Noely Sartori
Assim que eu atravesso a porta giratória da Elektra Web, eu sorrio, o mais puro e delicioso sorriso de triunfo.
— Acabei de sair do RH. Consegui o emprego! — grito pelo telefone, chamando a atenção de duas mulheres que passavam na rua.
— Meu Deus! AAAAA! — minha prima também berra do outro lado, feliz pela minha conquista. — Não posso acreditar! Puta merda, eu sabia, você é a melhor do mundo!
— Darla, não exagera.
— Noely, você se formou em Harvard, é a melhor do mundo sim! Eu não consegui nem passar no cursinho técnico de cabeleireira do Senac. Mas falando sério, como a nova conselheira particular da Elektra Web se sente?
— Confiante, corajosa e ansiosa para tornar a ELW a maior do Brasil, novamente.
— Adoro isso em você, sabe que é a melhor. Porém, no seu lugar, eu estaria morrendo de medo, essa empresa está quase em falência, ainda mais depois das últimas polêmicas do dono. Você leu as notícias dos últimos dois meses, né?
— Eu li, terei muito trabalho pela frente. Pelo menos mudou o CEO, parece que é o filho do dono da empresa, já que seu pai pediu demissão do executivo, e ainda vendeu a empresa para ele.
— Isso eu não li nos portais de notícias, conte-me mais, adoro fofoca.
Entro no meu carro, para continuarmos fofocando.
— Foi a mulher do RH que me contou, pensa que língua solta. Ela disse que o novo CEO foi anunciado há uma semana, e que ele chegou demitindo todo mundo, para contratar novos profissionais competentes. Logo, vai sair tudo nos jornais, já que a empresa agora está nos holofotes da mídia, por conta de toda a polêmica de racismo e do desvio de dinheiro.
— Por isso você conseguiu a vaga de conselheira. Nossa, que barra. Tem certeza de que está pronta para entrar embaixo desse telhado quase desabando?
— Estou, sem dúvidas. Sabe que não é a primeira empresa que pego para reerguer. No meu último emprego, entre cinco conselheiros, eu me destacava em tudo.
— Por isso foi demitida, aquele bando de invejosos incompetentes, armaram para te mandar embora. Sua inteligência e habilidades incomodavam.
— Relaxa, sabe que eu já queria a demissão mesmo. O salário era muito pouco e não queriam aumentar um tostão, pois teriam que aumentar igualmente o de todos.
— Agora você vai ganhar mais, sendo só UMA conselheira, de uma empresa de cinco andares. Já te vejo sobrecarregada, é muita coisa para um ser humano só.
— E qual a diferença do meu último emprego? Eu fazia quase tudo sozinha naquela droga, e tendo que dividir meu mérito com cinco pessoas. Eu, hein, estou mais do que confiante, poderei mostrar todo o meu potencial, sem medo de estar diminuindo os outros por ser... boa no que faço.
— A MELHOR! — ela grita. — A MELHOR!
Sorrio de orelha a orelha.
— Precisamos comemorar, se arrume bem gostosa esta noite, pois vamos para um barzinho com nossos amigos. Já vou avisar aqui no grupo.
— Adorei, mais tarde eu passo na sua casa para te pegar. Agora estou perto do serviço da minha mãe, vou passar lá para dar um beijo nela e contar da novidade.
— Nossa, a tia vai pular de alegria. Você é o maior orgulho dela. Beijão. Logo nos vemos.
— Beijão.
Desligo o telefone e respiro fundo, sem parar de sorrir. Adoro desafios novos, adoro testar os limites do que sou capaz. Olho para o prédio luxuoso da ELW. Não vejo a hora de começar na segunda-feira, vou tentar ser o mais normal possível, para não pensarem que eu sou metida e melhor do que ninguém. Ganhei tanto esse julgamento no último serviço, só por fazer o que era para ser feito.
Mas tudo bem, eu aprendi a lição. É isso...
— Senhora?
— Ai meu Deus! — solto um grito dentro do carro, devido ao rapaz que apareceu de repente, batendo no meu vidro. — A senhora tem alguma moeda para me dar? — ele pede do outro lado.
— Só um minuto... — respondo, após abrir uma greta do vidro.
Pego a bolsa, à procura de qualquer moeda, só para o rapaz ir embora. Mas acabo dando falta da minha carteira. Não é possível que não esteja aqui!
Entro em desespero, viro a bolsa no banco dos passageiros, fazendo a maior bagunça para encontrá-la, mas não a encontro. Só posso ter esquecido no RH. Acho umas moedas, dou para o rapaz e desço do carro, correndo para dentro da empresa. Lembro-me de ter tirado os documentos para a Flávia. Deve estar na sua sala, não tem outro lugar que eu tenha tirado.
Informo na recepção o que aconteceu e a recepcionista me libera para subir. Eu pego o elevador e chego até o andar da sala dela, bato à porta e espero abrir. Não demora e em vez de ser ela, sou surpreendida por um homem que puxa a maçaneta e me deixa de olhos arregalados, sem acreditar que pode existir uma coisa tão perfeita dessa.
