAA música pulsa no salão, a batida vibrando no meu peito enquanto giro ao lado de Alyssa. As luzes coloridas refletem no vestido rosa brilhante dela, e por um momento, me sinto leve. O vestido verde floresta molda-se ao meu corpo, valorizando minhas curvas, e o decote ousado me faz sentir poderosa. Nunca me senti bem dançando, mas prometi à vovó que me divertiria, então estou tentando. E, de certa forma, está funcionando.Até que uma sensação quente percorre minha espinha, um arrepio que nada tem a ver com a música ou com a pista de dança lotada. É um olhar. O olhar. Não preciso ver para saber que é Maxim.O fogo daquele olhar queima minha pele como um chamado que me recuso a atender. Ele está aqui. Em algum canto do salão, observando-me. Alyssa puxa minha mão, rindo animada.— Dois gatos a caminho, e um deles está olhando direto para você!— Quê? — arqueio a sobrancelha, mas antes que eu possa reagir, os veteranos já estão aqui.Um deles, alto, cabelos castanhos desarrumados e