Ele é muito alto, porte médio, barba rente, cabelo de playboyzinho e olhar acinzentado bem escuro. Meu Jesus!
— Olá — ele fala, fechando o seu paletó e se afastando para que eu entre.
Que “olá” mais grave e sexy.
— Olá...
— Ah, Noely! Imaginei que voltaria para pegar a sua carteira. Estávamos falando de você agora há pouco.
Eu entro educada, pedindo licença a eles.
— Já me deixe apresentá-los. Sr. Carter, essa é a Srta. Noely Sartori é a sua conselheira de administração. E Srta. Noely, esse é o nosso novo CEO, o Sr. Carter Bastos.
Ele me observa, analítico.
— Prazer, Srta. Noely.
— O prazer é todo meu em conhecê-lo. Obrigada pela oportunidade, espero alcançar todas as expectativas que a empresa espera de mim. Darei o meu melhor — falo, sem segurar a m*****a língua.
— Veremos na prática, gostei muito do seu currículo. Uma diplomada de Harvard é valiosa.
— Obrigada, é gratificante ouvir isso.
Noely Sartori— Para ser mais gratificante, preciso urgente que comece a ocupar a sua vaga amanhã.— Amanhã?! — exclamo tão de repente, que não percebi o meu tom de voz alto.— Sr. Carter, eu já disse para ela começar na segunda.— Pois eu quero que a Srta. Noely comece o quanto antes. Caso não tenha visto nos jornais, o que é improvável, deve saber que essa empresa se encontra prestes a falir. E isso muda o fato de eu ser obrigada a começar a trabalhar no sábado?Reprimo os lábios, segurando-me para não responder. — Tudo bem, começarei amanhã.— Acaba de alcançar uma expectativa da empresa — ele diz, com as mãos nos bolsos.Não sei se o seu tom foi debochado ou ele é assim mesmo, mas sorrio fraco, tentando não fuzilar o meu novo chefe para não ser despedida em menos de uma hora de contratação. O que tem de beleza, tem de exigência.O que custava me deixar começar na segunda? Tudo bem, entendo que a empresa esteja praticamente no fundo do poço e que ele possa estar desesperado, que
Noely SartoriOlho para a minha maquiagem concluída, a roupa justa, os saltos scarpin da Prada e respiro meu perfume caríssimo da Dior, que quase custou um rim. Para trabalhar nessas empresas de milionários preciso sempre estar vestida à altura. Aprendi isso da pior forma possível, depois de ser humilhada por mulheres metidas, que te olham dos pés à cabeça, e com aquela cara de nojo insuportável.Depois de pronta e após tomar o meu maravilhoso café da manhã, despeço-me da minha mãe com a sua bênção e vou para o meu primeiro dia na ELW.Minha sala fica no mesmo andar que a sala do CEO e do Co-CEO, provavelmente é o irmão do Sr. Carter. — Olá, bom dia, deve ser a Srta. Noely — a secretária bonita e vulgar me cumprimenta.Fico meio chocada. Como ela pode se vestir desse jeito, com uma saia tão curta e uma blusa tão decotada num ambiente de trabalho? — Olá, como é o seu nome?— Sou a Beatriz, a secretária do Sr. Carter e do Sr. Breno, acho que também da senhorita. — Ah, sim... está há
Noely Sartori— Ok... — Desvio dos seus olhos.— Acho que nos daremos muito bem, Srta. Noely. — Ele sorri, e eu volto a fitá-lo.— Talvez sim, o senhor é bem objetivo com as coisas.— Eu tenho um prazo de três meses, preciso ser.— E posso perguntar o motivo? Já perguntando...— Pretendo me aposentar e curtir a vida, isso responde?— A-Aposentar com trinta anos?— Olha, andou pesquisando sobre mim?Mordo o lábio, envergonhada.Que droga, ele foi rápido nessa.— Eu li a sua idade em algum daqueles papéis. — Hum..., mas não tem uma semana que estou na empresa.— Ah, eu... enfim, o senhor vai se aposentar.Ele volta a sorrir, bem diferente do chefe que invadiu a minha sala agora há pouco.— Eu tenho uma outra vida fora do Brasil, só estou aqui para evitar a falência dos negócios da minha família, por mais que eu não ligue se isso acontecer. — Então, não está nem aí para a empresa? — Eu estou, esse prazo foi o que dei para mim.— Entendi, tenho três meses para também garantir o meu emp
Noely SartoriFico incomodada, pois ele tem o mesmo grau de beleza do Sr. Carter. A diferença é só na altura e no corpo menos musculoso, de resto, são gêmeos, saíram da mesma capa de revista.— Srta. Noely, na minha sala.Falando nele, eu olho por cima dos ombros do Sr. Breno e o vejo entrando na sua sala, após me chamar em voz alta.— Com licença, senhor. — Afasto-me e vou rapidamente para a sala do CEO.— Bom dia, Sr. Carter — digo, ao fechar a porta do escritório.— Bom dia, estudou tudo o que precisava estudar?Ele se afasta da mesa e vai até o aparador do canto, servindo-se de álcool logo cedo. Parece bem nervoso.Respiro fundo, sentindo o cheiro do seu perfume e do condicionador que passou nos cabelos.— Sim, o senhor vai colocar em ação o primeiro plano, de reduzir o salário dos funcionários por três meses?— Meu irmão fará o serviço de comunicar essa informação a eles.— Ok... Está tudo bem com o senhor? — pergunto de repente, surpreendida por ele estar virando o terceiro copo
— Eu terminei de deliberar alguns investimentos, para apresentar ao Sr. Carter. Aí vim tomar um café e aguardá-lo chegar.— Hum... acho que o nosso CEO não volta hoje. — Sério? Aconteceu alguma coisa?— Algo a ver com a ex-mulher dele, não sei direito, meu irmão é bem misterioso com a sua vida pessoal.— Entendi, o senhor também é. Acho que todos somos.— Minha vida pessoal não tem muito segredo, nem mistérios. Eu sou bem normal. Incluindo a rotina.— Parando para analisar, a minha é bem normal também. Eu acordo, vou trabalhar, chego em casa, durmo e no outro dia vou trabalhar de novo. É assim todos os dias. — Dou de ombros.— Temos muitas coisas em comum, incluindo gostos alimentares.— Não mesmo, você gosta de frutos do mar, e eu detesto. Não gosta de doces e eu amo.Ele começa a rir.— Pensa pelo lado bom, eu te dou todas as minhas sobremesas quando vamos almoçar juntos.É a minha vez de rir.— Isso é maravilhoso!O Sr. Breno desvia de mim e olha as horas no relógio de pulso.— Te
Carter Bastos— Sempre é muito cheirosa, mas esta noite, seu cheiro é ainda mais de enlouquecer.Sorrio, aceitando a mão que me estende, cavalheiro.— O seu perfume também é... não sei.— Não sabe?— Cheiroso demais, deixa-me confusa.Ele ri e me leva até a porta do carro, fecha e dá a volta para igualmente entrar.— Que interessante, o meu perfume lhe deixar confusa.— É embaraçoso, meu Deus, você está me fazendo ficar com vergonha.— Acho que gosto de te deixar com vergonha. — Ele dá sua piscadinha costumeira e pisa com calma no acelerador.Em meia hora chegamos ao local, uma balada bem "gourmetizada", onde só tem ricos da elite.Nós nos acomodamos em uma mesa bem privada do segundo andar.— Eu estava precisando espairecer a mente um pouco — Breno confessa, após o garçom recolher os nossos pedidos. — Mas vai ser difícil fazer isso com você, dona Noely.— Por quê?— Porque desde que pisou os pés na porta dessa boate, nem um cara deixou de te olhar. Isso me fez ficar um pouco nervoso.
Espero por uns vinte minutos, até ouvir duas vozes conhecidas e exaltadas. Olho para cima e o Sr. Breno e o Sr. Carter descem os degraus da escada, discutindo super alto.— Não tem a porra do direito de tomar essa decisão, Carter!— Ela é a minha mãe também! Precisamos tirá-la desse país, fechar aquela droga de empresa e viver as nossas vidas!— Essa é a SUA vontade! E a da nossa mãe? Ela deu a vida pela ELW. Sabe o quanto aquela empresa é importante e se não soubesse, não teria atendido o seu pedido de voltar para o Brasil e tomar a frente do cargo executivo!— Eu vim e atendi o pedido pelo bem da saúde dela! E pra quê? Para no final vê-la se afundando em uma depressão por causa do nosso pai?— Ela não vai morar à força nos EUA! Não insista! Eu não vou deixar!Eles se encaram, com os punhos fechados.Ergo-me, chocada com a situação que me meti, e com os meus dois chefes!— Vou convencê-la em três meses a desistir e vir comigo, será a decisão da nossa mãe, assim não terá como question
— Já está tudo bem com a sua mãe? — pergunto.— Ela está de repouso, foi apenas uma queda de pressão. A cuidadora achou que era outro ataque cardíaco, pois ano passado aconteceu uma situação parecida — explica, enquanto dirige.— Sinto muito, espero que fique tudo bem com ela, de verdade. — Vai ficar. Vou aguentar tudo isso enquanto posso.Fico alguns minutos quieta, mas não aguento.— E se em três meses der tudo certo?— Eu nomeio outro chefe executivo e vou embora com a mente totalmente limpa, mas se não der, fecho aquela empresa e levo a minha mãe comigo para os Estados Unidos, ela querendo isso ou não, será para o seu próprio bem.Abaixo a cabeça, apertando os meus dedos.— Eu cheguei “ontem” e já me meti na vida pessoal do meu chefe, peço desculpas por qualquer coisa.— Realmente, se a minha conselheira não tivesse tentado se envolver com o meu irmão, não teria se metido em toda essa situação e eu não estaria levando-a para a sua casa.Sério que esse homem foi tão grosso desse j